quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Pílulas de alegria vencidas


"Sometimes I feel like I don't have a partner. Sometimes I feel like my only friend"…

Em uma das suas músicas mais populares, o Red Hot Chili Peppers sintetiza a solidão que todo ser humano já sentiu em algum instante da sua vida. Mais explícito sobre a tristeza, Cazuza foi sintético: "eu ando tão down". Eu sinto invejinha deste pessoal que fica jururu e escreve versos memoráveis. Tem gente que chora. Tem gente que se isola. Tem gente que escreve. Gosto deste último grupo.

Ficar triste é fácil. Ficar triste e produtivo é respeitável. Admiro o cara que converte sua melancolia em algo inspirador, algo edificante – mesmo que involuntariamente. Mas antes, peraí: favor não confundir a doce amargura de um momento com a desgraça depressiva da Maysa-way-of-life.

Ops! Eu me refiro à falecida cantora Maysa e não à criança-prodígio-cachinhos-dourados Maysa. Aliás, esta segunda Maysa ainda existe? Ando muito por fora.

Ficar macambúzio é um direito pessoal e intransferível. Eu desconfio de pessoas que estão sempre felizes e sorridentes. Tenho receio de figuras saltitantes em tempo integral. Nada contra a alegria alheia, mas me sinto mais confortável perto de pessoas que são entusiasmadas, mas que também confessam suas próprias angústias. Sinto mais autenticidade neles. Ainda no campo musical, Frejat acertou na mosca: "E que você descubra / Que rir é bom /Mas que rir de tudo / É desespero".

Assim como todo sentimento, a tristeza é um combustível, uma energia. Você pode usá-la de duas formas: para seguir ainda mais para o fundo do poço ou para voltar à superfície e contemplar a luz do sol (mesmo que o seu dia ainda esteja nublado). Você escolhe, mas acredito que não há opção errada neste caso. Sinceramente.

Sim, escrevo estas linhas sorumbático. Não importa a razão, causa ou consequência. É assim que me sinto. Como eu disse lá no primeiro parágrafo, " tem gente que chora. Tem gente que se isola. Tem gente que escreve. Gosto deste último grupo". Vou te contar um segredo: quando fico macambúzio, eu me sinto mais inspirado a escrever. Estou longe da patota dos grandes poetas e compositores da melancolia, mas eu pergunto: "e daí?". Vai que você lê isso e gosta. Minha tristeza já valeu a pena.


QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, tá tristinho, é? Ai, meu canário, lá vamos nós de novo. Vem cá e cola a sua cabecinha atribulada no ombro musculoso do Homem mais Poderoso do Universo. Aprenda uma lição. Já que você iniciou seu texto com música, lembre-se do título de uma canção do grande Dire Straits: "Why Worry?". Sacou? Para que se preocupar? Titio He-Man fica feliz com a forma que você expressa a sua amargura, mas peraí, né? "Malandragem, dá um tempo". "Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima". Curta esses seus momentos de deprê, mas muda logo este disco. Aproveita que o Carnaval se aproxima e vai escutar Ivete Sangalo. Tira o pé do chão! U-hu! Amiguinho, ser sincero é uma coisa. Ser grosso e inapropriado é outra. Tenha bom senso antes de dizer algo negativo. Até a próxima!!!

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Quatro meses


No comecinho de fevereiro, completei quatro meses de Dublin. O inglês está melhor, não passo mais tantos perrengues no dia a dia e já me acostumei com o sotaque Irish. Neste período, já deu para constatar alguns aspectos locais. Saca só:

1. É fascinante morar em um país onde a polícia não usa armas de fogo. Os guardas usam sprays e eletrodos. Eles são loucos? Irresponsáveis? Despreparados? Não. É porque o índice de assalto à mão armada em Dublin é zero.

2. Drogas existem, mas não a Irlanda não tem o Comando Vermelho ou o Fernandinho Beira-Mar. Algumas bocas são conhecidas e alguns bairros são um pouco mais perigosos, mas nada alarmante.

3. O sistema de ônibus dublinense ainda me irrita. Se você perde um ônibus, precisa esperar mais 20 minutos, mais ou menos. Se precisar ir ao bairro ao lado, tem que pegar uma condução ao Centro e só depois pegar outro para o seu destino. As linhas só atendem trajetos que vão ao centro. Às 11 da noite, os ônibus ficam raros. Depois da meia-noite, só táxi.

4. Outro lance irritante é ter que avisar ao motorista do ônibus qual o seu destino e só assim saber o valor da passagem. Vem cá, e seu mudar de ideia no meio do caminho? E seu eu não souber o nome da rua para onde vou? Fala sério!

5. Por outro lado, o Luas (um tipo de metrô de superfície) e o Dart (trem) são ótimos: confortáveis, rápidos e seguros. O único problema é a questão do horário, que padece do mesmo mal dos ônibus.

6. O povo brasileiro é hospitaleiro, simpático, acolhedor, trabalhador, descolado e duro na queda. De verdade! Mas por que não pode ser educado como os gringos europeus? Meus conterrâneos me desapontam na questão de respeitar as pessoas, independentes das classes sociais. Por que temos que levar "vantagem" em tudo?

7. Lembra que eu mencionei que o povo irlandês bebe muito? Pois é, a moçada bebe mesmo. Quanto mais velho, mais bebem. As meninas também entornam. Não é novidade encontrar mocinhas com os quatro pneus para cima nas ruas do Centro da Dublin. O povo bebe "de com força". Um das razões do potencial manguaceiro do irlandês é a qualidade da cerveja. Cacete, a Guinness é sensacional! Que cerveja gostosa, cara! E você ainda pode optar pela Heineken, Carlsberg, Coors, Beamish, Smithwicks, Murphy's, Foster... O que mata é o preço da pint (copo de 500ml). No barato, você desembolsa 4 euros, o que dá uns 10 reais por copo. Facada, maluco!

8. "Tudo bem?" é universal. Você pergunta e a pessoa responde "sim", mesmo que não esteja bem. Os irlandeses preferem uma resposta menos otimista. "Tudo bem?", você pergunta. "Não tão mal" ("Not too bad"), eles replicam. Chega a ser engraçado. Pouco tempo depois, descobri que esta resposta é comum em todo o Reino Unido.

9. Em Dublin, conheci brasileiros de todos os tipos: gente que foi tentar a vida na Europa, estudantes e até imigrantes ilegais. Conheci um mineiro que está há dois anos na Irlanda e diz que só volta quando tiver dinheiro para comprar a sua casinha perto de BH. Também encontrei um garotão que entrou como estudante de inglês, mas declara que jamais pisou em uma aula. Ele está há 7 meses de férias, curtindo e viajando com o papai pagando a conta.

10. A Irlanda está numa pindaíba lascada. Já escrevi sobre isso, mas é bom reforçar. A economia local está se reerguendo e este processo leva tempo. Enquanto isso, o povo vai sofrendo com cortes de benefícios, queda nos salários e incertezas. Para você ter uma ideia do perrengue, em janeiro de 2011, cinco ministros e o Primeiro-Ministro (o cara que manda no país) pediram o boné. Infelizmente, a simpática Ilha Esmeralda é uma nau sem rumo.


QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, análise de listas estão fora do meu job description. Vou aguardar um texto decente e depois comento. Inté!!!



quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O mundo é seu

Acho que esse humilde bloguinho nunca ficou tanto tempo sem atualização. Mea culpa, mea maxima culpa. Desculpe!

Em "Jurassic Park", divertido filme do Spielberg de 1993, há uma cena em que o rabugento e cético Dr. Grant fica diante de um brontossauro pela primeira vez. Seu olhar de total surpresa e assombro diante do impossível é um dos melhores momentos da trama. Há poucos dias, eu compreendi como ele se sentiu.

Olha, juro que não sou um deslumbrado. É preciso muito para me derrubar o queixo. Pois diante do Big Ben, minhas pupilas dilataram, meu coração acelerou, minha boca ficou seca, minha mandíbula ficou mole, minhas pernas ficaram bambas e as palavras faltaram. Deu vontade de rir. Deu vontade de chorar. Deu dor de barriga. Tudo ao mesmo tempo agora.

Juro! Fiquei que nem o Dr. Grant diante do brontossauro.

Sabe quando você se vê em um contexto onírico? Quando você se vê em um cenário só conhecido em TV ou foto? Tá bom, de repente você está lá diante do "relojão" do Big Ben. Pouco depois, está na Abadia de Westminster, na Catedral de St. Paul, na Tower Bridge e por aí vai. Você está conhecendo o mundo.

Passei três dias intensos em Londres e me senti vivo como nunca. Foi como se a ficha caísse e eu finalmente descobrisse que há algo além do horizonte, além do fim do arco-íris. Sabe, o mundo é muito maior que o seu ou o meu quintal. Há tanta coisa a ser vista, a ser descoberta. Em algum lugar da sua janela, há algo que vai fazer o seu queixo cair. Cabe a você desligar a televisão e dar um jeito de chegar lá. Aposto que o seu brontossauro está em algum lugar do planeta.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, o Homem Mais Poderoso do Universos está sem muito saco para comentar os seus deslumbres, por mais esporádicos que sejam. Não vou nem me dar ao trabalho de levantar a espada e me transformar. Mas, vamos à moral da história. Lembre-se do que James Bond já mostrou: o mundo não é o bastante. Até a próxima!!!