1. I Saw the Devil
Diretor: Kim Jee-woon
2010
"I Saw
the Devil" parte de um argumento dos mais clichês. Veja que história
banal: agente secreto parte em busca de vingança quando sua noiva é assassinada
por serial killer. Poderia ser só mais um filmeco safado do Van Damme. No entanto, a escola de cinema coreana prima pelo sadismo em
suas tramas de revanche. Kim Jee-woon dirige com olhar pop e belos enquadramentos uma jornada de crueldade,
perversão e violência no qual o vilão é mau e o "herói" é pior ainda.
E o roteiro é imaginativo e apresenta várias reviravoltas sensacionais, regadas
a litros de sangue e vários ossos quebrados. Um filme forte e inesperado, descoberto sem querer no catálogo do Netflix.
2. Moonrise Kingdom
Diretor: Wes Anderson
2012
Ser fofo não é ser bobo. Sem
pestanejar, "Moonrise Kingdom" é o melhor filme sobre o primeiro amor
que eu já vi. A história gira em torno de um casal de adolescentes que se
conhece durante uma peça de teatro infantil. Eles passam um ano trocando cartas
e decidem fugir para longe de suas famílias. Aí, entra em ação a habilidade de
Wes Anderson para temperar o roteiro. Os dois adolescentes são disfuncionais
(ele é um órfão escoteiro e ela é uma problemática filha de excêntricos advogados)
e vivem em uma onírica ilha que não tem ruas e há apenas um policial. Mesmo com o foco
nos pombinhos apaixonados, os personagens ao redor são explorados com carinho e
todos têm participações importantes na trama. Em todo momento, há um tom de
melancolia, mas sem tristeza ou pesar. É uma aventura adolescente, com primeiro
beijo, sexualidade inocente e cores, muitas cores. Afinal, tirando "Casablanca",
toda história de amor tem cores.
3. Meia-Noite em Paris
Diretor: Woody Allen
2012
Gosto muito da fase europeia do Woody Allen,
mas "Meia Noite em Paris" me encantou mais do que imaginava. Nem as
saliências de "Vicky Cristina Barcelona" me conquistaram da forma que
a lisérgica viagem à efervescente Paris dos anos 1920s. Com humor e reverência,
Woody cria uma experiência deliciosa ao colocar o seu nostálgico protagonista
(o inusitado Owen Wilson) em um encontro direto com os gênios que frequentaram
Paris na primeira metade do século XX.
Realizando o sonho de milhares de intelectuais, Owen Wilson bebe,
conversa e vai para a farra com Ernest Hemingway, Salvador Dali, Pablo Picasso, Gertrude
Stein, F. Scott Fitzgerald, Man Ray, T.S. Elliot, Luis Buñuel e por aí vai. E
diante do seu próprio deslumbramento, Woody Allen reflete sobre a nostalgia e
sobre a importância de cada tempo. Já é um dos meus filmes preferidos do Woody
Allen. Pensando bem, "Meia-Noite em Paris" assumiu o lugar de
"Manhattan" no primeiro lugar.
4. Fla x
Flu - 40 Minutos Antes do Nada
Diretor: Renato Terra
2013
Conhecido
como "o clássico mais charmosos do Brasil", o derby centenário entre
Flamengo e Fluminense ainda precisava de um filme que retratasse a sua
imponência à altura. Para contar a história (e as histórias) do Fla x Flu,
Renato Terra resgatou imagens memoráveis das partidas e deixou a palavra com os
principais envolvidos no clássico, isto é, torcedores e ídolos. Seja você
rubro-negro ou tricolor, não há como ficar indiferente aos depoimentos dos
cracaços Zico, Assis, Júnior, Leandro e Romário, além de torcedores célebres
como Pedro Bial, Toni Platão, Arthur Mulhenberg e outros "geraldinos e
arquibaldos" do Maracanã. Não espere análises ponderadas e diplomacia.
Cada torcedor e ídolo tem a sua versão apaixonada e a obrigação moral de
sacanear o rival. Estamos falando de futebol e isso afasta qualquer sensatez.
Por essas e outras, já diz o hino do Flamengo: "Nos FlaFlus é um 'ai,
Jesus!'".
5. Rush
Diretor: Ron Howard
2013
Já gostei muito de Fórmula 1. Sou do tempo em
que Ayrton Senna e Alain Prost disputavam cada curva com sangue nos olhos e
faca entre os dentes. Lembro de Nelson Piquet soltando cobras e lagartos contra
seus adversários sem qualquer indício do chatíssimo "politicamente
correto". Bons tempos em que os homens eram brutos e não usavam creme
hidratante. Pois antes de Senna, Prost e Piquet, houve a rivalidade entre Niki
Lauda e James Hunt. Nos anos 1970, o automobilismo era realmente um
"esporte" perigoso. Os carros eram potentes, não tinham tantos itens
de segurança e o risco de morte era frequente. Neste ambiente, quem quisesse
vencer tinha que soltar o pé do acelerador no último milésimo de segundo. Esse
era o contexto em que competiam o metódico austríaco Niki Lauda e o fanfarrão inglês James Hunt.
Com uma pegada crua, mas com ar rock'n'roll, Ron Howard retrata o nascimento e
o desenvolvimento da rivalidade que quase culminou na morte de Lauda, em uma
das cenas mais chocantes do automobilismo. Divertidíssima viagem aos anos 1970s
sob a ótica das corridas e de dois pilotos realmente velozes e furiosos.
6. Noé
Diretor: Darren Aronofsky
2014
Eis que um dia, Noé estava de bobeira, curtindo
a sua vida no mundo pouco povoado, e surge uma missão do Todo-Poderoso: construa
uma arca e salve os animais viventes que voam, andam e rastejam, menos os
homens. A jornada desse indivíduo e sua tarefa divina são retratadas com
competência por Darren Aronofsky, o mesmo diretor visceral de "Cisne
Negro" e "O Lutador". No filme, Noé é um ser humano com um
projeto que lhe consome anos e anos, afinal uma arca para tantos bichos não se
constrói da noite para o dia. E nesse passar do tempo, Darren humaniza a missão
de Noé. O herói barbudo vivido pelo gladiador Russel Crowe torna-se um homem
consumido por dilemas, angústias e o peso da responsabilidade perante a Deus e
à sua família. Através do "vilão", o roteiro também critica a decisão
divina de exterminar a raça humana através de um dilúvio, dentre outras teses
de que Deus também pode virar as costas para a sua criação.
7. Locke
Diretor: Steven Knight
2014
Certamente,
este é o filme mais criativo que vi em 2014. Barrou até o silencioso "Até
o Fim", com o Robert Redford. Neste filme, a trama toda se passa dentro de
um BMW em uma viagem noturna pelas rodovias inglesas. Na noite anterior à
entrega de uma obra delicadíssima, o engenheiro vivido por Tom Hardy abandona o
seu posto para acompanhar o nascimento prematuro de um filho fruto de uma noite
de infidelidade. Durante o percurso, o sujeito conta apenas com um telefone bluetooth para salvar o seu casamento,
acompanhar o parto que gera perigo de vida à mãe e ao bebê e coordenar à
distância uma crise na obra. A ação se passa quase em tempo real. Tom Hardy, geralmente escalado para filmes de
correrias e explosões, segura as pontas com segurança e passa a dose exata de emoção durante o filme. O diretor também
é competente ao evitar uma história maçante ou claustrofóbica.
Menções
honorosas:
"Capitão
América 2", "X-Men – Dias de um Futuro Esquecido", "Robocop"
(do Zé Padilha), "Precisamos Falar Sobre Kevin", "Frozen",
"O Lobo de Wall Street" e "Rock Brasília".