Um dia, terei um filho (ou filha) e chegará um momento da sua vida juvenil em que teremos uma conversa séria: "moleque (ou 'filhinha linda do papai', se for menina), cuidado com as coisas que você fala no colégio, pois elas podem lhe queimar pelo segundo grau inteiro. Se a estupidez for muito grande, suas palavras lhe acompanharão pela vida inteira". Acredito que o pai do Silvio não lhe deu esse conselho. No meio da apresentação de um trabalho de história geral, meu bom amigo selou seu destino:
- ... é porque sou muito sensível e...
Gargalhada geral que ecoou por todos os corredores do colégio. Até quem não estava prestando atenção na aventura do descobrimento da América ouviu essa declaração. Daquele instante em diante, o garoto tímido nunca mais foi conhecido por outro nome senão Silvio Sensível.
Mantive o contato com Silvio Sensível e nunca esquecemos daquela fatídica aula de história. Até rimos daquele momento.
- Sabe, meu amigo, eu realmente sinto as coisas. Não sei como explicar, mas percebo boas pessoas, boas vibrações, e, às vezes, sinto até o perigo – Silvio Sensível me revelou já depois da faculdade.
- Como um paranormal? – perguntei fazendo pouco caso.
- Não chega a tanto. Eu simplesmente percebo coisas que não sei explicar.
Parei com as brincadeiras. Silvio Sensível realmente pensava que era um X-Man.
Anos depois, reencontrei Silvio Sensível e fomos tomar um chopp para colocar a fofoca em dia. Ele me contou que estava apaixonado:
- O nome dela é Ângela. Eu a conheci no trabalho e fiquei encantado com sua risada. Além de linda, ela tem a risada mais gostosa do mundo. Dá vontade de rir com ela seja lá qual for a piada - essa era uma frase típica do Silvio Sensível.
O tempo passou e meu afetuoso amigo sumiu. Só fui reencontrá-lo anos depois em uma festa. Minha primeira pergunta foi óbvia:
- E a Ângela, Silvio Sensível? – o que eu não esperava era que aquela paixãozinha tinha se tornado um épico.
- Ela saiu do trabalho, mas ficamos nos falando esporadicamente. Nos anos seguintes, marcamos chopps, combinamos shows, agendamos festas, escolhemos programas de todas as formas, e nada saiu do papel. Meu amor por ela se recolheu – outra frase típica do Silvio Sensível.
- Pena, amigão.
- Mas aí é que tudo fica esquisito. Eu a encontrava sem querer. Tinha uma reunião de trabalho e ela era a cliente. Eu estava na muvuca do show da Ivete Sangalo e ela estava lá. Eu andava na praia e ela estava vindo na contramão. Mês passado, eu me meti em um retiro religioso lá no raio-que-o-parta e quando olho para o lado, quem estava lá?
- Ângela Onipresente.
- Exato. Quando tive oportunidade, eu falei tudo que sentia – e vindo do Silvio Sensível, imagino que a menina foi soterrada, coitada dela -, falei sobre as borboletas que sentia no estômago quando pensava nela, sobre como eu ficava bobo a ponto de ver a lua por causa dela, como eu me sentia aflito perto dela, como eu gostava de ouvir sua voz, sobre o lance da risada.
- E o seu poder mutante de sentir as outras pessoas, rapaz?
- Só sentia um carinho recíproco, uma doçura, sei lá.
- E...?
- Eu a beijei...
- Boa, garoto! Sabia que você não iria me desapontar.
- Quando acabou o retiro, fui deixá-la em casa e no caminho ela adormeceu no banco do carona. Você não tem idéia do quanto eu adorei vê-la dormindo ao meu lado. Acho que eu seria um homem feliz só em poder vê-la descansar pertinho de mim. Quando chegamos, ela disse "você é um irmão pra mim".
Parêntesis.
Queria aproveitar esse momento para dizer a todas as mulheres do universo que chamar um homem de irmão é uma ofensa sem tamanho. O cidadão fica sem chão, sem teto, sem norte, enfim, chame-o de um palavrão cabeludo, mas não de irmão. Pelamordedeus!
Voltando ao drama, fiquei miudinho com o desfecho da história. Sentia que Silvio Sensível fazia planos. Aposto que ele chegaria ao ponto de mandar flores. Coisa de homem raro hoje em dia.
- Nunca mais nos falamos ou nos encontramos sem querer. Acho que não nos veremos mais. E sabe o que é mais engraçado? – ele constatou com os olhos marejados.
- Fala.
- Saca o nome: Ângela. Ela é um anjo, bicho. Simplesmente, apareceu, me encheu de amor, de coisas boas e foi embora. Deve ter voltado para o paraíso.
Nessa hora, eu quis ser o Silvio Sensível e ver o mundo com toda aquela sensibilidade que só ele tinha.
- ... é porque sou muito sensível e...
Gargalhada geral que ecoou por todos os corredores do colégio. Até quem não estava prestando atenção na aventura do descobrimento da América ouviu essa declaração. Daquele instante em diante, o garoto tímido nunca mais foi conhecido por outro nome senão Silvio Sensível.
Mantive o contato com Silvio Sensível e nunca esquecemos daquela fatídica aula de história. Até rimos daquele momento.
- Sabe, meu amigo, eu realmente sinto as coisas. Não sei como explicar, mas percebo boas pessoas, boas vibrações, e, às vezes, sinto até o perigo – Silvio Sensível me revelou já depois da faculdade.
- Como um paranormal? – perguntei fazendo pouco caso.
- Não chega a tanto. Eu simplesmente percebo coisas que não sei explicar.
Parei com as brincadeiras. Silvio Sensível realmente pensava que era um X-Man.
Anos depois, reencontrei Silvio Sensível e fomos tomar um chopp para colocar a fofoca em dia. Ele me contou que estava apaixonado:
- O nome dela é Ângela. Eu a conheci no trabalho e fiquei encantado com sua risada. Além de linda, ela tem a risada mais gostosa do mundo. Dá vontade de rir com ela seja lá qual for a piada - essa era uma frase típica do Silvio Sensível.
O tempo passou e meu afetuoso amigo sumiu. Só fui reencontrá-lo anos depois em uma festa. Minha primeira pergunta foi óbvia:
- E a Ângela, Silvio Sensível? – o que eu não esperava era que aquela paixãozinha tinha se tornado um épico.
- Ela saiu do trabalho, mas ficamos nos falando esporadicamente. Nos anos seguintes, marcamos chopps, combinamos shows, agendamos festas, escolhemos programas de todas as formas, e nada saiu do papel. Meu amor por ela se recolheu – outra frase típica do Silvio Sensível.
- Pena, amigão.
- Mas aí é que tudo fica esquisito. Eu a encontrava sem querer. Tinha uma reunião de trabalho e ela era a cliente. Eu estava na muvuca do show da Ivete Sangalo e ela estava lá. Eu andava na praia e ela estava vindo na contramão. Mês passado, eu me meti em um retiro religioso lá no raio-que-o-parta e quando olho para o lado, quem estava lá?
- Ângela Onipresente.
- Exato. Quando tive oportunidade, eu falei tudo que sentia – e vindo do Silvio Sensível, imagino que a menina foi soterrada, coitada dela -, falei sobre as borboletas que sentia no estômago quando pensava nela, sobre como eu ficava bobo a ponto de ver a lua por causa dela, como eu me sentia aflito perto dela, como eu gostava de ouvir sua voz, sobre o lance da risada.
- E o seu poder mutante de sentir as outras pessoas, rapaz?
- Só sentia um carinho recíproco, uma doçura, sei lá.
- E...?
- Eu a beijei...
- Boa, garoto! Sabia que você não iria me desapontar.
- Quando acabou o retiro, fui deixá-la em casa e no caminho ela adormeceu no banco do carona. Você não tem idéia do quanto eu adorei vê-la dormindo ao meu lado. Acho que eu seria um homem feliz só em poder vê-la descansar pertinho de mim. Quando chegamos, ela disse "você é um irmão pra mim".
Parêntesis.
Queria aproveitar esse momento para dizer a todas as mulheres do universo que chamar um homem de irmão é uma ofensa sem tamanho. O cidadão fica sem chão, sem teto, sem norte, enfim, chame-o de um palavrão cabeludo, mas não de irmão. Pelamordedeus!
Voltando ao drama, fiquei miudinho com o desfecho da história. Sentia que Silvio Sensível fazia planos. Aposto que ele chegaria ao ponto de mandar flores. Coisa de homem raro hoje em dia.
- Nunca mais nos falamos ou nos encontramos sem querer. Acho que não nos veremos mais. E sabe o que é mais engraçado? – ele constatou com os olhos marejados.
- Fala.
- Saca o nome: Ângela. Ela é um anjo, bicho. Simplesmente, apareceu, me encheu de amor, de coisas boas e foi embora. Deve ter voltado para o paraíso.
Nessa hora, eu quis ser o Silvio Sensível e ver o mundo com toda aquela sensibilidade que só ele tinha.
*
Ângela, onde você estiver, saiba que Silvio Sensível sempre sentirá borboletas no estômago quando pensar em você.
--x---
QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
--x---
QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Olá, amiguinho. Caso você tenha mais de 18 anos, deve lembrar de mim e das minhas aventuras. Se tiver menos, nem deveria estar lendo esse blog. Enfim, ao fim de cada episódio, eu contava a importante lição que estava subentendida na trama. Aqui também tem uma. No caso do Silvio Sensível, o bacana é acreditar que vai rolar. Quando você tem fé, você investe na pessoa amada, mesmo contra as probabilidades. Você pode até quebrar a cara como o pobre Sensível, mas jamais terá o arrependimento de deixado algo por fazer. Ah, amiguinha, não esqueça de nunca em sua vida usar as palavras irmão ou grande amigo durante uma declaração de amor. Nem que a vaca tussa. Até a próxima.
Olá, amiguinho. Caso você tenha mais de 18 anos, deve lembrar de mim e das minhas aventuras. Se tiver menos, nem deveria estar lendo esse blog. Enfim, ao fim de cada episódio, eu contava a importante lição que estava subentendida na trama. Aqui também tem uma. No caso do Silvio Sensível, o bacana é acreditar que vai rolar. Quando você tem fé, você investe na pessoa amada, mesmo contra as probabilidades. Você pode até quebrar a cara como o pobre Sensível, mas jamais terá o arrependimento de deixado algo por fazer. Ah, amiguinha, não esqueça de nunca em sua vida usar as palavras irmão ou grande amigo durante uma declaração de amor. Nem que a vaca tussa. Até a próxima.