segunda-feira, 25 de abril de 2011

Minha versão vascaína

Tenho um problema sério com futebol. Na verdade, meu problema é com o Flamengo. Meu humor depende imensamente do desempenho do time. Se os caras jogam bem, eu fico bem. Se eles jogam mal, eu fico de bico. Não consigo manter um afastamento saudável, sadio. Não consigo torcer educadamente. Gasto um dinheirão com breguetes rubro-negros. Dou ibope para mesas redondas idiotas. Leio o Lance. As pessoas ao meu redor tentam se adaptar à uma regra simples: dia de Flamengo é dia sagrado. Sou dodói, eu sei. A minha surpresa é que, certo dia, eu encontrei o meu clone de saias e cruz de malta.

Hein??? Cruz de malta?

Que vê a bela e meiga Clotilde não imagina o quanto ela é estupidamente vascaína. Sem perder a feminilidade, a guria tem tatuagem do Vasco, escala o time do goleiro ao atacante, conhece a regra do impedimento, frequenta as arquibancadas de São Januário e discute futebol (qualquer campeonato internacional) como um homenzinho. Assim como eu, ela perde a classe e doçura quando o árbitro apita o começo do jogo.

A Branca de Neve se transforma na abominável torcedora das cavernas...

Clotilde apresenta um repertório de palavrões que deixaria a galera da Gaiola das Popozudas constrangida. Assim como eu, ela deixa de ser o Dr. Jekyll e se torna o Mr. Hyde. E isso sobra para o seu namorado.

Segundo ela, certo dia, o garotão se arriscou a levá-la a São Janú para um partida entre o Vasco e algum time mequetrefe. A equipe visitante começou a dar um calor nos cruzmaltinos e Clotilde se irritou. O solidário namorado tentou lhe fazer um afago e...

- Caceta, carinho agora, pô??? No meio do jogo? Ah, não f§@#$!!!

Ui...

Depois, ela se desculpa, mas o esporro já está dado. Clotilde se explica com a eloquência que eu sempre quis ter.

- Amorzinho, não mexe com o meu futebol. O Vasco veio muito antes de você. Não tenta ocupar um espaço que já está dominado.

Mais esclarecedor, impossível!


O mais engraçado é como ela joga sujo em relação à rivalidade, especialmente aos times do Rio.

- Eu te garanto que faço qualquer tricolor, botafoguense ou até mesmo flamenguista beijar a cruz de malta.

- Menos, garota. Não força a barra.

- Tô te falando!

- Como? Diz aí.

- Tatuei a cruz de malta na virilha.

Mulher é o diabo mesmo!

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, torcer é maneiro, mas virar bicho é passível de tratamento médico. Certas vezes, é como dependência de drogas – sem querer, mas já fazendo referências aos Somálias, Egídios, Alvins, Edinhos e outros jecas que vestem as camisas dos nossos times. Como sua mãe já falou: relaxa, amiguinho. Pelo menos, avisa que são apenas 90 minutos de terror (sem contar com a prorrogação). Ainda bem que você escreve estas linhas antes do FlaxFlu da Taça Rio. Amiguinho, fazer carinho é bom e as pessoas gostam. Pratique mais! Até a próxima!!!

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O dilema da mulher comum

As pessoas me contam coisas. Sério mesmo. Por alguma razão inexplicável, muita gente se sente à vontade para me revelar segredos e aflições. Fico honrado, mas acho sempre engraçado quando isso se repete. Com Augusta, isso não foi diferente. Na verdade, com Augusta, isso aconteceu em tempo recorde.

Bom, conheci Augusta em uma noite de sábado. Ela era amiga de um amigo meu e estávamos na lendária Casa Rosa, em Laranjeiras. Loira, de olhos claros e com um copo de pinga com mel na mão (isso mesmo), ela chamava bem a atenção.

Aos leitores de fora do Rio, Casa Rosa não é a sede do governo argentino. Há anos, este simpático estabelecimento era um bordel. Com o tempo, o negócio foi desativado e o local virou um tipo de boate alternativa. O público varia dos hippies-de-havaianas até os playboys-Armani-Exchange.

No meio da madrugada, ela puxou assunto e assim como tantas outras, abriu o seu coraçãozinho amargurado.

AUGUSTA: Meu "peguete" está vindo aí.

EU: Legal.

Vou dizer o quê???

AUGUSTA: Não sei o que fazer.

EU: Como assim?

AUGUSTA: Queria parar.

EU: Então para, ué. É só falar com ele que já deu. Simples assim.

Sou adepto da objetividade. Dar toco é que nem arrancar esparadrapo de uma vez só: dói um pouco na hora, mas passa logo.

AUGUSTA: Ele não é má pessoa.

EU: Então qual é o problema?

AUGUSTA: Ele me trata que nem uma rainha.

EU: E desde quando isso é ruim?

AUGUSTA: Eu não sou uma rainha. Eu sou uma mulher comum. Ele me trata assim a todo instante. Fica cheio de dedos e firulas. Não sei o que fazer.
EU: Já falou com ele sobre isso?

AUGUSTA: Pior que não.

EU: Pois deveria. Se te incomoda, fala com ele. Aposto que o cara vai entender.

O lord britânico chegou pouco depois. Ele me olhou com ciúmes e ficou ao lado da Augusta, como quem marca o território. Mal sabe ele que se quisesse alguma coisa, eu já tinha informações suficientes para um ataque soviético com grandes chances de êxito. Sorte dele que estou fora da prateleira.

Fiquei pensando sobre o drama da Augusta e lembrei o conselho que ouvi há muito tempo.

Flashback...

- Tudo que é demais é ruim Até ser gente boa demais é ruim.

Concordo. Sabe, o cara tem que saber dosar o seu cavalheirismo e sua "ogrice". Nem tão Príncipe das Astúrias nem tão Sócio do Clube Irmão Caminhoneiro Shell. Já aprendi que mulher gosta de ser cortejada, paparicada, mas também a-do-ra demonstrações de poder. O malandro pode ser um fidalgo entregador de rosas, mas na hora de bater na mesa e engrossar a voz, sai da frente. É complexo achar o ponto certo? Claro. Mas quem disse que a vida é mole, compadre?


QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, mais do que achar o equilíbrio entre a masculinidade e o fineza, o problema da sua história está na comunicação. Assim como o futebol, a relação a dois é um jogo falado. Cada jogador tem que falar com os companheiros para pedir bola, orientar o posicionamento, evitar o impedimento e acertar a marcação. Com isso, vem o entrosamento e o time se fortalece. He-Man, craque de bola e capitão da seleção eterniana, sabe bem disso. Então, acerte sempre os ponteiros com a sua cara metade e você vai perceber que estes babados se resolvem com muito mais facilidade. Amiguinho, fique de olho no lugar onde você estaciona o carro. Tenha atenção aos reboques. Pagar um estacionamento é muito melhor que a aporrinhação de ir buscar seu carro no depósito. Até a próxima!!!

He-Man e o Surfista Platinado estão chocados com a barbárie cometida na escola de Realengo.

sábado, 2 de abril de 2011

Trash metal

Texto grande, mas vale a pena. Vai por mim...

Antes de embarcar para a aventura irlandesa, passei quase cinco meses trabalhando em uma campanha política em Duque de Caxias. Além de um batente intenso, visitei lugares da Baixada Fluminense que jamais imaginei que existissem. Vi muita coisa de partir o
coração, como adolescentes de 17 anos com dois filhos no colo e um terceiro na barriga. Voltei ao Brasil e, quis o destino, Duque Caxias estava novamente no meu caminho. Assumi um novo trabalho de comunicação lá. Mais maduro e calejado, eu imaginava que já tinha visto de tudo, mas nada se equivale ao aterro sanitário do Jardim Gramacho - aquele onde foi filmado o documentário "Lixo Extraordinário. Aquele que concorreu ao Oscar 2011. Lembrou?

A experiência começa antes de chegar ao aterro. As ruas têm lixo por todos os lados. Pilhas e pilhas de entulhos e gente circulando entre porcos e urubus. Crianças, velhos, homens e mulheres andavam entre caminhões imensos. Chegamos (a equipe e eu) ao aterro e fomos barrados pelos guardas locais. Educadamente, ele informou que visitas ao aterro deveriam ser agendadas. Segundo ele, era para segurança dos próprios visitantes. Enquanto argumentávamos, observei caminhões monstruosamente grandes carregados de lixo e gente. Pessoas amontoadas nas caçambas ou penduradas onde conseguissem.

Nossa entrada foi proibida. Partimos para o plano B: visitar o aterro clandestino. Entramos na favela do lixão.

Maluco, neguim não tem noção mesmo. Eu, um outro rapaz e duas meninas belas e cheirando a Dolce & Gabbana entramos na comunidade sem qualquer acompanhamento ou aviso prévio. Para que a gente virasse estatística era um estalar de dedos.

Paramos para pedir informação a um morador. O que não percebemos é que o cara estava
curtindo o seu momento com um papelote de cocaína. Trincado, o sujeiro indicou o caminho, mas pediu para termos cuidado com os elefantes roxos que estavam na rua. Achamos o tal lugar e estacionamos perto de um boteco. Ao abrir a porta, o cheiro forte do lixo veio carregado e quase vomitei. Segurei a onda. O proprietário da birosca informou que o aterro clandestino era mais adiante, mas não poderíamos ir de carro.

Pronto, agora vamos virar estatística...

Com os anjos da guarda trabalhando em força-tarefa, seguimos as vielas indicadas. No caminho, lixo por todos os lados e uma nuvem de moscas imensas. Vi umas varejeiras tão grandes que devem ter tirado brevê para voar por ali. E falando em "grande", logo adiante vimos um porco tão parrudo que parecia uma kombi.

Em meio à sujeira, um grupo de crianças brincava e ao perceber a nossa aproximação, perguntou:

- Vocês querem pó? Querem?

Ai, ai, ai... entramos na boca. Só melhora, só melhora...

Agradecemos e entramos no aterro. Até onde a vista alcançava, havia lixo, insetos e os catadores. Um senhor simpático e muito articulado nos contou mais sobre o local. Depois do filme, as visitas aumentaram e os trabalhadores aprenderam a lidar com os "turistas". O fedor do lixo não me incomodava mais, porém as moscas me deixavam apreensivo. Ao fechar os olhos, o zumbido era infernal. Meu medo era falar e engolir uma varejeira acidentalmente.

Zuuuuuuuuuuuuuuuuummmm...

As pilhas de lixo viraram montanhas. Ficamos mais dez minutos, fizemos umas fotos e voltamos. Passamos de novo pela boca e logo depois esbarramos em uma viatura da polícia. Os policiais nos encararam, mas não disseram nada. Devem ter pensado que éramos só mais alguns clientes do "comércio" da região.

O carro estava intacto e o dono do boteco se encheu de orgulho e nos deu um DVD (pirata, é claro) de "Lixo Extraordinário". Agradecemos e saímos. O lixão foi ficando para trás, com os catadores revirando as montanhas de dejetos e as crianças brincando entre as moscas e a imundície. Fomos nos afastando e aquele submundo foi ficando para trás.

Quem diria, né? Depois de meses na Europa, caí de paraquedas em um purgatório de lixo e caos. Às vezes, fecho os olhos e ouço o zumbino desgraçado das varejeiras abafando os risos das crianças correndo pelas vielas do Jardim Gramacho.

Zuuuuuuuuuuuuuuuuummmm...

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, é para ficar bolado mesmo. O mundo vai além da sua vizinhança bacana na Barra da Tijuca, garotão. Bom, da sua visita ao purgatório, espero que você aprenda a separar os eu lixo. Até a próxima!!!