Tenho um problema sério com futebol. Na verdade, meu problema é com o Flamengo. Meu humor depende imensamente do desempenho do time. Se os caras jogam bem, eu fico bem. Se eles jogam mal, eu fico de bico. Não consigo manter um afastamento saudável, sadio. Não consigo torcer educadamente. Gasto um dinheirão com breguetes rubro-negros. Dou ibope para mesas redondas idiotas. Leio o Lance. As pessoas ao meu redor tentam se adaptar à uma regra simples: dia de Flamengo é dia sagrado. Sou dodói, eu sei. A minha surpresa é que, certo dia, eu encontrei o meu clone de saias e cruz de malta.
Hein??? Cruz de malta?
Que vê a bela e meiga Clotilde não imagina o quanto ela é estupidamente vascaína. Sem perder a feminilidade, a guria tem tatuagem do Vasco, escala o time do goleiro ao atacante, conhece a regra do impedimento, frequenta as arquibancadas de São Januário e discute futebol (qualquer campeonato internacional) como um homenzinho. Assim como eu, ela perde a classe e doçura quando o árbitro apita o começo do jogo.
A Branca de Neve se transforma na abominável torcedora das cavernas...
Clotilde apresenta um repertório de palavrões que deixaria a galera da Gaiola das Popozudas constrangida. Assim como eu, ela deixa de ser o Dr. Jekyll e se torna o Mr. Hyde. E isso sobra para o seu namorado.
Segundo ela, certo dia, o garotão se arriscou a levá-la a São Janú para um partida entre o Vasco e algum time mequetrefe. A equipe visitante começou a dar um calor nos cruzmaltinos e Clotilde se irritou. O solidário namorado tentou lhe fazer um afago e...
- Caceta, carinho agora, pô??? No meio do jogo? Ah, não f§@#$!!!
Ui...
Depois, ela se desculpa, mas o esporro já está dado. Clotilde se explica com a eloquência que eu sempre quis ter.
- Amorzinho, não mexe com o meu futebol. O Vasco veio muito antes de você. Não tenta ocupar um espaço que já está dominado.
Mais esclarecedor, impossível!
O mais engraçado é como ela joga sujo em relação à rivalidade, especialmente aos times do Rio.
- Eu te garanto que faço qualquer tricolor, botafoguense ou até mesmo flamenguista beijar a cruz de malta.
- Menos, garota. Não força a barra.
- Tô te falando!
- Como? Diz aí.
- Tatuei a cruz de malta na virilha.
Mulher é o diabo mesmo!
QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, torcer é maneiro, mas virar bicho é passível de tratamento médico. Certas vezes, é como dependência de drogas – sem querer, mas já fazendo referências aos Somálias, Egídios, Alvins, Edinhos e outros jecas que vestem as camisas dos nossos times. Como sua mãe já falou: relaxa, amiguinho. Pelo menos, avisa que são apenas 90 minutos de terror (sem contar com a prorrogação). Ainda bem que você escreve estas linhas antes do FlaxFlu da Taça Rio. Amiguinho, fazer carinho é bom e as pessoas gostam. Pratique mais! Até a próxima!!!