O que mais gosto nos filmes do Woody Allen é a cumplicidade que ele tem com as suas cidades. Tá certo que Paris e Barcelona falam por si, mas sua fase nova-iorquina foi sublime. A Big Apple era mais que o cenário. Era um dos personagens principais. Em “Sex and the City”, Carrie Bradshaw e suas amigas tiveram a mesma percepção e tornaram Nova York a quinta menina do grupo. Aqui no Brasil, ouso dizer que nenhuma cidade é tão inspiradora quanto o Rio de Janeiro.
O jornalista Ricardo Boechat, argentino por nascimento e carioca por vocação, explicou um pouco desta sedução. “O Rio é uma metrópole onde você pode ver o horizonte”, disse. Não é que ele está certo? Na Vila Isabel ou na Avenida Presidente Vargas, entre prédios ou entre morros, o céu pinta de azul a silhueta da cidade. Da janela, vê-se o Corcovado, o Redentor, que lindo. E em que outra cidade, o beijo do sol na linha do horizonte recebe aplausos dos hippies doidões sentados no camarote das Pedras do Arpoador? Aliás, o que são as Pedras do Arpoador? O que são as praias do Rio?
No Rio, há uma profusão de sal, areia e pele. Peles brancas, sardentas, morenas, negras, mulatas, tatuadas e camaleoas que desfilam soberanas do Leme ao Pontal. É o território delas, musas às dúzias que vêm e que passam a caminho do mar. Nós, testemunhas oculares do fato, admiramos. Da nossa área VIP, tomamos suco de acerola, açaí com morango, água de coco ou um sanduíche natural do Bibi. Para ver melhor os biquínis (e seus recheios), a gente bebe Skol servida em uma garrafa cercada por uma crosta de gelo – a chamada “canela de pedreiro”. Cerveja há em qualquer lugar, mas no Rio o sabor é amplificado. É como tomar um cálice de vinho nos cafés de Paris com uma revista sobre a mesa. Ou tomar um chá em frente à catedral de St. Paul, em Londres. A bebida ganha outro paladar. O ambiente tempera.
Voltemos a elas. Musas. São bocas em todo lugar, além de corpos malhados, sorrisos talhados. Só flerte, só a fé em movimentos circulares na Zona Sul, de bar em bar. Até tomar um porre de felicidade ou explodir o coração na maior felicidade. Onde quer que seja o endereço dos bailes, lá estão elas: garotas de cinema. Luz, câmera e ação!
É fácil se apaixonar no Rio, tanto quanto em Paris. A diferença é aqui, o amor assalta à luz do dia. À queima roupa. Rio de Janeiro, cidade hardcore. E é mais cruel porque ela faz você se apaixonar pela mesma mulher sempre. A fonte da juventude (ou do rejuvenescimento) está nas areias da Zona Sul.
Há poucas semanas, recebi alguns primos de São Paulo em uma primeira visita ao Rio. Eles chegaram em um dia cinzento, com a chuva fina tão comum à Sampa. Do Santos Dumont à Barra da Tijuca, os cenários estavam encobertos. Porém, algo chamou a atenção deles: a movimentação das pessoas nas calçadas.
- O pessoal aqui não tem medo de chuva.
Pois é, o Rio convida as pessoas a saírem das suas tocas, mesmo com a garoa.
QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, He-Man está confuso. Não há moral da história para uma resenha turístico-afetiva. Vamos combinar assim, o Rio é maneiro, mas não seja bairrista. Os bairristas não fazem amigos. Amiguinho, não deixe as suas cuecas penduradas na torneira do chuveiro. Até a próxima!!!