domingo, 20 de novembro de 2011

Gente engraçada

Faz tempo que não escrevo. Juntaram-se a falta de tempo, a escassez de inspiração e uma maldita tendinite. Atualmente, o tempo continua feroz, a tendinite (ou distensão muscular, dependendo do médico) persiste, mas conheci uma figura digna de nota. Se eu não escrevesse sobre Noêmia, seria uma injustiça.

Noêmia trabalha comigo na produção de um evento. Moça de uns 1,65, magérrima. Quase uma tábua de passar roupa com cabelos médios e franja Dia desses, após uma reunião, a gente foi confabular em uma cafeteria no Leblon.

Acho o Leblon muito elegante. Tomar café no Leblon discutindo assuntos profissionais é algo que considero muito chique. Momento “menininha”, eu confesso. Acontece, mas já passou.

Depois de discutirmos o checklist e outros blablablas protocolares, a gente caiu na conversa fiada, que me motivou a escrever. Eis o papo (com pouca licença poética. Por mais absurdo que pareça, a conversa rendeu estas pérolas).

NOÊMIA: Preciso ligar para minha filha. Minha bateria está acabando. Peraí... alô. Sou eu. Olha só, minha bateria está no finzinho. Se você me ligar depois, não vou atender. Beijo. Tchau.

EU: Qual a idade dela?

NOÊMIA: 17. Linda, madura e de nariz arrebitado. Criei com muito orgulho. Muito graças ao Miojo, pois sou uma lástima na cozinha. Até para passar manteiga no pão eu sou terrível.

EU: Tá de sacanagem? Você procriou na pré-adolescência?

Juro que não foi cantada. Noêmia realmente parecia que tinha 30 anos. Com benevolência, dava para chutar até uns 28.

NOÊMIA: Passei dos 40, querido. Sou conservada no vinho. Olha só, nenhuma ruga!

Ela vira o rosto e arregala os olhos para mostrar a pele lisinha.

EU: Impressionante.

NOÊMIA: Puxei meu pai. O namorado dele acha a mesma coisa.

Hein?

NOÊMIA: Esqueci de falar. Meu pai é gay. Pode ficar em silêncio por alguns segundos e escolher o que falar.

EU: Sei lá. Parece coisa de seriado americano.

NOÊMIA: Pois é, as pessoas ficam com aquele ar perplexo. Já me acostumei.

EU: Imagino.

NOÊMIA: E ele já sobreviveu a um câncer.

EU: Porra, garota! Muita informação. Seu pai é gay e já teve câncer?

NOÊMIA: Pois é, menino. Hoje ele vê o caso do Lula e fica todo solidário. Pensa até em ligar e dizer, “Lula, não toma o remédio X. Perda de tempo. Compra logo o Y, que é caríssimo, mas resolve logo”. O câncer une as pessoas.

EU: Nunca olhei por este ângulo.

NOÊMIA: É verdade. Que horas são? Queria ir ao Centro.

EU: De novo? A gente acabou de voltar de lá.

NOÊMIA: Não ao Centro da cidade. Centro espírita. Preciso de um passe. Essas reuniões me estressam e afetam o meu karma.

EU: Como assim?

NOÊMIA: Sabe a fulaninha da produção? Então, sou uma fofa, doce e delicada, mas tenho uma vontade insana de... de...

Procurou palavras gesticulando em círculos.

NOÊMIA: De enfiar a mão na cara dela! Pessoinha petulante, marrenta.

EU: Sério? Ela é escrotinha mesmo.

NOÊMIA: Então, preciso ir. Beijo, querido.

E lá foi Noêmia. Fiquei pensando em quantas outras revelações eu poderia ser apresentado apresentado se ela ficasse mais dez minutos.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, hoje aprendemos uma importante lição. Olhando de perto, ninguém é normal. Aliás, "normal" é um conceito criado para definir pessoas parecidas com você. Sim, você. Se outra pessoa não for parecida com você ou com características aceitáveis ao seu parâmetro, aí sim, ela é taxada de "anormal". Amiguinho, cuidado com canetas esquecidas na sua mochila. Quando você menos espera, a desgraçada estoura e meleca de azul todos os seus pertences. Até a próxima!!!