Casamento e novela das oito são muito parecidos: quase sempre o mesmo roteiro, mas com personagens diferentes. Pegando só o dia D, tem a cerimônia, a hora do sim, a festa (certamente, a parte mais interessante), o lançamento do buquê, os convidados bêbados e as fotos batidas aos zilhões. Entre todos os clichês, dois aspectos tornam um matrimônio especial: você é o(a) noivo(a) ou alguém importante na sua vida está trocando alianças.
Recentemente, um amigo de infância casou – talvez, o melhor amigo de infância. E mesmo que a gente tenha perdido um pouco do contato, isso não passa impunemente. Enquanto o sujeito estava lá no altar fantasiado de pingüim e com os olhinhos brilhando, eu sentia claramente que um ciclo estava se fechando para o início de outro. Óbvio demais, não? Pois é, mas nem sempre esse "óbvio" fica tão assustadoramente evidente.
No momento do "eu te aceito como minha esposa e etc etc etc", eu retornei dezesseis, dezoito anos. Nossa vida era ler os gibis do Homem-Aranha, ir ao cinema na matinê, comer no Bob's, jogar futebol ou queimado, brincar de verdade-ou-consequência e planejar festinhas americanas (meninas trazem salgadinho e meninos trazem refrigerante) para poder fazer a dança da vassoura e arrancar os primeiros beijos das menininhas. Você se lembra da dança da vassoura? Saca só: em algum instante da festinha, alguém colocava alguma música lentinha (de preferência uma do Roxette, bem mela-cueca) e os casais dançavam de rostinho colado. Um infeliz sobrava e era obrigado a ficar com uma vassoura durante um interminável minuto. Depois, ele podia escolher seu alvo e passar a vassoura para outro guri, que teria que sofrer por mais um minuto. Dependendo do casal importunado, rolava até briga.
Mas, estamos fadados à triste sina de crescer e abandonar a infância e as irresponsabilidades da adolescência. De repente, não dá mais para ver o Globo Esporte e tirar uma soneca durante o Jornal Hoje antes de ver "Os Goonies" na Sessão da Tarde. Não sobra mais tempo para nada, além de trabalhar, planejar o pagamento das contas, estudar para a prova de finanças do MBA e arrumar um programa legal para levar a gatinha. No meu caso, até blog eu arrumei para escrever.
Voltando ao casamento, a festa foi ainda mais nostálgica. As priminhas que eram pequenininhas e bobinhas viraram mulherões. Cada vara-pau de um metro e oitenta que intimidaria qualquer atrevido. Poxa, com que direito elas cresceram? Eram tão engraçadinhas com nove ou dez anos, enquanto tínhamos maduros treze anos. Já era! Algumas já casaram ou estão noivas, e outras entraram em algum relacionamento sério. Tornaram-se mulheres lindas, mas eu só conseguia enxergá-las como aquelas garotinhas de verões passados.
A gente riu durante todo o reencontro. Lembramos de todas as algazarras que fizemos. Aventuras tão distantes que pareciam ter sido protagonizadas por outras pessoas, não nós. Brindamos com vinho e uísque (um privilégio da maioridade) e num lampejo de sobriedade, percebi que muito do que sou hoje se deve aos meus amigos de infância. O Flamengo, o jiu-jitsu, a admiração pela bossa-nova, jogar Master, curtir cinema, ler histórias em quadrinhos, rir com Os Skrotinhos e por aí vai. O cara de quase trinta anos ainda tem muito do moleque magrinho de treze.
E em homenagem aos velhos tempos, usei o álibi da bebida para uma última aventura irresponsável. Lá pelo fim da festa, subi num ponto alto e comecei a dançar como um alucinado. Conquistei a atenção da massa e tirei o paletó. Aí ouvi os primeiros gritos de "Tira! Tira!". Joguei a gravata e foi o frenesi geral. Abri a camisa e foi um urro. No fundo, lá de muitos anos atrás, eu quase ouvi meu padrinho repetir o que dizia quando éramos fedelhos.
"Esses meninos são uns pavões. Não vão mudar nunca".
Não mesmo. Que bom!
Recentemente, um amigo de infância casou – talvez, o melhor amigo de infância. E mesmo que a gente tenha perdido um pouco do contato, isso não passa impunemente. Enquanto o sujeito estava lá no altar fantasiado de pingüim e com os olhinhos brilhando, eu sentia claramente que um ciclo estava se fechando para o início de outro. Óbvio demais, não? Pois é, mas nem sempre esse "óbvio" fica tão assustadoramente evidente.
No momento do "eu te aceito como minha esposa e etc etc etc", eu retornei dezesseis, dezoito anos. Nossa vida era ler os gibis do Homem-Aranha, ir ao cinema na matinê, comer no Bob's, jogar futebol ou queimado, brincar de verdade-ou-consequência e planejar festinhas americanas (meninas trazem salgadinho e meninos trazem refrigerante) para poder fazer a dança da vassoura e arrancar os primeiros beijos das menininhas. Você se lembra da dança da vassoura? Saca só: em algum instante da festinha, alguém colocava alguma música lentinha (de preferência uma do Roxette, bem mela-cueca) e os casais dançavam de rostinho colado. Um infeliz sobrava e era obrigado a ficar com uma vassoura durante um interminável minuto. Depois, ele podia escolher seu alvo e passar a vassoura para outro guri, que teria que sofrer por mais um minuto. Dependendo do casal importunado, rolava até briga.
Mas, estamos fadados à triste sina de crescer e abandonar a infância e as irresponsabilidades da adolescência. De repente, não dá mais para ver o Globo Esporte e tirar uma soneca durante o Jornal Hoje antes de ver "Os Goonies" na Sessão da Tarde. Não sobra mais tempo para nada, além de trabalhar, planejar o pagamento das contas, estudar para a prova de finanças do MBA e arrumar um programa legal para levar a gatinha. No meu caso, até blog eu arrumei para escrever.
Voltando ao casamento, a festa foi ainda mais nostálgica. As priminhas que eram pequenininhas e bobinhas viraram mulherões. Cada vara-pau de um metro e oitenta que intimidaria qualquer atrevido. Poxa, com que direito elas cresceram? Eram tão engraçadinhas com nove ou dez anos, enquanto tínhamos maduros treze anos. Já era! Algumas já casaram ou estão noivas, e outras entraram em algum relacionamento sério. Tornaram-se mulheres lindas, mas eu só conseguia enxergá-las como aquelas garotinhas de verões passados.
A gente riu durante todo o reencontro. Lembramos de todas as algazarras que fizemos. Aventuras tão distantes que pareciam ter sido protagonizadas por outras pessoas, não nós. Brindamos com vinho e uísque (um privilégio da maioridade) e num lampejo de sobriedade, percebi que muito do que sou hoje se deve aos meus amigos de infância. O Flamengo, o jiu-jitsu, a admiração pela bossa-nova, jogar Master, curtir cinema, ler histórias em quadrinhos, rir com Os Skrotinhos e por aí vai. O cara de quase trinta anos ainda tem muito do moleque magrinho de treze.
E em homenagem aos velhos tempos, usei o álibi da bebida para uma última aventura irresponsável. Lá pelo fim da festa, subi num ponto alto e comecei a dançar como um alucinado. Conquistei a atenção da massa e tirei o paletó. Aí ouvi os primeiros gritos de "Tira! Tira!". Joguei a gravata e foi o frenesi geral. Abri a camisa e foi um urro. No fundo, lá de muitos anos atrás, eu quase ouvi meu padrinho repetir o que dizia quando éramos fedelhos.
"Esses meninos são uns pavões. Não vão mudar nunca".
Não mesmo. Que bom!
9 comentários:
"Casamento e novela das oito são muito parecidos."
Não só são parecidos, como um acontece no outro. Toda novela tem cena de casamento no final; e todo o casamento tem cena de novela no final. Aquela amiga da noiva que não foge à regra, exatamente nesta ordem: bebe, vai dançar, tira o sapato, chora, vai ao banheiro, vomita, diz que ama o ex-namorado e vai embora de taxi.
Outro dia passou Goonies no SBT, de madrugada!
é, Dougra... Recordar é viver! Muito bom.
Abs!
Amei !! Queria muito ter ido a esta festa. Impagável !
VULGO, concordo. Sempre que eu repito essa sequência de ações femininas, as mulheres acham que eu sou maluco.
RENATA, obrigado, você já é da casa.
TODOS, os comentários estão diminuindo... qual é a desse êxodo?
Não mesmo!
Mas como tem gente se casando esse ano! É a tendência, natural ou não...
É... casamento de amigo(a) de infância dá essa nostalgia mesmo! É inevitável!
Sinceramente, eu ainda não me acostumei totalmente com a vida de gente grande. É muito esquisita.
:-P
Adorei o texto.
Grande Amigo,
Aprendi na faculdade de direito, naquelas aulas de Sociologia, que o tempo passa, mas as instituições ficam.
Assim é a amizade. Uma inabalável instituição fundada sobre aquilo que, no mundo monetarizado de hoje, ainda não têm preço: confiança e respeito.
As lembranças das férias de verão são boas demais, meu amigo. Olhos marejados, só de lembrar.
Belíssimo texto, meu bom. Cumpriu a missão que todo dono de blog deve ter: tocar a alma do humilde visitante do seu sítio.
Arrebentou. Exatamente como arrebentou no casamento.
Forte abraço.
O Noivo.
Douglas, vc que já prometia como criança hoje é um escritor inteiro!
Estou orgulhoso da tua performance.
Vc nunca me enganou. É sensível,brilhante,comprometido,atuante, enfim um personagem do seu tempo.
Bjs, seu padrinho,pai do noivo
PAI NO NOIVO e NOIVO, o cronista pede licença e se declara imensamente comovido diante dos recentes depoimentos. Vocês são especiais demais pra mim. Obrigado!
Oi, Doug! Tô eu aqui lendo seus casos mais antigos.
Como confessa nostálgica que sou, claro que AMEI o seu texto! Eu carrego sempre comigo a estranha sensação de tristeza pelo tempo que se vai (e como o tempo tem voado!) Queria sempre carregar comigo pessoas e momentos especiais. Mas todos eles se vão, e às vezes se perdem pela vida... É uma pena! Eu escrevi sobre nostalgia no meu Blog; é um dos primeiros posts meus... Depois olha lá. Não tenho a mesma veia escritora que a sua, mas achei que ficou legalzinho... rsrs...
Um beijo, meu mais novo amigo virtual! Sou fã, dos seus escritos e sua! ;)
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