Faz um calor lazarento no Rio. Os
dias são fumegantes e a sensação é a de que existe um forno de pizza ligado
exclusivamente para você – sem pausa. O dia mal nasce e o termômetro da rua já
decreta assustadores 30 graus. Isso enquanto está passando o Bom Dia Brasil.
Por conta dessa quentura estúpida, tenho priorizado roupas claras. Nessa de
usar trajes mais leves, resgatei uma calça marfim tamanho 42. Até aí nada de
extraordinário, mas o que chamou a minha atenção neste dia foi de que esta peça
foi um presente de aniversário de 18 anos. Acho que tenho uma patologia
psicológica travestida ema uma dificuldade lascada de me desfazer de algumas
coisas. Por isso, eu tinha 29 calças jeans no meu armário.
Ela ficou tão chocada com a
quantidade de jeans que estão penduradinhos no meu guarda-roupas que fez
questão de contar: 29 jeans, fora algumas calças sociais e uma cargo com
estampa militar.
Em minha defesa, eu alego que
estou longe de ser um consumidor maníaco de calças jeans. Na verdade, eu pouco
compro roupas, pois não tenho paciência para lojas lotadas e a etapa de experimentar
essa ou aquela peça. Gosto de umas duas ou três marcas e sou fiel a elas. Aí
vou acumulando a calça que ganhei no Natal, com aquela que comprei na
liquidação do lápis vermelho, com aquela outra que ganhei de aniversário há cinco
anos e por aí vai.
Quando eu era adolescente, eu
colecionava gibis da Marvel. Chegou uma etapa da vida que eu tinha mais de
1.000 revistas empilhadas em um único armário. Eu guardava o dinheiro que
recebia para ir à escola e gastava tudo em quadrinhos. Já crescido, sofri
horrores quando tive que desfazer dos meus amados gibis. Ainda hoje guardo
algumas revistas com valor afetivo maior. Não chegam a 50.
Na faculdade, a fixação era com
CDs. Eu garimpava lojas e sebos procurando títulos raros ou discografias
completas do R.E.M. ou do Pearl Jam. Em poucos anos, a prateleira foi lotando
e, pimba!, não aguentou mais. Com o advento da música digital, eu poderia me
sentir à vontade para me desfazer de tantos discos, certo? De jeito maneira! E
o carinho pelos disquinhos, com seus encartes e histórias? Como é que fica? Não
dá para ter afeto pelo mp3, pô!
Olhando friamente para meu
apartamento, eu tenho um acúmulo de tralhas adoráveis. Tenho sei-lá-quantos DVDs
(ainda não migrei para os blu-rays), trocentos livros e uma cacetada de
breguetes do Flamengo, que não faliu até hoje por minha causa. Sou um dizimista confesso do Mengão.
Mas os livros são toleráveis, não? Na verdade, o acúmulo de livros
nunca é demais. Até se você cismar em guardar caixas e caixas de romances da
Danielle Steel ou suspenses jurídicos do John Grisham. Vou além: até se você
quiser guardar a saga Crepúsculo e todos os seus afluentes, eu acho digno.
Entre tantas tranqueiras, eu
tenho uma favorita. Sim, sou capaz de identificar um item no oceano de tralhas!
No fundo de um baú, ainda guardo o meu primeiro kimono. É um Atama encardido,
rasgado, esburacado e desgastado pelos anos. Ele marca o ano que fiz vestibular
e que decidi ser um cara mais corajoso. Já pensei em me desfazer dele, mas e a
dó que bate no coração? Como é que fica? O kimono continua lá.
Enquanto eu juntava todas essas
tranqueiras, os jeans foram se acumulando até a admirável quantidade de 29
peças enfileiradas em cabides brancos iguais. Mas para toda patologia há uma
cura – ou princípio de cura. Outro dia, minha namorada invadiu o meu closet e botou
ordem.
- Tem jeans demais aqui. Vamos
limar uma porção. Vamos! Você consegue. Escolhe aí.
E lá fui eu separa os mais
velhos, os mais feios e os mais fora da moda – segundo critérios dela, que eu
mesmo desconheço, mas confio. Mulher tem tino para essas coisas. Dispensei uma
porção de calças e mandei para a igreja. Ainda tenho muitos jeans guardados, mas eu me sinto uma pessoa melhor agora.
QUAL A MORA DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, pode ser sincero com o
seu camarada aqui. Você fez esse rodeio todo para deixar implícito que ainda
tem o mesmo corpo que tinha aos 18 anos, certo? Você é um calhorda. A mensagem
final do He-Man é uma só: DESAPEGA. Amiguinho, fique de olho no prazo de
validade das gororobas que você guarda na geladeira. Até a próxima!!!
4 comentários:
Muito bom! ;)
E eu que esses tempos resgatei do closet da minha mãe uma bolsa que ela comprou em 97 que ainda tava com a ETIQUETA? Isso sem contar os vestidos que foram e voltaram de moda, mas que ela nunca usou.
Já eu gosto de guardar cadernos, agendas e afins. Guardo todos, desde que eu tinha 7 anos. Acho que todo mundo tem um pouco de mania de acumulador (tem gente que guarda até rancor, haha, péssima piada, enfim).
Abraço! :)
Eu acho que não tive 29 jeans durante meus 35 anos de vida. rs
Caríssimos, sou um caso patológico. Não me batam. Me orientem.
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