Se tem uma coisa que me irrita
neste infinito cosmo chamado internet é a seção de comentários das publicações.
As pessoas têm um prazer escroto em falar mal de tudo. Seja por ideologia ou pela
satisfação pessoal de “trollar” grupos específicos, as interações da moçada com
o que brota na web são das mais torpes. Cá entre nós, dentre todos os assuntos que
são alvos dos rebeldes espinhentos ou dos reacionários de ar-condicionado, o
que mais me enfurece são as críticas ao Brasil. Claro que o direito à expressão
é livre e irrestrito, mas detonar simplesmente por detonar é de lascar. Quem estiver achando ruim poderia fazer o
favor de arregaçar as mangas da camisa Tommy Hilfiger, sair da poltrona
acolchoada e fazer alguma coisa para melhorar o cenário. Não que isso me torne melhor que você, mas eu fiz isso. Há alguns
anos, fui dar aula de redação em um curso pré-vestibular destinado a alunos
carentes.
Olha, foi uma experiência
formidável. Mesmo sem ganhar um centavo, eu me sentia recompensado.
Sinceramente, eu me senti muito mais digno e fiel aos meus princípios de
defender a educação como o pilar de qualquer sociedade desenvolvida.
Nossa, como falei bonito agora! Confetes próprios.
Além das regras de redação, eu
tentava estimular na moçada o prazer em escrever. Para isso, eu buscava aproximar os temas à realidade dos alunos. Além de conversarmos, eu sugeria
pautas como filmes, música, notícias que estavam bombando e até fofocas do
mundo das subcelebs. Para cativar o
público, vale tudo.
- Galera, esta noite vocês vão
escrever sobre os seus ídolos, sobre pessoas que vocês admiram. Não vale
dissertar sobre o papai ou a mamãe. Tem que ser alguém conhecido, para que eu
possa avaliar a importância dele na sua vida. Quero o mínimo de trinta linhas.
Bola rolando!
Amigo leitor do outro lado da
telinha fria, juro que achei que seria o tema mais mamão-com-açúcar desde o
lendário “minhas férias” da 3ª série. Só que não foi bem assim...
Depois de cinco minutos, todos
continuavam olhando para o vazio com as canetas entre os dentes ou com a cabeça
apoiada na mão. Dez minutos depois, a sala estava com aquele silêncio de
mausoléu.
- Galera, tudo bem? Vocês estão
com dificuldade em escolher alguém legal?
- Na verdade, professor, a gente
não tem ídolos – respondeu um dos alunos representando a turma. Fiquei chocado.
Eu também nunca fui tiete de
ninguém. Nunca vesti camisa do Bob Marley ou usei a boina do Che Guevara, mas
sempre tive figuras as quais admiro por sua contribuição a um mundo melhor ou
por feitos notáveis. Minha lista é curta. Sou fã do Zico porque ele é um ser
humano fantástico e jogador sublime. Admiro Ayrton Senna por suas ações dentro
e fora das pistas. Gosto do Nelson Piquet pela sua rebeldia e talento. Respeito a Lady
Diana Spencer por (tentar) sair da imagem da princesinha na torre do castelo e
usar sua imagem por causas nobres. Ainda me arrepio quando leio as poesias de
Vinicius de Moraes. Tenho imenso carinho pelo Gilberto Gil e sua história
dentro da história do Brasil. Acho que esse é o time de pessoas públicas que
curto. Fora eles, só um ou outro. Por que os meus alunos tinham tanta
dificuldade em lembrar de alguém digno de nota?
Não sei, mas tenho teorias sobre
o caso. O conceito de celebridade sempre esteve ligado à idolatria. Quando eu
era bem pequeno, lembro da Menudomania. Depois, as menininhas da rua se
contorciam pelos New Kids on the Block. Pouco depois, os garotos vestiam
camisas com a cara do Kurt Cobain ou do Renato Russo, ambos recém-finados.
Agora, há uma profusão de gente
que arrebanha multidões por prazos curtinhos. Acho muito curioso as
adolescentes se descabelarem pelo Luan Santana, Justin Bieber, Michel Teló, Lady
Gaga, vampiro Edward, Mulher Melancia e pela próxima figura cool que vai brotar no YouTube. Sem
desmerecer quem curte essa moçada, sinto que todos eles têm carreiras tão sólidas
quanto a do É o Tchan. Espero que façam o pé de meia antes que os seus fãs
cresçam e fiquem com vergonha própria.
Ainda navegando pelo universo dos
ídolos, fiquei muito surpreso pela comoção após o falecimento do Chorão. O
cantor entrou para o Olimpo do rock nacional e eu nem sabia disso. Depois do
susto, achei bacana, sabia? Mesmo com todos os seus problemas e altos e baixos,
Chorão nunca perdeu a sua atitude e identificação com o seu público. Saquei isso
depois. Hoje, se algum aluno meu dissertar sobre o legado do Chorão, não vou me
surpreender.
HE-MAN?
Amiguinho, os tempos são outros e
por mais que as celebridades se multipliquem que nem Gremlins na chuva, alguns
nomes continuam imortais. Zico, Kurt Cobain, Renato Russo, Camus, Eric Clapton
continuam lá. A diferença é que o oceano de futuros convidados da Luciana
Gimenez é tão grande, que fica um pouco mais difícil pinçar as figuras com bons
trabalhos. Porém, mesmo assim, os bons feitos se sobressaem e acabam ocupando o
seu lugar na hora devida – mesmo que não seja em vida. He-Man, que é um ícone
imortal de uma geração, sabe disso e já cansou de ver popstars surgirem e se
apagarem. Aliás, para o seu governo, o É o Tchan vai retornar com a sua formação original. Imperdível! Amiguinho, cuidado com a comida quente. Vá com calma para não queimar
a língua. Até a próxima!!!
2 comentários:
Huuum, um ídolo? Tenho uma boa lista de ídolos, mas se fosse para escolher um, acho que seria Kathryn Stockett, autora de "A Resposta". Não tanto pelo que escreveu, mas por ter me inspirado, através do livro, a começar meu próprio projeto.
Agora, sacanagem não poder escolher alguém da família, viu? hahaha
PAULA, escolher alguém da família é mole, né? Tinha que ser uma referência exterior ao seio familiar.
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