quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Vampiro Edward, não enche o meu saco!

Em algum momento de 2010, eu li um artigo no Globo que me chamou a atenção. O autor foi o JP Cuenca e o tema era o perfil do homem pós-2000 segundo a cultura pop. Resumidamente, ele indica fenômenos como "Crepúsculo" como referência para um tipo de macho mais low-profile e mais sensível. Não sei bem o porquê, mas este assunto me ocorreu novamente e decidi escrever sobre isso.

Enfim, acho que JP acertou na mosca. O macho do século XXI é um cara mais reservado e o cinema, música e literatura estão aí para registrar. A insuportável saga do Vampiro Edward, da songa-monga Bella e do Lobisomem-sem-camisa-que-eu-não-lembro-o-nome é um expoente desta corrente. Pegando um paralelo do próprio articulista, o vampiro deprimido de "Crepúsculo" em nada lembra a sensualidade de Jerry Dandrige ("A Hora do Espanto"), o hedonismo de Lestat ("Entrevista com o Vampiro") ou a curtição dos sanguessugas de "Garotos Perdidos". Edward vive se lamuriando enquanto Jerry, Lestat e os vampiros adolescentes da cidade de Santa Carla querem aproveitar cada segundo (ou gota de sangue) da sua divertida imortalidade.

Peço perdão aos fãs de "Twilight". Cada um com as suas drogas, mas não aturo o triângulo escaleno entre o vampiro magrinho, a garota com cara de sono e o índio marombeiro.

Na música, o movimento emo e seus seguidores chorosos me dão medo. Perto do NX Zero, Panic at the Disco e Restart, o (argh!) titio Bon Jovi é o Conan, O Bárbaro do rock'n'roll. Fico bolado por essa molecada que fica escrevendo poemas e degustando amores platônicos. Quer amor platônico? Quer realidade virtual? Compra uma Playboy de uma ex-Big Brother e pronto. Juntou os dois.

Ah, não ferra, né? Meu amor platônico é a Angelina Jolie. Isso sim é platônico, meu camarada. Eu aqui e ela a milhões de dólares de distância.

Na verdade, minha indignação não é contra o novo perfil sensível do homem moderno. Acho bacana o cara ser gentil, cavalheiro, culto e capaz de acompanhar a mulher amada no shopping lotado, mas tenhamos limites, né? Se há uma lição que aprendi com o querido sexo oposto é: mulher quer um homem carinhoso, bem-humorado e com pegada firme – daquelas que deixa a menina com princípio de asma e pernas bambas. O cara até pode ser "fofo" e levar para jantar em um lugar bonito, mas tem que ser capaz de jogar a guria contra a parede, puxar os cabelos e sussurrar "vem, gostosa". Duvido que o Vampiro Edward faça isso.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, mire-se no exemplo do todo-power He-Man: forte, musculatura invejável, sagaz e sempre com uma mensagem inteligente para você. Por essas e outras que a Teela e a Feiticeira comem na mão aqui do papai. A mulherada pós-2000 está mais exigente e mais inescrupulosa. O jogo está mais disputado e isso inibe uma boa parte dos meninos. Com as novas regras, os jogadores levam um tempinho para se adaptar e durante este período, surgem algumas bizarrices. Amiguinho, limpe sempre os pés antes de entrar em casa. Até a próxima!!!

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Síndrome de Charlie Brown

Adoro os desenhos do Snoopy. Um dos meus episódios favoritos é um em que o Charlie Brown se desespera ao perceber que logo a escola entrará nas férias de verão e ele ainda não disse oi para a sua amada Garotinha Ruiva. Durante toda a história, "Minduim" convive com o pânico de querer se aproximar, mas esbarra em uma timidez monstruosa. Na conclusão (momento spoiler), ele não consegue falar com ela, mas descobre uma cartinha da sua musa e encontra esperança e força para atravessar os meses de férias.

Além da ótima trilha sonora de jazz, o que eu mais gostava nos desenhos do Peanuts era a criatividade de mudar o happy-ending. O finais nem sempre eram felizes, mas eram repletos de motivação. Belo desenho esse.

Enfim, esta intro nostálgica serve para ilustrar a situação de Margarida, uma amiga portuguesa que fiz aqui na Irlanda.No primeiro semestre, nossa heroína conviveu com uma atração platônica por um garoto da sua universidade. Tão grande quanto o seu encantamento era a sua timidez. Com a proximidade do recesso das festas de fim de ano, a moça entrava em desespero, pois ela queria dar um jeito no problema antes das férias. Eis a grande semelhança com o drama do bom Charlie Brown..

O rapaz vinha do leste europeu, não estou ao certo se era romeno, búlgaro, tcheco ou polonês. Enfim, era lá daquelas bandas. Ele trabalha em um café na universidade e, segundo ouvi, também era um sujeito tímido. Vamos chamá-lo de Garotinho Ruivo.

De tanto frequentar a loja do Garotinho Ruivo, Margarida já poderia ter arrumado um problema cardíaco. Cada visita era um copão de café e olha que ela fazia isso umas três vezes por dia. Porém, nada dele perceber.

Certo dia, ela até esbarrou com ele no ponto de ônibus, mas travou e perdeu a oportunidade de puxar assunto. No entanto, decidiu fortemente que tomaria uma atitude no último dia de aula.

Dito e feito!

Mesmo sentindo as mãos tremerem, a boca seca, suor frio e dor de barriga, Margarida entrou na loja de café decidida. Pediu um capuccino, olhou bem nos olhos do Garotinho Ruivo e disse.

- Hoje é o último dia de aula. Vamos sair para beber e comemorar. Os alunos do curso, professores e funcionários vão e eu acho que você poderia ir também. Você faz parte do grupo, mesmo que indiretamente.

Aliás, este approach foi analisado e planejado por várias garotas juntas. Todas ajudaram Maragarida a arrumar um discurso elegante para chamar o Garotinho Ruivo para sair

- Claro. Obrigado. Onde vai ser? – ele respondeu.

- Ainda não sabemos. Você quer ir?

- Quero.

Margarida quase engoliu o coração.

- Então anota o meu telefone – ainda com as mãos trêmulas anotou o seu telefone em um guardanapo de papel. Garotinho Ruivo sorriu e o guardou no bolso da camisa.

O encontro aconteceu e eu fui testemunha. Alunos e funcionários fizeram uma procissão por diferentes pubs e encheram o pote no melhor estilo irlandês. No entanto, Garotinho Ruivo não ligou. Nem neste dia nem no Natal ou no ano novo. Margarida se sentiu a menina menos interessante de Dublin e foi afogar as mágoas em casa.

Em janeiro, as aulas recomeçaram e Margarida percebeu que Garotinho Ruivo estava no mesmo balcão de sempre. Decidiu não dar mais bola para esta situação. Como toda mulher deve ter aprendido após o filme "Ele não está tão afim de você", quando o cara quer, o cara liga. Nossa heroína desencanou.

- Ei! – ela ouviu e reconheceu a voz. Era o Garotinho Ruivo.

- Oi. Feliz ano novo – ela respondeu.

- Feliz ano novo. Olha só, acho que houve algum problema com o número que você me deu. Eu te liguei, mas atendia uma outra pessoa.

- Como assim?

- Olha aqui - Garotinho Ruivo sacou o guardanapo amassado e romanticamente guardado. Margarida leu o número e...

Glup!

Tal e qual as histórias do Charlie Brown, algo deu errado. Por culpa da tensão, da ansiedade ou do nervosimos, Margarida anotou o próprio número errado.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, no drama de Margarida e o seu muso Garotinho Ruivo, o que mais chama a minha suprema atenção é um raríssimo exemplo de união feminina. Tal manifestação de companheirismo de calcinhas é tão esporádico quanto a visita do cometa Halley ou um título da Inglaterra na Copa do Mundo. Enfim, nossa amiga portuguesa corre risco de fazer jus às inúmeras piadas envolvendo os seus primos lusos, mas ela está perdoada. Eu sei o efeito devastador que causo nos hormônios das pobres meninas. Eu entendo como elas ficam desnorteadas e abiloladas diante de seu objeto de desejo. Margarida tá perdoada. Não vale dizer "tinha que ser portuguesa". Amiguinho, ao cortar as suas unhas, não deixe pedacinhos pelo chão. Seja limpo, pô! Até a próxima!!!

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A última faixa de um bom disco

Fiquei sabendo que a Modern Sound fechou as suas portas. Para quem não teve o prazer de conhecê-la, estou falando de uma das mais belas e interessantes lojas de discos que eu visitei. Curiosamente, soube do triste fato por Ruy Castro, um dos maiores apreciadores de música que já encontrei.

Tive o prazer de conhecer o Ruy Castro profissionalmente e pessoalmente. Dentre
outras peculiaridad
es, ele me
en
sinou que farofa aquecida no micro-ondas é um sacrilégio. Mas voltemos ao tema...

Confesso que nunca fui um assíduo frequentador da Modern Sound, mas sempre tive uma simpatia imensa pelo seu grande e sofisticado salão. O clima de música, o som ambiente, os títulos variadíssimos e as senhoras de Copacabana tomando café no bistrô criavam um ambiente charmosíssimo. Ao pisar na loja, eu me sentia mais inteligente, mais culto, mais cool. Era como se a boa música entrasse por osmose no meu organismo. Bom, já era. Fechou. The end. Se bobear, vai virar uma Americanas Express ou uma igreja evangélica.

Com o fechamento da Modern Sound, Copacabana fica um pouquinho menos elegante. O bairro perde um tiquinho da sua graça. O público fica órfão e o último dos moicanos é a Tracks, na Gávea. Aliás, a Tracks ainda existe?

Como admirador da música em geral, sempre curti lojas de discos. Sem medo de ser chamado de antiquado (ou vintage), ainda procuro meus CDs ou LPs para ouvir minhas bandas favoritas. Então, imagina a minha surpresa (positiva) ao me mudar para Dublin e encontrar uma cacetada de lojas de discos. No centro da capital, há sebos, megastores, lojas especilizadas em vinis, raridades, discos caros, pechinchas... tudo! Longe do Rio, achei pequenos recantos de música e de fãs dos bons sons. Que nem há 44 anos, quando a Modern Sound foi fundada.

Parêntesis final: claro que uso e curto o mp3. Com o advento da banda larga, posso ter um álbum inteiro em menos de 2 minutos. Porém, sou obrigado a admitir que nunca me interessei em comp
rar um iPod. Acho que a música fica sem rosto, sem alma.

PS. É pau, é pedra, é o fim do caminho. No apagar das luzes, li esta matéria:

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, e lá vamos nós na sessão nostalgia. Sabe, às vezes, você
parece uma secretária aposentada que morre de saudade da velha máquina de escrever. Diz aí: você prefere uma máquina digital ou uma polaroide? Enfim, zoei para não perder o hábito, mas esse é um sinal dos tempos. Os seus amados discos estão restritos à pequenas seções dentro de lojas de departamentos. Fazer o quê? Pior seria se eles sumissem de vez. E olha que com o andar da carruagem da música por download, isso nem é um pensamento tão difícil de acontecer. Amiguinho, cuidado cuidado com escadarias escuras. Procure sempre acender a luz. Até a próxima!!!

sábado, 1 de janeiro de 2011

Resoluções para 2011

Ainda no clima do "adeus, ano velho! Feliz ano novo!", pensei em uma lista de resoluções para 2011.

1) ...
2) ...
3) ...
4) ...
5) ...
6) ...
7) ...
8) ...
9) ...
10) ...

Isso mesmo. Reticências. Sei o que eu quero de uma forma ampla e preparar um checklist para verificar no dia 31 de dezembro de 2011 não me excita mais. Acho que uma das maiores lições que aprendi nos últimos meses é ter um norte, mas não ficar bitolado com "pequenices". Na vida, quase tudo é"pequenice". Passei a olhar além das colinas (ou "Além do Horizonte", como versou o Rei).

Sejamos mais Raul Seixas ("não sei para onde estou indo, mas sei que estou no meu caminho") ou mais Zeca Pagodinho ("deixa a vida me levar. Vida leva eu"). Funciona? Quem sabe... isso só o tempo revela.

Desejo ainda mais fortemente um ano extraordinário para você e pego emprestado uma benção irlandesa:

May the road rise to meet you
May the wind be always at your back
The sun shine warm upon your face
The rains fall soft upon your fields
And until we meet again,
May God hold you in the hollow of his hand.


Traduzindo…

Que a estrada se erga para te encontrar
Que o vento esteja sempre nas suas costas
Que o sol sempre aqueça a sua face
Que a chuva caia suave sobre os seus campos
E até que nos encontremos novamente
Que Deus carregue você na palma da Sua mão.