quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Menina sozinha na folia baiana

Com a proximidade do carnaval, chega até mim uma cacetada de histórias envolvendo colombinas e pierrôs. Algumas são até legais, mas poucas merecem registro. A aventura de Monique e seus irmãos vale nota.

Monique estava na vala. Seu namoro havia se rompido dias antes da folia e seu mundo tinha desabado. Não havia tempo de fazer uma programação e ficar no Rio naquelas circunstâncias seria demais para o seu orgulho de mulherão. Então, decidiu apelar para os irmãos. Os dois, Nivaldo e Nestor, já tinham comprado pacotes para Arraial D'Ajuda e estavam na contagem regressiva.

Monique, desesperada, percebeu que eles seriam a sua salvação, uma vez que ela precisaria de ritmo de jogo para acompanhar as antigas amigas solteiras. Como eu disse, ela tinha um orgulho de mulherão para defender.

- Meninos, posso ir com vocês? Já liguei para a agência de turismo e eles me descolaram uma vaga - ela pediu.

- Não - eles responderam em uníssono.

- Deixa, vai.

- Não.

- Por favor.

- Não.

- Pelo amor de Deus.

- Não.

- Eu faço o que vocês quiserem.

- Não.

- Eu fico cega, surda e muda durante a viagem.

- Não.

- Eu pago.

- Quanto?

Depois de uma negociação mais delicada que a vinda do Ronaldo Fenômeno para o Flamengo, os três irmãos acertaram uma base monetária. Só vale considerar que o prejuízo de Monique foi considerável.

- Então, está combinado, mas tem uma condição. Não vamos ficar pajeando você. Chegando lá, tu se vira - decretou Nestor. Monique topou.

Na sexta-feira de Carnaval, o trio chegou à cidade e o clima já estava pegando fogo. Monique fez algumas amigas descartáveis e foi à luta.

Momento glossário. O termo "amigos descartáveis" vem do filme "Clube da Luta" e se refere às pessoas que você conhece em situações isoladas da vida e quase nunca voltará a revê-las. São pessoas que puxam assunto no avião, em filas de espera, festas, carnavais e por aí vai. Adoro essa definição.

Voltando...

Monique e suas amigas descartáveis entraram em campo para goleada. Na praia, nas ruas ou no Parracho, o couro comia na casa de Noca. As periguetes estavam em plena forma, enquanto que nossa heroína nem tinha feito a pré-temporada.

Amiga 01 (sabe-se lá o nome dela) conheceu Nivaldo ficou interessada. As outras da gangue também ficaram curiosas quanto aos dotes de agarramento dos irmãos de Monique. Como familiar ciumenta, ela fazia jogo duro.

- Com meu irmão, não, violão.

Certa noite, elas saíram do Parracho e aguardavam uma Kombi para voltar ao hotel.

Parêntesis...

Veja como o carnaval é realmente uma inversão. Pegar uma Kombi em qualquer época do ano seria o fim da picada para Monique e suas amigas descartáveis, mas lá no sul da Bahia era maneiríssimo.

- Monique, você já ouviu falar do Kombilêlê? – perguntou Amiga 02.

- Não, o que é?

- Não sei ao certo, mas costuma passar por aqui à noite. É uma atração local.

- Tomara que passe, então.

Depois de esperarem um pouco, uma Kombi deu sinal de luz. Elas acenaram. O veículo parou, e quando elas se aproximaram, perceberam que cada janela do automóvel tinha uma bunda colada. Veja bem, uma bunda de verdade, peluda, branca. Blergh!

- Olha o Kombilelê! - veio a voz do megafone sobre o carro. E tome funk na trilha sonora!

Em um primeiro momento, Monique se assustou. Antes da Kombi arrancar e sumir na madrugada, ela olhou melhor e fez uma constatação.

- Eu conheço aquelas bundas.

- Conhece?

- São meus irmãos e os amigos! Pelo menos, a dos meus irmãos, eu tenho certeza - anos de convivênvia não deixam dúvidas.

- É mesmo? - Amiga 03 logo se interessou no papo.

- Bela bundinha tem o seu irmão, hein?

- Isso é lá coisa que se diga, mocréia! - Monique perdeu uma das amigas descartáveis nesse momento.

Antes de o tempo fechasse para valer, uma Kombi de verdade passou e garantiu que os ânimos fossem contidos.

Nos dias restantes, muita gente falou do tal Kombilelê, mas Monique fazia que não entendia. Mudou o time de amigas descartáveis e foi curtir o restante do seu carnaval.

- Amiga descartável interesseira é um porre.




QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, o príncipe de Etérnia será sucinto em sua explanação, pois está atrasado para um bloco. Veja bem, Monique poderia estar fora de forma, mas sabe bem o caminho da roça. Ela esperava encontrar o quê no Carnaval de Arraial d'Ajuda? Uma convenção da ONU? Moças dadivosas e cândidas? Duvido. Quanto à traseira dos sujeitos, não tenho opinião. He-Man, minha identidade secretíssima, usa sunga de couro, mas não gosta dessas coisas. Amiguinho, beba bastante água durante o verão. Mantenha-se hidratado. Ah, e um excelente carnaval para todos!!!!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Participação especial #3

Hora de bater ponto no blog dos outros. Com estou com a macaca (planejando até comer a Angelina Jolie), o tema de hoje envolve aquela peça de vestuário bege que as mulheres julgam inofensiva, mas causa arrepios (no mau sentido) na maioria dos homens. Visite o Caixa Preta e leia mais sobre a maldita calcinha bege. Procure por "O diabo veste bege" e divirta-se.
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O texto principal está logo abaixo. Espero que você goste.

Quando vou comer a Angelina Jolie?

Outro dia parei em frente a uma banca de jornais e me deparei com uma capa de revista que apontava a Angelina Jolie como a mulher mais sexy do mundo. Nesse momento senti duas emoções diferentes. Primeiro, eu quis comprar a tal revista para me deslumbrar com a Angelina e as outras 99 beldades. Depois, olhei melhor para aquele monumento de mulher e pensei comigo mesmo: "quando vou comer uma mulher dessa?" Baixei a cabeça (as duas, melhor dizendo) e procurei um gibi da Mônica pra relaxar. Não deu.

Carol Castro, Michelle Pfeiffer, Alinne Moraes, Paula Toller, Luciana Vendramini...

Passei as horas seguintes com o rostinho lindo da Angelina na cabeça. E em um imenso efeito cascata logo estava pensando na boca da Monica Belucci, nos seios da Luma de Oliveira, nos olhos da Milla Jovovich, nas pernas da Ivete Sangalo, na bunda da Juliana Paes, na barriguinha de uma menina que freqüenta a praia aqui perto (essa você não conhece, mas deveria) e no pescocinho da Gisele Bundchen. Eu admito. Eu adoro um pescoço e a Gisele tem um alongado que é uma delícia. Mas voltando ao assunto, esse turbilhão de mulheres me deixou em uma profunda crise existencial. Que se dane a origem do universo, a teoria da relatividade, conceitos de Freud, física quântica, de onde viemos e para onde vamos. O que eu queria saber é "quando eu iria comer a Angelina Jolie?"

Juliana Paes, Dani Bananinha, Jennifer Lopez, Vera Fischer, Camila Pitanga...

Peraí, alguém tem que comer ela ou a Luana Piovani, não tem? E o mesmo vale para a Sharon Stone, a Salma Hayek, a Daniela Sarahyba, a Fernanda Lima e a Sandy. Bom, dizem que a Sandy já foi inaugurada pelo garoto violinista. Será que estou pegando pesado em desejar esse time todo? Cara, se você sair pelas praias do Rio de Janeiro em dia de sol, vai perceber que o parâmetro tem que ser esse e o buraco é mais embaixo. Corpos malhados, turbinados, bronzeados, sarados, bombados e curvilíneos ficam tostando na areia, expostos ao céu azul e aos olhos de marmanjos boquiabertos. Alguém tem comer essa mulherada toda.

Angélica, Drew Barrymore, Jenna Jameson, Kirsten Dunst, Maria Fernanda Cândido...

Voltando à minha querida Angelina Jolie, a mulher mais sexy do mundo e patroa do Brad Pitt. Chegou um momento em que reparei o outro lado da moeda. Deve ser um fardo e tanto ser a número um. Imagina acordar em um domingo ao meio-dia com a cara toda amassada, remelinhas nos olhos e gosto de cabo de vassoura na boca. Será que ela corre para as maquiagens? Imagina não poder sair para comprar beterraba na quitanda usando um shortinho surrado e havaianas. Imagina quantos paparazzi estão de tocaia esperando por um ângulo que exponha aquela celulite ou aquelas estrias mais que normais. Putz, que desesperador deve ser ostentar esse posto. A mulher não pode ser normal. Carrega a obrigação de ser espetacular 24 horas por dia - sem direito a feriados e dias santos.

Catherine Zeta-Jones, Daniela Cicarelli, Mariana Ximenes, Nicole Kidman, Juliana Knust...

A mulher estupidamente gostosa e visada por zilhões de lentes perde o direito de ser simples de vez em quando. Torna-se escrava da imagem criada ao seu redor. É a namoradinha do planeta, a amante de todos, o modelo de beleza e só. Que dureza. Ela não pode ir ao cinema, jogar hóquei de mesa no shopping (a não ser que ela compre o shopping), jantar em restaurantes mexicanos com vistas panorâmicas, se acabar em rodízios de pizzas e comer baldes de pipoca. Essas coisas triviais, sacou?

Claudia Leite, Maria Sharapova, Taís Araújo, Keira Knightley, Jessica Alba...

E eu pensado em agarrar um colosso desse porte. Mulherões assim não ficam com bons moços. Bons moços não comem mulheres gostosíssimas. No máximo, um amasso mais saliente depois de muito sacrifício. Bons moços ficam pra trás. Hmmm, pensando bem... ficar atrás da Angelina Jolie não é de todo mal.



QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, você bebeu? Resolveu enfiar o pé na jaca? Esse foi o título mais sem-vergonha que você já utilizou nesse blog. Bom, mas vamos ao que interessa. Seu dilema existencial já passou pela cabeça da maioria dos homens heteros desse humilde planeta. As musas brotam aos milhares porque não vivemos sem elas. E agora? Você vai se jogar da ponte Rio-Niterói? Garanto que não será necessário. As deusas da telinha vêm e vão, enquanto formam centenas de seguidoras com cabecinha de vento. Se eu puder lhe dar um conselho, veja bem: admire as gostosas da TV, mas procure as mulheres autênticas. Aposto que você jamais comprará gato por lebre. Amiguinho, trate bem os animais. Até a próxima!

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Carne e alma

Tenho uma confissão a fazer. Aliás, o termo confissão é adequado ao assunto do dia, pois lida com religião. Sempre que posso, eu vou à missa aos domingos.

Uau! Será que o Surfista Platinado virou um beato que rouba o Chevette do padre para sair com as pretendentes? Não, acho que não.

Pois é, mesmo sendo um cara bem racional, acho reconfortante acreditar que algo toma conta e intercede por mim nas pedreiras do dia-a-dia. Já li e ouvi relatos de gente tão científica quanto eu que presenciou coisas do arco da velha. Lembro de um médico amigo meu que teve o cruel dever de dar a uma família a notícia do iminente falecimento de um ente querido. Quando entrou na sala de espera, onde todos estavam rezando há horas, ele sentiu um calafrio, uma vibração esquisita que o deixou todo arrepiado. Antes de começar o discurso decorado e tantas vezes dito, ele foi interrompido por uma enfermeira, que precisava lhe informar sobre a mudança repentina no quadro do sujeito. O homem iria sobreviver. Será que teve algo a ver? Meu amigo médico não afirma, mas não descarta.

No meu caso, só fui ficar mais ligado quando, assim como o camarada doutor, tive algumas experiências estranhas. Talvez seja como a música do Caetano que diz "quem é ateu e viu milagres como eu, sabe que os deuses sem Deus, não cessam de brotar nem cansam de esperar". Concordo. Acho que há muita gente falando do Divino sem praticar o bem ou achando que Ele é um déspota. Religião não é tirania para mim.

O curioso é que essa minha imersão espiritual abriu minha mente para outras filosofias. Descobri aspectos interessantes nas filosofias budistas, judeus, espíritas e krishnas, entre outros. Passo longe do fanatismo. Acho que ser bitolado é estar a um passo de jogar um avião em algum prédio ou doar milhões para instituições de gestão duvidosa. Enfim, fazer o quê?

Outro ponto importante é que ter uma jornada zen não compromete meus hábitos. Continuo ouvindo rock'n'roll, minha energia sexual pode ser sentida a distância e sou fã de uma boa rodada de chopp gelado. E foi em uma dessas reuniões para cultuar a skol gelada que ouvi essa aventura do Claudecir.

Aos domingos, Claudecir toca violão ou teclados na missa. Nos outros dias da semana, dá aulas de música e canta pelos bares da vida. Cotidiano de artista no Brasil é isso aí.

- Cara, você não sabe o que me aconteceu - ele começou e eu sabia que teria pano pra manga.

- Peraí, um minutinho. Garçom, traz dois chopps. Pronto. Conta o seu drama - história contada a seco não tem a menor graça.

- Sabe a missa de ainda há pouco?

- Sei, Claudecir, eu estava lá.

- Você reparou na garota de vestido azul na primeira fila?

Garanto que azarar as gatinhas não é a minha intenção na igreja, mas uma olhadinha de leve e sem maldade pode rolar. Deus perdoa.

- Não, não reparei. O que tem ela?

- Quando acabou, eu estava desmontando o equipamento e percebi sua aproximação. Nem era tão bonita, mas tinha um corpaço.

Em tempo, Claudecir é um sujeito boa pinta, voz aveludada e jeito de menino tímido lá de Barbacena.

- E aí?

- Eu estava abaixado e meus olhos estavam na altura das suas coxas.

- Minhas coxas?

- Não, animal, dela. "Coxas dela" soa feio. É quase um cacófato.

- Continua.

- Então, ela chegou perto e eu levantei. "Oi", ela disse. Eu cumprimentei de volta e ela nem fez rodeios mandou na lata.

- O que ela mandou na lata?

Fiquei tenso.

- Ela disse: "se você canta assim aqui, imagina no motel".

Eeeeeita!




QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?

Amiguinhos, interinamente continuo por aqui. Como Esqueleto e seus comparsas estão em passando uma temporada em Búzios, isso aqui anda um marasmo. Bom, sobre a história de Claudecir, não me espanto. Por mais que as religiões tenham um nobre objetivo espiritual de engrandecimento e perfeição, seus praticantes são pessoas de carne, osso e libido. Eu, príncipe de Etérnia e alter ego do Homem mais Poderoso do Universo, faço uma afirmação nesse tema tão rico e delicado: Deus nos deu a vida para ser vivida plenamente. Que nossa história seja escrita de uma forma legal. Acho que isso é a melhor forma de honrar o Papai do Céu. Puxa, estou até admirado com minhas palavras. Amiguinho, seja organizado e arrume seu armário de tempos em tempos. Até a próxima.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Orgulho sulista

De tanto rodar o país e conhecer gente de várias procedências, cheguei a uma conclusão geopolítica: três cidades fabricam pessoas especialmente orgulhosas da sua origem. São indivíduos facilmente identificados pelo sotaque, pelos trejeitos e até pelo jeito de andar (como já cantou a Fernanda Abreu). Sim, são eles os cariocas, os paulistas e os baianos - os mineiros poderiam fazer parte desse grupo, mas são tímidos demais. Eu já achava que não haveria mais surpresas, mas mudei de idéia quando visitei o Rio Grande do Sul.

Os gaúchos são pessoas simples, amistosas e extremamente regionais, quase interioranas. Sua cultura é defendida com afinco e suas manias chegam a ser folclóricas. Quer exemplos? Veja o tal do chimarrão, o português cantado quase ao tom espanhol, a lenda da macheza e a rivalidade visceral entre Grêmio e Internacional. Esses são apenas algumas referências óbvias que são gritadas pelo Brasil. Agora, o que eu não sabia (e acabou incluindo Porto Alegre na minha lista) é o tamanho do ego sulista.

Historinha rápida, mas curiosa passada no trajeto entre Rio de Janeiro e Porto Alegre. Mais exatamente, são três declarações fortemente gaúchas:

Número um:

Na sala de embarque do aeroporto de Curitiba, eu aguardava a conexão do meu vôo atrasado (típico). Pertinho da minha cadeira, um garoto de uns sete anos vestia a camisa vermelha do Internacional e sacaneava um homem de uns quarenta anos trajado com o uniforme tricolor do Grêmio. Os pais do moleque, constrangidos com suas malcriações, tentavam conter seus ânimos. Como gosto muito de futebol e achei engraçado um guri daquele tamanho ser tão prematuramente fanático, resolvi chamar sua atenção.

- Ei, psiu.

Ele virou-se para mim.

- Você está vindo de onde? - perguntei.

- Do Rio.

- E você é gaúcho?

- Não, nasci gaúcho, mas sou colorado.

Ui!

Número dois:

Quase chegando a Porto Alegre, o comandante anunciou a aproximação de uma forma peculiar.

- Senhores passageiros, dentro de mais alguns instantes, estaremos aterrissando em Porto Alegre, a capital do mundo...

Eita! Capital do mundo?

Número dois:

Esse mesmo comandante voltou a carga poucos minutos depois.

- Senhores passageiros, estamos sobrevoando o rio Guaíba, a fonte que originou o oceano Atlântico...

Vixe!

Claro que o capitão estava brincando (eu espero), mas depois desses cartões de visitas do Rio Grande, além de outras constatações menores, não teve jeito. Mesmo com um jeitão argentino de ser, os gaúchos estão no grupo dos cariocas, paulistas e baianos no quesito orgulho regional.



QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?

Ops, fui pego de surpresa e não troquei de roupa. Ninguém respeita mais as férias alheias. Bom, vamos lá. Amiguinho, todo estado possui sua própria altivez. Claro que alguns conseguem mostrar esse estado de espírito com mais facilidade. Até concordo com o G4 formado pela turma de São Paulo, Rio, Porto Alegre e Salvador, mas você não pode esquecer dos pernambucanos, candangos, cearenses e paraenses. Em proporções diferentes, também vestem a camisa e possuem uma cultura fortíssima. Amiguinho, não palite os dentes após as refeições, pois isso é feio que dói. Prefira um fio dental.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

A tropa dos caboclos

Em idos tempos quando eu vestia calças curtas, sempre que eu perdia alguma coisa, logo vinha um adulto falando: "pede para São Longuinho". Como não tinha nada a perder, eu obedecia:

- São Longuinho, São Longuinho, me mostra onde está o dinheiro do lanche que eu lhe dou três pulinhos.

Alakazam! Não demorava muito e aparecia o item sumido. Para fazer justiça ao bom Longuinho, os três pulinhos eram imediatos. Hoje em dia sou eu que recomendo às pessoas com trecos perdidos que recorram a ele. Outro dia, fiquei grilado. Se São Longuinho acha, quem esconde?

- É o Caboclo Escondedor, meu filho - me revelou a Dona Gumercinda, passadeira quinzenal lá de casa. Negra como piche, cheia de vitalidade (apesar dos 70 anos nas costas), moradora de Caxias e lotada de histórias, Dona Gumercinda não deixa nada sem resposta. E depois de um rápido bate-papo sobre o tal Caboclo, descobri toda a gangue de pentelhos. Segundo a passadeira, eis a lista:

Caboclo Escondedor: Entidade que isola os seus pertences. Responsável por todos aqueles guarda-chuvas, canetas Bic, celulares e números de telefone que você já perdeu. Vive se engalfinhando com São Longuinho. Um esconde e outro acha.

Caboclo Esquecedor: Esse não dá sumiço em suas coisas, mas em suas lembranças passadas, presentes e futuras. Faz você não lembrar do aniversário da namorada, do jantar de ontem, do relatório a ser entregue, da festa surpresa, de ligar em datas importantes e outros eventos que passam despercebidos. Com o advento das agendas eletrônicas, o Esquecedor tem aporrinhado menos gente, mas ainda apronta das suas.

Caboclo Troca-Nome: Esse é o que eu mais odeio. Embaralha nomes na sua cabeça e faz você chamar a Deolinda de Joaquina. Pior ainda é quando faz a pessoa querida se embananar e te chamar pelo nome do ex - do ex dela, é claro. Muito atuante, o Troca-Nome mistura seus primos, seus novos colegas de trabalho, aquela princesinha que você acabou de conhecer e as visitas.

Caboclo Tira-Sono: Ih, cadê o soninho gostoso que estava aqui? Foi o Tira-Sono que levou. Arranca suas noites de descanso e seus belos sonhos, tornando as madrugadas em intermináveis pesadelos. Quanto mais importante for o seu compromisso no dia seguinte, maior será a chance desse miserável ter sucesso e levar o seu alívio pras cucuias.

Caboclo Bota-Sono: Irmão gêmeo do Tira-Sono, esse caboclo causa efeito totalmente contrário. Ele é o gerador de bocejos, olhos cansados e a vontade de dormir justamente quando você tem uma festança pela frente. Contra o Bota-Sono, bata na madeira e convoque São Red Bull com guaraná.

Caboclo Gastador: Esse pega a mulherada de jeito. Por intervenção do Gastador, você abre a carteira e vê mais dinheiro do que existe na realidade. O Gastador também faz você esquecer do limite do cartão, do tamanho do seu salário e do saldo da conta corrente. Certas pessoas, como eu, ficam mais suscetíveis à influência desse sacana quando tomam umas a mais. Já ouviu falar de gente que quando bebe fica rica? Agora você conhece o culpado.

Caboclo Gerico: Ah, esse é de lascar. Atua diretamente em comentários idiotas, idéias sem-noção, programas de índio e aquelas piadas constrangedoras que são soltas em rodas de amigos. O Gerico causa situações embaraçosas e saias justas diversas.



QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Pois é, amiguinho, eis boas desculpas para todos os micos, datas esquecidas e pertences sumidos durante a sua vida. Estou certo que daqui para frente, você já tem a quem culpar. Pois tome vergonha nessa cara e não dê maus exemplos aos leitores. Saiba que é muito mais digno que você bote a culpa na birita. Amiguinho, tenha sempre um bom livro por perto. Ele pode ser um ótimo amigo. Até a próxima!

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

O melhor amigo do homem

Por mais que eu goste muito delas, sou obrigado a admitir: mulheres são bichos traiçoeiros. E juro que já ouvi essa opinião de muitas fêmeas.

- Tenho muitas colegas, mas prefiro amigos do sexo masculino - declara uma amiga.

Penso que homens são muito mais companheiros e cúmplices que as mulheres. Porém, quando conquistadas, as moças movem um mundo por você. O difícil é encontrar essas peças raras ou descobrir o mapa da mina.

Bom, sobre o tema, tenho um tio que se diz doutor. Depois de umas rodadas de Johnnie Walker (faixa preta, terceiro dan), fui agraciado com uma história sensacional. Ele jura de pés juntos que é a mais pura verdade. Eu acreditei.

Era um vez...

Já passava da meia-noite e Astolfo estava preocupado com a esposa que não chegava e não dava notícias. Insistente, ele tentava o celular, mas continuava caindo na caixa de mensagens. Quando estava quase ligando para a polícia, Lucinda retornou uma ligação.

- Querido, estou bem. Vou passar a noite fora. Amanhã te explico - e desligou sem maiores detalhes. Um pouco mais tranqüilo por saber que a mulher estava pelo menos viva, Astolfo decidiu ir dormir e apurar o fato no dia seguinte.

Quando reencontrou Lucinda, foi direto ao ponto:

- Onde você esteve?

- Oi, amor. Passei a noite com uma amiga. Ontem choveu muito.

Astolfo não seguiu com o interrogatório. Pensou duas vezes e preferiu investigar por conta própria. Lembrou das cinco melhores amigas de Lucinda e ligou para cada uma delas com a mesma pergunta:

- Oi, me diz uma coisa: a Lucinda dormiu na sua casa ontem?

As respostas foram:

1ª) Não, aqui não.

2ª) Não, faz tempo que eu não vejo a Lucinda.

3ª) Não, não dormiu por aqui. Manda um beijo para ela.

4ª) Não, eu estava viajando ontem.

5ª) Não, ela está bem?

Astolfo sentiu o peso da peruca de touro em sua cabecinha preocupada. Como não havia prova concreta, resolveu dar o troco na mesma moeda.

Depois de um dia de trabalho, Lucinda voltou para casa e não encontrou o marido. Ligou, deixou recado na caixa de mensagens, mandou torpedo, enviou e-mail... fez o diabo. Perto da meia-noite, Astolfo ligou de volta.

- Amor, surgiu um imprevisto e passarei a noite na casa de um amigo. Depois a gente conversa.

Desligou.

Lucinda revirou-se de raiva. Xingou o marido com todos os palavrões conhecidos no ocidente.

- Onde você esteve, safado? - Lucinda não perdeu tempo ao reencontrá-lo.

- Passei a noite com um amigão. Ontem caiu um dilúvio. Vou para o trabalho. Beijo.

E saiu pela casa assoviando.

Lucinda teve a mesmíssima idéia e ligou para os cinco melhores amigos de Astolfo. As respostas dos camaradas fizeram o queixo da esposa desabar.

1ª) Sim, dormiu por aqui.

2ª) Sim, ele teve uma dor de cabeça e ficou por aqui.

3ª) Sim, ele dormiu no sofá.

4ª) Sim, saímos para tomar umas cervejas aqui perto e ficou tarde.

O último foi o mais amigo

5ª) Sim, dormiu aqui. Inclusive, ele ainda está dormindo.





QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Ah, esses camaradas. Sou obrigado a concordar contigo, amiguinho. Os homens são um pouco mais companheiros (até mesmo das mulheres). Claro que jamais poderemos generalizar, pois mau-caráter não escolhe cueca ou calcinha. Amiguinho, procure arrumar a sua cama. Isso demonstra organização e asseio.