quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Então, é Natal...

Ah,o Natal. Chega dezembro e as caixinhas de fim de ano se multiplicam geometricamente em todos os locais possíveis e imagináveis. Ao mesmo tempo, os corredores dos shoppings são tomados por multidões. E a Simone, hein? Ninguém ouve falar dela durante o ano, mas chegam as festas natalinas e a cantora baiana bomba nos supermercados pelo Brasil afora com aquela versão de "Happy Christmas", do John Lennon. "Então é Natal / E o que você fez?"

Só que eu fico melancólico no Natal. Rola um tristeza que vem "sei-lá-porque" e "sei-lá-de-onde". Já tentei, mas não consigo explicar. No fundo, acho que é a (argh!) idade, a maturidade. Talvez, o tempo traga à tiracolo uma consciência maior do que está ao redor e uma culpa cristã do tipo "poxa, eu tenho grana para comprar presentes e terei uma ceia legal em família, mas e todos aqueles que não têm?".

Acho que comecei a ficar jururu desde que assisti àquele especial do Mickey Mouse e do Tio Patinhas. Em quase todo Natal, passava a adaptação da Disney para "Christmas Carol", do Charles Dickens, em que o avarento Scrooge era visitado pelos fantasmas dos Natais passado, presente e futuro. Eu era pequeno e fiquei impressionado com a noite natalina do Mickey pobre e explorado pelo patrão.

Disney também é consciência. Tá pensando o quê?

Ainda hoje bate uma deprê nessa época do ano. Culpa do Tio Patinhas muquirana e do Mickey barbarizado. Aí entra um medo lascado de virar um velho que participa das ceias, tomas umas doses de vinho a mais e fica se lamuriando diante da família.

- Ah, este é o meu último Natal. Buáááááá!

No ano seguinte, o desgraçado faz a mesma coisa. Tenho pavor de parente que fica chorando milongas durante a ceia de Natal. Aposto que você tem alguém na sua família que faz isso.

No fundo, sinto falta do legítimo espírito de Natal. Aquele que a gente aprende quando é bem pequeno e esquece com o passar dos anos. Tenho saudades de quando era gurizinho e escrevia cartinhas para o Bom Velhinho pedindo uma bicicleta e paz para todos. Hoje em dia, a gente cresce e só lembra da bicicleta.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?

Amiguinho, não fica tristinho com o Natal. Na aba da celebração ao nascimento do JC, o mês tem outras características bem particulares. Em que outro mês rolam os amigos ocultos? E em que outra época você ouve a palavra panetone? E além da Simone, sempre aparece aquele CD com o Jorge Aragão tirando "Ave Maria" no cavaquinho. E ainda tem o especial do Rei Roberto Carlos. Mais intimamente, em que outro período o seu pai liga para os irmãos e te obriga a conversar com primos que você mal conhece? "Vem cá, fala com o seu primo Juquinha". "Quem diabos é Juquinha, meu Deus?". E dezembro é o único mês do ano em que o Supermercado Guanabara não faz aniversário. Dá para ficar triste com tantos momentos especiais? Amiguinho, não banque o esperto nos amigos ocultos do seu trabalho. Presente de loja de R$1,99 não faz bem para a sua imagem. E Feliz Natal do He-Man!!! Ho, Ho, Ho!


OBS: O filme da foto é a produção francesa "Joyeux Noel", de 2005. Politicamente correta e bonitinha, a história narra uma inusitada trégua entre escoceses, franceses e alemães durante uma véspera de Natal no campo de batalha da I Guerra Mundial. Vale uma conferida!

domingo, 13 de dezembro de 2009

A vida em reprise

Assim como a Regina Duarte*, eu tenho medo. Na verdade, pavor. Pânico. Fobia. O alvo dos meus piores temores é a rotina a dois. A mesmice nossa de cada dia que afugenta as surpresas do casal.

Tenho uma penca de amigos casados. Entre alegrias, eles sempre deixam vazar uma pequena frustração pelo repeteco cotidiano. Parece que as suas vidas se tornaram um episódio do Chaves, daqueles que você já viu umas 358 vezes, mas acaba vendo novamente. Gosto do Chavo Del Ocho, mas a ideia da repetição infinita é de lascar.

Aliás, tem um filme baseado em uma obra do Stephen King que diz "o inferno é a repetição". Claro que não vou lembrar o título (talvez "A Tempestade do Século"), mas esta passagem ficou marcada em mim. Toc, toc, toc. Bate na madeira...

No fundo, sou um esperançoso. Gostaria de fazer como um dos personagens do Woody Allen, que rapta a namorada/esposa para uma tarde de paixão descontrolada em um hotel no centro da cidade.

Caceta, não pode ser tão complexo...

Tanto ele quanto ela pode fazer pequenas coisas que surtem um efeito bem positivo. Ações básicas, como sair para jantar mesmo com comida em casa, aprontar as malas para um fim de semana em Petrópolis, Campos do Jordão, Gramado ou no Guarujá, um presente bobinho ou uma rosa no painel do carro. Dá para ser criativo, não?

Sou um teórico. Nunca casei e o meu maior relacionamento durou um ano e sete meses. Talvez eu fuja da tal rotina e seus males. Fico pensando se ela não é inevitável e tals. Nem tudo é sexo, pizza e rock'n'roll e as pessoas têm uma tendência natural a sossegarem o facho. Eu penso em ficar calminho em alguma fase da vida, mas manso e passivo... isso não.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, tenha mais medo da solidão do que a rotina. Saca só o pensamento estrondoso do Príncipe do Poder: o rame-rame diário tem remédio, só depende da dupla. Já a triste sina de ficar só (mesmo acompanhado) é muito mais infernal. Ah, o He-Man anda tão pensativo ultimamente. E você também. Por onde raios você andou, pô? Deixou a lojinha abandonada. O texto passado virou um chat. Amiguinho, gentileza gera gentileza. Até a próxima!!!



*A piada do medo e da Regina Duarte se refere a um vídeo gravado durante as eleições presidenciais de 2002. Na época, a Viúva Porcina declarou ter medo do Lula Presidente.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

O que fazer quando se sofre por amor?

Alguns leitores passam por aqui e deixam uma sementinha em forma de recado. Muitas vezes, o indivíduo nem sabe que o fez. Manel Cruz apareceu aqui sabe-se lá como e largou uma poesia e um questionamento. Pulemos os versinhos e vamos ao seu dilema:

Caro blogueiro, cai aqui por acaso. O que fazer quando se sofre por amor?

Caiu de pára-quedas como tantos outros. Se voltou, não sei. Mas a pergunta ficou me martelando. Lembrei de Doralice, mulher que raptou o meu coração por alguns meses.

Você sabe a diferença entre sequestro e rapto?

Eu estava caidinho pela Doralice. Para descrevê-la, peço licença aos versos do Seu Jorge: seu cabelo me alucinava. sua boca me devorava, sua voz me iluminava e seu olhar me apavorava. Mas o carinho seguia uma via de mão única. Eu a adorava sem qualquer retorno.

Eu me acostumei a amar sem qualquer retorno. E sempre que saíamos, a hora mais triste era a que eu parava em frente à sua casa, no Recreio dos Bandeirantes. Ela saia do carro e deixava um vazio tremendo. No dia seguinte, o ciclo se repetia e a mesma sensação de tristeza me invadia. Sempre no momento dos dois beijinhos e do tchau.

Doralice, que não era besta, percebeu que algo mudava nos segundos antes de fechar a porta e sair.

- O que você tem?

- Nada. Bobagem.

- Conta.

Não cou contar. Não vou contar. Não vou contar.

- É que... eu... é que...

Raios! Por que eu não me seguro???


- Doralice, eu sou alucinado por você, mas sei que o sentimento não é recíproco. Não tenho esperanças. Esperanças se foram faz tempo. Não tenho fé. A fé se foi também. Eu só tenho o presente, que são esses momentos em que estamos juntos. E toda vez que você sai do carro, eu acho que pode ser a última.

Carajo! Essa veio lá das entranhas. Lá do pré-sal da alma.

Doralice esboçou um sorriso, mas desistiu. Ficou séria. Ela fez um leve carinho no meu rosto e saiu sem dizer uma palavra. De fato, eu não a vi muitas vezes depois. O presente se juntou à esperança e à fé e sumiu. Restou apenas a lembrança.

Então, meu caro Manel, eu não sei o que se faz quando o sofrimento vem do amor. Poucos sabem. Apenas sei que valorizar cada momento é um santo remédio contra um mal muito pior: o remorso.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?

Amiguinho, estava demorando para você resgatar essas histórias do limbo. Mas fico feliz que você não tenha uma memória do tamanho da saia da mocinha da Uniban. Sobre a pergunta do nosso caro Manel, atente à soberana letra do He-Man, aquele que só conhece os males da rejeição através das músicas do Wando e das novelas da Maria do Bairro: não há razão melhor para sofrer que por amor. Na verdade, é a única razão que vale a pena. Depois dessa, vou depenar a Feiticeira de Greyskull e já volto. Amiguinho, não aponte os defeitos das outras pessoas! Até a próxima!!!

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O calcanhar de Aquiles

Ainda tem quem diga que homem não tem medo. Pois tem medo, sim. O lance é que os marmanjos temem certas coisas que pouco afetam as mulheres. Vou dar um exemplo prático.

Tarde de tempo encoberto no Rio de Janeiro. Após um trabalho no caloroso (e calorento) bairro da Tijuca, eu e dois colegas andávamos por uma calçada. Durante o trajeto, conversávamos sobre trivialidades. Ou melhor, o pacote básico dos papos masculinos: futebol, mulher e mais mulher. Em certo momento, os dois se calaram. Suas faces ficaram mais duras e as piadinhas sumiram. Passamos em frente a um casal de adolescentes que se amassava encostado em um carro. Ele, moleque espinhento de uns 15 anos. Ela, menina com peitinhos miúdos e uns 14 verões. Ambos com uniformes da escola.

- Taí uma coisa que me arrebenta – começou Haroldo.

- Se fosse filha minha, seria só um tapão. Para acertar os dois com uma cacetada só - emendou Arquimedes sem deixar a bola quicar.

- O pai achando que a filhinha está no colégio e um vagabundo tirando uma casquinha.

- E se fosse o meu carro? Ah, ela ficaria de castigo por uns três meses.

Era óbvio, mas decidi perguntar:

- Vem cá, vocês têm filhas?

- Tenho uma de 13 anos – respondeu Arquimedes.

- Duas. Uma de 11 e outra de 14 – completou Haroldo.

Claro que eram pais de meninas. Homem é um bicho que baba pelas suas filhotas, mas tem pavor de que um pivete de mãos peludas invada os seus domínios. Eu tenho amigos com filhas pequenas e uma certa conversa fecha o tempo:

- Aí, já imaginou daqui a alguns anos? Você chega em casa e encontra um infeliz, sentado no seu sofá, bebendo a sua cerveja e beliscando a sua filha. E ainda vai tentar fazer média com o clássico "faaala, sogrão".

- Eu mato.

- E o cara ainda pode torcer para outro time. O desgraçado usa o seu pacote Sócio PFC para ver o jogo do... Vasco.

- Eu mato, mas é melhor que gostar de "High School Musical".

Outra momento impagável foi o de um amigo meu, pai de uma bebezinha linda. Ele estava passeando com ela e uma simpática mãe cruzou o seu caminho com outro pequerrucho, aparentemente da mesma idade. Tenho uma teoria que pais babões adoram elogiar os filhotes dos outros para ouvir gracejos aos seus. Tudo corria bem até que a inadvertida senhorita cutucou a onça:

- Quando crescer, meu filho pode até namorar a sua filha.

Como era de se esperar, acabou a paz. Acabou o amor.

- Seu filho vai ser gay.

Quem mandou mexer com o ponto fraco dos pais de família.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, o megapower He-Man está ciente deste temor. Vou revelar a essência desse pavor todo. Por favor, anote na sua agenda do Pokemon a verdade nua e crua. Todo homem teme que um garoto faça com a sua filha o mesmo que ele já fez com a filha dos outros. É doloroso, né? Simples assim. Amiguinho, guarde suas coisas onde você possa encontrá-las quando precisar. Isso economiza tempo e aborrecimento. Até a próxima!!!

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

A caixinha de surpresas de Verônika

Por incrível que pareça, tenho uma razoável proximidade com o Japão. Nunca pisei em solo nipônico nem possuo raízes por lá, mas por acaso tenho parentes nascidos na Terra do Sol Nascente. Tudo começou quando um dos meus tios mais mulherengos foi encantado por uma baixinha de olhos puxados. Meses depois do casamento, ele fez as malas e decidiu dar um pulinho lá do outro lado do mundo. O passeio durou quase uma década e rendeu experiência, piadas, um pouco de dinheiro e duas filhas gêmeas japonesas. Meus pais são padrinhos das minhas priminhas orientais.

Assim como o meu tio galinhão, Verônika saiu do Brasil para se aventurar no arquipélago japonês. A diferença é que ela ainda está por lá. Ela e o filhote pequeno.

Era uma vez...

Verônika e mais uma cacetada de gaijins (estrangeiros) vivem e trabalham no Japão. Na verdade, mais trabalham do que vivem, segundo contava meu tio.

Em um dia normal, nossa heroína seguiu o mesmo ritual de todo santo dia: acordar cedo, deixar o filho na escola e pegar um trem para o trabalho, um restaurante que é um retrato do mercado japonês. Para você ter uma ideia, além dela, as equipes reúnem gente da França, Itália e Alemanha. E olha que é só um restaurante.

O que iria diferenciar este dia dos outros é que Verônika teria duas experiências únicas com aquilo que a gente cisma em chamar de acaso.

Verônika estava na estação Harajuku aguardando o trem e percebeu um homem ocidental concentrado. A moça apertou os olhinhos e percebeu que ele lia um livreto. Parecia ser um dicionário ou um pequeno guia do país. Era um turista com a cara do Johnny Depp. O trem chegou e o rapaz sumiu na multidão, deixando a menina encantada e frustrada.

Aliás, não entendo como alguém pode ser os cornos do Johnny Depp. Observe "Piratas do Caribe", "A Fantástica Fábrica de Chocolate", "Donnie Brasco" e "Edward Mãos de Tesoura", citando poucos. O cara muda o visual com a facilidade de quem troca de roupa. Se bobear, só a mãe dele sabe como ele é originalmente.

Horas depois, já no restaurante, o acaso atuou pela primeira vez.

O coração de Verônika quase saltou pela boca quando o Johnny Depp da estação entrou pela porta da frente. Ela acompanhou seus movimentos como se estivessem em câmera lenta e tentou calcular qual a probabilidade do mesmo rapaz que a fascinou na estação entrar no seu restaurante, em uma rua repleta de opções.

Matemática nunca foi o forte de Verônika, então logo abandou os cálculos. Rapidamente, ela reuniu as colegas e foi categórica:

- Vocês estão vendo aquela mesa ali? Deixem comigo.

As cúmplices toparam e Verônika logo descobriu que ele era francês e falava um inglês todo avacalhado.

Tô pra ver um francês comum falar a língua de Shakespeare com desenvoltura e prazer. Pois é, a Guerra dos 100 anos não passou impune.

Verônika desejou receber 50 chibatadas por ter ignorado as aulas de francês da Madame Juliette, mas superou os problemas de comunicação e engrenou um papo com o Johnny Depp da estação.

- Vou ficar mais oito dias por aqui. Você não quer me mostrar a região? - ele perguntou e Verônika quase deu um salto mortal duplo carpado para trás. Sentiu o tamanho da sua alegria? Mas como era gata escaldada, ela ainda arriscou um último teste.

- Claro, posso levar o meu filho pequeno?

Não me pergunte o porquê. Pergunta para a Verônika. Diz ela que é para dar uma chance para o cara desistir.

- Sem problema – aprovadíssimo. Imediatamente, eles trocaram e-mails e telefones em um guardanapo. Ele sorriu e guardou o pedacinho de papel. Não teve iPhone, celular de última geração ou laptop wireless. Só dois pedacinhos de papel como antigamente. Verônika tremia de excitação. Eles se falariam à noite.

Durante o dia, a brasileira trabalhou como se estivesse flutuando. Só que mesmo as atendentes flutuantes precisam comer. Verônika esqueceu de fazer qualquer refeição durante o dia. Uma das colegas percebeu e chamou a sua atenção:

- Você não comeu nada o dia inteiro. Tenho dois sanduíches de frango. Você quer um?

Neste instante, o acaso se manifestou pela segunda vez no mesmo dia.

- Claro. Por que não? - Verônika escolheu o da esquerda. Foi um gesto automático.

Algum tempo depois, ela começou a sentir fortes dores no estômago. Depois de vomitar tudo, Verônika continuou sentindo o abdômen doer como se tivesse bebido limonada com vidro picado. Correu para o hospital, onde foi imediatamente internada com o diagnóstico de infecção alimentar.

Tá pensando que tem SUS no Japão? Nada disso. Lá a parada funciona.

Maior que a dor na barriga foi a dor de perder o encontro com o Johnny Depp da estação. Curiosamente, Verônika ficou hospitalizada por... oito dias.

Momento flashback, que nem LOST: "vou ficar mais oito dias por aqui", disse o Johnny Depp, "oito dias. Oito dias. Oito dias". Vou confessar uma coisa: sempre quis escrever uma intervenção de flashback. A-do-rei! Opa... voltemos à história de Verônika.

Eles ainda trocaram alguns e-mails, mas o inglês escrito do Johnny Depp da estação era pior que os enigmas do Zodíaco, aquele lendário assassino estadunidense que nunca foi capturado. Exagerei, mas era muito ruim mesmo. Verônika ainda guarda o pedacinho de papel com o telefone e o e-mail do francês. Quem sabe ela escolha a Europa para um passeio de férias. Talvez a França, por acaso.


QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, se eu não tivesse a onisciência quase divina, eu diria que você está vendo muito SciFi Channel ou tomando muito açaí com proteinato. Sei lá, essas coisas dão onda. Enfim, a vida é cercada por manifestações do inesperado. Quando o súbito vem temperado por coincidências espantosas, as cabecinhas humanas especulam sobre o efeito borboleta, destino, sina, sorte e até azar. Pois vou dizer uma verdade cósmica: as pessoas são emanam energia e magnetismo. De certa forma, essas forças interferem involuntariamente no seu universo particular (não no disco da Marisa Monte, amiguinho). Caraca, maluco! Essa foi a moral da história mais Arquivo X que eu já concebi. Amiguinho, entre as suas cachaçadas, beba água. O álcool desidrata. Até a próxima!!!

PS. Querida Verônika, obrigado pela história inspiradora e pelos e-mails simpáticos.

sábado, 31 de outubro de 2009

Além do horizonte, existe um lugar...

Você tem um recanto? Um esconderijo qualquer para recarregar as suas baterias? Olha, acho que deveria ser direito de todo cidadão o acesso a um canto sem cobertura de celular, telefonia móvel, internet (mesmo a discada) e rede wifi. Um lugarejo como o Crasto, entre o rio e o mar de Sergipe.

Aposto que você nunca ouviu falar do Crasto, um povoado de pescadores com menos de 100 habitantes. O lugar é tão micro que não existe no mapa. Até o acesso é difícil, bicho. Depois de sair da rodovia (perto da cidade de Santa Luzia, se não me engano), o aventureiro encara uma estrada de terra batida sem qualquer sinalização. Após dividir uma pista de rally com cavalos, vaquinhas e carroças, você chega a uma vila silenciosa, cercada por barcos pesqueiros e pela água perolada do litoral.

Visitei o Crasto à noite, em companhia de alguns amigos boêmios, que queriam me fazer um agrado. Como qualquer fim de mundo que se preze, não havia viv'alma na única rua do local. Mas como tenho amigos influentes (e queridos), um dos restaurantes do local reabriu o expediente só para nos atender.

Sentiu a moral? O Surfista Platinado tem as costas quentes em qualquer lugar do Brasil.

O programinha simples ganhou contornos bacanas por ser isso mesmo: simples. A gente comeu uma moqueca de peixe deliciosa em uma mesinha rústica fincada na areia da praia. Para hidratar, várias cervejas no melhor estilo "canela de pedreiro".

Glossário do Surfista: diz-se no Rio de Janeiro, que a legítima cerveja estupidamente gelada é aquela que vem com a camada esbranquiçada de gelo sobre o vidro. A aparência da garrafa fica como uma canela coberta por cal, que nem a dos nossos amigos da construção civil.

Sob os nossos pés descalços, a areia fininha. Ao nosso redor, o cheio da água doce do rio que se encontrava com a água salgada do mar. Sobre nós, um teto de estrelas e a lua crescente. Às vezes, eu ficava com o nariz apontado para o céu. Meus amigos, acostumados com aquilo tudo, riam. Eles achavam que o rapaz da cidade grande não aguentava o tranco da birita nordestina. Mal sabiam eles que eu estava guardando cada detalhe daquele momento. Para variar, eu não estava com a câmera. Tudo que vi e senti ficou guardado aqui ó, na memória.

PS. Crasto também é o nome de uma região portuguesa famosa por seus vinhos.


QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho viajante, você está sem assunto? Seu simpático pardieiro deixou de ser o seu diário sórdido para ganhar ares de Guia 4 Rodas ou você pensa em abrir uma franquia da CVC Turismo? Você não precisa picar a mula para o agradável estado de Sergipe, apesar de ser um bom programa. O país está repleto de fins de mundo isolados e acolhedores. Levante suas nádegas sedentárias do sofá e procure. Às vezes, nem é necessário sair da sua cidade. Faça o teste! Amiguinho, desligue os aparelhos elétricos quando eles não estiverem em uso. Até a próxima

terça-feira, 27 de outubro de 2009

A loira perdida na guerra do Oriente Médio

Podemos até discutir sobre a intensidade e o modus operandi, mas as mulheres têm um talento ímpar para fazer gato e sapato dos homens. Voluntariamente ou não, elas sabem usar aquela carinha de cachorro que caiu da mudança que nos torna completos vassalos. Eu faço esta afimação com conhecimento de causa.

No penúltimo período da faculdade de comunicação, eu conheci a formanda Cleonice, loiraça belzebú com corpaço de tirar a paz de espírito do mais pacato dos homens. A mulher era um espetáculo de arquitetura e aerodinâmica, mas era inteligente como uma samambaia.

Está é a lei da compensação. Nada vem em excesso sem que algo seja deficiente no mesmo pacote. Presta atenção ao seu redor e veja se eu estou mentindo.

Cleonice fazia uma aula comigo e costumava puxar conversa. Ficar de papinho com aquele monumento era deveras divertido e encorajador. Em uma dessas conversas, ela comentou que estava com dificuldades em finalizar a sua monografia. O tema era sobre a influência da imprensa ocidental nas guerras do Oriente Médio.

Vamos combinar que o assunto era vasto em possibilidades. Daria para redigir umas 200 monografias sobre esta pauta.

- Quer uma ajudinha, Cleonice? Eu sei um pouco sobre o seu tema e posso te dar umas dicas.

Mentira nº1: eu não sabia absolutamente nada sobre a influência da imprensa ocidental nas guerras do Oriente Médio.

- Não vai te incomodar?

- De jeito nenhum. Somos amigos, né? Traz um disquete com o arquivo.

Mentira nº 2: que papo sem-vergonha esse de amigo, hein? A única amizade que eu queria com a Cleonice era a colorida – em tons pastéis.

Dito e feito, ela trouxe um disquinho com a monografia. Para a minha surpresa, ela apareceu também uns três ou quatro livros e um vídeo com um documentário sobre a Guerra do Golfo. Estranhei, mas aceitei. A surpresa maior ainda estava a caminho.

Ao chegar em casa, abri o disco e percebi que eu estava entrando na conversa da loira gostosa. Contando com a capa, a danada tinha redigido cinco páginas. E o conteúdo era ruim de doer.

Você lembra que ela disse que só precisava de uma ajuda para finalizar a monografia? Pois é, só se fosse para encerrar a introdução.

- E aí? O que você achou do texto?

Um lixo, mas como você é deliciosa e quero te dar uns pegas, vou lançar a mentira nº 3.

- Tá legal, mas podemos melhorar algumas partes. Só acho o conteúdo está pequeno. Você não disse que só faltavam alguns ajustes para finalizar?

- Me enganei, mas você escreve tão bem, é tão inteligente. Vamos conversar e matamos essa monografia em dois tempos.

Miserável esperta! Foi direto na minha vaidade: elogiou minha forma de escrever. Claro que eu mordi a isca.

Nas semanas seguintes, aconteceu o óbvio. Eu fiz todo o trabalho da Cleonice e ela passou com uma nota boa. O período acabou, ela se formou e pergunta se eu peguei?

Vou dar quatro opções:

a) Não
b) Nunca
c) Só em sonhos eróticos
e) Todas as respostas acima

Nunca mais tive notícias da loiraça, mas aprendi horrores sobre a influência da imprensa ocidental nas guerras do Oriente Médio. No fim das contas, ela não era tão burrinha assim.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?

Amiguinho, vamos começar com uma correção importante: Cleonice até podia ser gostosa, mas "espetáculo de arquitetura e aerodinâmica" sãopredicados que só cabem à minha pessoa musculosa. Enfim, você está perdoado. Além de se tornar um especialista sobre o Irã, Iraque, CNN, Saddam Hussein e George Bush Sr., espero que você tenha aprendido uma segunda lição importantíssima: as fêmeas (especialmente as deliciosas e estúpidas) são como anacondas (ou a nossa popular jiboia). Elas são lerdas, mas vão te enrolando, enrolando, enrolando e quando você percebe, tchau! Já era. Você foi esmagado e devorado. Essas tapadas são as mais perigosas. Amiguinho, a menos que você tenha 12 anos de idade, não faça guerra de pipoca no cinema. Até a próxima!!!

domingo, 18 de outubro de 2009

O meu primeiro dia de férias - Parte II

Lá pelas 5h da manhã, o voo extra da Gol decolou para Salvador deixando cerca de 80 passageiros furiosos. Eu estava exausto, tenso e achando que a minha viagem de férias corria sério risco.

Depois de esbravejar contra a negligência da companhia aérea, minha válvula de escape foi observar os novos personagens que surgiam na sala de embarque.

O guerrilheiro.

O clima foi ficando cada vez mais pesado. As pessoas estavam enclausuradas na sala de embarque há uma eternidade. Quando o meu relógio marcou 7h, eu estava que nem Jack Bauer: 24 horas ligadão. Por alguma razão, as pessoas conversavam comigo. Num desses papos, surgiu o Guerrilheiro.

Acho que fui um psiquiatra em outra vida. É impressionante como as pessoas curtem desabafar nos meus ouvidinhos.

- A gente tem que fazer alguma coisa. Vamos quebrar as vidraças e invadir o próximo avião. Nós temos prioridade, cacete! – propôs o Guerrilheiro.

- Calma. Não vai adiantar, cara. Como a gente vai invadir um avião? – argumentei.

- Então, vamos bloquear a porta de embarque. O avião tem que levar a gente para Salvador de qualquer maneira.

O Guerrilheiro era um forte candidato a tomar gás de pimenta nos olhos. Depois de alguns planos, ele se acalmou.

A gaúcha e o cachorro perdido

Na multidão, as exigências eram várias. Tinha gente que exigia as malas, tinha gente que demandava uma vaga, mas uma gaúcha estava desesperada por uma razão que latia.

- Bah, eu quero saber onde está o meu cachorro. Eu despachei o meu cão em Porto Alegre há doze horas e ele pode estar morto em algum lugar. Eu quero o meu cachorro!

Como tudo era motivo para iniciar um gritaria, os outros passageiros compraram a briga.

- Cadê o cachorro da mulher?

- Processa a Gol!

Mas havia a turma do farinha-pouca-meu-pirão-primeiro.

- Que se dane o cachorro. Eu quero embarcar!!!

Glossário do Surfista: esta expressão tipicamente carioca significa que se há pouca oferta no mercado, cada um que se vire para levar a sua parte. É uma filosofia egoísta mesmo.

O baiano bom de briga

Após uma madrugada de cárcere no Galeão, as pessoas ficavam agressivas. Um baiano provou que o povo da boa terra não é tão manso quanto se pensa. O sujeito foi ao balcão da Gol e berrou para o aeroporto todo ouvir.

- Rapaz, você está brincando com um homem de 53 anos. Se esse avião não decolar, você vai se ver comigo. Só tem gente com superior completo neste voo. Posso lhe adiantar que porrada na cara de vagabundo não dá cadeia. Eu pago uma cesta básica e saio pela porta de frente da delegacia, viu?

Blefe ou não, o baiano animou os outros pasageiros. O voo atrasou pela milésima vez, mas o moço não enfiou a mão na cara de ninguém. Para cumprir parte da promessa, sobrou um soco no computador da Gol. Voaram as teclas ESC, Caps Lock e o ABC inteiro para todos os lados.

Às 9h30, embarcamos para Salvador. Murphy estava acompanhando a aventura de pertinho e três pessoas não couberam no avião. Para eles, a aventura ainda renderia muito. A aeronave decolou sob aplausos.

Cara, cadê as minhas malas?

Ainda no Rio, fiz amizade com uma menina que iria a um casamento em Aracaju. Com a sequência de atrasos, ela perdeu a festa. Só lhe restaria o passeio mesmo.

Ela me fez companhia no avião e participaria da reta final da viagem. Ao chegar a Salvador, começou a caça pela minha bagagem. Enquanto a menina que perdeu o casamento foi checar como seguiríamos para Aracaju, eu fui conduzido a uma sala com malas perdidas. Será que as minhas coisas estavam lá? Claaaaaro que não.

Taquelpariu, eu estava acordado há 29 horas, sujo, suado, fedido e sem malas.

Outros dois passageiros perderam as suas malas. Parecia que eu teria o mesmo destino.

- Caso as suas malas sejam localizadas, a companhia lhe enviará pelo correio entre dois e trinta dias.

Não sei o que me desesperou mais: a palavra “caso” ou a frase “a companhia lhe enviará pelo correio entre dois e trinta dias”.

Uma outra funcionária da Gol lembrou que duas malas ainda estavam guardadas num buraco qualquer do aeroporto.

Aimeudeusdocéu, com a minha tradicional sorte, qual seria a chance de que essas duas míseras malas sejam as minhas?

Quando o carinha surgiu pelas portas da esperança, reconheci as minhas malas.

Iiiiiiiiiiuuuuuuuuupiiiiiiiiii!Aleeeeeluia!

Esse “iupi” foi meio esquisitão, mas juro que foi o que pensei.

Resumindo o que rolou depois, não havia mais voo para Aracaju no mesmo dia e negociei um táxi para a capital de Sergipe (pago pela Gol, é claro). Eu e a menina que perdeu o casamento embarcamos por via terrestre mesmo. Tirei um cochilo durante a viagem, mas quando abri os olhos, percebi que o motorista estava trafegando a cândidos 180km/h pela belíssima Linha Verde, a rodovia que liga Salvador a Aracaju. Desisti de dormir e preferi rezar para chegar inteiro. Às 17h45 do sábado, mandei um torpedo para o Rio de Janeiro avisando que cheguei.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, como sua história foi imensa, quase do tamanho da carta de Pero Vaz de Caminha, o todo-poderoso He-Man será objetivo: processa a Gol! Amiguinho, cuidado com as tesouras ao cortar as unhas. Até a próxima!!!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O meu primeiro dia de férias - Parte I

Nos idos tempos do colégio, a Tia Teteca cobrava dos alunos do primário uma redação sobre as férias. 99,9% redigiam suas crônicas sob o singelo título de “Minhas Férias”. Pois é, agora eu estou de férias no ensolarado estado de Sergipe. Porém, para chegar até aqui, o drama foi de lascar. Vou compartilhar com você a odisseia que foi a viagem Rio-Aracaju.

Minhas férias...

Cerca de 13 quilômetros separam o lugar onde trabalho do aeroporto do Galeão. Nas condições normais de temperatura e pressão, eu faço esse trajeto em 15 minutos. Na sexta-feira, dia 9 de outubro, o céu desabou em forma de tempestade sobre o Rio de Janeiro. Com isso, a Cidade Maravilhosa (e Olímpica) encarou um dos piores engarrafamentos de sua história e os 15 minutos se tornaram 3 horas de trânsito.

Cheguei ao aeroporto 40 minutos antes do meu embarque. Pouco antes do meu check-in, a atendente da Gol informou que o meu voo foi cancelado, pois o aeroporto estava superlotado. Os passageiros deste avião seriam recolocados na aeronave das 4h20. Despachei a minha bagagem e olhei para o relógio: 22h13. Daí para frente, passei por situações que parecem até mentira. Saca só:

O xixi acompanhado

Fui passear pelo aeroporto para comer alguma coisa e matar o tempo. Tomei um café e fui ao banheiro fazer aquele xixi básico. Um sujeito parou no mictório ao lado e puxou assunto.

Se tem uma coisa que não rola de jeito nenhum é puxar conversa com um desconhecido que está urinando ao seu lado. Isso é inadmissível.

- Mijar é bom, né?

- Errr... pois é.

Decidi não dar muita trela para o cara.

- Dá o maior alívio, né?

- Dá.

- Tô com os olhos todos vermelhos. Até parece que fumei um baseado, mas eu não fumei.

Ah, tudo faz sentido.

- Sei.

Lavei as mãos e fui embora antes que o cara quisesse discutir a crise de Honduras durante o meu xixi.

A crise e os personagens: o careca que perdeu as malas.

Em frente ao balcão da Gol, se formou um tumulto. O tal voo das 4h20 estava lotado e todos os passageiros não caberiam no avião. Surgiu o primeiro personagem: um sujeito careca queria suas malas de volta, mas os atendentes estavam perdidos e não sabiam o paradeiro da bagagem. O sujeito careca explodiu em um esporro sem vírgulas:

- Seusfilhasdaputaeuqueroaminhabagagemagorapois-euvouprocessarvocêse...

Pausa para respirar...

- Euvouprocessarestacompanhiaetodosvocêsvãoparaoolhodaruaseus-filhosdaputaincompetentes.

A massa aplaudiu. Em poucos minutos, chegaram ao lobby a polícia federal, os seguranças do aeroporto e a TV Record. Pelo que vi, o grito deu certo e as malas do careca apareceram. As minhas sumiram.

A triste missão do angolano

Fiquei zanzando pelo aeroporto, torcendo para o tempo passar rápido. Fiz amizade com um grupo de Campinas e uma menina que também viajava para Aracaju. Às 4h15, fomos formalmente informados que o voo estava superlotado e a maioria dos passageiros não poderia embarcar. Rolaria uma peneira para decidir quem embarcaria. O pau quase quebrou (de novo) no Galeão.

Um negão de quase dois metros de altura estava com os olhos marejados. Ele puxou um dos funcionários da Gol e explicou a sua história.

- Eu vim de Angola para enterrar o meu filho que morreu em Salvador. Eu preciso chegar lá pela manhã.

Caraca, aquilo me partiu o coração. Tanto a história do sujeito quanto o tom de voz, quase soluçante. O pior é que o angolano quase ficou de fora do voo das 4 horas.

A menina sem malas

Como era de se esperar, o avião deixaria uma cacetada de gente furiosa no Galeão. Um moça alta gritou:

- Já que eu não vou embarcar, eu quero as minhas malas de volta. Este avião só decola quando eu tiver as minhas malas. Chama a polícia.

A polícia chegou, o avião decolou para Salvador levando as malas da menina, que ficou esbravejando na sala de embarque.

- Minhas malas! Minhas malas!

Seria cômico, se não fosse trágico. A garota xingou a Gol em todos os palavrões conhecidos pela língua portuguesa e voltou para casa. O careca teve sorte melhor.

Acabou? Não! Tem mais. No próximo capítulo, eu conto a histórias de outros personagens do meu voo, o que aconteceu com as minhas malas desaparecidas e como cheguei a Aracaju. He-Man, segura as pontas e guarda a moral para a Parte II.
.
.
.

domingo, 4 de outubro de 2009

He-Man responde! #16

BLOGUEIRA MOJITO PERGUNTA:
Só tenho uma curiosidade, como o Surfista escolhe os codinomes que usa em seus textos? Com exceção da Inês, que já foi explicado num post anterior.

HE-MAN RESPONDE!
Querida Mojito, a sua dúvida é a mesma de muita gente que visita este humilde blog. Para batizar seus pitorescos personagens, o Surfista Platinado usa dois critérios:

1. A partir da inspiração na obra do Nelsão Rodrigues, o autor dá preferência a nomes polissílabos e do português mais antigo. O blogueiro acha que nomes incomuns (Bartolomeu, Agripino, Cassandra, Bernardete, Demétrio, Jandira etc) dão identidade aos personagens. Eles ganham uma personalidade mais forte.

2. As musas ganham referências particulares. Assim como Inês é inesquecível, Princesa Léia sempre será princesa e Amália será sempre a mocinha na chuva. As musas são batizadas com muita atenção.

Pronto! Tá explicado.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Armani Code

Há algum tempo, eu escrevi sobre a coisa mais legal que um homem poderia ouvir de uma mulher. Na ocasião, muita gente perguntou sobre o que eu ouvi, que declaração me deixou completamente balançado. Eu preferi não contar. Hoje, mudei de ideia.

Ah, mais um momento nostálgico deste blog.

Léia não chegou a ser namorada, mas foi uma mulher extremamente especial. Tive um relacionamento intenso com ela e curti cada momento. Por alguma razão que não se explica, o caso nunca se consolidou. Então, podemos concluir que Léia não chegou a ser uma "ex" no sentido clássico da palavra, mas ocupou um lugar importante em meu coração.

Certo dia, encontrei Léia em um daqueles encontros casuais. A gente conversou e tentou manter a compostura, a maturidade de um casal que se reencontra após um bom tempo.

Aliás, essa é uma lenda. Como é possível ficar indiferente à presença de uma pessoa que foi especial? Que teve toda uma intimidade com você? Papinho para boi dormir.

- Me dá uma carona? - Léia pediu ao final da noite.

- Claro.

Ai, ai, ai...

No caminho, ela comentou que havia se envolvido com um cara bacana. Eles viajavam muito e o sujeito era divertido e tals. Eu me resumia a concordar.

O que eu diriar em uma hora dessas?

Parei o carro em frente à portaria dela. Da mesma forma que parei tantas vezes antes. O perfume dela continua o mesmo: Armani. Foi ela que me ensinou a identificar certas fragâncias femininas.

Maluco, mulher cheirosa me tira do sério! Quando o perfume tem o tom certo chega a ser sádico. Mulher de vestido e com o perfume correto me derruba. Periga até me levaro ao altar.

Ficamos em silêncio durante algum tempo. Léia sorriu, me deu um abraço, os dois beijinhos protocolares e abriu a porta do carro. Antes de sair, olhou sobre o ombro e disse:

- Depois de você, eu segui a vida. Eu realmente me envolvi com outro cara. Foi legal. Quando ele me abraçava ou íamos para a cama, eu ficava muito irritada, porque ele não era você.

Assim. Seco. Sem rodeios e sem esperar uma resposta. Léia mandou esse míssil e saiu à francesa. Levou consigo o Armani e os cabelos esvoaçantes. Voltei para casa desnorteado, atordoado.

A declaração de Léia foi atordoante porque ela foi (é) especial. Porque foi um desabafo corajoso, direto, explícito e generoso. Não ficaram dúvidas no ar. Eu me senti um cara muito importante diante dela. Se fosse qualquer outra pessoa em outra circunstância, a tal frase seria banal. Vindo de quem veio, o impacto foi arrasador.

PS. Princesa Léia, demorou um pouco, mas você virou musa.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?

Amiguinho, que fofo, que meigo! As meninas especiais sabem usar as palavras com maestria. Veja como Léia teve a sensibilidade de lançar a bomba no momento exato em que você estava relembrando os amassos no carro. Ela sabia. As mulheres sempre sabem, mesmo quando acham que não sabem. Vai por mim, amiguinho. Você foi presa fácil. Anote uma dica poderosa: guarde mais esta lembrança como se fosse um Picasso, um Dali. Sacou a metáfora para algo inestimável, né? Ah, bom. Amiguinho, seja objetivo ao telefone. Nem todo mundo tem a sua vida mansa e pode ficar de conversa mole. Até a próxima!

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O cavalheiro exagerado e a mulher desafiada

Sou um defensor ferrenho do cavalheirismo. Assim como o Roberto já cantou, "eu sou (quase) aquele amante à moda antiga, do tipo que ainda manda flores". Desde pequeno, eu descobri a importância de certas gentilezas, como abrir a porta do carro, puxar a cadeira, ficar de pé diante de uma mulher e essas coisas. E sabe o mais engraçado? Sempre funcionou.

É um tipo de diferencial competitivo.

Mas há uma tênue linha que divide o cavalheiro do pastel.

Quando eu tinha 14 anos, as meninas chamavam os garotos mais bobocas de pastéis. Fiquei com esse troço na cabeça e morro de medo. Pastel é um insulto desclassificante.

O homem gentil deve conhecer a fronteira entre a doçura e o instinto predador. Aquele olhar furioso do Dirty Harry que traduz um pensamento singular:

Se eu te pego agora, você vai ficar sem fôlego, guria.

Nesse ponto, começamos a história de Bernardete. Nossa heróina conheceu Agripino em uma festa estranha com gente esquisita. O garoto era bonitinho e despertou sem interesse. Depois de um punhado de charme, ele mordeu a isca e foi cair nos braços da moçoila.

É sempre assim. Por mais velozes e furiosos que sejamos, por mais que tenhamos o olhar facínora do Dirty Harry, são elas que decidem. São as regras do jogo.

Seguindo o protocolo, eles trocaram telefones e se reencontraram. Agripino era tudo que ela queria: gatinho, divertido, levemente alternativo, inteligente etc etc. Além disso, ele era gentil como poucos. Fazia todas aquelas coisas que descrevi no primeiro parágrafo. O problema é que o sujeito era fofo demais da conta. Sendo bem transparente, Agripino não tentava bolinar o corpinho da Bernardete.

Em um primeiro momento, foi simpático, mas essa simpatia toda passou logo. Eles iam ao cinema, se atracavam no carro e... só. O infeliz não tentava qualquer sarrinho. Nada de apertos nos peitinhos ou mão boba na coxa. Nada, nada, nada. Obviamente, Bernardete ficou grilada.

Será que ele não se interessa por mim? Será que estou... gorda? Argghhhhh!

Várias dúvidas percorreram sua cabecinha morena. Em uma tarde de sábado, Bernadete resolveu testar os hormônios do bom Agripino com um convite para um DVDzinho em seu apartamento. Claro que ele topou, mas seria melhor que ele tivesse furado. Durante duas horas e sete minutos, o cara se limitou a ficar de mãos dadas. Não houve qualquer movimento brusco ou intimidante. Absolutamente nada!

O namorico do Chico Bento e da Rosinha era mais picante que a experiência de Bernardete.

Nos dias seguintes, a batalha se intensificou. Bernardete usava saias curtas, blusas decotadas, batom vermelho, unhas postiças e o escambau. Porém, o rapaz continuava sem esboçar nada. Naturalmente, sua masculinidade foi questionada.

Após algumas semanas de insistência, Bernardete tinha duas escolhas: partir para o ataque soviético ou tirar o seu time de campo. Ela lembrou de suas ancestrais caçadoras e as recentes incendiárias de lingeries e partiu para o ataque desesperado. Quando o rapaz menos esperava, ela voou no seu pescoço e colocou um ponto final em seu drama. No fim das contas, Agripino não era gay. Era apenas gentil demais.

E como cantou o Rei: "apesar do velho tênis e da calça desbotada, ainda chamo de querida a namorada".

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, a doce história de Bernardete e Agripino é bastante reveladora. Por mais que sejam senhoras da situação, as mulheres entram em cuto-circuito se o modus operandi de um cara vai contra a lógica. Se o mimoso Agripino tivesse voado no sutiã da nossa heroína logo no segundo encontro, ele seria mais um e só. Sua resistência colocou a em xeque o orgulho feminino. Ah, as mulheres desafiadas são implacáveis. A lição, amiguinho, é simples: seja gentil, mas seja agressivo também. Nem todas têm a perseverança da Bernadete. Na verdade, a maioria vai optar por te mandar para escanteio e partir para outro jogo. Amiguinho, respeite as filas. Até a próxima!!!

sábado, 5 de setembro de 2009

Surfista Platinado: 2ª Temporada

Caramba! O blog completou seu segundo aniversário e eu não percebi. Que furo!

Bom, mas ainda há tempo para agradecer aos olhos atentos da moçada que chega aqui sem querer e, principalmente, àqueles que voltam sempre para saber o que tenho para contar. Moçada, eu escrevo para vocês. Não tem essa de guardar histórias embaixo do colchão. Eu digito essas presepadas todas porque descobri que posso levar alguns minutos bacanas para uma porção de gente. Obrigado pela atenção, pelos e-mails, pelas confissões, pelos elogios, pelas críticas e por manterem a lojinha aberta!

Putz, como estou meloso...

Ah, como não poderia ser diferente, segue a lista dos meus textos favoritos da Segunda Temporada:


:: O rapaz só sentado na última fileira do cinema


Por quê? Porque foi um momento de desabafo de um solteirão e ficou bonitinho.


:: A espantosa história da menina sozinha na night carioca


Por quê? Porque histórias com reviravoltas sempre me interessam. Essa foi tão surreal que merece um lugar no hall da fama.


:: A estranha noite de Cassandra e suas amigas


Por quê? Pela mesma justifica acima: o inusitado e o surpreendente. E porque marcou a Estagiária Cassandra como uma das personagens mais queridas desse pardieiro.

:: As aventuras de Anette e o namorado-corrimão
Por quê? Porque é um conto de amor e tolerância dos tempos mordernos. Quer coisa mais contemporânea que namorar um stripper?



:: A menina que queria ser musa


Por quê? Por que foi trágico e ficou cômico. O maior bolo que tomei na vida foi justamente por intermédio deste blog.


:: Peter Pan e a busca pela eterna lua de mel


Por quê? Porque se tornou uma homenagem a um casal de amigos queridos e se ganhou eco nos pensamentos de muitos leitores. O bom é ser feliz e mais nada!


:: O amor e outros desastres


Por quê? Porque o Surfista Platinado tem seus momentos de bom moço e essa é uma história de amor do jeito que eu gosto.


:: Favor não mexer com o porco


Por quê? Porque é um conto tipicamente carioca, mas que poderia virar um filme do Guy Ritchie.


:: Mulheres em chamas


Por quê? Porque fala de sacanagem e sempre é bom tocar neste assunto - ainda mais com embasamento técnico e estatístico.


Já agradeci a todos pela atenção e pelo carinho? Já, né? Mas eu agradeço de novo! OBRIGADO!!!


sexta-feira, 28 de agosto de 2009

É logo ali...

Um dos encantos do Rio de Janeiro são certos programas bacanas que são quase ocultos. São eventos excelentes, mas propositalmente pouco divulgados. Essa aura cria um ar de "clube secreto" para os participantes. Quer um exemplo? A cada última quinta-feira do mês, o pessoal do meu trabalho organiza um samba pós-expediente no Clube Guanabara, em Botafogo. A qualidade do som e a beleza do cartão postal (com a baía e o Pão de Açúcar ao fundo) atrai cerca de 200 pessoas por noite, além de convidados ilustres, como a Beth Carvalho. Isso só na divulgação boca a boca.

Em um desses animados sambas, Jandira conheceu Gumercindo. Papo vem, papo vai, a natureza, a música, a cerveja e os hormônios fizeram o seu papel. Sem muito lenga-lenga, o casal já estava aos beijos.

Ao fim da noite, Jandira repetiu o ritual da troca de telefones e se despediu.

- Espera, eu te deixo em casa – gentilmente, Gumercindo se ofereceu.

Jandira morava longe. Alías, muito longe. Melhor: longe pra cacete! Na verdade, Jandira morava fora do Rio de Janeiro, na aprazível cidade de Duque de Caxias. Em sua cabecinha loira, irrigada por algumas Brahmas geladas, essa distância poderia afungentar imadiatamente o pretendente. Gumercindo era gatinho, tinha boa pegada e poderia render mais. Não seria o momento ideal para queimar o cartucho.

- Não se preocupa. Eu pego um táxi.

- De jeito nenhum. Eu te levo.

Glup!

- Eu moro na Tijuca. É longe e está tarde. Fica tranquilo.

- Que coincidência. Eu moro na Tijuca também. Vem, eu te levo. Faço questão.

Ai, ai, ai...

Sem muitos argumentos, Jandira topou. Orientou sobre uma rua conhecida e foi com o rapaz.

- Meu prédio fica aqui pertinho. Pode me deixar por aqui mesmo.

- Imagina. Eu te deixo na sua portaria.

- Errr... fica ali, ó.

- Ali é um prédio comercial.

- Eu quis dizer, ao lado do prédio comercial.

- Ah, tá. Pronto. Chegamos.

Depois de mais alguns amassos, Gumercindo sentiu os efeitos do excesso de cerveja.

- Linda, posso usar o seu banheiro?

Danou-se!

- Melhor, não. O prédio está com um problema de encanamento. Um horror!

- Eu uso o da portaria. Fala com o seu porteiro.

- Não, não... é um problema generalizado. Desculpa!

Alguns minutos depois.

- A vontade de ir ao banheiro passou, mas me bateu uma sede. Você me arruma um copo de água?

Ai, ai, ai... inventar o quê?

- Querido, minha geladeira pifou. É isso. Estou sem água. Me mudei há pouco tempo e está uma bagunça. Olha, é melhor eu ir. Beijo!

Jandira saiu do carro e aguardou o Gumercindo ir embora, o que não aconteceu.

- Vou esperar você entrar.

A situação só piorava...

Jandira interfonou e o porteiro abriu a porta. Ela entrou e o prestativo Gumercindo seguiu seu caminho.

- Pois não, senhora?

- O senhor não me conhece e eu não moro aqui. Estou perdida e preciso de um táxi. Onde fica o ponto mais próximo?

- Ihhhhh...

Quando você acha que a situação já está péssima e alguém fala "ihhhhhhhh", a impressão é que Murphy está perto de aprontar mais uma.

- Não tem ponto de táxi aqui perto. A senhora precisa andar três quarteirões até o shopping.

E lá foi Jandira, às três da madrugada, andando três quarteirões (que na verdade, eram quatro) até o shopping center.

E o Gumercindo? E a Jandira? Sinceramente, procurei nem saber.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?

Amiguinha Jandira, sua presepeira, quer forma pior de começar um relacionamento com uma mentira? Francamente, hein? Além da cascata, você ainda correu um sério risco ao passear sozinha pela madrugada adentro. Putz, He-Man está parecendo um pai superprotetor. Enfim, a moral é moleza: não minta. Amiguinho, não ache que você é mais malandro que a Lei Seca. Evite biritar e dirigir. Até a próxima!


PS: O Surfista já saiu com uma menina de Duque de Caxias. Ela declarou logo que morava loooooooooonge.

domingo, 23 de agosto de 2009

A fantasia de Dorotéia e o ventilador inconveniente

Lembre-se: o Surfista aumenta, mas não inventa. Esta é uma história verídica.

Dorotéia cedeu à insistência das amigas. Em uma tarde ensolarada, ela venceu seus grilos e entrou na sex-shop do bairro. Pela sua timidez, a visita foi curta, mas rendeu algumas comprinhas interessantes para dar um upgrade no casamento. Com os embrulhos na mão, nossa heroína estava decidida a tirar o seu marido de si.

Dorotéia planejou toda a programação da noite: jantar à luz de velas, vinho tinto, música ambiente, velas aromáticas e a surpresa comprada na lojinha. Aderbal, o marido, estranhou a produção, mas entrou no clima.

De volta ao apartamento, o casal já estava fervilhando.

- Calma, amor. Tenho uma surpresa que você vai adorar. Vai para a cama e me espera só uns cinco minutos.

Aderbal obedeceu. Ele estava adorando.

Homens adoram esses tipo de brincadeiras. Fico impressionado como as mulheres perdem excelentes oportunidades para sacudir a relação com essas estripulias. Ah, essas meninas...

No banheiro, Dorotéia rasgou o pacote com a excitação de uma criança que acabou de ganhar o presente de Natal.

- Vem logo, amor.

- Calma, Aderbal. Só mais um pouquinho.

O maridão estava com a mesma energia dos tempos de namoro. Enquanto aguardava a sua surpresa, fechou as janelas e ligou o ventilador de teto do quarto.

- Você está na cama, Aderbal?

- Sim.

- Está pronto?

- Vem logo, amor.

- Você promete que não vai rir?

- Prometo.

Por que as mulheres têm esse receio? Homens só ririam se ela surgisse fantasiada de ganso ou coisa parecida. Fantasias são estimulantes e algumas são extremamente incendiárias.

Dorotéia entrou no quarto com a fantasia de colegial clássica: saia xadrez, meia ¾, blusinha branca com nó entre os seios e gravatinha. Transbordando sensualidade, Dorotéia se tacou nos braços do maridão.

- Olha bem a sua colegial, gatinho – e ficou de pé na cama.

- Dorotéia, cuidado com o ventila...

CATAPLAFT!

O avisou não chegou a tempo e uma das hélices do ventilador atingiu em cheio a nuca da colegial. Foi desmaio instantâneo.

1 hora depois...

Deitada, Dorotéia abriu os olhos em quarto branco com ar-condicionado quase glacial. A cabeça latejava e tudo parecia girar. Aos poucos, ela percebeu que não estava mais em casa.

- Aderbal?

- Aqui, amor. Você desmaiou e eu te carreguei para o hospital. Que susto! Eu fiquei fora de mim. Você só levou uns pontos na nuca.

Dorotéia foi recuperando a consciência e...

- Aderbal, você não trocou a minha roupa? Eu ainda estou fantasiada!!!

- Não tive tempo, amor. Fiquei apavorado.

Do corredor, ela ainda ouviu o diálogo entre as enfermeiras:

- Leva esses analgésicos para a paciente do leito 12.

- Quem? A colegial sapeca?

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, é impossível culpar a doce Dorotéia. No calor do momento, com a fantasia funcionando lindamente, a pessoa perde a noção do que está ao seu redor. Isso envolve o ventilador de teto. Bom, a lição básica vai para as mulheres: queridas, homem é uma criança grande e com pêlos demais. Ele adora um brincadeira, uma surpresinha. Quebre a rotina e você, cara leitora, terá sempre um escravo sexual. Ouçam aos ensinamentos do Todo-Poderoso He-Man e boas compras na sex-shop. Amiguinho, tome pelo menos um banho por dia. Até a próxima!!!

domingo, 16 de agosto de 2009

O novo dono da bola


Prólogo I

Personagens: Janice e eu.
Local: Casa de sucos na Barra da Tijuca, pois Janice não se aventura no álcool. No máximo, um vinhozinho bem isolado.

- Você ainda fala com o Demétrio? - toquei no assunto.

Demétrio é o ex-namorado da Janice. Ela não admite, mas ainda gosta dele.

- Só de vez em quando. Eu soube que ele está namorando.

- Sério? E você conhece a fulana?

- Não conheço. Também não quero, sabia?

- Ciúmes?

- Acho que vai ser estranho.

- Você vai se comparar?

- Não sei. Talvez.

Prólogo II

Personagens: Rocha e eu
Local: Bar no Parque das Rosas, Barra da Tijuca

- Sabe a Darlene? - começou o Rocha.

Opa! Darlene é uma ex-namorada minha. Não é a Inês. É a mais recente.

- O que tem ela?

- Tá namorando.

- Que bom. O cara é legal?

- Não tive muito contato, mas tenho que te contar um coisa. Rapaz, você me conhece e sabe que eu não sou de achar macho bonito e tals.

- Fala logo, Rocha.

- O cara é pintoso pra cacete.

Momento glossário: no Rio de Janeiro, macho que é macho não chama outro macho de bonitão. O termo politicamente correto é "pintoso". O problema é quando o substantivo vem com um advérbio de intensidade ("pra cacete").

- Espero que ele cuide bem dela.

Mudamos de assunto, mas o grau de boniteza do cidadão me deixou grilado.



Leitor gente fina, o que as duas historinhas de mesa de bar (ou casa de sucos) têm em comum? Não vale dizer que é recalce.

A desconfiança diante do atual administrador da(o) sua(eu) ex. É o cara ou garota que frequenta onde você já frequentou. Acredito que a comparação está diretamente ligada à natureza do ser humano.

Ora, o bicho homem é competitivo horrores.

Eu sou o primeiro a vestir a carapuça. Confesso que me comparo aos atuais das minhas ex-namoradas. Faço um scan no sujeito com olho clínico, com direito a uma análise instantânea do que ele tem melhor ou pior que eu. E vou além. Se por um acaso, eu descubro que vou estar no mesmo evento social que a ex e o atual, eu capricho no figurino.

Ah, é ruim do malandro me visualizar em trajes mundanos. Vou deixar o caboclo com a mesma pulga atrás da orelha que eu tenho. Esse tipo de atitude infantil não parece coisa de filme do Woody Allen? É engraçado, ?

E, por incrível que pareça, uma breve pesquisa com algumas amigas revelou este ponto em comum: por mais desencanadas que estejam, nenhuma delas gostaria de ser vista de calça de moleton, camiseta "Vote Collor 1989" e meia furada.

No final das contas, constatei que essa atitude mongol faz o mundo girar e a fila andar. Como? Bom, ficando tchutchuco para não fazer feio diante da ex e seu atual "primeiro-damo", você acaba despertando a atenção de outros bons partidos. Faz sentido para você?

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, à sua atitude infantil e mentecapta não cabem justificativas. Se quer evitar comparações com o atual gestor do ex-playground, conte para o titio He-Man: por que terminou? Já que perdeu ou passou a sua fase, assuma e deixe chover na grama alheia. Que coisa feia ficar agourando. Até acho tolerável ficar bem na foto para mostrar que você tem lá o seu valor, mas ficar se comparando? Faça-me o favor. Já para o canto da disciplina. Vai pensar no que você fez.

domingo, 9 de agosto de 2009

A menina que queria ser musa

Quando criei este blog, a intenção era básica: escrever. Simples assim. Eu queria ter um espaço para publicar casos e pensamentos despretensiosos. Esse papo de guardar textos no fundo da gaveta ou embaixo do colchão nunca foi a minha onda. A surpresa foi que comecei a conhecer pessoas interessantes, como leitores, outros blogueiros, curiosos etc. Pessoas que me escrevem para sugerir "pautas", para fazer elogios, para compartilhar pensamentos ou até para desabafar.

Sim, sim, o cafofo do Surfista Platinado também é divã.

Certo dia, recebi um e-mail da Dirce. Ela dizia que descobriu os meus escritos pela irmã e gostava muito.

E olha que eu nem assino com o nome de batismo ou coloco fotos. Se bobear, a magia está neste anonimato total.

Curiosa e articulada, Dirce mexeu seus pauzinhos e descobriu meu msn e logo brotou no meu orkut. O lado bom é que ela também deixou de ser uma assinatura fria para se revelar uma mocinha, digamos assim, muito interessante.

A guria conseguiu um feito raro: me fazer "tricotar" pelo msn. Confesso que conversar pelo computador não me apetece muito.

O que eu fiz? O que eu fiz? Dei o meu telefone.

Malandra, Dirce soube valorizar ainda mais o seu passe com torpedos carinhosos, recados oportunos e ligações matutinas para desejar um bom dia.

Caramba, que bonitinho! Esse gesto boboca me conquistou de vez. Se estivéssemos jogando War, Dirce havia dominado a América do Norte e começado a invadir a Ásia. Peguei pesado? Bom, se você conhece War, entendeu a metáfora.

Os contatos cresceram, mas ainda faltava o essencial: os olhos nos olhos. Tentamos agendar um dia, mas os desencontros atrapalhavam. Em uma manhã nublada, recebi um torpedo crucial: "Vou te ver nesta semana. Isto é uma afirmação". Combinamos um sábado. Ela iria ao open house de um amigo e depois me ligaria para passar o endereço. Até aí, tudo bem.

Sábado, 20h...

Fiz a barba, taquei o Polo Black matador no cangote, escolhi a camisa preta com caimento perfeito, botei o jeans transado e olhei para o cara no espelho:

- Mermão, você está deslumbrante.

Vamos combinar uma coisa: você só estará realmente maneiro se acreditar nisso. Tem que se olhar no espelho e se sentir diante da mais perfeita criação divina. Já escrevi sobre isso e continuo acreditando.

Esperei pela Dirce vendo um episódio da 4ª temporada de "24 Horas". O tempo passava...

21h... 21h30... 22h... Liguei para ela e nada. Dirce não atendeu. Caceta! Tomei um bolo da garota que me ligava para desejar um bom dia! Como assim?

Reuni uma porção de pensamentos: raiva, frustração, desprezo, lástima e até culpa. O maior de todos foi a decepção. Fiquei desapontado pelo bolo da guria carinhosa que escrevia bem. Algum tempo depois, ela me ligou.

- Você tem todo o direito de ficar chateado. Realmente, só posso te pedir desculpas sem esperar que você aceite. Você quer me xingar?

- Não.

- Você me xingou muito?

- Em nenhum momento.

Isso é verdade. Eu não dou chilique. Eu guardo as coisas.

- Mentira.

- Você não me conhece mesmo. Vai me dizer o que houve?

- Fiquei com medo de você.

Epa! Como assim??? Deixei de ser um bom partido para virar um psicopata em potencial.

- Explica isso.

- Nunca te vi. Fiquei paranóica.

- Não acredito nisso.

- Desculpa.

- Não.

- É um direito seu. Eu fui horrível.

- Eu sei.

- Desculpa.

- Hoje não. Amanhã, talvez.

Desligamos.

Certa vez, Dirce revelou que gostaria que eu escrevesse sobre ela. Queria ser uma musa do Surfista Platinado. Irônico, não?

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, neste misterioso mundo virtual, essas coisas podem acontecer. E já que estamos falando neste ambiente, eu sugiro uma comunidade orkutinana muito engraçada: " legal de mulher maluca". Entre e compartilhe a sua experiência. Quanto à Dirce, bom, ela não se tornou uma pessoa desprezível por causa do bolo. Ela pisou na bola e desperdiçou uma bela chance para ambos. Deixe a vida seguir e guarde a cicatriz, rapaz. Amiguinho, evite que o seu som alto perturbe os outros. Até a próxima!!!

PS. Frase de Dira Paes em "Os Dois Filhos de Francisco": "O senhor pode ter o meu perdão, seu Miranda, mas a minha confiança, essa o senhor não terá jamais".