sexta-feira, 12 de abril de 2013

Tempos velozes e furiosos

Com a sua licença, vou ser nostálgico. Bom, isso não chega a ser novidade, mas é sempre bom colocar as cartas na mesa com antecedência.

Quando eu era moleque, havia uma euforia diante das novidades. A chegada de um disco inédito dos Guns’n’Roses ou do Nirvana era celebrada como se fosse a vinda do Messias e sua patota. Lembro do alvoroço e do ti-ti-ti quando Axl e seus comparsas anunciaram a chegada do “Use your Illusion” – dividido em dois discos. Teve clipe no Fantástico e matérias da MTV, na época em que a MTV era legal e tinha a Astrid, a Cuca e o Zeca Camargo no seu cast.

Cada filme ou disco inédito era esperado com fervor e curtido com ardor quase religioso. Eram tempos de “Vingador do Futuro”, “Indiana Jones e a Última Cruzada”, “Jurassic Park”, “Exterminador do Futuro 2” e as aventuras do Van Damme no cinema poeirento da rua. O primeiro filme 3D que vi foi um da franquia de “A Hora do Pesadelo” e tinha os efeitos tridimensionais mais xexelentos da história da sétima arte. Mas era legal usar aqueles óculos coloridos e fingir que tinha visto a imagem saindo da tela.

Eram tempos de chamar a gatinha para pegar uma matineé de “Ghost” e depois tomar um milk-shake de ovomaltine no Bob’s. Se rolasse uns beijinhos na sala escura, seria a vitória total. Depois, ainda rolava intermináveis papos ao telefone - até o papai ou a mamãe mandarem desligar.

- Você é sócio da Telerj? Desliga esse telefone, pô!

Tinha também locadora no bairro, onde eu era amigo do balconista e ele reservava os lançamentos para mim. Era o tempo de pegar vídeo de sacanagem escondido dos pais. Certa tarde, eu peguei “A Bela e a Fera” e a “A Professora Gulosa”. Só mostrei “A Bela e Fera”.

Falando em sacanagem, a Playboy era a principal fonte de peitinhos famosos. As gostosas da capa eram conhecidas do grande público e tinham a beleza duvidosa típica daqueles anos. Convenhamos, era quase uma roleta-russa e você podia esbarrar com a Luciana Vendramini na flor da mocidade ou com a Elba Ramalho nos tempos em que cabelo rebelde era fashion.

E os videogames? Tinha jogo de pistola no Phantom System, “Super Mario Bros” no Nintendo e Alex Kidd no Master System. Pouco depois tinha a explosão de cores do Sonic em extraodirnários 16 bits de tecnologia. Eu nunca soube ao certo a potência de 16 bits, mas deve ser mais sinistro que o jogo da cobrinha no celular da Nokia. De qualquer forma, a revolução das revoluções veio com “Street Fighter II” no fliperama do shopping. Quem era apelão, escolhia o Ryu, mas quem fosse habilidoso arrebentava qualquer um com o Blanka, o primeiro lutador brasileiro a fazer bonito internacionalmente. Depois dele veio o Royce Gracie atropelando adversários em um evento de lutas que valia tudo. Naquele tempo, era o terror. Violência brutal e hardcore. Se ninguém morreu naquela época de amadorismo e estrutura mambembe, ninguém morre mais agora.

Hoje em dia, não há mais euforia com a chegada de alguma novidade. Sinto que há uma tensão, uma apreensão sobre o que há de ainda mais novo e o que ainda pode estar a caminho. O indivíduo compra o IPhone 5 pensando no iPhone 6 ou no Galaxy S8. Os filmes chegam em trilogias. Os vampiros brilham ao sol do crepúsculo e as heroínas têm cara de tédio. O 3D funciona de verdade. Os telefones fazem tudo, inclusive ligações. O videocassete foi para o limbo das máquinas de escrever. UFC é um sucesso. Royce Gracie perdeu para o Matt Hughes. Os discos podem ser comprados via celular. As gostosas da Playboy continuam gostosas, mas não sei quem são elas. Luciana Vendramini continua uma delícia. A MTV está um saco. Tudo é muito rápido. Muito furioso. Não dá para curtir as novidades. Tudo está conectado. O suspense é menor. Tenho medo de virar um dos gordinhos de “Wall-E”, mofando diante de um computador e esquecendo que a vida está lá fora ansiosa por ser descoberta – e aproveitada.


QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, deixa de ser chorão. A lição é que as lembranças da adolescência sempre estão atreladas a uma sensação de felicidade pueril. Você era garoto e o mundo ao seu redor era maneiramente adequado. Pergunta se algum moleque espinhento de hoje em dia trocaria a sua vida e o seu Facebook por viver naquela época em que “Barrados no Baile” era a coisa mais cool do mundo? É ruim, hein! Você só vai virar um gordinho do Wall-E se quiser. Saia já deste computador e vai ver a vida lá fora, pô. Amiguinho, mantenha o seu banheiro limpo e arrumado.  Até a próxima!!!

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Mara Maravilha


Essa história não tem qualquer relação com cantoras e apresentadoras infantis dos anos 1980. Qualquer relação é mera coincidência.

Vamos a uma história sobre saliências adolescentes durante a Copa do Mundo dos Estados Unidos. Aquela do Romário e do Roberto Baggio, lembra? Se você não lembra, não faz diferença, pois o que importa neste relato é a aventura sexual de Cosme, hoje homem feito, mas moleque espinhento em 1994.

Ah, Cosme contou o causo, mas não liberou a publicação desta história. Na verdade, vai ficar bolado comigo por relatar suas peripécias. Depois eu tento me redimir com ele. E vamos ao que interessa.

Em meados dos anos 1990, a internet banda larga ainda era desconhecida. Aliás, a internet ainda era quase uma tecnologia do Dr. Spock, o orelhudo de “Jornada nas Estrelas”. Neste cenário, os meninos com hormônios ferventes faziam suas descobertas com as didáticas revistas Playboy ou com as primas mais saidinhas. No caso do Cosme, o mapa da mina era a Gilcimara, babá do bairro da Tijuca que era bem conhecida pela vizinhança. Segundo a lenda, após uns tragos a mais, Gilcimara assumia a identidade não muito secreta de Mara Maravilha, a boa samaritana.

O esquema era simples: depois dos jogos do Brasil, todos estavam comemorando e Mara Maravilha era raptada para prestar aulas gratuitas de anatomia e sexologia ao Cosme. A cada vitória da Seleção Canarinho, Cosme tinha um encontro marcado com a babá e fazia valer a energia contida em seus então 13 anos.

Com a confiança vem a desatenção. Lá pelas quartas de final, o Brasil sapecou a Holanda e Cosme foi lá bater o seu ponto sagrado com a Mara Maravilha. Só que neste dia, a emoção com o gol do Branco nos 3 a 2 foi tanta que ele decidiu fazer um upgrade na relação. Em vez de usar as acomodações do playground do prédio, Cosme teria suas lições de educação sexual a domicílio. Pena que a mãe de Cosme não comungava da mesma comoção futebolística e resolveu voltar para casa mais cedo.

Quando tudo parecia que ia dar errado para o jovem Cosme, aí é que deu errado mesmo. Mamãe abriu a porta do quarto e encontrou o seu pimpolho acoplado na babá.

- Cosminho, o que é isso?

Perceba você o grau retórico desta pergunta, amigo leitor e amiga leitora. O que poderia ser, dona Mãe do Cosme? Uma brincadeira de cavalinho? Um canguru perneta? MMA?  Custava usar um pouco a imaginação, senhora?

Assim que Mara Maravilha se evadiu do recinto com índices de velocidade dignos de Usain Bolt, Cosminho tomou aquele esporro protocolar vindo da sua zelosa mãe. Depois do sermão quase interminável, Dona Mãe do Cosme botou o moleque de castigo. O Seu Pai do Cosme soube do acontecido e foi mais pragmático. Providenciou algumas camisinhas e fez um adiantamento da mesada para que ele tivesse a mínima prudência de levar a moça para um motelzinho limpo.

Com dinheiro no bolso e planos maléficos, Cosme esperou pela semifinal para recuperar o tempo perdido com Gilcimara, quer dizer, Mara Maravilha. A babá até tentou resistir, mas acabou cedendo. No entanto, exigiu uma condição: que não fosse mais na sua casa nem no playground, pois já tinha passado vergonha demais.

Achei nobre...

- Claro que não, meu tesouro. Vamos para um lugar especial. Confia em mim.

Mara Maravilha abriu um largo sorriso e foi. No entanto, Cosme aplicou todo o dinheiro fornecido pelo pai em cinema, futebol de botão e gibis, mas para cumprir a sua promessa, rebocou “o seu tesouro” para os fundos da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, lá na Tijuca.

Veja que ideia bestial digna de um garoto novo de 13 anos. Que lugar melhor para comer a babá da rua do que os fundos da Igreja em noite de jogo da Copa do Mundo? Que primor!

Tinha tudo para dar errado. E deu mesmo. Cosme, o avarento, e Mara Maravilha, a solícita, foram pegos novamente com a mão na massa pelos fiéis da Igreja. Cosme quase foi excomungado e Mara Maravilha usou as migalhas da sua dignidade e nunca mais deu para o moleque. Pelo menos, o garoto acompanhou o jogo completo entre Brasil e Itália, com direito ao Galvão Bueno berrando “é teeeeetra! É teeeeetra!”


QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, He-Man vai ser bem objetivo em seus ensinamentos: não tente comer a babá nos fundos da igreja. Não tente comer a babá no seu quarto, quando a sua mamãe pode surgir a qualquer momento. Não tente comer a sua babá sem trancar a porta. Só  tente comer a babá se a sua alcunha for Mara Maravilha. Aliás, isso não é um nome de guerra. Isso é marketing pessoal puro. Amiguinho, organize as suas atividades no trabalho, na faculdade ou onde quer que seja com anotações. Até a próxima!!!