segunda-feira, 27 de setembro de 2010

365 Rotações

Sou um músico frustrado. Desde que era molecote, curto música. Já crescidinho, tive o prazer de trabalhar com este mundo tão peculiar. Anos atrás, até pensei em criar um blog sobre o mundo dos bons sons. Prefeir o projeto Surfista Platinado, mas mantive a ideia arquivada para uma oportunidade. Eis que surge o momento de lançar um cafofo virtual dedicado aos meus queridos discos. Para isso, eu precisava de um desafio e um parceiro gente fina, talentoso e dono de um imenso carinho pela música: o Navegante Edu Starling.

Passamos alguns meses preparando o conteúdo e, hoje, o bebê ganha o mundo.

Senhoras e senhores, com vocês 365 Rotações: uma aventura musical em 365 dias!

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Preto no branco

Acho que aqueles que acompanham este pedacinho de pensamentos e presepadas perdido no oceano da internet já constatou uma coisa: sou antiquado pra cacete. Não reluto às novas tecnologias e às facilidades do mundo moderno, mas, vou confessar, sinto uma falta danada de escrever à mão. Salvo o caso dos estudantes, as pessoas não escrevem mais em cadernos. Eu ainda adoro o som do grafite de um lápis sobre o papel.

Outro dia, encontrei pedacinho de papel guardado em um livro que eu não abria há anos. Era um poeminha escrito para uma musa de 2002. Achei engraçado e devolvi ao local de origem. Pré-arrumando as coisas para a aventura irlandesa, descobri um diário de quando eu tinha 14 anos. Eram tantas lamúrias adolescentes que eu parecia o Louis, cúmplice do Lestat em "Entrevista com o Vampirto". Fiquei com raiva de mim mesmo.

Essa molecada que se rasga em lamentações emos pelo Edward e pela Bela não sabe nada. Louis era o vampiro mais amargurado e melancólico que já foi descrito. Pelo que li, Anne Rice escreveu sua obra-prima vampiresca ao perder um filho. Punk, não?

Tanto o poema quanto o diário (esse ainda mais) foram escritos em uma época em que redigir à mão não era tão esporádico. Hoje, a gente anota as coisas e só. Rabiscos com pressa com aquele pensamento "só eu vou entender mesmo". Ninguém mais registra ideias em páginas de celulose. Os raros exemplos causam espanto. Ao saber que o Sérgio Britto (uma lenda do teatro e 100% avesso aos computadores) redigiu suas memórias com uma Bic e vários cadernos, tive até vontade de comprar a sua obra.

No fundo, acho que as tecnologias afugentam o singelo, a simplicidade. No dia dos namorados, recebi um cartão escrito com letras redondas. Um amigo também me mandou um cartão escrito à mão no dia do meu aniversário. Em ambos, eu mulherzinhamente chorei.

Que franga, né? Eu fiquei com vergonha agora.

É nostálgico, mas antes de sair do Brasil, quero deixar uma carta escrita à mão para algumas pessoas especiais.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, outra crise de nostalgia? Achei que já tivéssemos superado essas babaquices. Pensa comigo, se você continuasse escrevendo no velho caderno dos Thundercats, ninguém saberia da sua existência e eu não teria esse freela. Quer um pitaco maneiro: cartas escritas à mão (com garranchos e tudo) são carregadas com mais afeto. Não, não.... elas não devem ter adesivos da Moranguinho, pequeno jedi! Eu quero dizer que um bilhete representa tempo, dedicação e uma aura muito mais pessoal. Quem diria que escrever em um papel seria uma obra artesanal, não? Amiguinho, pense na reciclagem. O papel da sua casa pode ser separado e reaproveitado. Até a próxima!!!

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A repórter inocente e o matador de noivas

Eu trabalho com uma equipe de comunicação em uma campanha política. Enquanto eu fico produzindo ações via web, uma parte do time vai a campo coletar informações. Diariamente, eles andam uma enormidade e voltam exaustos ao fim do dia. Dia desses, presenciei uma conversa sinistra com conclusão ainda mais assustadora. M. Night Shyamalan perde. Foi mais ou menos assim:

REPÓRTER: Ui, estou exausta. A gente anda muito. Ainda bem que Estácio me deixou descansar no carro dele...

FOTÓGRAFO: O Estácio? O motorista da van?

REPÓRTER: Sim, por quê?

FOTÓGRAFO: Ah, meu Jesus...

REPÓRTER: O que tem o Estácio?

FOTÓGRAFO: Você se aventurou hoje, menina.

REPÓRTER: Como assim? Me conta isso.

FOTÓGRAFO: Melhor não.

REPÓRTER: Conta logo.

FOTÓGRAFO: Que fique só entre nós, tá? É que ele degolou a noiva. Todo mundo sabe, mas nunca acharam provas. Ficou por isso mesmo.

REPÓRTER: Mentira!

FOTÓGRAFO: Tô te falando. Você duvida? Peraí. Ô, piloto, chega aqui.

Entrou na sala o segundo motorista.

REPÓRTER: Ela não acredita na história do Estácio e a noiva.

MOTORISTA: Qual história?

FOTÓGRAFO: Da noiva dele.

MOTORISTA: A que ele matou?

REPÓRTER: Ai, meu Pai...

MOTORISTA: Ele estrangulou a mulher.

REPÓRTER: Não tinha degolado?

MOTORISTA: Degolou depois de estrangular. Foi para garantir.

A repórter ficou mais branca do que já era.

FOTÓGRAFO: Você correu um risco muito grande.

REPÓRTER: Gente, tô com medo.

MOTORISTA: Precisa não. Fica perto da gente que tudo fica tranquilo.

Neste momento, alguém chamou a repórter apavorada em outra sala. Ela saiu. O Fotógrafo e o Motorista ficaram. Eu ouvia a história bizarra atento, mas sem dizer nada. De repente, tocou o telefone do Motorista.

MOTORISTA: Alô! Oi, sou eu. Sim, vou encontrar com ele daqui a pouco. Sim, eu dou o recado. Tá bom. De nada. Beijo. Tchau.

FOTÓGRAFO: Já é para a gente sair de novo?

MOTORISTA: Não. É a noiva do Estácio. Ele tá com o celular desligado e ela quer falar com ele. Pediu para a gente dar o recado. Depois tu me lembra?

FOTÓGRAFO: Pode deixar. E a repórter? A gente conta para ela?

MOTORISTA: Depois. Vamos deixar ela ficar com medo do Estácio por alguns dias.


QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, que coisa feia. Pregar peças nos coleguinhas de batente. Ai, ai, ai. Isso é muito feio. Fico impressionando como malandro tem sintonia e criatividade na hora de sacanear terceiros. A repórter também foi muito inocente. Caiu na história muito fácil. A lição é simples: jamais acredite em histórias dantescas demais em um primeiro momento. Apure o fato antes de tomar conclusões. Essa moral foi mole demais. Assim, He-Man fica entediado. Amiguinho, limpe bem os pés antes de entrar na sua casa ou na de outras pessoas. Até a próxima!!!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Quer ser meu amigo?

Vamos combinar uma coisa: de uns tempos para cá, as redes sociais se tornaram mais que vitrines dos indivíduos. Elas se tornaram registros dos sonhos e aspirações de milhões de pessoas. Olha, caberia até uma tese de sociologia ou antropologia sobre o assunto, mas eu prefiro me ater ao ângulo tosco deste comportamento. Ao trabalhar diretamente com análises e ações de marketing voltadas para orkuts e facebooks, descobri que esse pequeno universo reserva um manancial de bizarrices.

Sim, pois desde que as Casas Bahia facilitaram a compra dos computadores em 783 prestações sem juros e as lan houses se multiplicaram pelo Brasil, a web caiu no gosto do povão. Só que os PCs Positivos não têm um aplicativo para o bom senso. Diante deste cenário, pensei em algumas dicas rápidas para evitar que usuários incautos sejam ruborizados por uma irresistível onda de vergonha alheia.

1. Eu na PQP!!!
:: O perfil é seu, né? As fotos são suas, correto? Então por que diabos publicar fotos com legendas do naipe "Eu no Maracanã", "Eu em Cachoeira de Macacu", "Eu na padaria", "Eu na Rua Augusta"?
:: Seja coerente, pelamordedeus! Se você faz uma foto na piscina e coloca "eu na praia", a pessoa do outro lado da telinha vai achar que você é esquizofrênico.

2. A sereia da pedreira e o Capitão Caverna
:: Se você quiser exibir o seu corpitcho, tenha certeza da sua boa forma. Não estampe no seu avatar uma pança de mamute, dobrinhas de um boneco da Michelin ou o quadril em forma de lâmpada. E visual bicho-peludo-Tony-Ramos-primo-It, nem pensar! Em resumo, fotos sem roupa, só se estiver com a academia em dia. Faz foto vestidinho mesmo que fica muito bonito, viu?

3. Gisele Bündchen wannabe
:: Se rolar aquela vontade de fazer um book amador, seja prudente. Poses, caras e bocas devem ser apreciadas com moderação ou você, amiga leitora, poderá cair em um dos milhões de sites de sacanagem com fotos garfadas em redes sociais. Pense duas vezes antes de posar de quatro, com bumbum empinado e dedinho na boca. Entretanto, se você quiser disputar uma vaga entre as dançarinas da Gaiola das Popozudas, vai fundo e me passa o link!
:: Preste atenção nas locações escolhidas. Fazer beicinho de Gisele Bündchen na laje do barraco é desaconselhável. Outra dica é dar uma geral o seu "estúdio", tirando calcinhas penduradas, roupa espalhada e uma garrafa de Guaraná Pakera, que pouco agrega à cenografia. Ah, dá uma olhada na locação e evite fotografar na obra, ao lado de paredes infiltradas, pintura descascando etc.

4. Maldito português "difíssiu"!!!
:: Como diz um dos mandamentos, "não assassinarás (o português)". Não existe "que eu seje" ou "que eu esteje". Exceção se escreve assim. "Mim" não faz nada, pois "mim" não conjuga verbo. "Ansioso" é com "s", pois a palavra primitiva é "ânsia". "Concerteza" e "derrepente" não constam no Aurélio.

5. As diferentes formas de chamar a atenção
:: Se você se chama Luziwanda, por que usar mil símbolos? ¥¥ £uzi₩@nd@ ¥¥ ??? Olha, seu nome não vai ficar mais maneiro com esses caracteres. Lamento!
:: Eu acredito que a pessoa que envia zilhões de recados animados (flashes, gifs e outros breguetes) para TODA a sua lista de amigos deveria pagar cestas básicas a uma instituição de caridade por seis meses. Eis um bom projeto de lei!

6. Johnny Bravo em ação!
:: Que ver um marmanjo com filme carbonizado? Confira murais de recados cheios de gatinhas escrevendo "Quem é você?", "Desculpa, de onde nos conhecemos mesmo?" ou "Não lembro de você". O cara deveria virar um avestruz e enfiar a cara na areia.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?

Amiguinho, a internet é a terra de Marlboro. Todo mundo publica o que bem quiser, comenta sobre tudo e dá pitacos em tudo. Se até você tem um blog há três anos, nada mais me surpreende. Então, deixe a criançada brincar de ser modelo, atleta, popular ou super-herói. Daqui a pouco, elas encontram um brinquedo novo e cansam do Orkut. Amiguinho, não assoe o nariz e limpe na manga da camisa. Eca! Até a próxima!!!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Operação Leprechaun

O 15 de janeiro de 2010 seguiu uma rotina de muitas outras sextas-feiras: acordar cedo, fechar as publicações do dia, verificar andamento dos projetos, fazer apresentações, almoço com os colegas e blablabá. A diferença é que ao cair da tarde, lá pelas 18h e um pouquinho, eu fui demitido.

"Demitido" é uma palavra pesada, fantasmagórica. Tem uma aura de incompetência, perebagem, inaptidão, fracasso, descartabilidade. Enfim, é feia e ponto.

Voltei para casa triste horrores (óbvio) e dirigi com dificuldade, graças às lágrimas que embaçavam a lente dos meus óculos. Confesso mesmo. Chorei. Não considero vergonha nenhuma, xará. Sinceramente, acho que o pranto justificado é carimbo de personalidade, coragem.

Juntei os cacos e na segunda-feira seguinte, eu me despedi da equipe. Duas amigas choraram e senti que eu tinha deixado uma boa impressão no final das contas. Quase entrei na onda, mas segurei as pontas e engoli o choro. Acabava ali um capítulo da minha vida e começava a Operação Leprechaun. E olha que eu nem sabia.

Segundo especialistas, o prazo de recolocação é de 6 meses, em média. Então, tá. Prometi que me arrumaria antes do dia 15 de julho.

Depois de tirar a poeira do currículo, eu caí no mercado. Neste período, meu humor era uma montanha-russa tresloucada. Em um dia, eu acordava cheio de energia e vigor. No dia seguinte, era um deprê sem tamanho. As pessoas queridas ao redor eram as mais afetadas e eu procurei me isolar.

O engraçado é que rolou uma corrente contrária: uma aproximação de muita gente. Uma galera significativa (incluindo pessoas inesperadas) manifestou uma imensa solidariedade e vontade de ajudar. Juro que nunca vou esquecer essa moçada. Como consequência, as entrevistas foram rolando e viraram uma nova rotina até divertida.

Se alguma profissional de RH estiver me lendo, deixo duas reclamações: 1) por que diabos aplicar uma redação com tema livre? Escrever sobre o nada é desestimulante e pouco avalia. 2) Se rolou uma entrevista, tenha a delicadeza de dar uma resposta, mesmo que negativa. Não acredito que ainda se convida um candidato para um processo seletivo (longo, às vezes) pra depois deixá-lo no vácuo. Caceta! Qualquer e-mail padrão com um agradecimento fajuto é válido. Custa copiar, colar e apertar o botão "enviar"? Vai quebrar o dedinho?

E tome montanha-russa: a alegria pelo convite e por avançar pelas etapas e a frustração por chegar às finais e encarar um "obrigado, mas não foi dessa vez".

Maio...

Em meados de maio, meu telefone tocou e recebi a notícia de que minha namorada, um dos únicos portos seguros que eu tinha, fora convidada para um mestrado em Dublin, Irlanda. Apoiei integralmente, mas fiquei bolado. Perdi o emprego e vou perder a mulher!

Aí, sem querer puxar a sardinha para a brasa da minha primeira-dama, mas tem que ser muito cabeçuda para ser brasileira, recém-formada, e ser chamada para um troço desses lá na terra da cerveja Guinness.

O tempo passava e as entrevistas seguiam na mesma gangorra. Fiz aniversário e não comemorei, continuei jururu, mas botei um novo prazo: "se eu não me recolocar até 28 de julho, vou me mandar para a Irlanda e seja lá o que Deus quiser".

Eis que ouvi dois conselhos:

- Meu amigo, o que seria de nós se não fizermos uma loucura? Quando você vai achar de novo uma mulher que valha uma maluquice dessas? O que você está esperando? - disse uma amiga de 30 anos , três casamentos e dois filhos no lombo. Em agosto, ela embarcou para a Cingapura com o atual marido francês. Sim, ela é maluca e eu fui padrinho do primeiro casório.

- Seu trouxa, um ano não faz a diferença na nossa vida profissional. Você não iria virar gerente ou diretor neste período. Pega um pau de arara e vai ser um retirante na Irlanda. Você vai ser um imigrante exótico - gentilmente comentou um amigo dos tempos da faculdade.

Em julho, o mês da decisão, a Operação Leprechaun assumiu o controle e mexeu seus pauzinhos:

1. Em certo dia, logo no início do mês, acordei arretado e decidi ir para a Europa. Fechei um curso para conseguir visto de estudante, renovei o passaporte e marquei a minha passagem para o final de setembro.
2. No dia 13 de julho, fui convidado para assessorar a comunicação de dois candidatos do Rio de Janeiro.
3. No dia 14 de julho, fui convidado para trabalhar em uma empresa na Barra. Uma daquelas que nunca respondeu aos meus e-mails para dar um sinal de vida. Fiz que nem mamãe ensinou e a Rita Lee cantou: "não, obrigado".

Aliás, você percebeu a data? 14 de julho... um dia antes do prazo de seis meses. Eu teria conseguido. Eu cumpriria o prometido.

Setembro, hoje...

Minha namorada já está na Europa há alguns dias e bate uma saudade com jeito de saudade mesmo. Aquela sensação de falta, sabe? Estou trabalhando 10 horas por dia para eleger os dois candidatos e deixar uma missão cumprida e dois contatos fortes para a minha volta (caso eu volte). A cada dia que passa, eu sinto a barriga esfriar um pouco mais – um dos efeitos da Operação Leprechaun. No final das contas, o espantoso é que tudo se encaminhou para esta viagem. Todos os acontecimentos me guiaram para Dublin.

Chame de insanidade, chame de destino, predestinação, condenação, providência divina... eu chamo de inexplicável. Só sei que meu pote de ouro tem cabelos dourados e está lá do outro lado do oceano me esperando. Hora de seguir o arco-íris.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
AMIGUINHO?
Amiguinho, que história comovente. Se bobear, você pode ser convidado para contá-la em um programa choroso qualquer. Que fofo! Titio He-Man estará ao seu lado. Aliás, se você tivesse perguntado, eu teria dado força. E vamos invadir a terra da Enya, dos Commitments e do U2. Amiguinho, urna não é lixeira. Até a próxima!!!

PS. Putz! Abusei no tamanho do texto. Foi mal!