quarta-feira, 24 de junho de 2009

As chamas da fogueira de sutiãs ainda ardem

Era uma vez, 1968...

Um grupo de feministas norte-americanas decidiu manifestar seu desejo por liberdade (em diversos sentidos) em um lendário protesto. Segundo registros, as moças empilharam uma cacetada de utensílios femininos, como sapatos de salto alto, espartilhos, cílios postiços, corpetes e sutiãs. Uma das gurias teve a ideia de tacar fogo em tudo. Os ânimos incendiários foram contidos pela polícia local, que ameçou levar todo mundo em cana ou mandá-las de volta para o fogão. De fato, a tal fogueira não exisitiu, mas a intenção criou mais que uma lenda: criou o divisor de água entre as mulheres submissas e a geração de fêmeas enlouquecidas que invadiu os anos 1970 com calças Saint-Tropez e pílulas anticoncepcionais.

Essa é a minha visão da história e introdução para uma aventura minha. Vamos pular dessa década longínqua para o nosso aprazível século XXI.

Mesmo com anos e anos após o bra-burning (queima dos sutiãs), o homem ainda se vê na posição de completo comando. Essa opinião só muda quando alguma fêmea esfrega em sua cara a verdade nua e crua: não há poder nenhum. Foi assim comigo.

Era uma vez, o ano de 2007...

Tudo começou em uma noite fria com uma reunião de amigos e algumas garrafas de vinho sobre a mesa.

Taça vem, taça vai, e eu já estava facinho. Bons tempos pré-Lei Seca...

O grupo de amigos começou a debandar. Como eu estava de carona, precisaria me infiltrar em algum carro ou pegar um táxi.

- Relaxa. Eu te deixo em casa – Elis, musa de olhos faiscantes, se ofereceu e eu topei.

Até aí, nada de absurdo.

Voltamos com o humor em alta e a língua solta pelo bom vinho tinto.

Gracinha vem, gracinha vai, estávamos ambos facinhos. Eis que Elis tomou as rédeas da situação.

- Para onde você está me levando, garota?

- Fica na sua. Você está muito tenso.

Minutos depois, eu estava no apartamento da moça. De verdade, eu estava achando tudo muito legal, mas permanecia aquela impressão de que algo estava fora da ordem natural. Teoricamente, a condição de dominante deveria ser a minha, certo?

- Tira a roupa.

Como assim? Essa mulher está exigindo que eu me dispa? Que absurdo! Virou bagunça?

- Tira logo.

Tirei.

Na manhã seguinte, acordei sozinho. Elis estava em algum outro cômodo do apartamento. Catei minhas roupas com uma sensação de que algo estava muito errado na hierarquia do "quem manda / quem obedece". Ela estava tomando café e percebeu a minha aproximação.

- Dormiu bem?

- Sim.

- Quer que eu te leve em casa?

- Não precisa.

- Vou chamar um táxi pra você.

- Obrigado.

- Quer que eu pague?

Hein!?!?! Ah, não! Taquelpariu! O que está acontecendo? Eu me senti uma "periguete". Fui raptado, usado e dispensado com o raiar do dia com o táxi pago. Que humilhação! O que os meus ancestrais machos, broncos e sinistros iriam pensar de mim?

- Não precisa.

Esperei o táxi chegar e voltei para casa sem entender a situação. Durante muito tempo, eu realmente me senti uma periguete. No fim das contas, achei sensacional.

Viva a queima dos sutiãs!

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?

Amiguinho, tá incomodado? Pois, incomodado ficava a sua avó, pois as netinhas dela não estão para brincadeira. Não adianta mais fechar os olhos para o inevitável: estamos lascados. A mulherada deixou de ser resignada e quer mais do que o papel de coadjuvante. Elas descobriram que têm a faca e o queijo na mão. Sabe o que nos salva, amiguinho apavorado? Mesmo com esse poder todo, elas só se sentem preenchidas ao lado de um homem. Na verdade o plano tem requintes de crueldade: elas fingem que precisam de colo e deixam a gente, pobres machos, com aquela falsa sensação de controle. Não é brilhante? Amiguinho, lembre-se de apagar as luzes quando elas estiverem sem uso. Até a próxima!!!





UM ESCLARECIMENTO: Elis e eu tivemos um caso. Isso deixou a brecha para essa atitude mais incisiva, mas não tirou a valentia. Eu não iria contar isso, mas achei justo pontuar.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Volto já!


A lojinha anda meio parada, mas o Surfista Platinado continua firme e forte. O lance é que o tempo para escrever anda meio escasso. De qualquer forma, continuo lendo e respondendo os pitacos. Se você quiser sugerir alguma pauta, aproveite esse momento de marasmo e deixe o seu recado.




segunda-feira, 15 de junho de 2009

Peter Pan e a busca pela eterna lua de mel



Ando meio jururu. Não sei ao certo se é efeito do frio, do Dia dos Namorados ou do alinhamento de Marte, Júpiter e os anéis de Saturno na caçapa do meio. E lendo blogs legais de pessoas divertidas, achei um parágrafo que sintetizou bem as origens da minha melancolia.

Abro aspas para Sunflower. Saca só:

"(Você) Abre a gaveta da sua escrivaninha e ao invés de ter milhares de papéis recolhidos em bares com nomes desconhecidos, números de telefone esquisitos e datas de aniversários aleatórias, (…) a gaveta está totalmente organizada e limpa, com exceção das contas pagas, extratos de banco e um convite de casamento".

Essa moça de 28 anos e pensamentos revoltos foi de uma clareza espetacular! Nossas gavetas ficam organizadas, nossas vidas custam dinheiro que saem das nossas contas bancárias e as noites são recheadas de pensamentos andarilhos. Sem fazer cerimônia, nossa vil cabecinha nos leva a um passeio nos Natais de ontem, de hoje e de amanhã.

Sim, essa é uma referência à obra imortal do Charles Dickens. Se não me engano, a melhor adaptação foi "O Conto de Natal do Mickey", que sempre passa nas manhãs do dia 24 de dezembro.

Às vezes, bate aquela nostalgia esquisita. Aquele demoníaco complexo de Peter Pan refletido no mais puro desejo de ver "Vale a Pena Ver de Novo" em plena tarde de quarta-feira. Aquela sensação de vadiagem irresponsável e deliciosa. Pode uma coisa dessas?

E o homem responsável com sonhos e ambições? Aquele cretino que decidiu virar homenzinho, morar sozinho, preparar o próprio jantar (no micro-ondas) e contar essas coisas em um blog? Esse rapaz vive em uma busca constante pela mulher que vai lhe render a eterna lua de mel.

A eterna lua de mel existe. É um objetivo complicado, mas é assim que é legal. Acho que cada um tem a sua concepção da eterna lua de mel. Tem gente que acha que é o clima de namoro renovado a cada dia. Outros pensam que é a menina que desperta borboletas em seu estômago a cada nascer do sol. Tem guris que se contentam com orgasmos a cada lembrança da presença dela. Escolha uma. Crie a sua.

A eterna lua de mel é o pico do Everest: alto pra cacete, mas alcançável. Jorge Amado e Zélia Gattai, Johnny Cash e June Carter, Roberto Carlos e Maria Rita não me deixam mentir. O Rei amou tanto que ficou meio zureta depois da viuvez.

Nesse aspecto, um malandro que admiro é o finado Vinicius de Moraes. O cara casou sei-lá-quantas-vezes, mas foi estupidamente intenso em cada relação. Ele foi o mestre jedi da eterna lua de mel. Ele soube que é difícil, mas o gostoso de viver é cair de cabeça nessas aventuras. Vai que você dá sorte. Vai que eu dou sorte!

Ver o Flamengo ser campeão brasileiro também é uma missão árdua, mas a esperança de cada rubro-negro se renova a cada ano. Então, por que diabos não posso vislumbrar a eterna lua de mel?

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?

Amiguinho, essa época fria do Rio de Janeiro está lhe causando efeitos esquisitos. O vitaminado e musculoso He-Man está preocupado com a sua pessoa. Meses atrás você foi ver "Benjamin Button" sozinho e teve um surto de inspiração e melancolia. Agora você está vendo seus amigos casando e fica borocoxô. Relaxa, garoto. O que é do homem o bicho não come. O teu está guardado – só não me pergunte onde. Isso é problema único e exclusivo da sua pessoa. Amiguinhos, não limpe os dentes com as unhas. Isso é nojento. Até a próxima!!!

PS. Pela reforma ortográfica, micro-ondas tem hífen. Infraestrutura não tem mais.
PPS: Mario e Karla, meus queridos amigos, você são a prova viva de que essa parada de eterna lua de mel existe. Que Papai do Céu mantenha vocês felizes pra caramba e que possamos tomar outros tantos porres homéricos juntos.

domingo, 7 de junho de 2009

O frio e o Rio

O Rio de Janeiro tem um rótulo difícil de tirar: cidade do sol, do sal e do sul, Rio 40º, cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos e blábláblá. Essa imagem do verão infinito, das areias escaldantes e da mulherada de biquini tira o foco para uma das épocas em que a capital fluminense ganha um charme especial: o outono-inverno.

As praias continuam lá, mas algo muda nas ruas do Rio. Nas esquinas, os termômetros deixam de marcar 30º e delatam assustadores 16º.

Minha gente, 16º em São Sebastião do Rio de Janeiro é motivo para decreto de estado de calamidade pública. Praticamente, uma nova glaciação.

O azul habitual do céu ganha contornos de cinza. Os ventos ficam gelados e as noites exigem que os cariocas tirem do armário aqueles edredons com cheiro de naftalina. Também é o período em que as mulheres da cidade ficam ainda mais charmosas. Os vestidos curtos são trocados por roupas pesadas e botas. Dá até para arriscar um cachecol.

Ah, as botas de couro... Descobri que adoro mulheres de botas. Será um fetiche?

A cidade fica com um ar de preguiça. As manhã são frias e sair da cama é quase uma tortura chinesa. Por outro lado, uma xícara de chocolate quente fica ainda mais saborosa.Também é tempo de ter sempre uma boa garrafa de vinho ao alcance. E os programas a dois são pretextos excelentes para um fondue. Aliás, coincidentemente (ou não), em plena estação gelada, há o fatídico Dia dos Namorados.

Fondue no Rio de Janeiro tem um contexto diferente. A moçada espera o ano inteiro para reservar uma boa mesa no Hansl e encarar as ruas sinuosas do Joá. Uma vaguinha por lá fica disputadíssima, mas vale a batalha. Com a sensação térmica de uns 12º, o casal feliz pode comer com a Barra da Tijuca iluminada na janela.

Momento esclarecedor: o Hansl é um restaurante austríaco muito tradicional na Cidade Maravilhosa. Ele é um dos lugares mais românticos do município e fica especialmente interessante nesta época do ano. Sou da geração em que um jantar no Hansl equivalia a uma declaração de amor das mais sinceras.

No inverno, a cidade fica mais aconchegante, mais europeia. Nós nos vestimos com a elegância dos paulistas, mas ainda temos a praia ao lado. Muitos cariocas desprezam essa época do ano. Eu a adoro.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, você deve estar desesperado para descolar um cobertor de orelha neste Dia dos Namorados. Até crônicas fofoletes estão brotando neste seu simpático blog. Daqui do meu palácio em Etérnia, eu posso lhe dizer que acho o inverno carioca muito convidativo. Com a louca das estações, do aquecimento global e das teorias do Al Gore, o Rio de Janeiro não passava por um friozinho gostoso há um bom tempo. Pelo visto, 2009 será a redenção. Então, vá a luta e encontre uma boa companhia. Faça que nem o Rei: que alguém lhe aqueça neste inverno e que tudo mais vá para o inferno. Amiguinho, cuidado com tesouras e objetos afiados. Até a próxima!!!