segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Tinha que ser o Chaves mesmo!

Adianto que volto a escrever justamente sobre um tema que está sendo repetido à exaustão: a morte de Roberto Bolaños (aKa Chaves e Chapolin Colorado). Não tenho a menor intenção de ser original, mas esse assunto me soou tão urgente, tão necessário, que me senti compelido a sair do limbo blogueiro. Eu precisava escrever sobre a forma como a obra de Bolaños se tornou essencial para mim e como sofri ao saber do seu falecimento.

Antes de falar diretamente sobre Chaves, preciso relembrar um anti-herói e uma obra infantil que também moram no meu coração.

Primeiro, o herói.

Ainda lembro como fiquei arrasado quando Mussum morreu. Nossa, como eu adorava o Mussum e o seu comportamento politicamente incorreto! Ele era uma das estrelas de um programa infantil, mas era beberrão, mulherengo, trambiqueiro e preguiçoso. Duvida que a patrulha dos bons modos permitisse a existência de um Mussum hoje em dia. Não como um personagem destinado a crianças, pelo menos.

Agora, a obra.

Adoro “Peanuts”. Quando era criança, eu também adorava, mas não sabia explicar. Hoje em dia, eu sei. Eu me identificava e compreendia os dramas de Charlie Brown de uma forma completamente natural. Assim como ele, eu não era bom em esportes, não levava jeito com as meninas, não costumava ganhar e era sacaneado pelos amigos. Só me faltava o cachorro.

E o Chaves?

Mussum é eterno. O universo criado por Charles Schulz é eterno. Chaves e Chapolin são eternos. Chegaram a esse patamar graças uma característica em comum: a atenção à simplicidade humana.

Assim como Mussum, Chapolin era um herói equivocado, que tinha mais defeitos que virtudes. O coração generoso disfarçado por um caráter duvidoso tornava ambos apaixonantes. Também como Mussum, o moleque Chaves era pobre e malandro. Para conseguir a “biritis” ou um sanduíche de presunto, o único meio dos dois era a esperteza. Acho que Chaves era muito mais João Grilo (de Ariano Suasuna) do que Chaplin.

“Peanuts” surgiu nos anos 1950s. Chaves começou a ser veiculado lá pelos anos 1970s. De uma forma intencional ou não, Schulz e Bolaños criaram universos atemporais. A criança de qualquer geração vai ver outras crianças assim como ela. Charlie Brown, Linus, Lucia, Schroeder, Patty Pimentinha, Márcia e Chiqueirinho jogam bola, brincam no quintal, fazem dever de casa, tomam esporros da professora e enfrentam seus próprios dilemas. A forma como se vestem também é a mesma de qualquer criança de hoje: boné, camisa, bermuda (ou vestido) e tênis. Ninguém sente falta de iPods, computadores ou celulares. E qual a diferença para a vila onde moram Chaves, Quico, Chiquinha e Pat? Tirando que é um ambiente pobre e mexicano, quase nada. Na verdade, esse cenário carente nos aproximou mais ainda. 

Na obra de Roberto Bolaños, havia poesia camuflada no humor. Já reparou que todos os moradores da vila eram solitários? Havia a mãe solteira superprotetora, o professor intelectual e tímido, o pai solteiro malandrão, a senhora de meia-idade encalhada, o proprietário gordo e as crianças sem irmãos. Cada um só tinha o outro como suporte e válvula de escape das suas frustrações. E ainda assim, havia alegria. Papai do Céu, como havia alegria! Eu ria do mesmo episódio repetido pela milésima vez no SBT. Eu assistia a mesma torta na cara ou o mesmo tropeço idiota e ria. Eu ria a ponto de esquecer que aquele programa precário havia sido gravado há tanto tempo. Esqueci que aqueles adultos vestidos de crianças eram mortais.

“Ih, o Chaves morreu.”

Foi assim que recebi a notícia em uma manhã de sábado. Não acreditei. Fui confirmar no Globo.com e lá estava o destaque imenso. Até a Globo se rendeu ao carisma do sujeito. Eu fiquei em um silêncio incrédulo. Tá certo que Roberto Bolaños tinha 85 anos e já estava com a saúde debilitada. Todos sabiam que era uma questão de tempo para que ele nos deixasse. Mas e daí? Estar preparado não é a mesma coisa que aceitar. Eu não queria aceitar que o Chaves tinha morrido. E logo vi que muito mais gente próxima estava comovida. O Facebook foi tomado pelo lamento de uma moçada de diferentes gerações. Vou contar uma coisa, mas não conta para ninguém: eu chorei sozinho. Fiquei com vergonha que vissem que eu estava chorando pelo Chaves. Bobagem, né?

Pois é, o Chaves nos deixou. Criou um legado lindo e se foi. Eu vou continuar rindo das mesmas piadas, mas fica uma dúvida: oh! E agora, quem poderá nos defender?

PS: Durante o segundo grau, eu ouvia dizer que Chaves se vestia como um grunge de Seattle. Pois é, Chaves é assim mesmo: amigo de todas as galeras.






QUAL É A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Viva o herói latino!!!