quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Fim dos tempos

Ei, tem alguém aí? Depois de um inverno criativo, vou me aventurar novamente. Vamos tirar a poeira da mesa e as teias de aranha da sala de estar. O Surfista Platinado está de volta ao jogo! E vamos logo ao que interessa.

Era uma vez...

Um amigo meu tem uma opinião muito interessante sobre música. Saca só:

- Torço para que as minhas bandas favoritas acabem logo. Quero que elas encerrem as suas carreiras lá pelo quinto ou sexto disco e olhe lá. Assim, não há máculas ou sinais de decadência. Ficam só as coisas boas.

Sempre gostei dessa ideia do fim no auge. Como o Pelé dizendo adeus à Seleção Brasileira em 1971, diante de um Macaranã lotado e aos gritos de “fica!”. Porém, o curioso é que vivo um sentimento contraditório em relação ao no de 2012, que já está nos últimos grãos da ampulheta. Vou sentir saudades desse ano em que tudo deu certo.

Mesmo com todos os desafios e pancadas da vida, o ano do fim do mundo (segundo o calendário Tim Maia) foi extraordinário. Mudei de trabalho, consertei o joelho, recuperei os 80kg, voltei a fazer jiu-jitsu, ganhei uma competição importante, conquistei a faixa marrom e, o mais significativo, noivei.

Pois é, quem diria? Botei o bambolê dourado no dedo anelar da mão direita. Segui todo o protocolo do “bom-mocismo” com anel de noivado, pedido de joelhos e todo esse mise-em-scène que cerca o grande pedido. Foi pensado, planejado e executado com a frieza de um gerente de projeto.

Camarada leitor, já planejei e acompanhei eventos corporativos de grande porte, mas organizar um casamento devia ser um dos 12 trabalhos de Hércules. Mas as aventuras de ser noivo ficam para um próximo post. Esse tem alvo certo: 2012 e eu.

Voltando à minha doce saudade do ano de 2012 foi dentro do tatame que tive a compreensão do que foram realmente estes 365 dias. Meu professor de jiu-jitsu, cara culto e inteligente, me disse:

- No jiu-jitsu, assim como na vida, cada faixa tem o seu prazo certo, mesmo que a gente só perceba depois. Cada fase tem o seu período de aprendizado, com começo e fim. Quando ela acaba, um novo momento começa e você abre um novo estágio do aprendizado, mais evoluído em relação ao anterior, mas totalmente primário em relação ao que está por vir.

O meu mestre e amigo, com vários graus na faixa preta e as orelhas detonadas, concebeu um pensamento complexo mas assustadoramente coerente. E foi com aquele timing, aquele senso de oportunidade cirúrgico. Foi na hora certa e no lugar certo.

2012 acabou como se fosse uma ótima banda que decidiu se separar no auge da carreira. 2012 é o meu R.E.M., os meus Beatles, o meu Led Zeppelin. Vai deixar saudade porque foi maravilhoso, antológico. 2012 acabou. Fim. The End. Mas me deixou pronto para o que der e vier. Eu estarei com um joelho (quase) novo em folha, uma medalha de ouro no peito, uma faixa marrom na cintura, uma aliança na mão direita e a mulher amada à minha esquerda, com os braços cheios de saudade.

QUAL É A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, você voltou! Ah, já era tempo , hein? Eu teria muito a divagar sobre o este tema, mas não estou à sua disposição e prefiro ir para praia, pois este calor está de fritar os miolos. Vou desfilar meu torso sarado e minha sunga peluda na Praia do Pepê. Feliz Natal e vamos em frente, pois 2013 tem muito para render. Até a próxima!!!



terça-feira, 13 de março de 2012

Do outro lado do oceano

Há poucas noites, eu sonhei com Dublin. As lembranças são curtas e fragmentadas como qualquer outro sonho, mas não me restaram quaisquer dúvidas. Era a minha querida capital da Irlanda.


No sonho, eu estava na calçada do parque St. Stephen's Green, região central, onde eu caminhava praticamente todo santo dia. Estava nevando, mas não senti o frio calhorda do inverno europeu. Também não reconheci pessoas. Era apenas Dublin e seu cheiro familiar.

Cidades têm cheiro sim, senhor. O Rio de Janeiro tem um cheiro bem característico de cimento quente com nuances de sal. Quando voltei para casa, eu sabia que tinha chegado quando pisei fora do aeroporto e aquele mormaço de verão invadiu o meu nariz com suas boas-vindas.


No meu sonho, eu estava mais uma vez cercado pelo um cheiro irlandês de vegetação, chuva e tecidos. O frio faz as pessoas usarem muitas peças de roupa, cujos odores variados se misturam às árvores sem folhas e à água da chuva ou dos canais. Dublin também tem sons. Quando você fecha os olhos, a cidade fala através do vento uivando nos seus ouvidos cobertos por gorros.


Eu não lembro de muitos detalhes no sonho. Pelo que me recordo, logo depois eu estava na Grafton St, pertinho do St. Stephen's Green. Como eu adoro a Grafton St. e seus artistas de rua, floristas, vitrines iluminadas e pequenas surpresas. Em um dia, eu podia encontrar uma banda completa tocando rock'n'roll e no outro, uma família local dançando danças típicas irlandesas em troca de alguns euros. A Grafton tinha desses encontros entre a tradição e a globalização.


Na manhã seguinte, acordei triste. Saudoso. Nostálgico. Tudo ao mesmo tempo. Estava sentindo a falta de uma ilhazinha distante como quem sente saudade de uma amiga que se mudou. Queria voltar lá para tomar chá com poucas gotas de leite em um Starbuck's com cheiro de madeira envernizada. Queria estar lá para ver a primavera deixar a cidade ainda mais verde e colorida. Queria beber mais uma pint de Guinness em algum pub com música irlandesa e gente dançando e batendo os calcanhares no chão. Queria que meu joelho tivesse aguentado só mais um pouquinho. Queria que a crise e o corrupto taoiseach (em gaélico, significa "primeiro ministro" e a pronúncia é "ti-shock") não tivessem maltratado a economia do país. Queria que meus cinco meses de Dublin tivessem mais dias.


Faz mais de um ano que voltei para casa. Desde então, meus conceitos de "casa" se ampliaram. Dublin fez isso.



QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, enquanto você curte o seu "banzo" ao contrário, lembre da poesia do Lynyrd Skynyrd: "home is where the heart is", traduzindo para o leitor que não passou do Livro 1 do Fisk, "lar é onde o coração está". Simples assim. Amiguinho, antes de sair de casa, verifique se todos os aparelhos elétricos estão desligados. Até a próxima!!!

segunda-feira, 5 de março de 2012

Diabo Verde em apuros - Parte II

- 1, 2, 3... 1, 2, 3, vai!

Com a marcação das baquetas, Marmota iniciou a apresentação do Diabo Verde, uma simpática banda da Barra da Tijuca diante dos homens de preto, por sua vez, simpáticos ao capeta. Depois dos urros iniciais, a plateia ficou em incômodo silêncio. O som não era pesado e as letras não falavam de desgraça, inferno, anjos caídos e outros temas cavernosos. A levada também não era feroz, com guitarras frenéticas e vocal da escola de canto Max Cavalera. Era rock e nada mais.

- Toca Sandy e Júnior! – gritou o primeiro homem de preto da fila do gargarejo.

- Toca Xuxa! – gritou outro. O Diabo Verde continuou tenso, à espera de um copo voador ou uma garrafa de cerveja. Era um olho na dália com as músicas e outro na muvuca e um nada improvável ataque à la Carlinhos Brown no Rock in Rio 3.

Ao lado do palco, a próxima banda simulava um passinho do tipo can-can. Duílio, meu amigo vocalista, percebeu e encarou um dos integrantes mais animadinhos. O cara percebeu e, sem qualquer esforço, fez cara de mau.

Tive uma adolescência bem nerd. Quando eu era moleque e jogava o RPG Vampiro – A Máscara, havia um poder chamado Olhar Aterrorizante. O personagem podia gelar o sangue da vítima com apenas uma encarada. Nesse momento, o cara de preto na coxia pareceu ter esse poder e Duílio sentiu que engrossar com aquele sujeito era uma péssima ideia.

O show acabou e inexplicavelmente, nenhum objeto foi atirado no Diabo Verde. Na verdade, rolaram até alguns aplausos tímidos. Enquanto alguns roadies preparavam o palco para o próximo show, Duílio percebeu que o outro maluco queria tirar satisfação sobre a encarada inoportuna.

- Aí, quero falar contigo. Tu achou ruim a nossa dança? – o cara disparou sem rodeios. De perto, parecia ser realmente intimidador. Duílio previu uma morte anônima com o corpo sendo enviado para o hospital de Duque de Caxias e depois para as aulas de medicina da UFRJ. No dedão do pé, uma etiqueta "roqueiro, anônimo e burro".

- Bom, não é bem assim.

- Achou ou não achou, porra?

- Na boa, não precisava. Achei indelicado.

- Achou indelicado?

Será que o cara sabia o que significa "indelicado"?

- Achei.

- Desculpa então.

Peraí. Para tudo! "Desculpa" não estava previsto. Cadê o soco no nariz e a pancadaria generalizada.

- Sem problemas, cara.

- A gente curtiu o show. De verdade, porra! A gente até dançou um pouquinho, mas a gente não sabe dançar, morou? Vocês são bons. A música é maneira e pode tocar no rádio.

- Pô, obrigado.

- De verdade. Som maneiro mesmo. A gente é que é um bando de desgraçado. Só cantamos miséria. Só lixo.

- Não devem ser lixo.

- Somo sim, e nos orgulhamos disso, porra!

- Então, tá. Até a próxima.

Duílio e os outros membros da banda receberam a merreca do cachê e se mandaram. Nunca mais tocaram em festivais desconhecidos. Na verdade, tocaram poucas vezes depois. A banda se dissolveu sem crises de ego, overdoses, bebidas ou a Yoko Ono. Simplesmente, resolveram concluir os estudos. Vida de rockstar é muito arriscada.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, hoje aprendemos uma importante lição. Na verdade, duas. A primeira é que nunca devemos encarar sujeitos mal-encarados em um ambiente desconhecido e hostil. O segundo é que nem sempre, as pessoas desprezivelmente mal-encaradas são ruins de espírito. Pode até ser que elas não tenham tanto amor no coração, mas podem ter uma centelha de compaixão. Não julgue os coleguinhas feios e brucutus. Amiguinho, se ela não atende os seus telefonemas e seus torpedos, é porque ela não está afim de você. Até próxima!!!

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Diabo Verde em apuros - Parte I

Duílio, meu amigo de longa data, é o típico cidadão respeitável: pai de família, profissional competente, flamenguista e apreciador dos bons drinks. Curiosamente, ele não foi tão pacato em outros tempos. Este mesmo indivíduo sossegado já foi vocalista de uma banda de rock que excursionou por vários muquifos roqueiros do Rio de Janeiro. Entre diversas presepadas, uma noite do Diabo Verde (então nome da banda) merece nota.

Era uma vez, uma noite em Piabetá...

Surgiu o convite e o Diabo Verde topou. Tocar em um festival de rock na Baixada Fluminense poderia ser uma experiência importante para a banda. Na noite do evento, Duílio, Marmota e Ricky arrumaram os instrumentos e partiram para Piabetá, distrito da aprazível Magé.

Lenda ou não, naquela época, Piabetá era vista como uma das regiões mais violentas da Baixada Fluminense. Era como se fosse Tombstone ou o sertão do Lampião. Enfim, era um lugar que deixava as mães de roqueiros com o coração na mão.

Como não poderia ser diferente, o local do festival era esquisitíssimo. Para ficar com mais clima de terra sem lei, o bar tinha um jeitão de saloon, com aquelas portas de filme do John Wayne. Ainda no clima western, o público era mal-encarado como o elenco de "Um Punhado de Dólares", do Sergio Leone. Um horror total, mas que ficaria ainda pior.

Se muita demora, os músicos do Diabo Verde perceberam que a chapa iria esquentar. A primeira banda no palco tinha uma música quase inteligível. Sob a barulheira colossal, podia-se perceber a repetição de algumas palavras como "anticristo", "inferno", "perdição" e por aí vai. A plateia ensandecida urrava.

- Tem algo estranho. Marmota, quais são as outras bandas? – perguntou Duílio, nos bastidores.

- Sei lá, pô. Chamaram a gente e eu topei. Aqui o cartaz, ó – entregou um folder vagabundo ao vocalista.

- Caceta, cara! Isso aqui é um festival de rock satanista!

- E vocês não são satanistas? – se intrometeu um produtor do evento.

- Não, não somos satanistas.

- E esse nome? Diabo Verde é o quê?

- É um produto de limpeza, meu amigo! É um desentupidor de banheiro. A gente toca rock alternativo.

- Ihhhhh.

Para bom entendedor, o "ihhhhh" do produtor foi interpretado como "danou-se! Vocês vão morrer".

A segunda banda tinha o vocalista fantasiado de Toninho do Diabo, Exu Caveira ou alguma bizarrice do gênero. No meio do show, ele se jogou no público e foi engolfado pela muvuca de camisetas pretas. Para surpresa de todos, não foi um mosh amistoso e convencional. Segundos depois, o cantor estava trocando socos e pontapés com um dos fãs. Os dois se atracaram e foram arremessados para fora pelo segurança da casa. Mais do que nunca, parecia o western dos infernos, mas, assim como os músicos do Titanic, a banda não parava de tocar.

Pouco depois, o cantor retornou com o nariz ensanguentado e alguns hematomas. Com dificuldade, ele conseguiu retornar ao palco. Ergueu os braços, levando a turba ao delírio, e finalizou o show.

- Ei, Diabo Verde, vocês são os próximos. Boa sorte para vocês! – anunciou o produtor.

Bom, como o relato está se alongando muito e você tem mais o que fazer, vou contar como foi o encontro do Diabo Verde e os seguidores do capiroto no próximo capítulo.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, a moral deste primeiro capítulo é moleza. Não seja preguiçoso e leia sempre os termos e informações sobre qualquer coisa que você vá se envolver. Isso pode evitar que você se meta em uma furada dessas. Amiguinho, faça como Danuza Leão: dê um rumo para as roupas que você não usa há mais de um ano. Até a próxima!!!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Dois mojitos e a conta.

- Quero conhecer Cuba – eu declarei.

- Desde quando você é comunista? – fui questionado imediatamente.

- E desde quando eu preciso ser judeu para ir a Israel?

Simpatizo com Cuba e isso não tem nada a ver com comunismo ou socialismo. Nunca fui um estudante reacionário com o desejo de mudar o mundo e derrubar o capitalismo selvagem. Tive um professor de geografia que era militante socialista de uma devoção comovente. Mas, quer saber? Eu até curto o capitalismo. Na verdade, sou de um tempo em que comunista era comedor de criancinha e/ou inimigo do Rocky Balboa. Lembra do Ivan Drago, aquele soviético parrudo que matou o Apollo Doutrinador? Essa era a minha visão dos vermelhos nos tempos do 1° Grau.

Cuba entrou no meu mapa-mundi pelo esporte. Nunca fui fã de vôlei, mas passei a acompanhar os encontros entre Brasil e Cuba como se fossem jogos de futebol. Um FlaxFlu ou um Gre-Nal da América Latina. E olha que o mais divertido era quando as meninas se encontravam. As duas seleções entravam em quadra com sangue nos olhos e o fair-play ia para o escambau. Bons tempos de Márcia Fu e Mireya Luis.

Lembro também daquela edição dos Jogos Pan-Americanos em Havana. Na final do basquete feminino, Hortência, Magic Paula, Janeth e companhia ganharam a competição contra as donas da casa. E o mais emblemático: receberam as medalhas de ouro do próprio Fidel Castro.

Cresci e entrei na faculdade. Estudei na PUC, onde a camisa do Che Guevara era quase um uniforme dos subversivos da Av. Viera Souto. Cuba continuava dando o ar da graça. Aprendi mais sobre o cinema local, o bloqueio econômico, os lendários charutos cubanos, a medicina e a música. Fiquei impressionado com os velhinhos do Buena Vista Social Club e encantado com as suas canções. Decidi que gostaria de conhecer Cuba, mas antes de El Comandante bater as botas, o que não parece muito longe.

Hoje compreendo mais o meu desejo pela simpática ilhazinha. Em pleno século XXI, com tantas tecnologias, iPads, iPhones e Facebooks, o tempo parece passar em câmera lenta em Cuba. Parece contraditório, mas o país agoniza com um certo glamour. Sua frota de carros dos anos 1960 e seus prédios com pinturas descascando ainda mantêm um charme de rebeldia, de verdadeira subversão. E bem pertinho de Miami, como um fantasma vermelho e barbudo assombrando o sonho do american way of life.

Havana é a nossa Atlântida, o nosso El Dorado (sem ouro), a nossa Fenícia. Enfim, você entendeu. É a nossa civilização perdida que pode ser encontrada e apreciada. Cuba é uma ponte para um passado quase imaculado, que pode ser visitado sem um DeLorean. Quando eu estiver lá, fumando um Cohiba e bebendo mojitos, vou lembrar das aulas de Geografia e do meu professor socialista, que lutava para fazer a garotada ter uma visão política.

- Os países socialistas não são do mal. Isso é propaganda capitalista, moçada!

- O Ivan Drago é mau.


QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, então você entrou numa vibe de turismo mais aventureiro, mais alternativo, certo? Que tal provar a hospitalidade da Síria? Ouvi falar que o Egito está bombando nesta época do ano. Não, não. Você quer um turismo radical? Tente a Coreia do Norte. Ok, vamos a uma bela e enriquecedora lição. Cuba, a simpática ilha do tio Fidel, é um exemplo de envelhecer mantendo um ar de mistério e charme. É isso. Vai lá e depois me conta. Amiguinho, evite acumular pilhas de papel no seu quarto. Até a próxima!!!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A porta-voz do Bom Velhinho

Ok, o Natal já passou faz tempo. Eu sei, mas um certo diálogo, por mais atrasado que esteja, merece registro. A tal conversa se passou entre uma mãe e o casal de filhos – ele com cinco anos e ela com sete.

Era uma vez...

FILHA: Mãe, preciso falar com você.

FILHO: Eu também.

MÃE: Claro. Sou toda ouvidos. Um de cada vez, por favor.

FILHA: Tenho que falar com o Papai Noel.

MÃE: Mas nós fomos ao shopping ontem. Você já falou com ele.

FILHA: Mãe, aquele lá não era o Papai Noel. Ele não resolve.

MÃE: Querida, você já mandou a sua cartinha para ele.

FILHA: Eu sei, mas preciso falar com ele. Ele tem email?

MÃE: Bom, provavelmente não. Se tiver, eu não sei qual é.

FILHA: E celular? Ele deve ter celular. Se for iPhone, eu ligo de graça do seu aparelho.

MÃE: Querida, não tem cobertura de celular no Polo Norte. Aqui no Rio já é complicado, imagina lá por aquelas bandas.

FILHA: Mãe, é urgente. E internet? Ele tem internet? Posso falar com ele pelo Skype.

MÃE: Querida, escreve o que você quer e me passa. Eu dou um jeito de dar o recado para o Papai Noel.

FILHA: Mãe, é particular.

MÃE: Nós não temos segredos uma da outra. Escreve e depois me passa. Eu encaminho para o Papai Noel.

Garotinha obedece e sai contrariada...

MÃE: E você? Qual o problema?

FILHO: Mãe, Papai Noel é velhinho, né?

MÃE: Sim, ele é.

FILHO: Bem velhinho, né?

MÃE: Sim, bem velhinho.

FILHO: Mãe, tem algum risco do Papai Noel morrer antes do Natal e não trazer o meu presente?

MÃE: (...)

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?

Amiguinho, por mais sábio, articulado e gostosão que seja, o Homem mais Poderoso do Universo tem medo dessas crianças conectadas. Geração @ é fogo! A lição maneira de hoje se concentra na sutileza. Por mais online que sejam, crianças ainda fantasiam. Seja legal com os sonhos delas e deixe que elas descubram a vida naturalmente. E outra coisa, Papai Noel não atende ao celular porque ele é cliente TIM. Amiguinho, oriente os seus coleguinhas sobre a importância da reciclagem, mas sem se tornar um eco-chato. He-Man, Papai Noel e o Coelhinho da Páscoa detestam os eco-chatos! Até a próxima!!!

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Top Chef Master

Hoje eu estava inspirado. Durante o banho, o Olivier Anquier me possuiu (no sentido figurado, não no sentido bíblico, é óbvio) e decidi fazer um jantar diferente.

Acho que esta foi a introdução de texto mais ousada da história desavergonhada deste blog. Dizer que o Olivier Anquier me possuiu foi de extrema coragem heterossexual.

Até faço uma massa digna e pouco apelo para o miojo, mas hoje eu quis fazer algo mais elaborado, mas sem abrir mão do toque caseiro – mesmo porque fazer algo sofisticado no estilo Fasano está muito além dos meus parcos conhecimentos culinários.

O menu seria tiras de filé ao alho com arroz branco e purê de batatas. Soa trivial, mas na minha vida de dono de casa inapto, isso é quase um banquete digno do Príncipe William e da Duquesa Kate Middleton.

Taquei a Amy para se esgoelar no ótimo "Back to Black" e botei a mão na massa. Bom, na carne, melhor dizendo.

Comecei pelo tempero, cortando alho e cebola em cubinhos homogêneos e milimétricos. Ficaram realmente bonitos. Ao mesmo tempo, botei o arroz e as batatas em suas respectivas panelas. Temperei duas tiras vermelhinhas de filé e vi que o negócio estava funcionando. Até então, tudo muito belo. Logo eu teria uma refeição respeitável para acompanhar mais um episódio de "Game of Thrones".

Eis que o jantar se rebelou e se voltou contra mim.

O filé cheirava bem, mas começou a fazer mais fumaça que o camarim do Marcelo D2. Liguei o exaustor, ao mesmo tempo que comecei a suar como se tivesse acabado de correr a São Silvestre vestindo um casaco de pele de raposa.

A água ferveu e as batatas pareciam no ponto. Lembrei do purê cremoso e consistente da mamãe. Fui tirar a primeira batata e ela escapuliu dentro da panela de novo. Voou água fervente para os quatro pontos cardeais, incluindo a minha mão e o meu pé descalço.

Olha, tive que ser muito Jack Bauer para não largar panela, batata, água quente e o cacete. Engoli o choro e despejei a batata assassina em uma vasilha.

Enquanto sofri com o purê, esqueci do filé na frigideira. Passou do ponto. Culpa da batata! Culpa da Amy Winehouse.

Diminui o fogo e fui preparar o purê. A batata estava de sacanagem comigo e não quis ficar cremosa e consistente como a da mamãe. Penei para amassar os legumes a ponto de quebrar um garfo. No final das contas, ficou parecendo um mingau com uns pedaços de coisas amarelas. E eu achando que fazer purê era moleza.

Tirei a tampa da frigideira e voou azeite quente na mesma mão queimada pela batata assassina. Engoli o palavrão porque vovó ensinou a não xingar o alimento. Para compensar, o arroz estava bonito e soltinho como uma periguete em festa do Imperador Adriano.

Fiz o prato com o bife duro carbonizado e o mingau de batata com cara de qualquer outra coisa menos purê. O arroz se salvou. Comi com raiva e decidi viver que nem índio: a base de frutas e peixe cru.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
AMIGUINHO?
Amiguinho, hoje aprendemos uma importante lição. Aliás, uma não, várias. Aprendemos com este cronista como a cozinha pode ser um ambiente perigoso para idiotas. Fico feliz por ele não ter perdido um dedo cortando a carne ou suado em cima do arroz branco. Enfim, ao se aventurar pela cozinha, lembre-se do bom e velho miojo ou peça ajuda a um adulto. Amiguinho, fique de olho nas datas das suas contas para não pagar juros. Até a próxima!!!