terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

29 jeans

Faz um calor lazarento no Rio. Os dias são fumegantes e a sensação é a de que existe um forno de pizza ligado exclusivamente para você – sem pausa. O dia mal nasce e o termômetro da rua já decreta assustadores 30 graus. Isso enquanto está passando o Bom Dia Brasil. Por conta dessa quentura estúpida, tenho priorizado roupas claras. Nessa de usar trajes mais leves, resgatei uma calça marfim tamanho 42. Até aí nada de extraordinário, mas o que chamou a minha atenção neste dia foi de que esta peça foi um presente de aniversário de 18 anos. Acho que tenho uma patologia psicológica travestida ema uma dificuldade lascada de me desfazer de algumas coisas. Por isso, eu tinha 29 calças jeans no meu armário.

Caceta! Nem a minha namorada vaidosa já teve 29 calças jeans.

Ela ficou tão chocada com a quantidade de jeans que estão penduradinhos no meu guarda-roupas que fez questão de contar: 29 jeans, fora algumas calças sociais e uma cargo com estampa militar.

Em minha defesa, eu alego que estou longe de ser um consumidor maníaco de calças jeans. Na verdade, eu pouco compro roupas, pois não tenho paciência para lojas lotadas e a etapa de experimentar essa ou aquela peça. Gosto de umas duas ou três marcas e sou fiel a elas. Aí vou acumulando a calça que ganhei no Natal, com aquela que comprei na liquidação do lápis vermelho, com aquela outra que ganhei de aniversário há cinco anos e por aí vai.

Quando eu era adolescente, eu colecionava gibis da Marvel. Chegou uma etapa da vida que eu tinha mais de 1.000 revistas empilhadas em um único armário. Eu guardava o dinheiro que recebia para ir à escola e gastava tudo em quadrinhos. Já crescido, sofri horrores quando tive que desfazer dos meus amados gibis. Ainda hoje guardo algumas revistas com valor afetivo maior. Não chegam a 50.

Na faculdade, a fixação era com CDs. Eu garimpava lojas e sebos procurando títulos raros ou discografias completas do R.E.M. ou do Pearl Jam. Em poucos anos, a prateleira foi lotando e, pimba!, não aguentou mais. Com o advento da música digital, eu poderia me sentir à vontade para me desfazer de tantos discos, certo? De jeito maneira! E o carinho pelos disquinhos, com seus encartes e histórias? Como é que fica? Não dá para ter afeto pelo mp3, pô!

Olhando friamente para meu apartamento, eu tenho um acúmulo de tralhas adoráveis. Tenho sei-lá-quantos DVDs (ainda não migrei para os blu-rays), trocentos livros e uma cacetada de breguetes do Flamengo, que não faliu até hoje por minha causa. Sou um dizimista confesso do Mengão.

Mas os livros são toleráveis, não? Na verdade, o acúmulo de livros nunca é demais. Até se você cismar em guardar caixas e caixas de romances da Danielle Steel ou suspenses jurídicos do John Grisham. Vou além: até se você quiser guardar a saga Crepúsculo e todos os seus afluentes, eu acho digno.

Entre tantas tranqueiras, eu tenho uma favorita. Sim, sou capaz de identificar um item no oceano de tralhas! No fundo de um baú, ainda guardo o meu primeiro kimono. É um Atama encardido, rasgado, esburacado e desgastado pelos anos. Ele marca o ano que fiz vestibular e que decidi ser um cara mais corajoso. Já pensei em me desfazer dele, mas e a dó que bate no coração? Como é que fica? O kimono continua lá.

Enquanto eu juntava todas essas tranqueiras, os jeans foram se acumulando até a admirável quantidade de 29 peças enfileiradas em cabides brancos iguais. Mas para toda patologia há uma cura – ou princípio de cura. Outro dia, minha namorada invadiu o meu closet e botou ordem.

- Tem jeans demais aqui. Vamos limar uma porção. Vamos! Você consegue. Escolhe aí.

E lá fui eu separa os mais velhos, os mais feios e os mais fora da moda – segundo critérios dela, que eu mesmo desconheço, mas confio. Mulher tem tino para essas coisas. Dispensei uma porção de calças e mandei para a igreja. Ainda tenho muitos jeans guardados, mas eu me sinto uma pessoa melhor agora.

QUAL A MORA DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, pode ser sincero com o seu camarada aqui. Você fez esse rodeio todo para deixar implícito que ainda tem o mesmo corpo que tinha aos 18 anos, certo? Você é um calhorda. A mensagem final do He-Man é uma só: DESAPEGA. Amiguinho, fique de olho no prazo de validade das gororobas que você guarda na geladeira. Até a próxima!!!




quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O conto da fada verde


O Carnaval passa. As histórias ficam. E uma ocorrência que merece nota é o encontro (verídico) entre o Professor Honório e uma das suas pupilas.

Era um vez...

Honório estava curtindo a passagem de um bloco na praia da Barra. Com o calor dos infernos, a pouca roupa era predominante nas alegres foliãs. Tranquilamente, o nobre professor acompanhava o vaivém das beldades com admiração quase penitente.

- Professor! Professor!

Honório ouviu o chamado e percebeu uma fadinha acenando ao longe. Ele correspondeu o cumprimento e, para a sua surpresa, reconheceu uma das suas alunas da PUC, que logo veio ao seu encontro. Segundo ele, a guria estava um espetáculo, como a maioria das estudantes de comunicação da memorável Pontifícia Universidade Católica. Papo vai, papo vem, o bloco passava e a fadinha de asas verdes continua empolgada com a conversa.

Essa fada. Essa fadinha. Cacófatos oportunos!

- Vamos sentar ali no quiosque e tomar uma água de coco.

- Claro.

Honório analisava friamente a situação e vivia o dilema da ética segundo a perspectiva poética do Seu Jorge: “pego. Não pego. Pego. Não pego. Pego. Não pego”.

Mais papo vai. Mais papo vem. O último fiapo de ética e escrúpulo que restavam na consciência de Honório era justamente a idade da fadinha verde.

- Qual a sua idade mesmo?

Deus, faça com que ela seja maior de idade!

- 18, professor.

- Pode me chamar de Honório. Esquece esse lance de professor.

- Qual a sua idade, professor? Quer dizer, Honório.

- 19 anos – respondeu sem pestanejar.

- Ah, professor, você tá brincando.

- Tô não.

- Tá sim. Fala a verdade, professor.

- Tenho 19 anos.

- Ah, seu bobo.

- Verdade. Tenho 19 anos a mais que você.

Silêncio.

- Errrr... professor, vou ali com as minhas amigas e volto já.

- Claro, querida.

Honório ficou no quiosque rindo consigo mesmo. Bebeu a água de coco às gargalhadas. Perde-se a conquista, mas não se perde a piada jamais.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, você sabia que a maioria dos professores detesta ser chamado de professor quando estão à paisana? E faz sentido. Se você encontra o seu encanador na rua, você sai gritando “Ei, encanador. Tudo beleza?”. Soa estranho, não? A lição principal é não chamar o professor de professor quando ele não está dentro da escola ou universidade. A exceção é se ele for o Professor Xavier. Péssima piada final. Boto a culpa na ressaca da folia. Amiguinho, cuidado com as dores musculares crônicas. Busque tratamento adequado e evite perrengues posteriores. Até a próxima!!!

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Tudo vai dar certo


Todo mundo fica triste em algum momento da vida. Eu fico triste. Você fica triste. Tirando o exagero do poeta que acredita que “tristeza não tem fim, felicidade sim”, os momentos em que estamos para baixo são inerentes às nossas vidas. Óbvio, mas faz parte do show.
  
Tudo vai dar certo.


Eu fico triste quando o Flamengo perde. Fico triste quando brigo com a namorada. Fico triste quando eu me aborreço com a família. Fico triste quando tenho dor no pescoço. Fico triste porque meu joelho não me permite mais jogar futebol depois da cirurgia. Até dias de chuva me deixam jururu. Em casos extremos, eu faço coro com o Zeca Baleiro e até beijo de novela me faz chorar. Fico arrasado quando pessoas me desapontam, mas nada me deixa mais cabisbaixo do que a frustração de saber que posso falhar com as pessoas ao redor. Esse é o pior sentimento: a angústia de fracassar.

Tudo vai dar certo.

Quando estou nessa vibe, eu não consigo disfarçar. Fico em um estado estranho de autismo: olhar fixo em lugar nenhum, boca fechada, movimentos lentos, poucas palavras e frieza de cirurgião cardíaco. Enfim, uma péssima companhia. Chato pra cacete, melhor colocando.

Tenho andado bem chateado com tudo. Melancólico. Sem brilho nos olhos. Não reclamo sobre essas coisas. Fui criado/treinado para segurar a onda e me virar. E assim eu faço, mas é terrível armazenar a tristeza como um tênis fedido embaixo da cama. Não se vê, mas incomoda horrores.

Tudo vai dar certo.

Mas aí é que a vida dá o seu recado e mostra como os seus problemas são pequenos diante da dor verdadeira. Indo para o trabalho, eu estava ouvindo rádio e fiquei sabendo de um história de cortar o coração envolvendo a tragédia de Santa Maria. Diante da dor inclassificável de perder uma filha, um casal ainda não teve a força necessária para tirar do refrigerador um sanduíche mordido pela garota antes de sair para a Kiss. O quarto continua arrumado como se ela estivesse viajando. O pão mordido às pressas, pois ela estava prestes a perder a carona, ficou na geladeira. Ouvi essa história e outras, como a de um bombeiro que encontrou um celular que tocava insistentemente no bolso de um rapaz morto. No display: “Mamãe 144 ligações perdidas”. Fiquei pequetitico, envergonhado pela minha tristeza banal.

Tudo vai dar certo. Eu sei.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
#ForçaSantaMaria