terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A mãe do guarda

Inevitável. Seja para apoiar ou para criticar, a Lei Seca chega ao seu segundo verão e continua rendendo conversas acaloradas. Alheio às discussões, o bafômetro se tornou o pior pesadelo daqueles que querem tomar umas e outras e dirigir logo em seguida. A imprensa divulga resultados positivos, mas a população reclama que o governo não oferece opções adequadas de transportes públicos. Enquanto o couro come, uma rede espontânea raras vezes vista na web se organizou. Por exemplo, o twitter carioca da Lei Seca mobiliza smartphones e iPhones que deduram as localizações das blitzes.

Na guerrilha entre o bafômetro e os motoristas, ouvi uma história impagável sobre como pensar rápido pode salvar a carteira de motorista depois de uns gorós além do permitido.

Aviso aos navegantes: o causo contou com uma dose absurda de sorte. Não tente repeti-lo. Se dirigir, fique na Coca-cola Zero e evite passar por um perrengue desses.

Madalena congelou assim que viu o primeiro balão da Lei Seca levitando a poucos metros do seu carro.

- Estou lascada!

Sim, estava mesmo, graças a duas caipirinhas inocentemente bebidas há poucos minutos. Qualquer baforada seria o adeus à sua habilitação e menos R$ 1.000,00 na sua conta bancária.

- Calma, calma. Mantenha o ar de paisagem e você não será parada. Tudo vai ficar numa boa – pensou. Mudou de ideia e ligou para a sua mãe imediatamente.

Não, não a SUA mãe, leitor. Madalena ligou para a própria mãe.

- Mãe, não pergunta. Me liga daqui a dez minutos. Depois eu te explico. Não, mãe. Não é trote. Sou eu, a Madalena, pombas. Vou desligar. Beijo. Me liga em dez minutos pelamordedeus.

Desligou e torceu. Não deu certo. O fiscal fez o sinal para que ela encostasse. Madalena se sentiu frita, mas lembrou o seu plano.

- Boa noite – cumprimentou o fiscal.

- Boa noite.

- A senhora bebeu?

Um soluço, dois soluços e as lágrimas correram pela cara (de pau) de Madalena.

- Seu guarda, desculpe. Eu bebi, sim. Eu não deveria dirigir, eu sei, mas meu filhinho ficou em casa e passou mal. Fiquei desesperada e peguei o carro da minha irmã. Bebi duas latinhas de cerveja, seu guarda. Preciso voltar para casa e ver o meu bebê. Ele só tem dois aninhos. Buáááááááá!!!

- Calma, senhora.

- Eu deveria ter ficado em casa. Buááááááá!!! Snif, snif...

- Calma, senhora, por favor.

- Se algo acontecer com ele, eu jamais me perdoarei. Buáááááááááááá!!! Sou uma péssima mãe.

Tocou o telefone.

- Mãe, sou eu. Já estou chegando. Ah, meu Deus, 39º de febre. Tá vomitando? Ah, meu filhotinho. Cuida dele, mãe. Eu sei que ele precisa ser levado ao hospital. Buáááá!!!!

Desligou.

- A senhora mora aqui perto?

- Logo ali, seu guarda. Menos de cinco minutos.

O fiscal respirou fundo e gritou para os colegas:

- Ô, Pacheco. Libera esse aqui.

- Obrigada, seu guarda. Aposto que o senhor tem mãe e ela já ficou desesperada por você.

- Vá devagar, senhora.

Madalena foi devagar e assim que chegou em casa, foi fuzilada por uma pergunta da mãe:

- Mas que história de filho é essa? Quantas você bebeu, sua maluca?

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, vamos nos despir de falsos moralismos e do politicamente correto. Você sabe tão bem quanto eu que é difícil segurar a onda e não tomar um chopinho gelado na agradável companhia dos amigos. E esse verão abrasador também colabora para deixar o bom e velho suco de cevada ainda mais sedutor. Bom, é difícil, mas está longe de ser impossível. Tome limonada e finja que é caipirinha. Tome Liber, coquetel de frutas. Tome guaraná e faça de conta que é Johnnie Walker. Sei lá, dá teu jeito. Só não me venha com a desculpa de que não resistiu. Dá para segurar a onda. Se você precisar loucamente de um cerva e começar a tremer com a ausência de cachaça em sua garganta, escolha: procure um táxi ou procure o AA. Amiguinho, produtos orgânicos no seu lixo atraem moscas e outros bichos nojentos. Evite o acúmulo. Até a próxima!!!

PS. Uma curiosidade que une a Lei Seca ao Surfista Platinado. A medida foi sancionada pelo Presidente Lula no dia do meu aniversário.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

De cara nova!


Senhoras e senhores, eu lhes apresento o novo layout do Surfista Platinado!!!

Pois é, aquele azulzinho encheu o saco. Assim como o Obina no Flamengo, aquele layout deu o que tinha que dar. Durante meses aguardei um designer solidário me brindar com um pedacinho do seu talento, mas nada. Todos estão preocupadíssimos com o Big Brother Brasil 10. E quer saber? Que venha o espírito punk! Do it youself, baby. E eu did it. Ficou simples, mas ficou honesto.

Pitacos são sempre bem-vindos!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O bom homem e o favor recompensado

Há alguns anos, eu passei o carnaval em Cabo Frio. Em um fim de tarde despreocupado, eu me ocupava em avaliar as condições de gelo, textura e sabor de uma latinha de cerveja quando fui abordado por um bêbado querendo conversa. Isso já aconteceu comigo tantas vezes que eu não conseguiria contabilizar. Com crianças é a mesma coisa. Todo pimpolho gosta de me mostrar o brinquedo novo ou brincar de pique comigo. Pois é, eu confesso que sou um imã para a gurizada e para os cachaceiros.

Abelardo, amigo de longa data, é um para-raio de maluco e protagoniza uma história que tem vaga garantida no universo do Surfista Platinado. Saca só:

A namorada de Abelardo (atual esposa, por sinal) fazia faculdade na Lagoa e costuma sair depois das 23h. Como bom rapaz e cavalheiro de fino trato, sempre que podia, Abelardo se prontificava a pegá-la de carro.

Ah, para os leitores de fora do Rio de Janeiro, a namorada de Abelardo não estudava dentro do lago. A tal "Lagoa" é o bairro Lagoa Rodrigo de Freitas, na Zona Sul carioca. Além de fazer fronteira com Ipanema, Leblon, Copacabana e Jardim Botânico, este belo pedacinho da cidade também é caracterizado pela Árvore de Natal do Bradesco, pelos engarrafamentos da entrada do Túnel Rebouças, pelo Parque dos Patins, pelos praticantes de remo e pela sede do Clube de Regatas do Flamengo. Um pedaço nobre da metrópole.

Como naquele tempo a Lei Seca era um conto para assustar os motoristas, Abelardo costuma esperar a amada em um boteco na esquina tomando uma cervejinha gelada e jogando conversa fora com os locais.

Já reparou como toda faculdade tem um botequim xexelento nas proximidades? Faz parte da cultura universitária tomar uns gorós num pé-sujo vizinho.

Numa dessas noites de espera, Abelardo tomava uma Skol e fumava um cigarro. Parecia que tudo seguiria a sua rotina, até que o rapaz percebeu um mendigo a poucos metros. O sujeito estava com olhos de pidão e nosso herói, taoísta com claras influências cristãs, se sensibilizou.

- Vai um cigarrinho aí?

O rosto do vagabundo se iluminou em um sorriso. A alegria foi completa quando Abelardo ofereceu um copo de cerveja também. O homeless ganhou o dia e quis retribuir... ao seu estilo.

- Você é muito educado, moço.

- Obrigado.

- Faz muito tempo que ninguém faz isso por mim.

- Não foi nada.

- Foi sim. Olha, eu tenho família. Mulher e algumas filhas, sabia?

- Que bom.

- E tenho uma filha ajeitadinha.

Abelardo começou a ficar preocupado com o rumo da prosa.

- Parabéns, senhor.

- Quero que você coma a minha filha.

- Hein?

- Pois é, ela é arrumadinha e coisa e tal. E eu gostei muito da sua atitude. Esses playboys nunca me pagaram um copo d'água.

- Foi só um cigarro e um copo de cerveja. Não precisa.

- Precisa, sim. Você vai passar aqui amanhã? Eu trago a minha filha amanhã e você come ela.

- Olha, não precisa. Juro.

- Deixa de ser tímido. Você é um rapaz bonitão e não tem cara de boiola. Aposto que vai gostar!

- Olha, obrigado, mas não vai dar. Preciso ir, tá? Abração.

- Peraí, garoto. Quando você vai comer a minha filha?

Abelardo continuou pegando a namorada sempre que podia, mas perdeu o boteco para fazer hora. Vai que o mendigo aparecesse com a filha...


QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, se a filha do maluco valia um cigarro e um copo de cerveja, imagina se ele tivesse pago um salgado também? A lição do dia é simples: faça o bem sem esperar uma recompensa. Muitas vezes, a recompensa vai ser tão bizarra que você não vai dar conta do recado. Amiguinho, ouvir música no volume máximo é legal, mas respeite o sono e os ouvidos alheios. Até a próxima!!!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

A fina arte da revanche

Uma pequena frustração que tenho é nunca ter feito uma tatuagem. Sempre achei bacana, mas ainda estou em busca do desenho ideal. Tattoo é coisa séria. Literalmente, é para a vida toda. É que nem amor de mãe.

Já ouvi falar que tatuagem é mais eterna que casamento. Faz sentido.

Ao longo da vida, já vi várias modinhas, como os dragões tatuados no braço e o calção corpo aberto no espaço. Sem tantas poesias, ainda cito as tribais, as astecas e as mais engraçadas: os nomes dos namorados. Tem gente que conhece, se apaixona, se empolga e corre para o tatuador. O borogodó acaba, cada um segue o seu caminho, mas o nome do cidadão (ou cidadã) continua lá cravado na pele. Tem celebridade que não aprende com o erro e tasca nome após nome no lombo. Depois de alguns anos, a pele da criatura parece uma lista telefônica.

Ah, mas nada se compara aos ideogramas japas. Tem gente que mal sabe interpretar textos em português, mas decide marcar a epiderme com uns rabiscos nipônicos. O cara jura de pé junto que está escrito "honra" no braço, mas quem garante? Duvido que tenha feito um curso de hiragana ou katakana para confirmar. Esse foi o caso de Floriano.

O rapaz tinha o hábito de abolir certas palavras do seu vocabulário. Coisa básicas como "por favor", "dá licença", "bom dia" e outras expressões de "otários" estavam longe do dia a dia de Floriano.

Certo dia, Floriano decidiu fazer uma tatuagem no braço. A opção foi o próprio nome em um ideograma japonês.

Vem cá, por que uma pessoa tatua o próprio nome? Será que é uma tática para economizar saliva. Tipo "oi, qual o seu nome?". Aí o cara levanta o braço e aponta: Percival. Ou será que é para não esquecer?

Floriano encheu o saco do tatuador. Reclamou de tudo, deu pitacos no trabalho alheio, arrumou confusão com outros clientes. Enfim, perturbou a paz e a harmonia locais.

Certas pessoas esqueceram o significado da palavra "noção" e fazem isso em qualquer lugar.

Horas depois, o ideograma estava pronto. Floriano, todo prosa, pagou e saiu sem agradecer. Nos dias seguintes, sua tatuagem era o seu orgulho. Era que nem criança que acabou de ganhar um sapatou ou relógio. Mostrava para quem aparecesse.

Numa dessas, conheceu um japonês legítimo. Sem qualquer rodeio, foi logo apresentando a tattoo.

- Da hora, né?

- Sim, interessante.

- Sentiu a moral.

- Sim, claro.

- Aí, é o meu nome tatuado, japa. Sacou?

O oriental refletiu. Pensou. Riu.

- Seu nome é geladeira?

O tatuador vingador lavou a alma de muita gente.


QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?

Amiguinho, mais uma lição facinha de ser explicada. Com essas histórias de fácil compreensão, você menospreza a sabedoria incomensurável do He-Man, pô! Mas vamos ao que interessa: se você for um escroto com o universo ao seu redor, sempre aparecerá alguém que vai querer colar um "me chute" nas suas costas. E o mais sábio utilizará a sutileza e discrição para consolidar o feito. Então, seja legal com todos e 95% das pessoas serão legais com você. Os demais 5% são babacas que não merecem nossa consideração. Amiguinho, se pegar emprestado alguma coisa, devolva nas condições que pegou. Até a próxima!!!



PS. Mais uma história verídica que não parece de verdade. Adoro!

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Quem é essazinha?

Cassandra, minha estagiária de vasta cebeleira negra e olhos grandes, é uma figura importante para este blog. Suas aventuras renderam várias pautas bacanas. Algumas puderam ser publicadas. Outras não. Mas cada participação da musa rendeu grande aceitação do público. Só que Cassandra andou sumida. Na verdade, ela andou de recesso, porque foi fisgada. Pois é, minha querida amiga foi flechada pelo moleque travesso chamado Cupido. E quem disse que isso não poderia render uma história com a imprevisibilidade de sempre?

Aliás, o que deu em mim para escrever "moleque travesso chamado Cupido"? Taquelpariu!

Cassandra arrumou um namorado guitarrista que deixou o seu jovem coraçãozinho desnorteado.

Opa, outro pensamento: vamos combinar que caras que tocam guitarra exercem um forte appeal sobre a libido feminina. É a aura de bad boy, de vagabundo, de James Dean, de rebelde etc. Curiosamente, o oposto também funciona: o cara com terno de listras. Como sou incapaz de tocar guitarra, é mais fácil usar um figurino mais estiloso. Chega de pensamentos... de volta à história.

Mais apaixonada que uma personagem de clipe do Julio Iglesias, Cassandra deu um tempo na vida bandida e se rendeu aos programinhas de casais felizes.

Sabe aqueles desenhos da Disney em que a mocinha dança e canta com o príncipe entre passarinhos, esquilinhos, ursinhos e outros "inhos"? Pois esse é o universo que Cassandra, a Princesa das Trevas, escolheu para chamar de seu.

Certa noite, estavam Cassandra e o Príncipe Encantado no Vale Open Air.

Ops, momento jabá.

De repente, uma garota se aproxima do Príncipe Encantado toda cheia de sorrisos e cordialidade. O alarme da nossa heroína disparou:

Periguete! Periguete! Periguete!

- Oi, Príncipe Encantado. Há quanto tempo. Que saudade!

Por mais segura e superior que seja, uma mulher fica transtornada quando outra fêmea chega perto do seu homem com esse papinho de saudade. Cassandra contou até 15 em algarismos romanos e respirou fundo.

- E a sua conta, hein? Tenho uns investimentos legais para te mostrar. Passa lá no banco.

Veja você como tudo muda de figura de uma hora para outra. De vadia, a moça poderia ser uma inocente gerente de banco tricotando com o seu cliente fora do expediente. Cassandra ficou com vergonha do seu ódio sem fundamento.

- No mais, a sua mãe está bem? E o seu pai? Manda lembranças a todos e um beijo para a sua irmã.

Cassandra ficou confusa. A invasora era uma periguete, uma gerente de banco ou uma prima distante? A guria se despediu e sumiu na fila da pipoca.

Nossa musa calçou um salto 30 e ergueu o nariz. Em seu interior, ela jamais desceria do pedestal para perguntar quem era a infeliz. Se ele quisesse, que contasse. Ela manteria a classe, a elegância, a postura, a...

5, 4, 3, 2, 1...

- Quem era essazinha?

- Legal ela, né? É ex-namorada da minha irmã.

Glup!

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?

Amiguinho, qual a lição óbvia desta pequena peripécia? Simples: não faça julgamentos prematuros. Essa foi mamão com açúcar. Então, evite pagar um mico parecido. Antes de formar uma opinião ou definir uma posição, ouça e analise a história até o final. Sem fazer nenhuma mágica, você vai acerta muito mais. Bom, é isso. Agora, He-Man, o mais sinistro, gostaria de manifestar sua alegria por ler mais uma história de Cassandra, a Estagiária. O Surfista se amarra nos seus causos e eu também. Amiguinho, não deixe acumular louça na sua pia. Tenha vergonha na cara! Até a próxima!!!


OBS. Para conhecer outras aventuras de Cassandra, clique no recém-inaugurado marcador. Você não vai se arrepender.

domingo, 3 de janeiro de 2010

2010!

A lojinha não fechou! Desculpem a ausência...

Enquanto isso, feliz ano novo!