domingo, 28 de novembro de 2010

O clube dos rapazes solteiros

Meus amigos estão casando. Mais que isso. Meus amigos estão tendo filhos. Meus amigos estão se tornando como eram meus pais e os seus próprios pais. Sabe aquela sensação de que ir a uma festa onde todos conversam sobre seus respectivos maridos (esposas), planos de maternidade e as prestações da casa nova? Algumas vezes é assim que eu me sinto. Você também?

Há alguns anos, ser solteiro era um privilégio, um passe livre para um infinito playground de possibilidades. Hoje em dia, ser single é a carteirinha para um clube com cada vez menos sócios e muitas restrições.

Vamos deixar uma coisa bem clara: este não é um lamento. Meu tempo é precioso e evito desperdiçá-lo resmungando. É apenas uma observação colhida após observar os últimos 12 meses, nos quais amigos queridos casaram, procriaram e fizeram algo "adulto" – não necessariamente nesta mesma ordem.

Ok, ok, eu tenho namorada. Com certeza, já é significativo. Porém, às vezes, as nossas próprias preocupações e perspectivas são diferentes, uma vez que ela é um pouco mais nova. Ela está pavimentando uma carreira brilhante. Eu estou vivendo um período sabático, enquanto morro de medo das consequências. Ela quer salvar o mundo. Eu quero ser mais um capitalista entediado e bem-sucedido como aquele que Raul Seixas descreve em "Ouro de Tolo". Posso fazer uma confissão? Meu maior medo é a frustração de falhar, de desapontar quem acredita em mim. Juro por Deus!

Parêntesis: você não odeia gente que escreve "concerteza"? Dá vontade de dar uns cascudos. Voltemos ao pensament
o...

Enfim, somos jovens adultos em um mundo globalizado, geopolitizado e com Internet banda larga. Temos preocupações, referências e medos diferentes dos que nossos pais tinham em nossas idades. Nossos All-Stars não estão novinhos em folha e ficamos pensativos quando ouvimos o Gilberto Gil cantar "Tempo Rei".

QUAL A MO
RAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, achei que esta vibe reflexiva tivesse ficado junto aos seus gibis do Homem-Aranha no Brasil. Parece que você andou ouvido "Yesterday" demais. Recaídas? Fofolete, mire-se no exemplo do todo-músculos He-Man. Eu sou sucesso desde 1983 e continuo com o mesmo shape de garoto de academia. Sei que esta é uma comparação injusta, mas pense que o que você guarda na memória ou no coração são tesouros inestimáveis. Você está vivendo e aprendendo e está justamente onde deveria estar. Todo o universo se organiza para te colocar no seu caminho. E já que você citou o sábio Raul Seixas, espelhe-se em um dos seus ensinamentos: "não sei para onde estou indo, mas sei que estou no meu caminho". Amiguinho, sempre que você tiver a oportunidade, diga aos seus amigos o quanto eles são especiais. Até a próxima!!!

Primeiro jogo de futebol na Irlanda

A peleja foi entre Sligo Rovers e Shamrock Rovers decidiu a Copa da Irlanda. O jogo não foi lá essas coisas. Na verdade, foi uma pelada que acabou em 0x0 e só foi decidida nos pênaltis. A experiência foi sensacional e deu até para fazer um vídeo e uns comparativos:

:: BRASIL: Final de campeonato? O torcedor deve estar pronto para horas e horas na fila para comprar um ingresso. Se não rolar, cambistas vendem por 10 vezes o valor do bilhete.
:: IRLANDA: Compra do ingresso pela Internet sem ágio e com taxa de entrega por 1 euro. Seu ticket chega em sua casa. Existe cambista também, mas não sei qual o valor cobrado.

:: BRASIL: Para garantir um bom lugar, tem que chegar cedo
:: IRLANDA: Lugares marcados. Ninguém pega a sua cadeira.

:: BRASIL: Torcida ferve, pula e canta o tempo todo.
:: IRLANDA: Torcida faz festa na entrada do time e pouco se manifesta durante a partida.

:: BRASIL: Coca-cola, biscoito Globo e Mate Leão.
:: IRLANDA: Guinness, hot-dog e chocolate quente ou chá.

:: BRASIL: Em caso de clássico, grande chance de brigas de torcidas.
:: IRLANDA: Torcidas rivais tomam cerveja juntas antes do jogo.

:: BRASIL: Polícia dá borrachada e lança spray de pimenta nos torcedores.
:: IRLANDA: Polícia orienta os torcedores e controla os mais exaltados.

:: BRASIL: Calor infernal.
:: IRLANDA: 0º durante o jogo.

:: BRASIL: Tem o Flamengo.
:: IRLANDA: Não tem o Flamengo.

Fiz um filminho durante o jogo. Olha só:


QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, comentar resenha de futebol e comparações não estão no meu job description. Não vou nem me dar ao trabalho de me transformar. Inté!!!



quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Crise nas infinitas Irlandas

Veja como é a vida: de uma hora para outra os papéis parecem que se inverteram e os sul-americanos assistem estupefatos à crise de um país europeu. No caso, a Irlanda ganhou toda a atenção dos brasileiros, que acompanham tudo na mais serena paz. Daqui de Dublin, do olho do furacão, eu recebo emails e ligações assustadas. Então vamos esclarecer alguns pontos:

:: A Irlanda não vai sumir do mapa.
:: As pessoas (ainda) não estão saqueando supermercados e depredando lojas.
:: Não uma guerra civil nas ruas.
:: As pessoas não estão passando fome pelos cantos.

Dito isso, vamos a um panorama da situação atual.

Como bom brasileiro, crises não me tiram o sono, pois sobrevivi a uma dúzia delas (ou mais). Nos últimos 25 anos, comprei gibis com cruzeiros, cruzados, cruzeiros reais, URVs e reais. Estou vacinado. No entanto, essa geração de irlandeses parece virgem no quesito crise e está realmente apavorada. É um misto de revolta e orgulho ferido, pois eles nunca precisaram da ajuda do FMI, que é nosso velho conhecido. As pessoas andam tristes e a palavra "recessão" está em qualquer roda de amigos.

No dia 24 de novembro, o Taoiseach (-se -shock) Brian Cowey ficou ainda mais impopular ao anunciar o esperado Plano de Recuperação Nacional. O pacote segue muitas normas do FMI, que exige medidas rígidas antes de liberar o auxílio de sei--quantos-bilhões-de-euros.

Aliás, poucas vezes na vida vi um político tão odiado quanto este menino Brian Cowen. Em cada 10 irlandeses, 11 querem que ele seja enviado para a PQP com uma passagem de ida.

Não sou economista, mas pelo que leio e ouço, sinto que a coisa tende a ficar muito feia na economia irlandesa. Resumidamente e pegando onde aperta, o Plano envolve:

:: Cortes brutais nos planos de assistência aos cidadãos (seguro-desemprego, aposentadoria e auxílio-maternidade).
:: Redução no salário mínimo.
:: Demissão de 25 mil funcionários públicos.
:: Aumentos nos impostos.

Como você pode ver, a Guinness ficou mais amarga por aqui...

Mas e o kiko? Quer dizer, "o-que-que-eu" tenho a ver com isso? Bom, eu e outras dezenas de milhares de imigrantes ou estudantes que estamos na Irlanda vamos dançar outro tipo de Riverdance. Os subempregos que tanto nos ajudam (entenda garçom, auxiliar de cozinha, faxineiro etc) vão continuar existindo, mas com pagamentos menores e com a concorrência direta dos irlandeses, que terão que buscar trabalhos que antes ignoravam. Então, para ser kitchen porter (auxiliar de cozinha), eu tenho que disputar a vaga com chineses, latinos, poloneses e... irlandeses.

Esse cenário é impensável para quem viveu o "boom" da economia irlandesa. Pelo que ouvi de gente que mora aqui alguns anos, as ofertas de emprego eram tão vastas que as lojinhas disputavam mão de obra a tapa. A moçada podia se dar ao luxo escolher onde trabalhar durante o seu intercâmbio. As empresas de TI abordavam possíveis candidatos no aeroporto, tamanha era a necessidade e facilidade para contratar. Pois o menino Brian Cowen fez alguma cagada muito grande, pois o pote de ouro dos duendes esvaziou e passei a ver mais mendigos nas ruas.

Como disse antes, sou brasileiro e as crises não me assombram. que devo me assustar, pois preciso arrumar um subemprego que me sustente por alguns meses e a concorrência ficou mais acirrada. E o que piora é que não tenho experiência como kitchen porter...


QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, como Ph.D em economia, combate à vilania e sexo tântrico, o megapower He-Man pega emprestado uma citação de Adam Smith. Saca : "não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que devemos esperar nosso jantar, mas do seu cuidado com o próprio interesse". Tio He-Man explica: a crise existia, mas agora está doendo nos calos irlandeses, pois será sentida nos próprios bolsos. Mas como bons capitalistas, os europeus usarão seus neurônios para encontrar oportunidades dentro da própria atribulação. O tempo e o mercado serão soberanos. Amiguinho, evite acumular papel pela casa. Você ouviu falar em reciclagem? Até a próxima!!!


PS. Taoiseach é uma palavra gaélica. Seria o mesmo que Primeiro-Ministro, mas por questões de orgulho e história, os irlandeses não usam esta palavra.

domingo, 21 de novembro de 2010

Saudade de casa

Qual foi o maior período que você ficou fora de casa? Um mês? Três meses? Um ano? Estou longe do Rio de Janeiro há 45 dias, mais ou menos, e já sinto um aperto no coração sempre que lembro que estou a quase 5 mil quilômetros ou 12 horas de distância. E como os dias do inverno irlandês são curtos (tipo, às 16h30 já é noite), o sentimento fica ainda mais forte.

Dublin é uma cidade bonita, o povo é simpático, já me acostumei com o frio e o curso que faço é ótimo, mas... não é a mesma coisa. Enquanto sinto este banzo, fico atento às histórias de outros brasileiros que também estão longe do colo da mamãe. São pessoas que não pisam no país tropical há 2, 3 ou até 5 anos.

Momento glossário: banzo é a depressão que os negros escravos sentiam quando estavam longe da África.

Um rapaz vive em Dublin há 3 anos e não vê a própria família desde que embarcou para a Europa. Outro está por aqui há iguais 3 anos, mas já recebeu a visita dos pais há alguns meses e consegue segurar a onda melhor. Uma moça que trabalha em uma loja de Milk-shake está na Irlanda há 1 ano e 6 meses, mas já faz contas para voltar para São Paulo em abril de 2011. E por falar em voltar, tem uma moçada no meu curso que está enlouquecida para entrar em um avião se mandar para o Brasil.

Eu ainda não cheguei a este ponto. Estou focado em meus objetivos: concluir os meus estudos, ganhar experiência profissional internacional e mochilar pela Europa - os três alvos estão diretamente ligados. Mas confesso: sinto falta de usar roupas leves, de tomar mate, de jogar pôquer com os amigos, dos churrascos dominicais, de assistir o Telecine, de pagar pouco por uma lata de cerveja, de tomar açaí com morango e granola, de ver o Flamengo jogando ao vivo, de abraçar minha família...

Vida que segue.


QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, pense pelo outro lado da moeda. Você não sofre com trânsito, violência, cambistas safados, sequestros-relâmpagos, Val Baiano, calor sufocante e sua mãe tirando as suas coisas do lugar. Aprenda, pequeno jedi, tudo na vida tem compensações – por mais estranhas que pareçam. Não há tristeza infinita ou alegria que não termine nunca. Vai por mim, pois tenho muito mais anos de praia e Etérnia que você! Amiguinho, ajuste o seu despertador de um forma que ele desperte apenas você e não a vizinhança. Até a próxima!!!

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Lendas irlandesas


Algo muito curioso nos irlandeses (e nos britânicos de uma forma geral) é o aspecto racional das suas personalidades. Eu me refiro à sua capacidade imensa de justificar características, como o talento único para beber. Eis a lenda que ouvi:

Era uma vez...

Há muitas e muitas décadas atrás, a Grã-Bretanha (e a Irlanda também) sofreu com uma praga. A tal peste atingia animais, vegetais e até a água. Na Ilha Esmeralda, particularmente falando, o período foi tão sombrio que nem as tradicionais batatas sobreviviam. Foi um tempo de fome e de morte em que muitos irlandeses deixaram o país para sobreviver em outros lugares – como Boston, EUA, por exemplo.

Os que não puderam fugir tiveram que enfrentar a peste. A água, vital para a sobrevivência, também fora contaminada. A única solução era tratar os reservatórios de uma forma que todos pudessem beber sem adoecer. Eis que a salvação da lavoura veio das destilarias de cerveja.

Pois é, a única água bebível era a dos barris de cerveja. Sem eufemismos ou duplos sentidos, a cerveja salvou ingleses, irlandeses, escoceses e galeses. Em memória dos momentos difíceis e de todos que morreram contaminados pela água, os irlandeses continuam bebendo até os dias de hoje.

Essa é a lenda...

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, você esqueceu de enaltecer a criatividade dos irlandeses, especialmente para justificar a bebedeira. Enfim, a lição é fácil: um Engov antes, um Engov depois e cheers! Amiguinho, quando uma palavra lhe deixar em dúvida, procure auxílio em um bom dicionário. Até a próxima!!!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A triste história do casal fujão

Desde que mudei para a Irlanda, percebi que muitas das histórias que ouço são épicas. São pessoas comuns fazendo coisas grandiosas. Pessoas como os afegãos Teobaldo e Anastácia.

O drama deste casal chegou até mim pela minha amiga canadense Jacira, a moça com dois namorados. Lembra dela? Jacira trabalhou com eles em sua passagem pelo Paquistão.

Pois bem, Teobaldo e Anastácias eram dois jovens nascidos sob as rígidas regras do Afeganistão. A moça, aos 13 anos, já era noiva de Jeremias, um molecote de 11 anos. Os dois se casariam quando o guri tivesse cabelos no sovaco e voz grossa. No entanto, os planos das famílias foram alterados por um pequeno detalhe: Anastácia se apaixonou por Teobaldo, de 16 anos. Para bagunçar ainda mais a situação, o guri correspondeu o seu amor.

Mesmo sabendo do risco de morte, o casal adolescente decidiu fugir para outra cidade. As famílias perceberam o sumiço dos seus pimpolhos e chamaram a polícia. Todos acharam que seria uma questão de tempo até que os dois fossem capturados.

E assim foi feito...

A caminho da cidade vizinha, os dois foram localizados pela polícia e levados em cana. As famílias foram avisadas e os pais de Anastácia queriam que a sua honra fosse lavada com o sangue do jovem Teobaldo. Na cadeia, o delegado se sensibilizou com a história do casal, e permitiu que o garoto fugisse. Seguindo as leis machistas, a menina seria entregue às famílias e cumpriria o seu destino.

Contrariando as chances, Teobaldo conseguiu chegar ao Paquistão e foi esperto o suficiente para buscar ajuda de uma ONG de proteção a refugiados. Anastácia teria que enfrentar a ira dos seus pais e da família do seu noivo de 11 anos.

O pai de Anastácia, era um tiquinho mais liberal e decidiu não apedrejá-la em praça pública. Em vez disso, a garota se casou com Jeremias imediatamente, antes mesmo que ele criasse pelos pubianos. Seu Afanásio, pai de Teobaldo, teria outros problemas para encarar...

A família de Anastácia não se contentou apenas com o casamento. Eles queriam as duas irmãs caçulas de Teobaldo como forma de amenizar a "vergonha sofrida". A escolha era simples: as duas meninas ou a vida de todos os membros da família. Detalhe: moravam sob a tutela de Seu Afanásio nada menos que 27 pessoas (mãe, tios, irmãos, primos e agregados). Era gente para caramba!

Seu Afanásio não aceitou a oferta, mas pediu um tempo para preparar as filhas. Ele sabia que uma recusa seria encarada como uma afronta e os pais de Anastácia levariam adiante as suas ameaças. Então, surgiu uma ideia...

Toda manhã, um ou dois parentes saíam de casa para cumprir alguma ordem de Seu Afanásio e... sumiam. Dois primos saíam para comprar leite e não voltavam para casa. Três irmãs saíam para a escola e tchau! E assim, homeopaticamente, a família de Seu Afanásio foi desaparecendo da cidade sem chamar a atenção dos vingativos pais da moça. Quando já faltavam apenas cinco ou seis pessoas, o malandro patriarca botou todos em um ônibus para o Paquistão e abandonou tudo. Do outro lado da fronteira, a muvuca já estava sob a proteção da ONG na qual Jacira trabalhava.

A ONG negociou com diversos países e conseguiu que a Austrália recebesse o clã do Seu Afanásio e o jovem Teobaldo. A família de Anastácia continua espumando de ódio, mesmo após incendiar a antiga casa do Seu Afanásio. Teobaldo mora em alguma cidade australiana, olha para o céu e reza por sua amada. No Afeganistão, a conformada Anastácia também olha para o mesmo céu e espera por um futuro melhor.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?

Amiguinho, que história foi essa? Esse humilde blog está abrigando aventuras de escalas internacionais. Que chique! Por sua vez, a sabedoria incalculável do todo-power He-Man será exigida em dramas que só passam na CNN ou no Fantástico. Então vamos lá, sociologicamente falando, as tradições existem em qualquer cultura. Elas compõe o perfil de uma determinada sociedade e blá-blá-bla. O aspecto negativo é que certas tradições ainda não evoluíram e continuam extremamente cruéis e retrógradas. Elas não atuam mais como representação, mas como delimitação. He-Man está certo que de que a abertura aos olhos do mundo ajudará para que velhas regras sejam questionadas e revistas. Vamos aguardar. Amiguinho, não deixe as suas coisas jogadas pela casa. Até a próxima!!!


PS. Créditos especiais para Mari Mayo, que me relatou a história tim-tim por tim-tim!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

31 dias de Dublin

Hoje, dia 5 de novembro, completo meu primeiro mês na Irlanda. O frio não me incomoda mais, já consigo compreender o sotaque irlandês, não sinto falta do feijão e já tomei o meu primeiro porre em Dublin. Há 31 dias, eu cheguei com duas malas cheias e um bocado de medo. Hoje, o receio já não é tão grande. Os desafios são outros e as expectativas idem. Porém, algo cresceu neste período. Sem dúvida, hoje me sinto mais brasileiro do que antes.

Bom, os relatos periódicos sobre as aventuras irlandesas continuam, mas hoje vou fazer um rápido manual sobre os percalços que um estudante estrangeiro passa na Ilha Esmeralda antes da sonhada legalidade. Pode ajudar os leitores que queriam se aventurar por aqui ou aqueles que costumam cair de paraquedas neste blog. Vamos nessa!

Aeroporto
Primeiro momento tenso em solo irlandês. Você pode dar a sorte de pegar um agente bacana ou pode sofrer na mão de um carrasco. O cara vai te pedir documentos que provem que você se comportará no país, tipo carta da sua escola, passaporte, local onde você vai ficar e (em alguns casos) se você tem um trocado para sobreviver em Dublin por alguns meses. Caso desconfie de algo, ele pode te fazer uma série de perguntas. Eu fui sortudo e o agente me liberou rápido. No guichê ao lado, vi um africano tomando uma dura do agente. Após o primeiro carimbo, você tem 30 dias para se regularizar na imigração.

Escola
Munido do meu passaporte e da minha carta de admissão, dei um pulinho na escola para o registro. Confirmei o meu endereço e a moça providenciou o envio de documentos para a minha casa e para a imigração. Essa parte é molezinha.

Carta de confirmação de endereço
Aproximadamente sete dias depois, recebi uma carta da escola com a confirmação do endereço. O conteúdo deste documento me apresenta ao banco, informando que estou devidamente registrado e frequentando o curso. É mais uma prova de que sou um bom moço.

Abertura de conta
Levei o meu passaporte e a carta de confirmação de endereço ao banco conveniado à escola e procurei a moça do atendimento. Informei que queria abrir uma conta, entrei na fila, apresentei o meu passaporte e preenchi os formulários que me deram. Cinco dias depois, recebi a senha do meu cartão. Após mais três dias, recebi o próprio cartão. Minha sugestão é o Laser, cartão que lhe possibilita fazer compras além de sacar dinheiro. A taxa cobrada é de 5 euros por ano. Vale a pena.

Achei o processo bem lento. Neste quesito, o Brasil é mais ágil.

Finalizando a abertura da conta
Ok! Eu tinha o cartão do banco em mãos e 1000 euros no bolso. Meu passo seguinte foi voltar à agência bancária e colocar o meu rico dinheirinho na sua conta. Muito importante: ao colocar a bufunfa lá, pedi ao caixa um statement (extrato bancário) escrito à mão mesmo. Esse documento será essencial na etapa seguinte: a visita à imigração. Caso você não tenha tanta pressa, pode pedir um statement formal via correio. Aí são mais dois ou três dias. Depende de você!

Imigração
Eis a parte mais cansativa do processo! Ouvi histórias de gente que mofou um dia inteiro na fila da imigração antes do atendimento. Pelo sim, pelo não, cheguei ao prédio da Garda às 5h40 da madrugada. Fazia um frio do cão, chovia e já tinha gente na fila. Estudantes são atendidos após as 9h, então você pode contabilizar três horas e pouco de espera. Dependendo da sua senha, você pode ser atendido logo ou realmente mofar um dia inteiro lá dentro. Durante a espera, preenchi o formulário da imigração, que fica em um dos balcões da sala. Novamente, fui sortudo e fui atendido às 10h da manhã. A moça do guichê pediu o meu passaporte, o meu formulário, a minha carta da escola (a mesma que apresentei no aeroporto) e o meu statement. Para fechar a conta e garantir o visto, morri em mais 150 euros, que só podem ser pagos por cartão de crédito. Voltei às cadeiras de atendimento e aguardei o meu nome ser chamado pelo alto-falante. Às 11h20 do dia 2 de novembro, eu recebi a minha carteira de imigrante/estudante legalizado na Irlanda!

Tirei o resto do dia para dormir loucamente.

Aliás, Garda é o nome da polícia irlandesa. É uma palavra gaélica.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, que didático. O processo de regularização é lento mesmo. Do aeroporto à imigração, são três ou quatro semanas. Já que você não tem passaporte universal como o meu, o lance é ser paciente mesmo. Outra dica importante é ser gentil em todos os momentos. Se você soar minimamente arrogante no aeroporto, o agente pode dificultar a sua vida. Lembre-se que você está de convidado na casa dos outros. Visita boa é visita que não perturba! Amiguinho, comprar vegetais e frutas na feira pode ser melhor em termos de preço e qualidade. Até a próxima!!!