segunda-feira, 28 de abril de 2008

Meninos fofinhos vão para o céu

Há muito tempo atrás, eu resolvi chutar o pau da barraca e tentar desesperadamente acabar com essa maldita mania feminina de chamar homens educados de (arrrgh!) bonzinhos. Acho que vale um visitinha ao texto antigo (que eu gosto muito, por sinal), mas posso resumir o que foi dito: o Bonzinho é um eufemismo para o trouxa, panaca, lesado etc. Sim, assim mesmo sem rodeios. Também não pense que o canalha, oposto direto, é o o tratamento que o doutor receitou. Aliás, mulheres extremistas também precisam rever seus conceitos.

Bom, vamos ao que interessa. Essa introdução retrospectiva é para conduzir você, amada leitora, ao lado branco da força e instruí-la sobre a forma mais legal de elogiar um homem sem diminuí-lo. "Como? Como?", pergunta você. "Simples!", eu lhe respondo. Entre diversos elogios, chama o cara de fofinho.

É, isso mesmo: fofinho. É diminutivo sem avacalhar o malandro ou diminuir sua moral com a galera. É carinhoso sem ser meloso. Agrada, mas não escancara qualquer segunda intenção. Chamar o indivíduo por esse título valoriza, enaltece e não alfineta sua masculinidade.

O sujeito fofo, a meu ver, é o aquele cara solícito, atencioso, simpático, mas que nunca perde os olhos de tigre. Ele pode ser o mais bacana do mundo, mas seu instinto caçador jamais descansa. Ele é um predador por natureza e concilia sua "fofura" com a pegada que toda garota gosta. Ele manda flores e te leva para ver comédias da Sandra Bullock, mas arrepia todos os seus cabelos quando sussurra ao seu ouvido e morde de levinho a sua orelha.

Agora, a pergunta-chave dessa discusssão: você, leitora tchutchuca, sabe identificar um homem fofinho?

Primeira avaliação: O teste do cabide.

Saia com ele no shopping e peça para o moço carregar sua bolsa. Educadamente, ele topará. Depois do pit-stop na primeira loja, peça para carregar o pacote. Repita a operação nas lojas subseqüentes. Se o cara não reclamar em momento algum, ele é um Bonzinho nato. Se ele torcer o nariz, anime-se. O cara é Fofinho, porque quis ser prestativo, mas não é um burro de carga para ficar carregando suas tralhas.

Segunda avaliação: O teste do encontro.

O cobaia lhe convida para sair. Muito justo, pois você é uma mulher bonita, interessante, livre e desempedida. Ele faz tudo como manda o figurino: faz boas piadas, ri com suas histórias, pergunta sobre suas experiências e tem todo o blábláblá protocolar. O tempo vai passando e nada do cara mandar um torpedo mais incisivo. Segue o blábláblá e necas. Dentro do carro, persiste o drama. Qual sua conclusão óbvia? É um Bonzinho e mané. O pretendente seria Fofinho se fizesse tudo isso e ainda demonstrasse perigo real e imediato à sua pessoa. Seria um cara fofo se arriscasse amassar seu vestidinho novo, borrar o seu batom, ou tentasse avançar o sinal pelo menos uma vez. Mulher adora se sentir desejada e ponto!

Terceira avaliação: O teste da festa dos aymorés.

Convide o rato branco de laboratório para chás de bebê, chás de panela, show da sua tia cantora de bolero, maratona de "Gilmore Girls" (todas as temporadas em uma só tarde), ou pior, chame-o para uma bateria com os melhores episódios de "O.C.". Se o cara topar todas sem qualquer resistência, ele é um Bonzinho. Homem que vale a pena tem personalidade (e faro) para sacar programas de índio a quilômetros. Se você insistir, além de inconveniente, você será uma víbora, ou... Boazinha demais. Vai encarar?

Uma vez submetido a esses três exames básicos, o cobaia (ou pretendente) já poderá ser diagnosticado como um (argh!) Bonzinho ou um Fofinho. Depois da análise, cabe ao seu paladar.



QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, você e suas teorias. Saca só as sábias palavra de He-Man: Fofinho é até legal, mas em excesso fica um saco. Chega uma hora que cansa e é preciso endurecer sem perder a ternura. Sim, estou usando vários duplos sentidos. He-Man tem esse direito e propriedade para tal. Melhor que ser fofo é ESTAR fofo, captou? Putz, confesso que é difícil dar uma lição de moral nessas suas divagações filosóficas. Amiguinho, guarde suas roupas novas para ocasiões especiais. Até a próxima!

terça-feira, 22 de abril de 2008

Instinto selvagem de menina virgem

Lá para os cantos de Pedra de Guaratiba, zona oeste do Rio de Janeiro, você encontra restaurantes com pratos deliciosos e precinhos inacreditáveis. Todos os frutos do mar são servidos com fartura e o clima simples, regado a cerveja gelada, rende horas e horas de comilança fácil. Esse jabá inicial é só para ilustrar o local onde me foi narrada a história de Shirley, minha amiga médica. Ah, para atestar a veracidade da história, quem me relatou tudo foi a própria - pouco antes de ficar alegrinha por uma meia-dúzia de geladíssimas Brahmas de garrafa.

Shirley é um mulherão. Quando eu falo "mulherão" não é só força de expressão, pois uma moça com um-metro-e-oitenta-e-tantos só poderia ser adjetivada com um "ão" no final. Enfim, Shirley é uma médica alta, magra, cabelos de Iemanjá, olhos quase sempre cobertos por um Ray-Ban à moda antiga e geralmente envolta pela nuvem de fumaça do seu Hollywood verde. Acho que com essa descrição ficou fácil visualizar a peça.

Só que esse colosso já foi menina-moça um dia. Aos seus quatorze anos, ela desabrochava, mas ainda faltava a experiência natural para lidar com as mudanças no corpo e nos instintos. Virgem que nem um bebê, Shirley começava a sentir coisinhas pelo namorado, um vizinho bobo como todo guri adolescente. Essas coisinhas eram reveladas à melhor amiga Pilar. As duas trocavam figurinhas sobre tudo e os primeiros amassos mais abusados rendiam uma pauta forte.

Em uma certa tarde de verão, Shirley estava ansiosa para tricotar com a amiga e não perdeu tempo. Voou ao telefone.

- Pilar, corre pra cá. Tenho um babado fortíssimo para te contar.

Convocação imediatamente aceita.

Enquanto esperava, Shirley foi tomar uma chuveirada, pois o calor do verão carioca não perdoava meninas com fartos cabelos negros. Quase acabando o banho, a garota ouviu a campainha. Rapidamente, enrolou-se na toalha e correu aos pulinhos para ver quem era.

Pelo olho mágico, reconheceu a amiga Pilar com um sorrisão maroto de quem mal pode esperar para ouvir o tal babado fortíssimo. Shirley lembrou da cena sexy que tinha visto em um filme daqueles que ninguém lembra o nome. Abriu a porta cheia de sensualidade.

- Amiga, quando o Cleberson vier me visitar de novo, vou recebê-lo assim. Será que ele agüenta a pressão? - Shirley abriu metade da toalha e revelou a sua silhueta magra e nua.

Pilar explodiu de rir. Shirley não entendeu.

- O que é isso, minha filha? Ficou maluca? Quem é Cleberson?

Pálida, Shirley engasgou, tossiu, espirrou... tudo ao mesmo tempo. Encostado na parede, Seu Lenilson, o pai, aguardava pacientemente para entrar. Para azar da garota, ele estava no ponto cego do olho-mágico e não foi visto.

Resultado: Shirley ficou algumas semanas de castigo, não contou o babado fortíssimo para a amiga e o nome Cleberson nunca mais voltou ser pronunciado na casa.


QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Querido amiguinho Surfista, onde esse mundo vai parar? Uma tenra lolita que nem viu quatro copas do mundo já sente seus hormônios saltitarem que nem pipocas no óleo quente. Ah, nos meus tempos. Lá em Eternia não tem disso, não. Mas, deixa estar. He-man não é um monge puritano. Muito pelo contrário, o Príncipe de Etérnia quer ver o circo pegar fogo. A lição do dia é jamais fazer esse tipo de presepada na casa dos seus pais. Se tivesse um mínimo de bom senso, Shirley só faria essa brincadeirinha quando a barra estivesse limpa. Amiguinho, mantenha as unhas sempre aparadas. Até a próxima!
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PS. Momento Jabá 2: O restaurante onde foi narrada essa singela aventura chama-se Sobre as Ondas II. Visite e experimente o bobó de camarão (que alimenta três marmanjos esfomeados).

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Pausa para respirar

Quando nossos netos e bisnetos abrirem seus livros de história (será que ainda existirão livros?), provavelmente nosso tempo será conhecido como a era da comunicação ou da informação. Com tantas ferramentas para transmitir e receber mensagens, imagina o drama de quem se complica com a mais básica, a mais primária forma de dar um recado: a voz. Mais exatamente, pensa no perrengue do cidadão gago.

O bom Leopoldo é um funcionário lá da construção onde trabalho e sofre de um problema crônico de gagueira. Tentando deixar claro, Leopoldo é bem gago. Não, não. Leopoldo é muito gago. Descrição insuficiente. Leopoldo é gago pra cacete. Putz, ainda não consegui dimensionar o problema, mas vá lá. Acho que você compreendeu. O mais engraçado que é um pane psicológico. Quando está entre os colegas ele fala que é uma beleza. Mas, meu amigo, quando ele tem que dizer qualquer coisa para mim ou para algum outro membro da equipe em uma posição um pouquinho acima, está consolidado o desastre.

- D-d-do-do... doutor – não é obrigação, mas qualquer um que vista camisa social por lá vira doutor. - preciso de mais ci-ci-ci-ci...

Pausa para respirar.

- Ci-ci-ci-ci...

- Cimento, seu Leopoldo?

Se tem uma coisa que gago odeia é ser completado. Ouvi falar que tem que deixar o sujeito concluir sua frase naturalmente, por mais que dure uma vida.

- Sim, sim, issssssss... ssssss...

Pausa para respirar.

- Isso mesmo, do-do-do-do-do-do-do-doutor.

- Quantos sacos, seu Leopoldo?

Putz, danou-se! Vai que são sessenta e seis sacos? Seu Leopoldo vai ter um troço!

Antes de ele começar a (tentar) falar, eu lhe dei um caneta e um papel.

- Anota qui para deixar registrado.

Com o tempo, eu procurei inventar mecanismos para otimizar o processo.

- Seu Leopoldo, o senhor já tentou falar cantando? Li que é um tratamento eficaz.

Ô idéia infeliz.

- Doooooutooooooooor, preeeeeeeeeciiiiiiiiisooooooooooo deeeeeee.... deeeeee... deeee... areeeeeeeeeiiiiiaaaaaa laaaaavaaaaaaaaaadaaaaaa.

Pausa para respirar.

Ai,meu Deus do céu! Seu Leopoldo virou a Dory falando baleiês! Lembra da Dory, de "Procurando Nemo"? Genial!

Tentei uma nova idéia. De uma hora para outra, eu virei fonoaudiólogo pós-graduado em Oxford.

- Seu Leopoldo, experimente falar pausadamente. Pronuncie sílaba por sílaba.

Ele prometeu seguir minha dica e voltou no dia seguinte.

- Dou... – intervalo de cinco segundos – tor... – outro intervalo – A... – mais um – ca... – de novo – bou... – idem – a pe... – silêncio – dra... – vou morrer – ze... – vou morrer lentamente – ro.

Oh, cale-se, cale-se cale-se. Você me deixa louco!

- Entendi. Vou providenciar uma nova remessa. Ah, seu Leopoldo, esquece essa idéia de pontuar as sílabas. Fica à vontade para falar.

Assim é o meu dia-a-dia com o Leopoldo. Mas, a situação mais lembrada e esporrante foi em cima da laje, diante da Baía da Guanabara. Passou-se com outros integrantes da equipe e é tão absurda que parece piada. Se bobear, é até piada mesmo e fui ludibriado para escrevê-la por aqui, mas diante do caso faz sentido.

Célio, amigo do trabalho, estava fazendo sei lá o quê no terraço e foi chamado pelo nosso protagonista gaguinho.

- D-d-d-d-do-do-doutor... olha o ssssssssssss... ssssssss... su-su-su-su-su...

Pausa para respirar.

No mesmo instante, ele percebeu aquele submarino que costumava ficar ancorado no cais do porto. Dessa vez, estava cruzando o mar a todo vapor. Célio achou que seria frustrante para o Leopoldo que sua animação fosse cortada. Como todos estavam com tempo, deixou rolar.

- O que, Seu Leopoldo?

- Sssssssssssss... ssssssss... sssssssssssss... su-su-su-su-su... su-su-su-su...

Pausa para respirar.

- O que, homem? – aí que ele ficava nervoso, tremia e suava.

- O su-su-su-su-su... su-su-su-su... sssssssssss... sssu-su-su...

Pausa para respirar.

- Su-su-su... sumiu.



QUAL A MORA DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, a tal história do submarino deve ser piada mesmo, mas vou te perdoar por três motivos: você é ingênuo, ela está no contexto do Seu Leopoldo e, com boa vontade, é engraçada. Enfim, a lição que você deve aprender é que gagos odeiam leigos com aulas de fonoaudiologia. Se eles quiserem tratamento, pode estar certo que recorrerão a um profissional e não a um teórico com idéias baseadas em lendas populares. Sacou? Cá entre nós, falar cantando para resolver a gagueira é muito estúpido. Você me envergonha, amiguinho. Bom, a outra lição do dia é: seja honesto quando você estiver brincando com seus coleguinhas. Ninguém gosta de trapaceiros. Bom feriado e até a próxima!




quarta-feira, 16 de abril de 2008

Reverência ao craque

Como eu não tinha consciência futebolística naquela época, a era de ouro do Flamengo passou por mim que nem ônibus lotado. Só fui reparar a magia de Zico e Júnior quando eles estavam na reta final de suas vitoriosas carreiras. Fazer o quê, né?

Mas, tudo na vida se compensa. Não vi o Galinho em sua plenitude, mas acompanhei Romário no auge. Como fã do bom e velho esporte bretão, rendo minha homenagem ao maior atacante que vi atuar. Analisando por comparação, acho que ele foi uma espécie de Tim Maia dos gramados: excepcional dentro de sua arte e complicado fora dela. Dentre os que o amavam e o odiavam, eu me enquadro no primeiro grupo. É triste ver um gênio pendurar as chuteiras, mas o tempo é inexorável. Valeu, Roma! Grande rubro-negro!

terça-feira, 15 de abril de 2008

He-Man responde! #13

NEGÂ PERGUNTA:

Vou fazer uma pergunta e se puder me responder...

Fiquei com moço esses dias por ficar. Ele até que faz meu estilo, mas estava a fim, de coração livre. Nada serio só beijoss... Ele fez muitos galanteios, surpresas e até discutimos relação... Agora tô apaixonada, ele está meio estranho, não sei o que fazer, mais também não estou afim de correr atrás dele. Tô com medo, não sei o que pensar. O que eu faço He-Man ?





HE-MAN RESPONDE!
Querida amiguinha de coração apertado, o mosquito do amor é mais perigoso que o da dengue. Mas, sinta-se feliz por estar curtindo essa fase de dúvidas, incertezas. Isso faz aprender e crescer. He-Man tem pensado muito no assunto ultimamente. Coincidência, não? Bom, o primeiro passo é saber qual é a do indivíduo que lhe plantou a semente da paixão. Certos caras se satisfazem pela conquista e nada mais. Não querem progressos, mas querem ter as gurias na palma da mão. Eles curtem flertar, despertar o carinho alheio e nada mais. São elementos de alta periculosidade.

A primeira lição que você deve aprender é que não há lição nenhuma. Suas ações devem ser baseadas na sua sensibilidade, seja ela forte ou fraca. Claro que haverá a influência do recém-nascido carinho pelo sujeito, mas e daí? Demonstre claramente seu afeto (por palavras ou ações) e deixe ele dar o segundo passo. Se o cara lhe merecer, ele vai tomar uma atitude. Em caso contrário, azar o dele. Não se sinta refém do que sente, pois amor não deve machucar.

Em sua infinita bondade, He-Man amplia a questão aos leitores. Com sugestões positivas, vamos todos ajudar a querida Negâ que está atravessando essas atribulações.

Operação Rocky Balboa - O início

Esse blog não foi criado para ser um diário – e, se Deus quiser, nunca o será. No entanto, o início de um projeto deve ser discretamente registrado para avaliação futura. Começou no domingo, dia 13 (número cabalístico), a Operação Rocky Balboa, uma jornada em busca de um sonho que me acompanha desde os tempos de moleque. As aventuras que envolvem esse projeto renderão um texto, mas com publicação lá pelo dia 20 de maio. Até lá, o Surfista Platinado estará vivendo dias de disciplina, perseverança e dedicação.

Foi dada a largada!

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Quem mexeu no meu queijo?

Gosto demais do nordeste do país. Tive o prazer de morar em Aracaju e durante esse período corri o litoral inteiro, com a exceção de João Pessoa (estou em débito). De todos os estados, um que guardo especial recordação é o Rio Grande do Norte. Se você não conhece, faça o favor de colocar essa região no seu próximo roteiro de viagens. Ô estado bacana, tanto por suas quase infinitas belezas naturais, pelo seu vento constante, quanto pelo seu povo hospitaleiro. Como sempre, as pessoas me atraem e o potiguar, com seu jeitão sorridente-sem-ser-falso, rende histórias. Entre tanta gente legal, os broncos acabam se sobressaindo quando são encontrados. Essa aventura envolvendo um poço de delicadeza veio até mim por uma amiga e assim que a ouvi percebi que estava plenamento inserida no contexto do Surfista Platinado.

Era uma vez...

Debaixo de um sol daqueles de fritar ovo no asfalto, dois casais viajavam de volta à Natal. Ao passarem por Caicó (não sabe onde fica? Vai ver no mapa), um deles se lembrou de um queijo de coalho maravilhoso que havia comido uma vez e era vendido logo ali. Como a guloseima estava na rota, pertinho de onde passariam, e o queijo do Rio Grande do Norte tem reputação internacional não restaram dúvidas. Resolveram fazer um pit-stop para compras.

O relógio batia 13:20 e o sol escaldante do sertão fazia o ar-condicionado do carro trabalhar dobrado. O tal queijo tinha que valer muito a pena.

Chegaram em frente ao estabelecimento e este não poderia ser mais pitoresco: ficava dentro da casa do vendedor, porém com o seu espaço devidamente delimitado. Um acesso direto para a rua e outro para a varanda da casinha. Viram a plaquinha de FECHADO e logo abaixo o horário de funcionamento: 8h às 12h e 14h às 18h.

Chuááááá. Ducha de água gelada.

Ficaram desapontados, mas logo se animaram quando viram na varanda ao lado um velhinho lagarteando ao sol na sua cadeira de balanço. Foram até ele.

- Boa tarde, senhor!

- Boa tarde!

- A gente queria comprar queijo...

- Tá fechado.

- Será que o senhor não poderia abrir uma exceção? Estamos indo pra Natal, a estrada é longa.

- Tá fechado! Só abre de duas horas!

Velho muquirana!

Voltaram para o carro chateados com a rispidez do homem, mas lembraram do lendário sabor do tal queijo e resolveram esperar. Para piorar, nenhuma mísera sombra de árvore havia por perto.

Um parêntesis: lá em terras potiguares venta muito no litoral, mas no interior não rola sequer uma brisa. E como o verão lá vai de janeiro a dezembro, já viu, né?

Voltando...

Passados os quarenta minutos de infinita espera, viram o senhor simpático levantar-se e abrir a vendinha. Foram lá ansiosos por saírem dali com quilos e quilos do delicioso queijo.

- Boa tarde senhor!

- Boa tarde.

Através do expositor de vidro apontavam quais pedaços levariam.

- Quero dois desse, mais dois daquele ali, mais três daquele outro...

O velhinho pegou o queijo e colocou em cima da bancada já para embalar.

- Quanto é cada pedaço?

- Nove reais. Cada pedaço tem 1kg.

- O senhor faz os quatro por 30 reais?

O velhinho encarou seriamente o cliente por dez segundos. Parecia que sua mãe tinha sido xingada.

- Acabou o queijo!

Danou-se!

- Não, senhor, peraí! Eu pagos os 36 reais, não tem problema. Desculpe.

- Acabou o queijo! Tem mais queijo aqui, não!

Os dois casais quase foram expulsos a pontapés da lojinha. O tal queijo maravilhoso ficou na lenda. Voltaram para Natal de mãos abanando, mas no fim da viagem, já estavam morrendo de rir da situação.


***


Obrigado pelo causo, Carla.



QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho a história de hoje deveria ser apresentada nos MBAs da vida. É um claro exemplo de monopólio. Sabe o que é monopólio? He-Man é cultura e te explica: é a comercialização exclusiva de um produto em um mercado determinado sem concorrência ou bens substitutos. O velhote muquirana mandava e desmandava porque tinha pleno domínio do seu mercado e seu potencial econômico. Mas quanto aos dois casais, que coisa feia, hein? Negociar seis contos depois de torrar no sol por quase uma hora. Mas aposto que não foi um prejuízo total, pois o Rio Grande do Norte tem outros petiscos, como o camarão e a castanha. A lição final do He-Man é uma dica turística: ao visitar Natal, fique na Ponta Negra e tire um dia para comer no Camarões, o melhor restaurante do estado. Até a próxima, amiguinho!!!

terça-feira, 8 de abril de 2008

A aldeia global do Papai Smurf #4

Atendendo a um "meme" (seja lá o que for isso) do blogueiro, amigo e recém-papai Vulgo Dudu (autor do indispensável Cinéfilo, eu?), Papai Smurf lança sua lista dos Cinco Filmes mais Subestimados da História:




"A vida em preto e branco", de Gary Ross:
Uma premissa simplória pode render um filme maravilhoso: dois irmãos contemporâneos (um tímido e uma saidinha) são transportados para dentro de "Pleasantville", uma sitcom americana dos anos 50. A partir do encontro entre as pessoas dos dois universos perdi a conta da quantidade de metáforas para criticar comportamentos, pensamentos e conceitos morais. Tudo ganha ainda mais destaque graças ao inteligente jogo entre o P&B da série e as cores que chegam a partir das descobertas do pacato povo da cidade. Outro aspecto legal é a simpatia dos quase desconhecidos Tobey Maguire (ensaiando para ser Peter Parker) e Reese Whiterspoon (bem antes do Oscar).


"Brilho eterno de uma mente sem lembranças", de Michel Gondry:
Na modesta opinião do Papai Smurf, esse é o mais criativo, inteligente e profundo filme de amor de todos os tempos. Além de ser o menos óbvio. Imagine poder apagar da sua memória, literalmente, a pessoa amada que não lhe quer mais. Agora pense como poderia ser esse processo em sua mente. Misturando o real, o surreal e idéias excelentes, Charlie Kaufman escreveu uma história encantadora. O casal Jim Carrey (sem caretas) e Kate Winslet (talentosa atriz que sobreviveu ao Titanic) está brilhante. A narrativa inovadora afugentou o público.



"Os Excêntricos Tenembaums", de Wes Anderson:
Uma família numerosa e muito estranha se reúne após muitos anos para acompanhar os últimos dias de seu patriarca, um salafrário de marca maior. Esse reencontro desperta emoções, conflitos, descobertas e muito humor negro - tudo retratado com extrema sensibilidade. Além das piadas britânicas, dois pontos altos da história são a trilha sonora e o figurino (ninguém muda de roupa). Ben Stiller rouba a cena com seu trainning Adidas vermelho.




"Donnie Darko", de Richard Kelly.
Esse é um dos filmes preferidos do Papai Smurf. Em 1988, Donnie Darko é um moleque esquisito que sofre com as visões de um coelho gigante que profetiza o fim do mundo em poucos dias. Nesse tempo restante, Darko embarca em uma jornada sombria que acaba envolvendo gurus famosos, professores liberais, viagens no tempo, universos paralelos e entes queridos marcados para morrer. A história é confusa e a narrativa nunca esclarece 100% o que está acontecendo. Tudo se passa em uma atmosfera típica das criações de David Lynch, tornando o filme espetacular para uns e detestável para outros. Ah, o elenco conta com Drew Barrymore (também produtora), Patrick Swayze e Jake Gyllenhaal.


"O enigma do outro mundo", de John Carpenter:
De tanto fazer porcarias cult, John Carpenter acabou tirando o foco desse tesouro da ficção-científica de terror. Apinhada de referências hitchcockianas, ganchos de séries sci-fi, monstros trash e um clima paranóico, a história é cinco estrelas. A trama gira em torno de uma equipe de pesquisadores isolada no ártico com uma criatura capaz de assumir a forma de seres humanos, ou seja, pode ser qualquer um deles. Lembra "Alien"? Sim, e daí? John Carpenter é cara-de-pau mesmo. Lançado na mesma época que "E.T.", esse suspense sobre um alienígena assassino não conquistou o interesse do público. Uma pena, pois ficaram sem admirar um suspense muito bacana.



Menção honrosa:

"Os 12 macacos", de Terry Gilliam:
Sem o menor senso de humor, Terry Gillian, ex-integrante do Monty Phyton, dirige a uma ficção pertubadora. No futuro, a população da Terra encontra-se devastada por uma epidemia que atinge apenas seres humanos. A tal peste foi disseminada pelo grupo eco-terrorista 12 Macacos em uma ação mundial. Ainda no futuro, um pequeno grupo de cientistas cria uma máquina do tempo e envia um "agente" com problemas mentais para evitar a propagação da praga e, de quebra, descobrir seu envolvimento com o apocalipse. Como você pode perceber, a loucura é o ponto central desse filme, que consegue extrair boas performances dos limitados Bruce Willis e Brad Pitt. A sequência final está no Top 10 do Papai Smurf na categoria de "as mais sinistras".



segunda-feira, 7 de abril de 2008

He-Man Responde! #12

MARIA PERGUNTA (POR E-MAIL):

"O QUE HÁ POR BAIXO DO "VESTIDINHO" DO GORPO???Há um corpinho azul barrigudinho de membros franzinos? Não há nada, apenas um "corpo energético", como um fantoche, só tem cabeça e braços? Há outra coisa???? Diga lá, He-man... ou você nunca pôs a mão sob o vestidinho da pobre criatura quando era criança?"



HE-MAN RESPONDE!
Que mente poluída, amiguinha! Imagina se o Todo-Poderoso He-Man se daria ao despautério de ficar bolinando o companheiro Gorpo. Aliás, aproveito o embalo para um esclarecimento: quem disse que aquilo é um vestidinho? Saiba que meu ilustre parceiro de aventuras veste uma túnica. Sob este figurino esvoaçante existe uma cabeça de bacalhau. Você já viu a cabeça de um bacalhau? Pois está escondida sob a túnica do Gorpo. E tem também o pote de ouro do fim do arco-íris. Você já esteve diante do pote de ouro do fim do arco-íris? Também está lá. E já que você está interessada no que mais poderá encontrar, o próprio feiticeiro-anão-voador recomedou que você coloque sua delicada mãozinha lá naquela região. Com carinho, é claro. Ele garantiu que você também encontrará sua lendária vara de condão, capaz de fazer magias indescritíveis com a sua pessoa. A Drielle é que sabe bem disso.



sexta-feira, 4 de abril de 2008

Participação especial #7

Opa! É dia de escrever no blog dos outros.
O assunto é o primeiro encontro, aquele momento crucial na missão de conquista. Já que é quase impossível criar um manual sobre o que fazer nesses momentos, pelo menos tentarei abordar o que você não deve fazer em hipótese alguma. Saiba mais visitando o Caixa Preta!

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Contra-ataque malandro

Em um instante de ímpar sabedoria, o filósofo Ramon Valdez (mais conhecido no Brasil como Seu Madruga) profetizou "a vingança nunca é plena. Mata a alma e envenena". Sim, sim, o revanchismo é um dos sentimentos mais torpes que podem percorrer a alma do homem. Mas qual de nós está livre dele?

Eusébio é um sujeito boa praça. Sua noiva confirma essa informação e ai daquele que diga o contrário. Mas, há em seu passado a mancha negra da vingança. Descobri isso em um papo influenciado por muito chopp escuro no Hipódromo, clássico bar no Baixo Gávea. Quem é do Rio sabe do que estou falando. Lá as histórias fluem.

Há anos atrás, Eusébio manteve um affair com Lisandra, uma colega de trabalho - ambiente pouco recomendado para criar cachos, mas escreverei sobre isso no futuro. Nunca foi mencionada a palavra "namoro", mas o tempo de serviço estava quase dispensando essas formalidades. Era como uma espécie de usucapião afetivo. Enfim...

Tudo parecia caminhar bem, até o dia em que uma amiga do casal chamou Eusébio no cantinho para um papo.

- Olha, preciso te contar porque gosto de você e não acho justo o que vai acontecer. Lisandra vai te dispensar. Ela vai acabar com o caso hoje ou amanhã e vai descer a lenha em você. Seja forte - dedurou a amiga.

O rapaz ficou boquiaberto com a notícia. Ele já conhecia a fama e o histórico da "namorada". Quando ela queria encerrar um caso só faltava xingar o pai de careca e a mãe de cabeluda. Lisandra botava pra quebrar. Nem era por maldade, talvez fosse um mecanismo de defesa, mas isso pouco importava. Eusébio assimilou o golpe e fez o que um homem sensato, maduro, equilibrado, coerente e contemporâneo faria: preparou o troco para sair por cima.

- Preciso falar com você depois do trabalho. Não sai antes da gente conversar, ok? – com voz gélida, Lisandra estava cumprindo o que fora anunciado. Eusébio concordou e às 18:01, ela veio até ele.

Antes que ela dissesse uma sílaba, ele tomou a dianteira.

- Senta aqui. - ela sentou - Lisandra, não sei o que você veio me dizer, mas eu gostaria de falar primeiro. Tenho algo que não pode esperar. É uma coisa que está me engasgando.

- Espera, eu preciso te falar logo...

- Me dá só um minutinho. Prometo não demorar.

- Tudo bem – concordou em um suspiro irritado.

- Eu sou louco por você. Acho que você é uma das mulheres mais fantásticas que já tive ao meu lado. Você é inteligente, sexy, companheira, carinhosa... tanta coisa que não consigo listar. Por isso que me dói ter que me despedir de você. Vou mudar de cidade e não poderemos manter o nosso relacionamento. Desculpa, meu coração está em frangalhos, mas temos que encerrar. Olha, vou penar para achar uma mulher como você, sabia?

Silêncio.

- Lisandra, o que você veio me dizer mesmo?

And the Oscar goes to...

- Buááááááááááááááááááááááá!

Lisandra saiu da sala aos prantos e pediu licença por uma semana. Quando voltou, descobriu que ele não tinha viajado e tentou buscar a reconciliação, mas nem rolou. Até hoje, ela corre atrás do Eusébio.


QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?

Amiguinho, quando você pensar em terminar um caso, tenha o mínimo de sensatez - coisa que nossa colega Lisandra não teve. Nesse tipo de situação não há vencedores ou perdedores, pois todos saem com cicatrizes. Então, por que raios esculachar o seu antigo amorzinho, seu recente cobertor de orelha? Essa é uma jeguice sem tamanho. Portanto, pondere suas palavras, pense três ou quatro vezes em tudo, valorize os sentimentos alheios e procure sustentar uma relação em que sobreviva o respeito mútuo. Lembre-se que você não sabe o dia de amanhã e jamais poderá afirmar que daquela água não beberá novamente. O mundo dá voltas. Amiguinho, saia sempre de casaco em dias de ventania ou possível virada de tempo. Até a próxima!