segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

2007: Dias de trovão

Reparou como esse ano voou? Percebeu como 2006 também passou a jato? Essa velocidade toda dá um frio na barriga. Parece que foi semana passada que o país pulava carnaval. Parece que foi ontem que eu viajei na páscoa. Putz, a vida está passando pela janela e eu não sei se estou apenas curtindo o passeio ou guiando a aeronave.

É engraçado como a gente cresce e nossas cobranças aumentam muito. É preciso ter raça para lidar com isso. Então, é tempo de refletir e planejar, pois o ano que vem tem que ser muito melhor. Precisa ser. Então, é justo catalogar o que de mais interessante rolou para que tudo se torne lição, experiência e base para que novos erros não aconteçam. Faça sua lista e aprenda. Corra atrás. Como? Use a sigla D.T.J., isto é, Dá Teu Jeito!

Ah, é claro, preciso mencionar. Caí na blogosfera. Pois é, logo eu que sempre critiquei os blogs. Dei asas ao Surfista Platinado (ou será o contrário?) e descobri como é gostoso escrever e ser lido. Também descobri gente com idéias bacanas e textos inteligentes. Ah, He-Man também foi fundamental nessa história.



QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?

Feliz ano novo!!! Faça melhor, seja melhor e vamo que vamo. E anote na sua agenda: ocupe sua mente apenas com o que lhe traga esperança.

domingo, 23 de dezembro de 2007

O Natal do Surfista Platinado

A campainha tocou e pulverizou o silêncio que me cercava. A reação foi imediata: arregalei os olhos no susto e trinquei os dentes. Acordei desnorteado.

Que horas são? Que dia é hoje?

Voltei a mim e fiquei de pé. Lembrei que não costumava usar relógio. Também lembrei do dia. Era sábado e o sol na minha janela indicava que não era tão cedo.

Outra vez a campainha. Que inferno!

Fui ao banheiro e joguei água no rosto. Peguei um boné desbotado do Chicago Bulls e berrei:

- Já vou.

Andei trôpego que nem o personagem bêbado de Chico Buarque em "Construção" e cheguei ao olho mágico da porta. Pela imagem arredondada reconheci as minhas vizinhas gêmeas. Eram duas garotinhas de uns oito anos de idade. Pelo menos eu já sabia que elas queriam alguma coisa de mim. Em suas últimas visitas, as gurias vieram para me vender a rifa de uma bicicleta, descolar algumas balas no dia de São Cosme e São Damião, pedir agasalhos para a campanha de inverno da igreja ou exigir minha assinatura em um abaixo-assinado para que os Backstreet Boys voltassem ao Brasil.

- Olá menininhas.

- Oi.

- Querem entrar?

- Não precisa.

- É jogo rápido - a outra emendou.

- O que eu posso fazer por vocês?

- Gostaríamos que você levasse essa carta ao correio para nós.

- Sim, por favor. Já está selada, mas se precisar de outro selo para o Pólo Norte você paga e pega o recibo. Depois a gente acerta – uma falava e a outra completava. Uma das duas gêmeas me estendeu um envelope cor-de-rosa devidamente selado.

- Como assim Pólo Norte?

- É pro Papai Noel.

- Pra quem haveria de ser no Pólo Norte? Para o Rodolfo, a Rena do Nariz Vermelho?

Eu ainda estava acordando, mas logo me situei. Já era dezembro. Nessa hora pensei em algo óbvio, mas que nunca havia me passado pela cabeça. Será que Mamãe Noel, os duendes e as renas ficam tristes por nunca receberem cartas das crianças? Só o Bom Velhinho é procurado, enquanto que toda a sua equipe operacional fica praticamente anônima. Taí um caso a se pensar, mas em outra hora.

- Por que a mãe de vocês não coloca essa cartinha no correio? – perguntei.

- Porque ano passado pegamos mamãe e papai lendo o nosso pedido.

- Isso mesmo. Foi um baita flagra. Eles tiveram que gastar dinheiro com os presentes, pois não quisemos mais escrever outra carta. A confiança é conquistada depois de um tempão, mas é perdida muito rapidamente.

Garotas espertas.

- E por que vocês confiam em mim?

- Porque você parece legal.

- Você já comprou nossas rifas, doou casacos pra campanha de inverno da igreja, arranjou vários chocolates no dia de Cosme e Damião...

- E também assinei o abaixo-assinado dos Backstreet Boys - completei. Eu havia me tornado um homem explorado por duas gêmeas que nem tinham completado uma década de vida.

- Isso.

- Isso.

- Tudo bem. Eu envio hoje mesmo.

- Obrigada.

- Obrigada.

Elas deixaram a carta comigo e se despediram. Dei tchauzinho e percebi que nem sabia o nome das duas vizinhas gêmeas. Tudo bem. Elas não sabiam o meu também.

O envelope tinha aroma artificial de morango e eu podia ler no campo do destinatário:

"Para o querido
Papai Noel
Pólo Norte – Norte do Mundo"

Tudo escrito com letrinhas redondas de criança.

Quando foi que eu descobri que Papai Noel não existe? Hum, quando?

Ah, lembrei. Foi traumático!

Assim como as minhas vizinhas gêmeas, eu também fazia meus pedidos ao Noel e entregava aos cuidados dos meus pais. Ao contrário das garotas, eu tinha a preocupação de ir com papai até o correio, garantindo que o bilhete não se extraviaria. Eu voltava feliz da vida e na noite de Natal meu tio Joca, irmão de mamãe, era sempre o primeiro a ouvir o Bom Velhinho desembarcando no meu quarto. Eu corria para lá e conseguia vê-lo sumindo na janela com sua longa barba branca, casaco vermelho e testa suada.

"Tadinho do Papai Noel. Todo cheio de casacos nesse verão", eu pensava.

Tio Osmar, papai, mamãe e a primalhada toda vinham logo em seguida para abrirmos os presentes. A gente brincava até as duas da madrugada. Uau, duas da madrugada era horário de gente grande. Eu nem sabia o que poderia acontecer na cidade às duas da madrugada.

Fui crescendo e os Natais eram sempre iguais. Tio Joca percebia a aproximação e dava o sinal para mim. Eu via Papai Noel rapidamente e me despedia feliz da vida. Teve um dia que ele até me telefonou para se certificar que os presentes estavam certos. Foi a glória. Eu bati um papo com o próprio Noel por telefone.

Mas houve um ano em que a molecada do colégio me deixou com a pulga atrás da orelha.

Era começo de dezembro e a árvore já estava montada. Mamãe e eu chegamos da escola e eu fiquei olhando pra ela sem saber por onde começar.

- O que você quer, menino? – minha mãe farejava meus receios.

- Papai Noel não existe, né? Ele é só um garoto-propaganda da Coca-Cola, né? Se fosse da Pepsi, ele seria azul, né? – metralhei.

- Quem te contou isso?

- Não interessa. Eu conto o milagre, mas não revelo o santo.

- O que você acha?

- Eu acho que faz sentido. Como Papai Noel pode estar no shopping, na loja de sapatos da esquina e na porta da escola ao mesmo tempo? Ele ganha cachê para fazer comercial da Mesbla?

Criança é um bicho cheio de questões.

- Meu filho, senta aqui – mamãe arrastou uma cadeira. Ficamos sentados à mesa da cozinha em um breve silêncio.

- E aí? Existe ou não existe? Não me enrola.

- Você está grandinho. Não preciso mais mentir pra você.

- Então?

- Não existe.

- Poxa, mãe. Vocês me enganaram todos esses anos? – as lágrimas começaram a rolar pelo meu rostinho bochechudo.

- Quem disse que isso é enganação? Papai Noel existe na imaginação das crianças. Ele faz parte da infância. Quando os garotinhos descobrem que ele é uma lenda é sinal de que estão ficando mocinhos – o discurso começou bem clichê, mas terminou eficiente.

- E quem era aquele que aparecia na minha janela? – eu queria detalhes da trama.

- Seu tio Osmar.

- Pô, o tio Osmar é magro que nem um bambu.

- Ele usa travesseiro na barriga.

- Impostor de araque.

- E quando Papai Noel me telefonou?

- Era o Osmar na extensão.

- Caramba, mãe. Quem fabrica os meus presentes? Eles não vêm do Pólo Norte?

- Na verdade, eles são fabricados pela Estrela e vêm da Zona Franca de Manaus.

Realmente mamãe estava desmascarando toda a farsa.

- E o Bicho Papão?

- Esse existe.Se você fizer malcriações ele te carrega no saco para bem longe.

- Sacanagem.

- É vida. Agora você sabe a verdade, mas seu irmãozinho e seus priminhos continuam acreditando no Bom Velhinho. Seria maldade sua se você acabasse com os sonhos deles. Com o tempo eles descobrem tudo. Aconteceu com você e acontecerá com eles.

Nunca mais vi o tio Osmar com os mesmos olhos. O cara foi o Papai Noel durante anos. Naquele Natal, não fui o primeiro avisado da chegada dos presentes. Vi que estava crescendo e poucas vezes isso foi tão evidente. Tão cristalino e doloroso.

Agora eu estava com a cartinha das minhas vizinhas gêmeas nas mãos.

Não pensei duas vezes. Troquei de roupa e corri para o correio.





QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, você deu um novo sentido à vida do He-Man. Eu estava de saco cheio de ser lembrado apenas naquelas malditas festas Ploc. Espero que possamos continuar batendo essa bola e seus leitores continuem mandando suas dúvidas para desafiar minha infinita sabedoria. A moral dessa vez é: Feliz Natal para todos!!! Ho Ho Ho!!!








quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

O bebê que eu sou

Mãe é mãe e filho é sempre aquele ser pequerrucho, indefeso (aos olhos da mesma). Não tente entender, apenas aceite.

- Filhão.

- Oi, mãe.

Sou mesmo um filho relapso. Cumprimentei sem nem tirar os olhos do computador.

- Comprei o que você pediu.

- Deixa aí em cima da mesa. Já vejo. Ah, obrigado.

- Taqui, ó.

Acompanhei com o rabo do olho.

Peraí, tem algo errado.

Peguei o "presente" e corri atrás da minha mãe.

- Mãe!

- Fala, filhão.

- O que significa isso?

- Isso o quê?

- Isso!

- Eu estava no supermercado e você não me ligou pedindo um estojinho para suas canetas?

- Sim, pedi, mas... que raio de estojo é esse?

- O que tem de errado?

- Como assim o que tem de errado? Esse estojo tem... tem... coelhinhos, coelhinhos amarelinhos.

- Tem, e daí?

- Mamãe querida, não percebeu nada de incompatível com a minha pessoa e o estojo de coelhinhos?

Coloquei a meleca do estojo em cima da mesa da cozinha.

- Não.

- Pô, mãe, tá me insultando.

- Deixa de ser bobo.

- Bobo, eu? Vamos voltar a fita. Pedi que você me quebrasse o galho e trouxesse do supermercado um estojo para guardar minhas canetas, certo?

- Certíssimo.

- E em que ponto do processo você associou esse delicado estojinho a mim?

- Ah, filhão, achei tão bonito.

- Ei, que estojo escroto é esse? - meu irmão entrou no papo.

- É do seu irmão.

- MÃE! PÔ! – me senti um garotinho de sete aninhos com a camisa do Pokemón.

- Tá de sacanagem? Perdeu a vergonha na cara? - meu irmão só queria uma brecha para me avacalhar.

- Isso não é idéia minha.

- Fica com o estojinho, rapaz. Está lindo. Aproveita e põe em cima da sua mesa do trabalho. Mostra para os amigos. Leva para o MBA. Ah, melhor, leva para o jiu-jitsu. Seus amigos do jiu-jitsu vão achar muito agradável. Duvido façam qualquer comentário maldoso - o caçula da família rolava de rir com o drama alheio.

Pra que serve o irmão? Essa praga!

- Cala boca que o papo não fez curva.

- Filhão, não entendo a sua revolta. Guarda o estojo do coelhinho. Depois você compra outro, seu ingrato.

Poxa, não sou ingrato.

- Me dá isso aqui.

Saí da discussão e guardei o raio do estojinho de coelhinhos.

No dia seguinte, liguei para minha mãe. Ela estava na rua, comprando alguma coisa.

- Oi, mãe. Sou eu. Vem cá, meu irmão pediu para você comprar um presente pra ele. Não sei. Qualquer coisa. Não, mãe, ele confia no seu gosto. Nada, nada. Boa sorte. Beijos.

Pra que serve o irmão? Os mais novos servem pra isso!



QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, não seja duro com sua mamuska. Ela teve a melhor das intenções. Acho que já disse isso antes, mas toda mãe vê o filho como o bebê de outrora. Mesmo que ele esteja barbado, calçando tênis 42 e com voz grossa. Fazer o quê? Guarda o estojo de coelhinho com carinho, mesmo que você não o use. Amiguinho, sempre ceda lugar a pessoas idosas.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Mercedes Benz

Você sabe o que é uma marca premium? Em resumo, é aquela marca conhecida e respeitada que permite preços mais altos para os seus produtos. Ela torna-se premium pela tradição, credibilidade, qualidade superior etc. A Louis Vutton é um bom exemplo.

Essa intro explicativa que parece resposta de prova de marketing é ideal para apontar como esses breguetes de fino trato dão uma moral especial para seus donos. O Aristeu, atacante na pelada de sábado, que o diga.

Bom, Aristeu me relatou a aventura com anos de atraso, mas ainda está no prazo de validade e merece nota por aqui. Ainda mais vindo de quem vem: um cara boa pinta, companheiro, batalhador, honesto e descolado. A garota que batesse o olho seria incapaz de dizer que ele não tinha o segundo grau completo.

Enfim, como, graças ao futebol, tinha um networking forte na Barra da Tijuca, Aristeu foi convidado para uma festa de aniversário na Nuth. Um parêntesis explicativo para quem lê isso fora do Rio de Janeiro: Nuth é o olimpo das patriçotas e mauriçotes.

Mesmo se sentindo um pouco deslocado, topou e compareceu com a discrição que sempre lhe foi peculiar. Depois de algum tempo no ambiente, retomou a característica do bom atacante e sentiu o faro do gol. Mais exatamente, sacou umas olhadas marotas de uma loirinha.

"Por que não?", pensou consigo mesmo e foi tentar a sorte.

A guria dava condição, mas era esperta como um ferro de passar roupa. Falava abobrinhas sobre viagens a Miami, compras no Emporio Armani, festas no Copacabana Palace e blá-blá-blá. Aristeu ouvia tudo e pontuava as frases da menina com "uhum" ou "sei, sei".

Lá pelas tantas, deu o bote e a tchutchuca cedeu. Segundo Aristeu, nem foi grandes coisas, mas valeu para seu ego. Depois de uns amassos meia-bomba, Patriçota (vamos chamá-la assim) decidiu que já era tarde e ela tinha que acordar cedo no dia seguinte para malhar sua série de perna, glúteos e abdome com seu personal.

- Eu te deixo em casa.

- Qual o seu carro?

Putz, que pergunta anta!

- Fica relax, Patriçota. A gente vai pra casa de Mercedes. Acabei de tirar da loja.

- Uau, Aristeu - os olhinhos de Patriçota brilharam.

E lá foi o casalzinho para a porta da Nuth Lounge.

- Não deixei com o manobrista. Não gosto que dirijam minha Mercedes - indicou ele antes de sair no pique.

- Faz muito bem. Semana passada um manobrista aqui de perto arranhou o Audi do meu amigo Arquibaldo. Você conhece o Arquibaldo?

- Conheço.

Patriçota ficou paradinha na porta da boate. Enquanto esperava, retocava a maquiagem. Só saiu do transe com uma buzinada dupla. Aristeu baixou o vidro da sua Mercedes Sprinter, linha Rio das Pedras / Barra (Via Passarela).

- Bora?



Nota do Surfista: Rio das Pedras é uma comunidade em Jacarepaguá onde existe o internacionalmente famoso Castelo das Pedras, um dos maiores bailes funk do mundo.


QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?

Essa lição é mole, amiguinho. Acho que até a Patriçota entenderia sem que eu desenhasse. Fico particularmente irritado com essas pessoas que dão valor às pessoas pelo que elas têm ou vestem e não pelo que elas são. Clichêzão, eu sei, mas acontece muito. Acho que esse é um mal da sociedade atual e está ficando cada vez mais difícil de contornar. Então, amplie sua visão e não se restrinja ao que está escrito na etiqueta. Vai que o produto é pirata. Amiguinho, não seja guloso. Faça seu prato apenas com o suficiente ao seu apetite. Até a próxima!

Participação especial #2

Pois é, estou fazendo plantão em outras vizinhanças. Visite o Caixa Preta e confira a coluna "Discutindo a Relação". O tema em pauta remete àquelas confraternizações que reúnem todos os colegas de trabalho e revelam estereótipos bem curiosos. Vista lá: "Festas de fim de ano e seus tipinhos típicos".

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Missão dada, missão cumprida

Manhã de segunda-feira. Fiz algo comum à maioria dos meus dias: li o jornal. Mas dessa vez foi diferente. Em vez de rumar direto para a seção de esportes, o segundo caderno foi a primeira opção. O motivo não poderia ser outro além do show do Police no Maraca.

Sim, eu estava entre os 74 mil privilegiados que acompanharam Sting, Summer e Copeland retornarem ao Brasil depois de mais de duas décadas. Bicho, eu tinha quatro anos naquele distante 1982. Não tenho idéia do que eu ouvia, mas tenho certeza que passava longe do rock do Police. Pois é, voltando ao jornal, a crítica foi positiva e fez justiça a um showzaço. A meiuca meio chatinha ficou longe de comprometer. Bom, lendo os deslumbres do Globo e relembrando a noite de sábado, confirmei que momentos importantíssimos da minha biografia se passaram na multidão de algum show.

Minha primeira vez foi em mil-novecentos-e-sei-lá-quando, quando papai e mamãe se sujeitaram a me levar para ver Balão Mágico e Fofão - em playback. O repertório já fugiu da mente, mas lembro da excitação de ver uma (!!!) banda ao vivo. Tá bom, não era uma banda, mas seja generoso com Simony, Jairzinho, Toby, Mike e Fofão. Gostei do negócio e de lá pra cá foram centenas de apresentações de diferentes estilos.

Pinçando alguns estupidamente marcantes, destaco o rock puro e visceral do Neil Young no Rock in Rio 3. Aquele palco gigante e o bom e velho cowboy descarregando toneladas de música numa simplicidade comovente. Nesse mesmo festival, o show do R.E.M quase me fez chorar. Também quase dei um tapa na careca do Michael Stipe quando ele veio cantar "Man on the moon" dentro da multidão. O cara ficou a poucos metros da minha pessoa. Fora isso, o show todo foi emocionante.

Não chorei nesse dia, mas disfarcei as lágrimas quando Eddie Vedder mandou "Daughter" diante de uma Praça da Apoteose lotada. Isso sim foi apoteótico. Esperei anos para ver Pearl Jam e não me controlei. Só fiquei ligado para não dar mole durante minha choradinha. Se alguém visse, eu botaria a culpa na Nova Schin vendida a R$ 5,00. Deus me livre!

Ah, já vi Roberto Carlos ao vivo e confesso que corri para tentar pegar uma rosa do Rei. Tomei uma cotovelada de uma senhora de sessenta anos quando me espremi pra pegar a flor.

- É para minha mãe, tia.

- Não sou sua tia.

Velha danada!

Já vi Gilberto Gil do backstage, com direito a comida japonesa e cerva gelada liberada. Por diversas vezes fui pular em rodas punks em shows do Iron Maiden, Prodigy, Offspring e até nos bons tempos do Raimundos. Los Hermanos? Esses eram chapas de faculdade e já fui dar uma moral para eles em um showzinho sem-vergonha na Casa da Matriz. "Anna Julia" nem estava no setlist.

No fundo, eu me sinto como se estivesse cumprindo minha obrigação com a boa música (e com a mais ou menos também. Oras, já fui conferir até Double You). Aliás, reformulando: cumprindo uma missão com a música que faz sentido para minha história. Rolling Stones, U2, Manu Chao, Roger Waters, Nando Reis, Coldplay, Caetano Veloso... até The Doors eu consegui ver. E dane-se que o Jim Morrison não estava lá. Ian Astbury quebrou o galho direitinho. A figurinha que falta no álbum chama-se Chico Buarque.

O show do Police teve várias razões para entrar no meu Top Five. Citando algumas: banda afiada, clássicos do rock, produção de altíssimo nível, performance histórica, fãs de todo Brasil e a minha primeira vez no Maraca. Explico: os únicos shows que presenciei no Maracanã foram do Flamengo. Nem Papai Noel descendo de helicóptero eu vi. Mas, dessa vez eu estava lá, sentado na arquibancada onde costuma ficar a Raça Rubro-Negra. Ali naquele espaço tão conhecido, eu vivi um instante único. Enquanto titio Sting mostrava vitalidade, minha gatinha disse algo que nunca dissera antes. Talvez torcendo para que o som alto ocultasse sua voz ou que eu estivesse com algumas Skols a mais na cabeça, não importa. O que vale é que ela falou pela primeira vez "eu te amo".



QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?

Que fofo , amiguinho! Eu também te amo. Você é tão bonitinho que quase arrancou lágrimas do He-Man velho de guerra. Fico feliz que a música esteja presente na sua trajetória. Os shows citados colaboraram muito para que se tornassem marcantes. Seria difícil curtir o momento no show da Banda Calypso, não é mesmo? Enfim, espero que você e sua gatinha estejam felizes, mas que as histórias salientes do seu passado continuem ganhando registros por aqui. Ela perdoará. Amiguinho, nunca esqueça das palavrinhas mágicas: "por favor".

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

O poeta e a moça no título da canção

Sexta-feira, 19 horas. Balcão de uma lanchonete na rua Sete de Setembro, centro do Rio de Janeiro. Eu estava sem almoço e exausto. Nessa altura do campeonato, dois salgados e um refresco soaram como um banquete digno da Rainha da Inglaterra. Parei sem pestanejar.

As esfirras estavam um luxo. Vale a dica: sempre que você visitar o centro do Rio de Janeiro, não deixe de fazer um lanche em uma dessas biroscas de "dois salgados e um refresco por R$ 3,00". Especialmente, aquelas instaladas lá na Sete de Setembro, Rua do Ouvidor e cercanias.

- Você já reparou como é ridícula essa campanha da Nike para a seleção brasileira? - um cidadão de uns cinqüenta anos, terno amassado e gravata desfeita, parou ao meu lado com uma tulipa de chopp na mão. Pela fala grudenta, ele devia estar biritando desde cedo. Nada de estranho para uma sexta-feira pós-expediente.

- Reparou? - o cara insistiu.

Ô carência! Lá se vai a minha paz.

- O que tem a campanha da Nike? - resolvi dar um pouco de atenção pra ver se o sujeito ficava feliz e sumia.

- Sangue amarelo, garoto! Desde quando isso é positivo? Estamos sendo sacaneados aos quatro ventos. Isso deve ser coisa de publicitário argentino.

- Pois é, né?

- Sangue amarelo. Tá bom. Brincadeira, hein?

- Aham...

- Você gosta de música, garoto?

Surgiu um dilema instantâneo: se eu falasse a verdade e confirmasse, o cara iria me impregnar por mais uma hora. Se eu mentisse e dissesse que detesto, o cara poderia ficar mais uma hora tentando descobrir minhas razões.

- Gosto.

- Já reparou que somente as mulheres são homenageadas em títulos de música?

- Como assim?

- Anota aí, garoto: Lígia, Adelaide, Anna Julia, Rita, Angélica, Madalena, Amélia, Yolanda, Luiza, Andrea Doria... isso só citando as brasileiras. Fora elas, ainda tem a Layla do Eric Clapton, a Denise do Bob Dylan, a Julia do John Lennon e tantas outras. Me diz uma música com nome de macho. Vai, diz.

Eita! Não é que o pinguço estava certo?

Fiquei pensando alguns segundos e puxando todos os arquivos musicais da minha memória. Estava bem difícil.

Lembrei!

- "Pedro Pedreiro"! Taí uma música com nome de homem.

O bebum não perdeu o rebolado.

- Muso de protesto. Não tem glamour nem glórias. É uma metáfora para o trabalhador que espera o trem que nunca vem. Claro que é uma bela música do Chico.

- Você não mencionou detalhes. Só pediu uma música com nome de homem.

- Tá bom, vamos reformular. Faça o favor de me citar um caboclo equivalente a uma Carolina, musa do Seu Jorge?

- Não tem. Qual o seu ponto? Onde você quer chegar?

- Você não percebeu, garoto? Nós somos muito mais sentimentais e devotos que essas fêmeas todas. As mulheres não se dão ao trabalho de nos homenagear com belos versos e rimas ricas. Até o Pedro Pedreiro foi personagem de um autor do sexo masculino. Nós, homens, vivemos escondidos atrás de uma fachada de dureza, mas não é assim. Isso é de partir o coração - ele baixou a cabeça e saiu. Acho que só queria desabafar.

Coitado do pudim de cachaça. Fiquei sensibilizado com a tristeza e a verdade em sua constatação. O cara devia ter tomado um pé na bunda recente e ainda estava amargurado.

Certas coisas só acontecem no centro da cidade.


QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, olhando pelo ponto de vista técnico, seu impregnante companheiro de balcão estava certo. A esmagadora maioria das canções são dedicadas a uma mulher. Mas, o cidadão alcoolizado esqueceu de "O Mundo é Bão, Sebastião", "Jorge Maravilha" e "Juca", algumas raras homenagens a musos. Sob o ponto de vista conceitual, sou obrigado a concordar com ele. Quando querem, os homens são bem mais sensíveis e românticos que as moças. O difícil para eles (incluindo a minha pessoa musculosa) é demonstrar tudo isso sem a preocupação de ser vistos como molengas. Amiguinho, nunca aceite caronas de estranhos. Até a próxima!

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Fogo amigo na testa dos outros é refresco

Traição rende pauta. Histórias envolvendo esse tema são interessantes para quem ouve, mas não costuma ser muito legal para quem participa – especialmente, se o envolvido (ou envolvida) for personagem principal da trama: o corno.

Na verdade, entre tantos causos de trairagem, só me ligo naqueles que têm um tchan de Nelson Rodrigues, algo de inesperado, de absurdo. Pois assim foi a aventura de Juvenal, protagonista de uma odisséia baiana narrada por amigos em uma clássica mesa de bar.

Bom, tudo começou com um balão. Aliás, namoro é que nem festa junina: balão é proibido, mas todo mundo sabe que rola. Fim dos parêntesis. Retomando a trama. Tudo começou com um balão colossal. Com uma desculpa esfarrapada qualquer, Juvenal deixou a primeira-dama no Rio e se mandou para a incendiária rota da Barra - Ondina, na bela Salvador.

Juvenal se embrenhou no bloco e tomou várias precauções. Deixou a barba por fazer, colocou bandana e manteve-se sempre longe de qualquer câmera ou fotógrafo. Fugia de repórter do Band Folia quem nem vampiro do alho. Tudo dava certo, mas titio Murphy também estava na folia. No meio do bloco, Juvenal foi reconhecido por uma amiga da sua namorada.

- Danou-se - pensou.

De nada adiantou o disfarce e a atuação discreta. A garota bateu o olho e o reconheceu no ato. Juvenal leu seus lábios:

- Você por aqui?

Com milhões de decibéis de Chiclete com Banana na cachola e litros de cerveja na veia, Juvenal precisava virar o jogo para sair ileso de um quase xeque-mate. Pensou um pouco e tomou uma medida drástica. Foi lá falar com a menina com a naturalidade de quem estava visitando um convento.

Dois beijinhos. Sorriso. Como vai? Tudo bem? Que coincidência, né?

Tudo protocolar. Juvenal foi sentindo o terreno. No meio da madrugada e com o bloco pegando fogo, era difícil que a mocinha estivesse em plenas faculdades mentais. Juvenal foi chegando como quem não quer nada e pimba! Tascou um beijo na menina e foi imediatamente correspondido.

Riu consigo mesmo e um breve pensamento refletiu o tamanho da virada de mesa.

- Agora quero ver contar que me encontrou aqui!

Vitória!


QUAL A MORA DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, não é preciso ter muito bom senso para sacar que foi um ataque suicida com 99,99% de chance de dar errado. Mas, como no carnaval a realidade se altera, Juvenal se deu bem. Como He-Man é um herói politicamente correto, a atitude foi duplamente condenável. Ele foi sacana com a namorada pela mentira e pelo assédio à amiga. Se bem que com amigas dessas, quem precisa de inimigas, né? Os dois poderiam ficar juntos logo. O casal combina. Amiguinho, tente atravessar a rua apenas na faixa de pedestre e tenha muita atenção.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

He-Man responde! #8

OSNI PEGUNTA:

Pergunta: Prezado He-man, após uma discussão teórica-empírica-conceitual, entre mim e Vulgo Dudu (outro freqüentador desse ambiente), não conseguimos chegar a um consentimento sobre outro dos grandes dilemas da humanidade. Afinal, tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais? Depois de suas considerações ponderarei sobre a discussão!

HE-MAN RESPONDE!
Caro Osni. Sua retórica pergunta é infinitamente discutida por marketeiros, filósofos, publicitários, nutricionistas e curiosos de plantão. Na vastidão da Internet, pipocam teorias sobre o assunto. Gente levando a questão a sério e discorrendo uma enormidade.

A resposta mais coerente é a da filósofa Marta, que parece não te mais nada o que fazer. Segundo a estudiosa, "Tostines vende mais porque é fresquinho. O resto é conseqüência. O raciocínio é simples: Vamos imaginar a primeira fornada de Tostines da história dessa marca de biscoitos. Eles estavam fresquinhos, como era de se supor para biscoitos que acabaram de ser produzidos. Com isso, venderam mais do que os demais biscoitos que estavam nas prateleiras. Por terem vendido mais, as prateleiras foram repostas com novos biscoitos, que por conseqüência estavam fresquinhos, o que nos leva a um círculo infinito. Mas para a resposta à dúvida basta levarmos em consideração o que houve primeiro, e o aconteceu primeiro foi vender mais por estar fresquinho."

Já o calejado He-Man, que não consome esse biscoito porque prefere o Chocolícia, acredita que a resposta é quântica. Tanto faz, pois as duas realidades coexistem e se interligam. Se o raio da bolacha vende mais, seu maldito estoque será reposto constantemente. Essa situação justifica a segunda afirmação, pois se não vendesse, a meleca do cookie se estragaria num daqueles armazéns desgraçados.

Putz, nessa o He-Man suou a sunga.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Eu, leitora

Há algum tempo, eu já confessei que sou um leitor fiel da Marie Claire. Só que meu interesse pela literatura de mulherzinha vai bem além da revista. Vez ou outra, me pego lendo um desses livros destinados ao público feminino. Geralmente, são esses livros de auto-ajuda, que, diga-se de passagem, só são auto-ajudas para as moças, porque para mim soam como humor involuntário.

Ultimamente, o que mais me chama a atenção é a multiplicação dos títulos voltados quase que exclusivamente ao interesse feminino. Antes eram poucas opções, mas de uns tempos pra cá, percebi uma enxurrada de novidades. Passeando por uma livraria, atividade que curto muito, exercitei a falta do que fazer folheando os livros com os títulos mais curiosos e criando minhas impressões sobre seus conteúdos. Claro que a partir do ponto de vista masculino da coisa. Entre best-sellers e worst-sellers (se é que isso existe), lançamentos e clássicos, pincei algumas obras e gostaria de compartilhar com vocês através de mini-resenhas (incluindo um merchandising dos autores e editora. Vai que alguém se interessa):

O Que As Mulheres Querem
Erica Jong (Record)
Quando olhei sse título, fiquei chocado com sua arrogância. Como pode esse dilema milenar ser resumido em duzentas-e-poucas páginas? Folhenando um pouco, descobri que se trata de uma comédia. Fui dominado pela frustração, mas também pelo alívio. Ufa, as mulheres continuam sem saber o que querem!

O que Toda Mulher Inteligente Deve Saber
Steven Carter e Julia Sokol (Sextante)
Esse eu li. A princípio, achei curioso um livro sobre os anseios da mulher moderna co-escrito por um homem. Deve ser para equilibrar e dar um pouco de sensatez na parada. Brincadeira, brincadeira. Curtinho e facinho de ler, a moral da história é que as meninas buscam meninos que as ouçam, que sejam gentis, que tenham ambições, que tenham raízes, que tenham pegada e, principalmente, que liguem quando assim prometerem. Pronto! Contei o final do livro e fiz você economizar R$ 19,90.

Por que os Homens Fazem Sexo e as Mulheres Fazem Amor?
Allan Pease (Sextante)
Mais uma obra da Sextante para as mulheres desesperadas e querendo se ajudar ou descobrir porque nós, homens insensíveis, prometemos ligar e não ligamos. No final das contas, não sei se pergunta do título é respondida. Particularmente, eu duvido. Ah, esse autor ainda escreveu Por que os Homens Mentem e as Mulheres Choram?. Quantos dilemas na vida desse rapaz. Deve ser solteiro ou estar no terceiro casamento.

Mulheres Ambiciosas Ganham Mais
Debra Condren (LSJ)
Adorei esse título. Imagino quantas moças com a estima na sarjeta devem ter desembolsado R$ 30,00 para canalizar sua ambição e aumentar suas contas bancárias. Sinceramente, é preciso de um livro para descobrir que tanto mulheres quanto homens que são ambiciosos buscam seus objetivos com mais tesão?

Mulheres Lideram Melhor que os Homens
Lois P. Frankel (Gente)
Lois Lane, quer dizer, Lois P. Frankel se tocou do potencial das mulheres de negócios e escreveu logo uma porrada de livros sobre business baseados na ótica feminina. Também assinou Mulheres Boazinhas Não Enriquecem e Mulheres Ousadas Chegam Mais Longe. Fiquei pensando no critério para a escritora criar seus títulos. Provavelmente, ela pega o substantivo "mulheres", um adjetivo de impacto ("duronas", "vibantes", "casca-grossas" etc) e um predicado marketeiro ("ficam milionárias", "vão além do horizonte", "mandam bem" etc) e, abracadabraca, surge um nome. Vamos lá, faça sua combinação e descubra qual será a próxima obra da Lois.

Mulheres Francesas Não Engordam
Mireille Guiliano (Campus)
Mentira! Brigitte Bardot é a prova. Depois de sua juventude gostosíssima e suas presepadas em Búzios, a atriz francesa tornou-se uma respeitável senhora rechonchuda. O mesmo vale para Catherine Deneuve. Aliás, isso não é vergonha nenhuma.

Mulheres Japonesas Não Envelhecem Nem Engordam
William Doyle e Naomi Moriyama (Rocco)
Será a segunda parte de uma trilogia? Na verdade, um livro com esse appeal só faria sentido se fosse Mulheres da Somália Não Engordam de Jeito Nenhum ou Paula Toller não Envelhece. Perdoem o humor negro, mas francesas e japonesas magérrimas são de lascar.

Por que a Mulher Gosta de Apanhar
Christina Autran (Nova Fronteira)
Quando bati o olho nesse tomo, pensei logo se tratar de uma manual sado-masô. Ledo engano. É bem mais interessante. Nada mais é do que a compilação de entrevistas da autora com personalidades da cena brasileira de 1967 a 1975, como Nelson Rodrigues, Fernanda Montenegro e Clarice Lispector, entre outros.

Uma Mulher Que Faz
Lucimara Parisi (Arx)
Peraí, a moça que aparece no Domingão do Faustão escreveu sua biografia? Longe de mim desconfiar da sua competência, mas será que os bastidores do programa dominical mais mala do mundo merecem essa pauta toda?

O Doce Veneno do Escorpião
Bruna Surfistinha (Panda Books)
Se me dissessem que o livro de memórias de uma garota de programa daria uma sacudida nos tabus de muita mulher bem resolvida, eu riria. Eis que Bruna surge para se tornar um fenômeno pop do século XXI e virar leitura escondida de muita gente. Eu li e me diverti horrores com as proezas da moçoila. Eu e mais uma cacetada de gente, pelo já que averigüei. Não por acaso, o livro virou audiobook, rendeu o blog mais famosos da Internet brasileira e já foi vendido para virar filme. Eu voto por uma cadeira na ABL para Raquel Pacheco, quer dizer, Brunete!





QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, deixa a mulherada ler! Você deveria agradecer aos céus porque elas não estão lendo Sabrina, Bianca ou Julia. Você lembra dessas novelinhas vagabundas impressas em papel de jornal? Pois é, ainda estão nas prateleiras das bancas. Enfim, He-Man está econômico com as palavras hoje. Pare de se preocupar com o que as mulheres estão lendo ou deixam de ler e vai procurar um livro bacana para ocupar o seu precioso tempo. Amiguinho, nunca entre no mar ou na piscina sem verificar se há um salva-vidas por perto. Até a próxima!

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

He-Man responde! #7

BABS PEGUNTA:

Mil vezes a She-ra. Nunca entendi porque ela não se chamava She-woman, o ultra-mega-sábio He-man saberia?

HE-MAN RESPONDE!
Meninas, meninas... por causa de vocês, a Mattel inventou uma heroína que atendesse o público feminino que estava querendo abandonar o perfil de vítimas indefesas. Eis que surge She-Ra, uma Barbie marombeira que é, na verdade, a irmã gêmea do poderoso He-man. O nome "He-man" é uma ironia dos criadores (talvez, uma private joke), que pegaram uma velha expressão americana que reforça a macheza do personagem. Em português, teria como correspondente (guardadas as devidas proporções) "cabra macho" ou "sujeito homem". Por essas e outras, She-Ra não poderia ser She-Woman. Finalizando, vou enriquecer o seu baú de cultura inútil: "SheRa" vem do aramaico e significa luz. Bonito, não?

Mais uma curiosidade: os desenhos da She-Ra só contaram com a moral da história a partir do quinto episódio. No caso, quem passava a lição era o Geninho, aquele bicho azul que parecia um boneco da série Moranguinho.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Surfista Platinado informa!

Agora é pra valer! Eu e a mais implacável Exterminadora de Hélios da face da Terra temos uma coluna no Caixa Preta. Procure por Discutindo a Relação. Minha talentosa sócia já começou o batente na semana passada. Eu começo na quinta-feira, dia do feriado. Então, se você descolar um computador na praia, na serra , na ilha, na fazenda ou numa casinha de sapê, ficarei feliz com sua leitura e sua visita para um cafezinho.

E segue a nossa programação normal. O texto principal é esse aqui debaixo.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Uma forma infalível de ser escroto

Uma vez ouvi falar que uma boa história tem que ter pelo menos uma morte. Eu concordo. Imagina se o Romeu e a Julieta não morressem no final ou se Édipo não matasse Laio. No campo mais pop, já pensou se o Tio Ben não morresse por causa da omissão do Peter Parker? Mas acredito que quando ninguém morre, um casal é fundamental para que a narrativa pelo menos seja interessante. Essa aventura que vou te contar não tem alguém batendo as botas, mas tem um casal: Marília, Clara e eu. O que foi? Três pessoas não valem como um casal?

Conheci Marília em um elevador. Estávamos indo a uma festinha de uma amiga em comum e, por coincidência, nos anunciamos ao mesmo tempo na portaria. Enquanto subíamos, ficamos naquele clima de "e agora, José?".

Elevador é um ambiente muito opressor quando você está com outra pessoa e sabe que vai conhecê-la dentro de alguns instantes. Fica aquela dúvida se vale a pena puxar logo assunto ou se é preferível ficar olhando para o marcador de andares e torcendo para que tudo acabe logo. Nessas horas, subir 18 pavimentos pode levar uma eternidade.

- Achei que eu seria a única pessoa a vir sozinha.

Ela quebrou o gelo. Ufa!

- Eu estava pensando a mesma coisa - menti.

Nos apresentamos, falamos algumas trivialidades e chegamos ao 18º andar com a pista livre para outros assuntos. Tudo funcionava às mil maravilhas e a perspectiva era boa. Perto do fim da festa, ela me deu o seu cartão e escreveu o número do celular no verso. Prometi ligar.

Não liguei.

Não me pergunte o porquê. Eu não sei também. Esse é um daqueles enigmas tão inexplicáveis quanto o Terceiro Mistério de Fátima. Voltei a encontrar Marília três semanas depois em um domingo no Baixo Gávea. Para variar, estava lotado como vários outros fins de semana de verão. Voltamos a conversar e para disfarçar o telefonema que nunca fiz, aleguei que perdi o cartão quando fui abduzido por alienígenas.

Ela riu. Dessa vez, Marília anotou o número no verso de um folder da Babilônia Feira Hype. Prometi ligar.

Não liguei.

O terceiro encontro (combinado por amigos que queriam ver o couro comer) aconteceu quase um mês depois na Casa da Matriz, lugar divertido da cena alternativa do Rio. Ela estava no balcão tomando Cuba Libre e me reconheceu. Sorriu e voltamos a conversar. Graças a Deus, o assunto do telefone não foi mencionado. A diferença é que dessa vez eu não deixaria para depois. Entre um sorriso aqui e outro acolá, eu parti para o ataque. No fundo, eu apostava que ela estava louca para dar o troco pelos furos. Seguindo a lógica, mulher é um bicho ilógico e ficamos nos agarrando a noite inteira. Ela anotou o telefone em um guardanapo e me deu antes que eu a deixasse em casa. Prometi ligar.

Não liguei.

Mas o que diabos estava acontecendo comigo? Marília era bonita, perspicaz, perfumada, tinha sardinhas bonitinhas no nariz e uma tatuagem charmosa na nuca. Tinha uma franja esquisitona, mas a perfeição é utopia. Eu devia estar querendo me sacanear.

Poucos dias depois, eu recebi um convite de um amigo e aceitei ir a um ensaio da Mangueira no Palácio do Samba. Topei dar carona a uma amiga e para minha surpresa ela estava com uma prima.

- Essa é a Clara. Não tem problema ela ir com a gente, né?

- Nenhum - descaradamente eu usei a parte mais indecente do homem: o olhar. Mantive um contato direto e sem pausa por longos cinco segundos. Nenhum dos dois piscou.

Essa está no papo

Ela pensou alguma coisa e sorriu também. Aposto que foi a mesma coisa.

Do alto dos seus 1,65m, ela sambava como se fosse uma rainha de bateria. A saia serpenteava, mas não revelava muito mais do que as pernas torneadas. As gringas que me perdoem, mas uma brasileira sambando com estilo é mais do que sensual: é arrebatador.

Fiquei cobiçando em silêncio. Nesse instante, eu entendi como o personagem do Kevin Spacey se sentiu em "Beleza Americana" quando observava a ninfeta loira dançando.

- Olha quem está aqui - saí do transe com um tapinha nas costas.

- Marília, que coincidência.

Ai, ai, ai...

- Não foi coincidência. Eu sou amiga do Juliano e ele me avisou que todos viriam pra cá. Deduzi que você estaria por aqui - o Juliano era o cara que fez o convite. Ele que queria me amarrar na Marília.

O papo rendeu por alguns minutos e fomos para a mesa onde estava o restante da turma. Clara estava lá também. Daí por diante se desenhou uma cena que eu não cogitaria nem em minhas vaidades e gabolices mais desvairadas. Sentei à cabeceira da mesa com Clara à esquerda e Marília à direita. Clara falava de um lado e Marília do outro.

Cara, eu sou bom.

De repente, Marília encostou seu joelho na minha perna.

Cara, eu sou muito bom.

Não sei se Clara percebeu a jogada da "rival", mas ela também tomou uma atitude mais agressiva. Sem qualquer cerimônia, meteu a mão na minha coxa.

Cara, eu sou bom pra cacete.

Eu gosto muito de mim e me acho legal, mas essa situação não poderia existir fora dos meus sonhos. Era ilógico porque eu não era jogador de futebol, cantor, pagodeiro, ex-Big Brother ou ator de novela da Globo. Essas mulheres poderiam ter qualquer homem do mundo, então, por quê eu?

Porque você é bom, uma voz bem suave veio lá do fundo da consciência e eu gostei da sugestão.

Lembra do Juliano, o cara que mobilizou todos os amigos para o samba? Pois ele ajudou na seleção natural. Clara me deu um beijo na bochecha e foi atender o chamado do amigo. Fiquei na mesa com a Marília. Acabaram-se os problemas e as dúvidas. Era só correr pro abraço.

- Olha, eu preciso dar um pulinho no banheiro. Volto já - antes que ela fosse, eu a agarrei pela cintura e a beijei no ombro.

Pronto, estava marcada.

Fiquei sozinho por pouquíssimo tempo. Clara voltou e me arrastou para a pista de dança. Ela sambava que nem gente grande, enquanto eu apenas dava pulinhos.

Eu vou ceder. Eu vou ceder. Sou fraco.

A gota d'água veio quando ela veio me falar algo ao pé do ouvido. Eu não ouvia nada, mas senti dos toques involuntários no canto da boca.

Ah, canto de boca é sacanageml.

Agarrei Clara com um puxão e quando abri os olhos percebi Marília se afastando.

Eu sou um crápula. Eu sou um crápula. Eu sou um crápula.

- Você é um fofo - Clara gritou no meu ouvido direito.

Puf! O peso na consciência sumiu.

Acordei no dia seguinte dolorido pelas horas de samba, mas com o cheio da Clara em mim. Lembro que não peguei o telefone dela, mas dei o meu cartão com o celular escrito no verso. Acho que deixei morrer um futuro promissor com a Marília.

Será que Clara me liga?

Não ligou.



QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, a moral da história é que você é um trouxa. Não demorou muito para sentir o gostinho do próprio veneno, né? Não sei bem a razão, mas tanto meninos quanto meninas têm a mania de subir em um salto alto do tamanho do Empire State sempre que estão em uma posição confortável no jogo do flerte. E não venham tentar convencer o bom e velho He-Man de que isso não é verdade. Aquela esnobadinha básica ou valorização do passe rola sempre - por mais sutil que seja. Isso me deixa indignado pelas oportunidades legais que são desperdiçadas. Então, amiguinhos e amiguinhas, prometam para o titio aqui: nunca mais serei fanfarrão com as gatinhas(os) que me derem mole. Repita comigo! Repetiu? Beleza. A lição está dada. Coleguinhas, só pratiquem esportes com a supervisão médica e um responsável por perto. Até a próxima!
.
Sim, esse foi um post imenso. O próximo será menor. Prometo!

He-Man responde! #6

ANÔNIMO MAROMBEIRO DO GOOGLE PERGUNTA:

Após tomar durateston, posso tomar cerveja?


HE-MAN RESPONDE!
Essa pegunta não chegou a mim diretamente. Trata-se de uma questão que chegou ao blog, mas foi levantada no Google por um amiguinho que está querendo ficar sarado como o He-Man da forma mais rápida e menos natural. Como o Príncipe de Etérnia também é saúde, vou respondê-la. Sim, amiguinho Bam-Bam, qualquer birita corta o efeito do anabolizante, além de propiciar um maior risco ao fígado, já que este está metabolizando um nível de hormônios acima do normal. Não tenho informações sobre problemas de fumar durante um ciclo... acho que o único problema seria a diminuição da resistência, fôlego na hora de puxar ferro. E, reza a lenda, que seu bilau vai encolher até sumir. Como minha forma física vem da Espada de Greyskull, desse mal eu não morro.
.
Próxima pergunta, por favor.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Mulher que se garante dá um medo danado

Acho que nunca conheci um ser tão apaixonado quanto Leila. Mas o amor irrestrito da minha amiga não era dedicado a um homem, mulher, animal, ou time de futebol. Sua devoção tinha como alvo o espelho. Pois é, Leila morria de amores por si mesma. O pior é que ela encasquetou que todo homem também sentia a mesma atração.

Eu mesmo já entrei no devaneio da Leila, que cismou que eu estava de quatro por ela. Eu poderia até ter me irritado, pois a moçoila não fazia o meu tipo, mas uma dessas ironias do cotidiano virou o vento a meu favor. Para que eu perdesse as esperanças e "abandonasse a minha ilusão", a loiríssima e silicoana moça decidiu encontrar o par perfeito pra mim.

Beleza! Leila tinha uma imã para mulher bonita. Cedo ou tarde, eu me dou bem por tabela.

E assim eu fui conhecendo as camaradas da Leila, todas apresentadas com a mesma referência:

- Ela é um amor. Você vai adorá-la. Pena que sente um ciúme de mim, menino. Imagina isso? Eu nem faço por onde. São os caras que andam com ela que me dão mole.

Eita! Pode uma coisa dessas?

Algumas eram realmente interessantes, mas nem todas tinham potencial para ser o meu "par perfeito". Todas eram bem "sem-sal" e não valiam uma campanha daquelas que me prendem. Desses passeios, o saldo positivo só veio em conhecer as histórias da heroína dessa história.

A primeira que fiquei sabendo foi a do Will, ex-namorado e fotógrafo requisitado por onze entre dez celebridades. Posso afirmar que está no mesmo caminho do J.R. Duran. Um dia, ele foi convocado para uma viagem de trabalho com uma missão duríssima: ir até Paris para ser assistente de um ensaio de Gisele Bündchen. Como se não fosse o bastante, ele ainda ficaria em um quarto no mesmo hotel e mesmíssimo andar da beldade.

É ou não é o emprego que você, meu leitor macho, pediu a Deus?

Will ficou meio preocupado com a reação da namorada. Leila, do alto do Olimpo, não só liberou como carimbou o passaporte do sujeito com uma ameaça:

- Se for e não comer é melhor nem voltar pro Rio.

Will foi e não comeu. Ficou perdido entre um misto de raiva, vergonha e desprezo. Terminou o namoro por DDI. Leila não se abateu.

- Tadinho, deve ter dado uns beijos nela e ficou com a consciência pesada por minha causa. Eu avisei que ele poderia pular a cerca. Homem não sabe lidar com a liberdade, não?

Eu concordei.

Ai, ai, ai...







QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Tremeu na base, amiguinho? Conheço vários sujeitos que tremeriam também. Imagina só ter a obrigação de pular a cerca com sucesso ou entrar na porrada quando chegar em casa. Parece o mundo Bizarro. Aliás, lembra do Bizarro? É aquele inimigo do Super-Homem que vive em um mundo paralelo onde tudo é inverso ao nosso. Parece que sua amiga veio de lá também. Bom, mais o que fica de lição é que certas mulheres acham que são muito mais do que elas são de verdade. Por outro lado, outras sofrem por pensarem que são pequenininhas, quando são maravilhosas. Não seria fabuloso se toda mulher tivesse a auto-estima lá na estratosfera? Bom, seria legal para elas, mas os meninos teriam que suar a camisa para descolar uma namorada. Amiguinho, as bibliotecas são lugares legais. Visite-as e perceba como há um mundo de aventuras ali. Até a próxima.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

He-Man responde! #5

OSNI PERGUNTA:

Prezado He-man, tenho uma dúvida que me assola há alguns anos e acredito que seja um dos enigmas da humanidade, afinal de contas, qual o significado da sigla O.B?


HE-MAN RESPONDE!
Osni, Osni... Nada escapa do onisciente He-Man. O oráculo do Príncipe de Etérnia enxerga tudo. Pela sua tentativa de me engabelar, eu poderia dizer que O.B significa "Osni Bobão". Mas sabemos que não é bem isso. O.B. é uma sigla para ohn e binden, isto é, as iniciais das palavras alemãs que significam "sem absorvente". Esse apetrecho foi criado em idos de 1950 pela ginecologista Judith Esser, na terra dos chucrutes, mas só aterrissou no Brasil em 1974, lançado pela Johnson & Johnson.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Lá vem o homem mau

Lembra do desenho do Papa-Léguas? Pois eu sempre torci pelo coiote. Chegou um momento que eu me sensibilizei com as frustrações do bicho em suas mil engenhocas. Nada dava certo para o coitado. E ainda tinha o ar debochado do pássaro com seu "beep-beep" constante.

- Estraçalha, coiote!

No fim das contas, ele nunca me lavou a alma, mas abriu minha concepção para um fato importante: eu simpatizava com os vilões. Aos poucos fui percebendo que eu não estava sozinho nessa perversão. Conheci gente que curtia o Frajola, o Esqueleto, o Hortelino Troca-Letras e até, pasme, a seleção da Argentina.

Isso me deixou encucado. Como os malvados podem exercer esse fascínio pelo público. Como não tinha mais nada de útil para fazer, fui divagar sobre o tema. Não demorou nadinha para constatar que os vilões, às vezes, são mais interessantes que os enfadonhos mocinhos. Ou será que você acha o Luke Skywalker mais legal que o Darth Vader? Embecado de preto, respiração arfante, voz trovejante e capacete malévolo, Vader sustentou no imaginário pop o título de maior salafrário de todos os tempos. Segundo uma lista norte-americana (como eles adoram listas), ele foi superado pelo Hannibal Lecter. Pô, convenhamos, perdeu para um bandido de primeira. Jodie Foster é uma escada para o desfile perfeito de Hannibal Cannibal e suas atrocidades, amoralidade e charme. Na minha humilde opinião, Sir Anthony Hopkins desempenhou uma das melhores performances da história da sétima arte.

Aliás, não lembro de ter visto Anthony Hopkins fazer o papel do capeta. Esse personagem já ganhou o rosto de vários atores de ponta. Só para começar, Al Pacino ("Advogado do Diabo"), Jack Nicholson ("As Bruxas de Eastwick") e Robert DeNiro ("Coração Satânico") emprestaram características diferentes ao tinhoso. Gosto muito da interpretação do Al Pacino: ar cafajeste, risadinha canalha e um tom de voz cheio de falsidade. Nem parece que o cara mede rasos 1,67m.

Vaidade, definitivamente o meu pecado favorito.

As mulheres também renderam boas perversidades. Em "Os Três Mosqueteiros", o Cardeal é o principal calhorda, mas Milady de Winter é tão escrota que acaba chamando a atenção. Morgana Le Fey também fez das suas. Coisa miúda, como enfeitiçar o próprio irmão, ninguém menos que o Rei Arthur, e conceber um filho com ele. E a Sharon, hein? "Instinto Selvagem" seria apenas um filme com boas cenas de sacanagem, mas a Catherine Tramell de La Stone criou um senhor rebuliço por causa de uma simples cruzada de pernas. Claro que não foi só isso, mas essa seqüência coroou um personagem único. Seria ela a melhor vilã? Pode até ser, mas o mal encarnado na figura feminina chama-se Rebecca de Mornay. Bicho, eu bato a vista nessa mulher e sinto calafrios. Deve ser por causa daqueles olhos azuis gelados ou o ar blasé embutido em sua beleza. Sei lá. Só sei que essa moça é do mal.

E também vale lembrar das histórias em que ninguém presta. Você consegue me apontar uma alma 100% nobre em "Pulp Fiction" ou "Cães de Aluguel"? E em "Tropa de Elite"?

O que me frustra é que faz tempo que não vejo um vilão realmente maneiro. Acho que desde o cruel Zé Pequeno. Talvez os sádicos Commodus ("Gladiador") e Rei Edward I ("Coração Valente") possam ser incluídos nessa relação. A maioria dos autores tenta agir corretamente e dar profundidade e ambigüidade aos bandidos. Até o Sawyer, de "LOST", nasceu como verme desprezível e hoje é um dos astros da série. Fica difícil não simpatizar com a causa do Magneto, ou os questionamentos do Coronel Kurtz. Putz, esse último merece um comentário. Acho que o Marlon Brando foi o pioneiro desse tipo de vilão com um bocado de coerência. Não só pelo Kurtz ("Horror, o horror!"), mas também pelo extraordinário Don Vito Corleone, mais conhecido como "O Poderoso Chefão".

Claro que o correto para qualquer boa história é aprofundar cada personagem, inclusive o vilão, mas sinto falta daqueles brucutus maniqueístas totalmente desmiolados. Mais exatamente como o Predador, o Jason, o Exterminador, o Chong Li ou a gang de motoqueiros que trucidou a família do Mad Max. Sinto falta da demência do Coringa ou do Lex Luthor (do Gene Hackman, de preferência). Por sinal, o Coringa será o próximo adversário do Batman em seu novo filme.

Acho que vou passar a torcer pela Argentina. Não, não. Preciso de um vilão de verdade. Hmmm... vou torcer pelo Vasco.

***

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,.
HE-MAN?
Amiguinho descerebrado, você está fazendo apologia ao mal? Que papo é esse de torcer pelos bandidos? Tsc, tsc, tsc... tu acha que é moleza encarar as presepadas do Esqueleto e sua mulambada? Vou relevar, porque sou o He-Man e minha tolerância é quase infinita. Na verdade, até compreendo as suas considerações. Bad-guys cativam porque, mesmo como referência negativa, são, psicologicamente, uma válvula de escape para a platéia. Mas, paremos por aqui, pois não quero tricotar sobre psicologia. He-Man resolve seus problemas na base da bordoada. Amiguinho, quando alguém lhe oferecer drogas, dia não. Até a próxima!

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

O homem de Itú

Você lembra da Rebeca? Aquela menina que passou uma noite de cão ao lado do Poderoso Thor? Pois ela me apareceu com outra história que merece registro do Surfista Platinado.

Quando Rebeca me ligou às onze da noite, eu sabia que eu teria pauta para escrever.

- Você não tem noção do absurdo que ouvi, querido - ela começou metralhando.

- Calma, Rebeca. Começa pelo começo. Quero saber os detalhes sórdidos.

- Conheci o Ataulfo e o cara parecia o príncipe encantado. Era bonitão, rico, charmoso, hetero, sem filhos... apetitoso. No que eu bati o olho, pensei: esse morre na minha mão.

- Continua.

- Então, ficamos conversando amenidades e ele me chamou para sair. Combinamos um jantar japonês. Querido, você sabe que jantar japonês é sinal de que o cara está investindo na situação. E eu estava louquíssima para ser investida. Eu queria virar sushi, mas torcia para que ele não tivesse pauzinho. Eu pensei nisso, mas nem imaginava o que estava por vir.

- Rebeca, comporte-se.

- Tá bom, tá bom. Desculpa, machão.

- E o Ataulfo?

- Doug, ele estava com tudo a favor. Não precisaria nem suar a camisa, mas ele mandou uma tão ruim, mas tão ruim, que o castelo se desmanchou.

- Mal posso esperar.

- Olha, nem durou muito. Fomos no Tanaka lá do Joá, e assim que sentamos, ele mandou um petardo que me deixou sem reação. Sabe o que ele disse?

- Conta logo, mulher.

Rebeca engrossou a voz.

- "Amor, preciso que você saiba uma coisa. Meu instrumento é imenso, então é difícil achar uma camisinha que caiba. Precisamos parar numa sex-shop para que eu compre uma tamanho GG". Doug, onde eu enfiaria a cara?

Maluco, nunca ouvi coisa igual. Nem nas crônicas da Bibi, vi um malandro disparar uma imbecilidade dessas.

- E você, Rebeca? Fez o quê?

- Assim que recuperei os sentidos depois dessa estupidez, pedi licença para ir ao banheiro, saí do restaurante e peguei um táxi para casa.

- Mandou bem.

- E o Ataulfo?

- Deve estar na sex-shop comprando camisinhas GG para o seu instrumento descomunal.


QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinhas, o papo agora é só para vocês. Como é possível que vocês se iludam com as aparências? Coisa de amadora, hein?! He-Man deveria lhe dar umas espadadas no bum-bum (no bom sentido). Não sou expert nas vivências femininas, mas nunca esqueci daquele ditado que dizia "por fora, bela viola. Por dentro, pão bolorento". Antes de qualquer perspectiva positiva, a dica é que você faça um test-drive no papo do rapaz. Bota ele para conjugar o verbo "ser" no pretérito perfeito, pergunta quem descobriu as Américas, verifique se ele sabe a tabuada de multiplicar por sete e outras coisas. Tenha o mínimo de critério intelectual, pelo amor de Deus! Amiguinha, não fale mal das suas coleguinhas pelos cantos. Isso é muito feio. Até a próxima!

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

A fina arte de espantar pretendentes

Adoro jantares românticos. De verdade. Acredito que valorizam as minhas intenções, a dama, o momento etc etc. Enfim, jantares românticos demonstram que você não está para brincadeira. Se bobear, eu curto mais que a própria convidada, que é a razão de ser do evento todo. O engraçado é como certas moças aproveitam esse sagrado momento para esquecer o bom senso na bolsa que ficou em casa. Como assim? Presta atenção.

Sabe quando tudo conspira a favor? O céu estava tão estrelado que faria inveja à cúpula do Planetário da Gávea. A temperatura amena estava adequada a um bom vinho e soprava um ventinho carinhoso. O local escolhido foi o Turino, restaurante discreto e silencioso localizado no deck do Barra Point. Vale a dica aos amigos aqui do Rio.

Peço licença para um lampejo metrossexual, mas vamos à produção:

1. Camisa da sorte, aquela que causa um efeito sobrenatural nas tchutchucas.

2. Polo Ralph Lauren (verde) no cangote.

3. Sapato tinindo.

4. Barba feitinha e unhas cortadas.

5. Banho tomado.

6. Carro limpo e sem quimono fedido no banco de trás (aprendi a lição).

7. CDs afrodisíacos no player (escrevo sobre os discos vem-cá-neguinha qualquer dia desses).

Ah, é hoje!

Teresa, a convidada, fez por merecer a preparação. Além de perfumada, maquiada e com cabelos finamente tratados, ela usava um vestido preto que reconheci da vitrine da Shop126. Tenho memória fotográfica para roupas femininas, especialmente aquelas que me rendem. Enfim, a mocinha estava com a faca e o queijo na mão. E eu estava ansioso para ser fatiado.

Conversa vai, conversa vem, tudo corria na normalidade. Lá pelas tantas, para minha surpresa, a vaca, lépida e faceira, começou tomar o rumo do brejo. E bem antes da sobremesa.

- Preciso te contar uma parada muito louca que aconteceu comigo - ela deu a partida.

- Conte - uma das regras de ouro do cavalheiro é deixar a dama falar à vontade e ouvi-la com atenção. Se ela quiser discorrer sobre elétrons, nêutrons e prótons, deixe-a livre.

- Antes de ontem fui visitar uma cartomante com uma amiga. Você sabe que adoro essas coisas. Sou vidrada em astrologia, tarô, i-ching e tudo do gênero. Qual o seu signo mesmo?

- Gêmeos.

- E ascendente?

- Não faço a menor idéia. Vou pesquisar e depois te conto.

- Faça isso. Então, visitei a cartomante. Ela falou umas coisas muito sinistras, que batiam com minha personalidade. Fiquei bolada.

- Imagino.

- Mas o mais bizarro estava por vir.

- Mal posso esperar.

- Ela disse que vou me casar.

- Mesmo? Que impressionante.

Peraí, isso é bem óbvio. Vou me tornar cartomante e ganhar uma grana fácil.

- Mesmo. Sabe quando? Em fevereiro.

Eita! Estamos em setembro.

- Fevereiro de que ano?

- Ano que vem.

Ai, ai, ai...

- Continua.

- Ela afirmou que vou casar em fevereiro do ano que vem.

- Logo na época do carnaval? Se eu fosse você, devolveria o abadá do Camaleão - não resisti. Preciso tratar esse meu sarcasmo escroto.

- Escuta só o que vem ainda. Ela disse que eu casaria grávida.

Glup.

- Grávida?

- Grávida. Louco, né? E tem mais: serão gêmeos.

- Gêmeos? Ela adiantou o nome do noivo?

- Não. Só adiantou que ele usa óculos.

Aimeudeus!!!!

- Teresa, que história incrível. Você acredita nas previsões da cartomante?

- Claro.

E em duendes? E na Xuxa e os duendes?

- Vamos pedir a conta?

- Já? Estamos nos divertindo tanto.

- Sabe como é. Amanhã acordo cedo.

- Amanhã é sábado.

- Faço ioga. Segundo minha professora, na manhã de sábado o planeta Terra estará alinhado com Saturno e Marte. Isso canaliza uma energia surreal.

Caramba! Fiquei chocado com a minha capacidade de falar uma abobrinha desse naipe. E assim de improviso.

- É mesmo?

- Sério. Garçom, a conta!

Fomos embora e decidi reencontrar Teresa só em março.


***

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Primeiro, amiguinho, reencontre a moça Teresa só em abril. Considere uma margem de erro para a previsão da cigana Zumira. Agora em um contexto geral, recomendo que você relaxe. O mundo está cheio de malucas. Algumas são até divertidas e rendem episódios como esse. Claro que não vale a pena pagar para ver e correr o risco de seguir a profecia dos gêmeos. Ah, e esqueça esse negócio de "camisa da sorte". Se você usar a mesma roupa em todo encontro especial, não há sorte que agüente. Devo confessar que a estratégia do Polo verde é ótima. Se você estiver otimista, borrifa um pouquinho no seu peito. Vai que a noite rende! Amiguinho, só atravesse a rua na faixa de pedestres e espere todos os carros pararem.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Os cavaleiros da távola redonda

Homens e mulheres são diferentes. Isso é tão óbvio quanto o frio do Pólo Norte. O que pega são os detalhes tolinhos que denunciam toda a imensa distância entre as duas naturezas. Não preciso filosofar muito. Basta apontar uma situação corriqueira de domingo à noite.

Fim do filme. Créditos finais na telinha.

Stop. Vídeo Out. Channel. Channel. Channel.

Beleza! Achei.

ELA: O que é isso?

EU: É uma mesa redonda. Aquele ali é o Gérson, o Canhota de Ouro, e aquele outro é o José Carlos Araújo, o Garotinho.

ELA: Hmpf! Achei que Garotinho fosse o ex-governador.

Opa! Sinto o princípio de uma crise.

EU: Não deixa de ser.

ELA: Que programa é esse?

EU: É uma mesa redonda onde a rodada do campeonato brasileiro é debatida.

ELA: Por quê?

EU: Como assim? Porque sim, ué.

ELA: Qual o fundamento?

EU: Bom, eles são especialistas em futebol e eles analisam os jogos e os jogadores. Não tem mistério.

ELA: Pra quê?

EU: Gatinha, você está criando caso por bobagem.

ELA: Juro que não, gatinho. Só quero entender a razão desses programas. Pra mim, mesa redonda é coisa do Rei Artur, Lancelot, Guinevere e tals.

EU: Guinevere não era cavaleira.

ELA: Era a rainha. Ela sempre estava por lá.

EU: Pois é, dando mole pro Lancelot.

ELA: Seu machista!

Ops!

EU: Esquece, eu mudo de canal.

Mudei para outro programa da crônica esportiva.

ELA: Olha só. Outro programa do gênero. Por que as noites de domingo são infestadas por esses programas?

EU: Tem o Fantástico. Quer que eu coloque no Fantástico? Tem a Glória Maria e o Zé Camargo.

ELA: Zeca Camargo.

EU: Quer ver o Fantástico?

ELA: Não, deixa aí no programa da távola redonda.

O silêncio não durou trinta segundos.

ELA: Foi pênalti?

EU: Foi. Claro que foi. Só o safado do juiz não deu. Olha só o totózinho que o atacante tomou no calcanhar. Bandido!

ELA: Assim fica fácil, né?

EU: Como é que é?

ELA: Com 368 câmeras, 485 ângulos diferentes, câmera lenta e efeitos de computador, até eu. Trabalho fácil o desses caras. Quero ver apitar na hora.

Ai, ai, ai.

EU: Não é tão simples assim.

ELA: Tá bom, que seja. Mas, vem cá, mesmo sendo ou não sendo pênalti, que diferença faz a análise desses gênios? O jogo é anulado por que as 2548 câmeras apontaram o erro?

EU: Não, veja bem...

ELA: Por acaso, o juiz assiste o programa e manda todo mundo voltar e cobrar o bendito pênalti?

Vou perder as estribeiras.

EU: Claro que não, pô. Que pergunta!

ELA: Então esses programas da távola redonda não fazem sentido.

Estava perdendo terreno. Chegou a hora de virar o jogo.

EU: E a novela faz?

ELA: O que tem a ver uma coisa com a outra?

EU: E aquelas revistas que você compra? E os sites que tricotam sobre os capítulos?

ELA: O que tem uma coisa a ver com a outra?


EU: Ler o caderno da TV ou os comentários do Leão Lobo vão mudar alguma coisa? A Leila vai deixar de matar a Odete Roittman?

ELA: Péssima essa.

EU: Responde.

ELA: Veja bem, não é bem assim.

EU: Sou todo ouvidos.

ELA: A novela é... tipo assim... é que... olha só...

EU: Sei.

ELA: Não, não sabe, seu pastel!

Hmmm... levantou o tom de voz. Vitória!

EU: Não, não sei.

ELA: Tem outro filme?

EU: Tenho. Qual você quer ver?

ELA: Um de amor.

EU: Fechado.

Eject. Tira o DVD. Coloca o DVD. Eject. Play.

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***

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Por que essa mania de procurar sarna para se coçar, amiguinho? As mulheres não entendem porque pagamos R$ 150,00 em uma camisa de futebol, mesmo tendo outras três no armário. E daí? Vai dizer que você entende porque elas pagam R$ 100,00 no cabeleireiro para cortar dois dedinhos de cabelo e anunciar "olha, fiquei careca". Cada coisa no seu lugar. Seja flexível e se comporte direitinho ou você ganha um castigo de duas semanas sem playground. Amiguinho, não maltrate os bichinhos. Eles também tem coração. Até a próxima.


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OBS: Aprendi a escrever cabeleireiro. Cabeleireiro, cabeleireiro, cabeleireiro...