quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Síndrome de Charlie Brown

Adoro os desenhos do Snoopy. Um dos meus episódios favoritos é um em que o Charlie Brown se desespera ao perceber que logo a escola entrará nas férias de verão e ele ainda não disse oi para a sua amada Garotinha Ruiva. Durante toda a história, "Minduim" convive com o pânico de querer se aproximar, mas esbarra em uma timidez monstruosa. Na conclusão (momento spoiler), ele não consegue falar com ela, mas descobre uma cartinha da sua musa e encontra esperança e força para atravessar os meses de férias.

Além da ótima trilha sonora de jazz, o que eu mais gostava nos desenhos do Peanuts era a criatividade de mudar o happy-ending. O finais nem sempre eram felizes, mas eram repletos de motivação. Belo desenho esse.

Enfim, esta intro nostálgica serve para ilustrar a situação de Margarida, uma amiga portuguesa que fiz aqui na Irlanda.No primeiro semestre, nossa heroína conviveu com uma atração platônica por um garoto da sua universidade. Tão grande quanto o seu encantamento era a sua timidez. Com a proximidade do recesso das festas de fim de ano, a moça entrava em desespero, pois ela queria dar um jeito no problema antes das férias. Eis a grande semelhança com o drama do bom Charlie Brown..

O rapaz vinha do leste europeu, não estou ao certo se era romeno, búlgaro, tcheco ou polonês. Enfim, era lá daquelas bandas. Ele trabalha em um café na universidade e, segundo ouvi, também era um sujeito tímido. Vamos chamá-lo de Garotinho Ruivo.

De tanto frequentar a loja do Garotinho Ruivo, Margarida já poderia ter arrumado um problema cardíaco. Cada visita era um copão de café e olha que ela fazia isso umas três vezes por dia. Porém, nada dele perceber.

Certo dia, ela até esbarrou com ele no ponto de ônibus, mas travou e perdeu a oportunidade de puxar assunto. No entanto, decidiu fortemente que tomaria uma atitude no último dia de aula.

Dito e feito!

Mesmo sentindo as mãos tremerem, a boca seca, suor frio e dor de barriga, Margarida entrou na loja de café decidida. Pediu um capuccino, olhou bem nos olhos do Garotinho Ruivo e disse.

- Hoje é o último dia de aula. Vamos sair para beber e comemorar. Os alunos do curso, professores e funcionários vão e eu acho que você poderia ir também. Você faz parte do grupo, mesmo que indiretamente.

Aliás, este approach foi analisado e planejado por várias garotas juntas. Todas ajudaram Maragarida a arrumar um discurso elegante para chamar o Garotinho Ruivo para sair

- Claro. Obrigado. Onde vai ser? – ele respondeu.

- Ainda não sabemos. Você quer ir?

- Quero.

Margarida quase engoliu o coração.

- Então anota o meu telefone – ainda com as mãos trêmulas anotou o seu telefone em um guardanapo de papel. Garotinho Ruivo sorriu e o guardou no bolso da camisa.

O encontro aconteceu e eu fui testemunha. Alunos e funcionários fizeram uma procissão por diferentes pubs e encheram o pote no melhor estilo irlandês. No entanto, Garotinho Ruivo não ligou. Nem neste dia nem no Natal ou no ano novo. Margarida se sentiu a menina menos interessante de Dublin e foi afogar as mágoas em casa.

Em janeiro, as aulas recomeçaram e Margarida percebeu que Garotinho Ruivo estava no mesmo balcão de sempre. Decidiu não dar mais bola para esta situação. Como toda mulher deve ter aprendido após o filme "Ele não está tão afim de você", quando o cara quer, o cara liga. Nossa heroína desencanou.

- Ei! – ela ouviu e reconheceu a voz. Era o Garotinho Ruivo.

- Oi. Feliz ano novo – ela respondeu.

- Feliz ano novo. Olha só, acho que houve algum problema com o número que você me deu. Eu te liguei, mas atendia uma outra pessoa.

- Como assim?

- Olha aqui - Garotinho Ruivo sacou o guardanapo amassado e romanticamente guardado. Margarida leu o número e...

Glup!

Tal e qual as histórias do Charlie Brown, algo deu errado. Por culpa da tensão, da ansiedade ou do nervosimos, Margarida anotou o próprio número errado.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, no drama de Margarida e o seu muso Garotinho Ruivo, o que mais chama a minha suprema atenção é um raríssimo exemplo de união feminina. Tal manifestação de companheirismo de calcinhas é tão esporádico quanto a visita do cometa Halley ou um título da Inglaterra na Copa do Mundo. Enfim, nossa amiga portuguesa corre risco de fazer jus às inúmeras piadas envolvendo os seus primos lusos, mas ela está perdoada. Eu sei o efeito devastador que causo nos hormônios das pobres meninas. Eu entendo como elas ficam desnorteadas e abiloladas diante de seu objeto de desejo. Margarida tá perdoada. Não vale dizer "tinha que ser portuguesa". Amiguinho, ao cortar as suas unhas, não deixe pedacinhos pelo chão. Seja limpo, pô! Até a próxima!!!

4 comentários:

Sandro Ataliba disse...

Muito boa a história! E a associação com a do "Minduim" é perfeita.

Eu também sou fã dele, mas meu episódio preferido é o da Prom night, quando ele finalmente recebe um beijo da garotinha ruiva.

AbraçO!

Van disse...

Puxa vida ! Quanta saudade tenho dos desenhos do Charlie Brown, eram simplesmente maravilhosos...me lembro muito bem do desespero dele com a Garotinha Ruiva...rsrsrs. E a tua história permeando tudo isso me fez viajar muito há tempos que vivi e foram muito legais. Já estou por aqui, virei fã e te sigo desde já. Grande Beijo.

Maria disse...

ai tadinha... que dó!

adorei a história. e eu amo peanuts.

Juliany Alencar disse...

Mas e aí? Depois dessa conclusão que o número estava errado, eles se pegaram???