segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Como um bárbaro ajudou um garoto tímido

Vi que lançaram o remake de “Conan”. Ainda não o vi, mas vou acabar cedendo e me enfiando em alguma sala aqui na Barra para poder falar mal depois. Pois é, não vi e já não gostei. Tenho uma relação nostálgica com o personagem.

Verão, 1985...

Meu primo apareceu com uma fita VHS e anunciou que era “Conan, o Bárbaro”. Eu nunca tinha ouvido falar. “Tem mulher pelada, pô!”, ele justificou e eu me interessei. O começo era sombrio, com 15 minutos quase sem diálogos.Toda a origem do cimério era contada sob uma trilha sonora colossal. Engoli a seco a sequência das mortes dos pais do moleque. Na cabeça de um guri que mal conseguia ler as legendas, aquela matança era algo muito chocante. Amarelei de vez na cena da arena. Era uma violência tão brutalmente explícita que desisti das mulheres peladas. Meu primo idem.

Verão, 1989...

Minha família e eu fomos passar férias na casa de uns amigos deles em Maceió. Os anfitriões tinham um casal de filhos adolescentes, que estavam viajando. Fiquei no quarto do garoto. Curioso e abelhudo como era (e ainda sou), fui fuçar a coisas do moleque. Descobri um baú destrancado. Abri.

Lembra da famigerada mala misteriosa de “Pulp Fiction”? Aquela que emanava uma luz dourada ao ser aberta, mas cujo conteúdo nunca fora revelado? Foi mais ou menos que o que aconteceu naquele baú.

Não havia um tesouro, mas uma cacetada de revistas. Eram várias edições de “A Espada Selvagem de Conan”, com aquelas capas clássicas pintadas a óleo. Geralmente, as artes variavam em três opções:

1) O bárbaro com alguma gostosa seminua aos seus pés;
2) O bárbaro trucidando algum monstro bisonho;
3) O bárbaro posando com olhos ferozes e a espada manchada de vermelho.

Os quadrinhos eram preto-e-branco, o que deixava a revista ainda mais adulta. Os diálogos também eram grosseiros e viris, do tipo “Saia do meu caminho, cão” ou “Por Crom, vou arrancar o seu coração com as minhas próprias mãos”. Eu tinha 10 anos e estava encantado pelo mundo violento de Conan.

Li tudo e continuei lendo por muito tempo. O guerreiro era quase um modelo de conduta torpe: fatiava os inimigos, tinha seu próprio código de honra, traçava todas as mulheres que surgiam e, muitas vezes, se ferrava. Mesmo sendo o (anti)herói, Conan já foi torturado, crucificado, preso, enfeitiçado e espancado, mas sobreviveu a tudo. Anos depois, já adolescente, tomei coragem e consegui ver o filme.

Confesso que tive três filmes que me traumatizaram quando criança: “Poltergeist”, “Tubarão” e “Conan”.

Havia um bloqueio infantil e eu tremia só de ouvir a canção de abertura. Engoli o choro e continuei. Como o cimério, venci meus medos. Adorei! Era uma história de vingança e sobrevivência com roteiro rápido e direção segura. A história foi escrita pelo Oliver Stone, que ano depois se tornaria um dos maiores cineastas do seu tempo. “Conan, o Bárbaro” foi o seu playground. No centro de tudo, estava Arnoldão, uma montanha de músculos com sotaque do leste europeu e os dentes da frente separados. Era quase um Cigano Igor, mas soube driblar as suas limitações e pavimentou o seu caminho para a fama.

“Conan, o Bárbaro” é um dos meus filmes broncos preferidos. Tem gente que venera “O Grande Dragão Branco”, “Robocop”, “Mad Max”, “Cobra” e outros ChuckNorris da vida. Eu acho que... Acho, nada. Eu tenho certeza que Conan faz essa moçada toda chorar abraçadinha com ursinhos de pelúcia.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, hoje aprendemos uma importante lição. A negligência dos pais pode dar brechas para que pimpolhos pueris possam descolar cópias clandestinas de filmes violentos. Em vez de ver o Dinossauro Barney, os pequerruchos podem se expor a títulos como “Jogos Mortais”, “Serbian Film”, “Game of Thrones” e “Xuxa e os Duendes 2”. É muito para as cabecinhas infantis. Amiguinho papai e amiguinha mamãe, fique de olho no que o seu pequeno tesouro vê na TV e na Internet. Vai que ele vira blogueiro com o passar do tempo. Amiguinho, falsificar carteirinha de estudante é feio, é crime e gera ódio – o meu, por exemplo. Até a próxima!!!

Como mencionar a colossal trilha de "Conan" sem apresentá-la:



10 comentários:

Lina Reis disse...

Vc ta roubando! Conte aos amiguinhos q vc nao esta mais na Irelandia ali no texto ao lado -->

Bjo-tchau!

Rui Santos disse...

Arnoldão é o cara, mas "O Grande Dragão Branco" é O filme! É ruim, mas é bom =P
Tô contigo no lance da carteirinha falsificada, abraço!

Surfista disse...

LINA, eu não estou mais na Irelândia faz tempo!

Sandro Ataliba disse...

Fala, rapaz.

Eu até hoje não assisti ao "Bárbaro". Só assisti ao "Destruidor". Mas mesmo assim esta também é minha primeira lembrança de "mulher pelada" na TV.

Mais um texto bem divertido.

Abraço

Creuza Moura disse...

Hehe, eu assisti este filme ,quando era criança e fiquei traumatizada com tamanha violência, me marcou e tinha pavor do shwarzenegger,
no entanto uma madrugada destas sem sono me peguei assistindo Connan o barbaro de novo! e pasme, gostando!
isso significa que minha tolerância a violência cresceu, e tio shwaze nem me intimida mais, kkkkk

mais uma postagem deliciosa.
adorei

Surfista disse...

CREUZA, obrigado! Você entendeu perfeitamente como eu me senti. Hoje, tenho o DVD do Conan com vários extas. É um épico menosprezado.

Maria disse...

você é meu autor favorito de nostalgias infantis =)

Surfista disse...

MARIA, obrigado! Tive uma infância lotada de bizarrices.

Navegante disse...

Eu tenho os 2 Conans em DVD! Na época eu fiquei um tanto chocado, mas me amarrei no fato dele ter uma força de vontade pra superar tudo de ruim que aconteceu - em outras palavras, eu sempre fui fã de bárbaros (e de bárbaras também, principalmente)

Mas confesso que Poltergeist também foi um filme que me traumatizou na época. Passou no Super Cine (sábado) num longínquo 5 de janeiro de 1986, eu tremi de medo, fechei os olhos pra não ver várias cenas, passei a noite em claro com medo de tudo, mas pela manhã de domingo me acalmei com a estréia de outro bárbaro, do distante planeta Thundera (episódio Exodus, o primeiro dos Thundercats originais)

Ps: eu ainda não sei como decoro certas datas, só sei que eu decoro :D

Maria disse...

star, que coisa bizarra isso de 5 de janeiro de 1986. acho que vc tá mesmo precisando de férias, viu? rs

e surfista, não é só pelo "material". é o "jeito" ;-)