segunda-feira, 5 de março de 2012

Diabo Verde em apuros - Parte II

- 1, 2, 3... 1, 2, 3, vai!

Com a marcação das baquetas, Marmota iniciou a apresentação do Diabo Verde, uma simpática banda da Barra da Tijuca diante dos homens de preto, por sua vez, simpáticos ao capeta. Depois dos urros iniciais, a plateia ficou em incômodo silêncio. O som não era pesado e as letras não falavam de desgraça, inferno, anjos caídos e outros temas cavernosos. A levada também não era feroz, com guitarras frenéticas e vocal da escola de canto Max Cavalera. Era rock e nada mais.

- Toca Sandy e Júnior! – gritou o primeiro homem de preto da fila do gargarejo.

- Toca Xuxa! – gritou outro. O Diabo Verde continuou tenso, à espera de um copo voador ou uma garrafa de cerveja. Era um olho na dália com as músicas e outro na muvuca e um nada improvável ataque à la Carlinhos Brown no Rock in Rio 3.

Ao lado do palco, a próxima banda simulava um passinho do tipo can-can. Duílio, meu amigo vocalista, percebeu e encarou um dos integrantes mais animadinhos. O cara percebeu e, sem qualquer esforço, fez cara de mau.

Tive uma adolescência bem nerd. Quando eu era moleque e jogava o RPG Vampiro – A Máscara, havia um poder chamado Olhar Aterrorizante. O personagem podia gelar o sangue da vítima com apenas uma encarada. Nesse momento, o cara de preto na coxia pareceu ter esse poder e Duílio sentiu que engrossar com aquele sujeito era uma péssima ideia.

O show acabou e inexplicavelmente, nenhum objeto foi atirado no Diabo Verde. Na verdade, rolaram até alguns aplausos tímidos. Enquanto alguns roadies preparavam o palco para o próximo show, Duílio percebeu que o outro maluco queria tirar satisfação sobre a encarada inoportuna.

- Aí, quero falar contigo. Tu achou ruim a nossa dança? – o cara disparou sem rodeios. De perto, parecia ser realmente intimidador. Duílio previu uma morte anônima com o corpo sendo enviado para o hospital de Duque de Caxias e depois para as aulas de medicina da UFRJ. No dedão do pé, uma etiqueta "roqueiro, anônimo e burro".

- Bom, não é bem assim.

- Achou ou não achou, porra?

- Na boa, não precisava. Achei indelicado.

- Achou indelicado?

Será que o cara sabia o que significa "indelicado"?

- Achei.

- Desculpa então.

Peraí. Para tudo! "Desculpa" não estava previsto. Cadê o soco no nariz e a pancadaria generalizada.

- Sem problemas, cara.

- A gente curtiu o show. De verdade, porra! A gente até dançou um pouquinho, mas a gente não sabe dançar, morou? Vocês são bons. A música é maneira e pode tocar no rádio.

- Pô, obrigado.

- De verdade. Som maneiro mesmo. A gente é que é um bando de desgraçado. Só cantamos miséria. Só lixo.

- Não devem ser lixo.

- Somo sim, e nos orgulhamos disso, porra!

- Então, tá. Até a próxima.

Duílio e os outros membros da banda receberam a merreca do cachê e se mandaram. Nunca mais tocaram em festivais desconhecidos. Na verdade, tocaram poucas vezes depois. A banda se dissolveu sem crises de ego, overdoses, bebidas ou a Yoko Ono. Simplesmente, resolveram concluir os estudos. Vida de rockstar é muito arriscada.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, hoje aprendemos uma importante lição. Na verdade, duas. A primeira é que nunca devemos encarar sujeitos mal-encarados em um ambiente desconhecido e hostil. O segundo é que nem sempre, as pessoas desprezivelmente mal-encaradas são ruins de espírito. Pode até ser que elas não tenham tanto amor no coração, mas podem ter uma centelha de compaixão. Não julgue os coleguinhas feios e brucutus. Amiguinho, se ela não atende os seus telefonemas e seus torpedos, é porque ela não está afim de você. Até próxima!!!

3 comentários:

Nadja G. disse...

hahahaha AMEI!!! Achei que o cara ia dizer algo tipo PEGA AQUI NO MEU INDELICADO ENTÃO hahahaha

beijos

Rui Santos disse...

Que desventura desses caras...abraço, Surfista!

Barbara disse...

hahaha! Sinistro!

Mas ainda é melhor ele cair no gosto dos metaleiros, do que nos da Família Restart.. tudo lixo do mesmo saco, ou não!