Quando eu era moleque, havia uma euforia diante das
novidades. A chegada de um disco inédito dos Guns’n’Roses ou do Nirvana era
celebrada como se fosse a vinda do Messias e sua patota. Lembro do alvoroço e
do ti-ti-ti quando Axl e seus comparsas anunciaram a chegada do “Use your
Illusion” – dividido em dois discos. Teve clipe no Fantástico e matérias da
MTV, na época em que a MTV era legal e tinha a Astrid, a Cuca e o Zeca Camargo
no seu cast.
Cada filme ou disco inédito era esperado com fervor e
curtido com ardor quase religioso. Eram tempos de “Vingador do Futuro”, “Indiana
Jones e a Última Cruzada”, “Jurassic Park”, “Exterminador do Futuro 2” e as
aventuras do Van Damme no cinema poeirento da rua. O primeiro filme 3D que vi foi
um da franquia de “A Hora do Pesadelo” e tinha os efeitos tridimensionais mais
xexelentos da história da sétima arte. Mas era legal usar aqueles óculos
coloridos e fingir que tinha visto a imagem saindo da tela.
Eram tempos de chamar a gatinha para pegar uma matineé de “Ghost”
e depois tomar um milk-shake de ovomaltine no Bob’s. Se rolasse uns beijinhos
na sala escura, seria a vitória total. Depois, ainda rolava intermináveis papos
ao telefone - até o papai ou a mamãe mandarem desligar.
- Você é sócio da Telerj? Desliga esse telefone, pô!
Tinha também locadora no bairro, onde eu era amigo do
balconista e ele reservava os lançamentos para mim. Era o tempo de pegar vídeo
de sacanagem escondido dos pais. Certa tarde, eu peguei “A Bela e a Fera” e a “A
Professora Gulosa”. Só mostrei “A Bela e Fera”.
Falando em sacanagem, a Playboy era a principal fonte de
peitinhos famosos. As gostosas da capa eram conhecidas do grande público e tinham
a beleza duvidosa típica daqueles anos. Convenhamos, era quase uma roleta-russa
e você podia esbarrar com a Luciana Vendramini na flor da mocidade ou com a
Elba Ramalho nos tempos em que cabelo rebelde era fashion.

Hoje em dia, não há mais euforia com a chegada de alguma
novidade. Sinto que há uma tensão, uma apreensão sobre o que há de ainda mais novo
e o que ainda pode estar a caminho. O indivíduo compra o IPhone 5 pensando no
iPhone 6 ou no Galaxy S8. Os filmes chegam em trilogias. Os vampiros brilham ao
sol do crepúsculo e as heroínas têm cara de tédio. O 3D funciona de verdade. Os
telefones fazem tudo, inclusive ligações. O videocassete foi para o limbo das
máquinas de escrever. UFC é um sucesso. Royce Gracie perdeu para o Matt Hughes.
Os discos podem ser comprados via celular. As gostosas da Playboy continuam
gostosas, mas não sei quem são elas. Luciana Vendramini continua uma delícia. A
MTV está um saco. Tudo é muito rápido. Muito furioso. Não dá para curtir as
novidades. Tudo está conectado. O suspense é menor. Tenho medo de virar um dos
gordinhos de “Wall-E”, mofando diante de um computador e esquecendo que a vida
está lá fora ansiosa por ser descoberta – e aproveitada.
QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, deixa de ser chorão. A lição é que as lembranças
da adolescência sempre estão atreladas a uma sensação de felicidade pueril.
Você era garoto e o mundo ao seu redor era maneiramente adequado. Pergunta se
algum moleque espinhento de hoje em dia trocaria a sua vida e o seu Facebook
por viver naquela época em que “Barrados no Baile” era a coisa mais cool do
mundo? É ruim, hein! Você só vai virar um gordinho do Wall-E se quiser. Saia já deste computador e vai ver a vida lá fora, pô. Amiguinho, mantenha o seu banheiro limpo e arrumado. Até a próxima!!!