terça-feira, 4 de março de 2008

O caso do passeio em Estocolmo

A segunda parte da trilogia Casos de Polícia conta o drama de Rocha e um inesquecível passeio noturno. A história é um pouco longa, mas vale a pena.

Rocha e sua então namorada tinham acabado de sair de uma cerimônia de casamento e rumavam para a festa em um hotel em Copacabana. Como sempre, ele queixava-se da fome. Ela queria um prosseco. Subitamente, foram bloqueados por um Santana e rapidamente cercados por quatro homens armados.

- Abre o carro! - Rocha travou as mãos no volante e pensou em arrancar com o carro. Olhou para a namorada e desistiu. Abriu a porta e sentiu o cano gelado do revólver na sua cabeça.

- Pode levar o que quiser. Deixa a gente aqui.

- Nada disso, a gente quer levar vocês para dar uma voltinha.

- Então deixa que eu vou sozinho. Ela é nervosa e pode atrapalhar o trabalho de vocês.

O bandido da porta observou a moça aos prantos e acatou a dica.

- Beleza, ela fica aqui. A bolsa e o celular são nossos. Você, garotão, pula para o banco do carona.

Assim foi feito.

- Menina, pensa bem no que você vai fazer. Estamos com o seu homem.

Rocha ficou no banco do carona e um segundo assaltante armado no banco de trás. O Santana com os outros dois seguiam logo atrás.

- Garotão, você lê jornal? - perguntou o motorista.

- Leio.

- Então você sabe que nesses casos sempre sobra para o refém. Fica na sua.

Mensagem captada.

O passeio passou por alguns caixas eletrônicos. Rocha e o motorista ficavam no carro e o homem do banco de trás ia ao terminal sacar o que pudesse. O seqüestrado imaginava que logo seria liberado, afinal, eles já tinham dinheiro e o carro. Ledo engano. Ficaram rodando pela cidade madrugada adentro, passando por bairros distantes e várias viaturas da polícia. Lá pelas tantas, Rocha começou a sentir os efeitos da Síndrome de Estocolmo.

- Posso ligar um CD? - perguntou Rocha.

- Por que? - questionou o raptor de trás.

- Porque o clima está muito tenso.

- Você tem Roberto Carlos? - interessou-se o motorista.

- Não tenho. Serve Djavan?

- Não, Djavan é pentelho. Você tem o que de música romântica? Gosto de música romântica - decretou o motorista.

- Tenho Zezé Di Camargo e Luciano?

- Legal! Bota aí.

E seguiram ouvindo Zezé Di Camargo e Luciano.

- A gente só está esperando um sinal. Seu carro foi encomendado e estamos fazendo o frete. Fica calminho que já está acabando.

- Não é meu. É do pai da minha namorada. Por quanto vão comprar o carro?

- Sei lá.

- Pago 500 para vocês deixarem comigo.

- Pra cada um?

- Estava pensando em 500 para todos. Estou baqueado depois do saque inesperado na minha conta. Considerem como um bônus.

- Vamos pensar no seu caso, mas sua proposta está baixa.

- Pensa com carinho.

Quase uma hora e meia depois, o cara do banco de trás informou que o sinal foi recebido. Nessa altura do campeonato, eles estavam na Vila da Penha, um bairro muito distante (tendo como parâmetro a Zona Sul do Rio). Pararam o carro na primeira esquina.

- Desce - ordenou o motorista. Rocha desceu.

- Aqui fica bom pra você? - perguntou o do banco de trás.

- Não, tô perdido aqui.

- Avenida Brasil melhora a sua vida?

- Melhora.

- Quer carona?

- Eu quero.

E foram os três até a Avenida Brasil ouvindo Zezé Di Camargo e Luciano.

- Melhorou? - quis saber o motorista ao chegarem na Avenida Brasil.

- Mais ou menos. Estou sem um centavo, né?

O cara do banco de trás abriu a carteira do Rocha e pegou vinte reais.

- Toma esse dinheiro para o seu táxi.

- Espera. Pega meu cartão. Vamos negociar o carro no futuro.

Os bandidos pegaram o cartão, deixaram a grana e ainda desejaram uma boa noite. Nas semanas seguintes, os malfeitores ligaram para Rocha e negociaram o carro. Segundo ele, foi um bom negócio.

Os Casos de Polícia continuam...

QUAL A MORA DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, a inquestionável lição foi dada pelo vilão: "sempre sobra para o refém". Entonces, nada de querer bancar o esperto ou o herói. Essa é a minha função e eu garanto que não é nada fácil. Tente manter-se calmo e obedeça as ordens dos sequestradores. Nesses momentos, o clima é muito tenso e qualquer atitude brusca virar uma tragédia. Amiguinho, ajude sempre a mamãe nas tarefas do lar.

8 comentários:

Anônimo disse...

Tenho uma historinha muito boa de negociação com bandidos por aqui, um dia eu te mando. Essas coisas me fazem pensar se devo me habituar a sair com um cartão de uma conta em que tenho dinheiro. Geralmente, nunca faço isso. Sempre saio com uma quantidade de suficiente pra razoável de dinheiro e só. Mas sei lá... talvez seja mais seguro ser sequestrada e extorquida do que não ter cartão nenhum e levar um tiro, não é não?

Biessa disse...

Já passei por coisa parecida, mas os caras só me deixaram o dinheiro pro ônibus. =/

Beijo!

Anônimo disse...

Tem presença de espírito, esse Rocha..rs
Tava viajando e agora colocando a leitura do seu blog em dia. À propósito, essas estórias de bandidos aconteceram com vc?

Surfista disse...

MARIA, manda a sua história para o meu e-mail. Tá logo aqui na barra da direita.
BIBI, seus ladrões eram mais muquiranas.
MARCIA, que bom que você voltou. Sou apenas o relator das aventuras, mas elas rolaram de verdade. E Rocha é uma figuraça.

Drika disse...

é, eles foram bastante generosos com o táxi.

resp.
querido surfista, mirei no que vi e acertei onde não vi, né?!?!
acho q pior q torpedo é scrap!
eeeca!

bjs

Ruiva disse...

Ninguém merece...
Depois te mando uma historia meio bizarrinha também, que me aconteceu ano passado.

Beijos.

Ruiva disse...

Minha afilhada é uma figura. Ela nem tinha 3 anos quando mandou essa pérola. Não sabia nem falar direito e já me sacaneava, a sujeita..
:D

Anônimo disse...

Eu já passei por caso parecido, mas bem menos trágico, envolvendo os 'hômi' nos meus primeiros anos de carteira de habilitação, incluindo galera no carro, alcool no sangue e blitz. Faço que nem Maria: te passo depois por email