
Um grupo de feministas norte-americanas decidiu manifestar seu desejo por liberdade (em diversos sentidos) em um lendário protesto. Segundo registros, as moças empilharam uma cacetada de utensílios femininos, como sapatos de salto alto, espartilhos, cílios postiços, corpetes e sutiãs. Uma das gurias teve a ideia de tacar fogo em tudo. Os ânimos incendiários foram contidos pela polícia local, que ameçou levar todo mundo em cana ou mandá-las de volta para o fogão. De fato, a tal fogueira não exisitiu, mas a intenção criou mais que uma lenda: criou o divisor de água entre as mulheres submissas e a geração de fêmeas enlouquecidas que invadiu os anos 1970 com calças Saint-Tropez e pílulas anticoncepcionais.
Essa é a minha visão da história e introdução para uma aventura minha. Vamos pular dessa década longínqua para o nosso aprazível século XXI.
Mesmo com anos e anos após o bra-burning (queima dos sutiãs), o homem ainda se vê na posição de completo comando. Essa opinião só muda quando alguma fêmea esfrega em sua cara a verdade nua e crua: não há poder nenhum. Foi assim comigo.
Era uma vez, o ano de 2007...
Tudo começou em uma noite fria com uma reunião de amigos e algumas garrafas de vinho sobre a mesa.

Taça vem, taça vai, e eu já estava facinho. Bons tempos pré-Lei Seca...
O grupo de amigos começou a debandar. Como eu estava de carona, precisaria me infiltrar em algum carro ou pegar um táxi.
- Relaxa. Eu te deixo em casa – Elis, musa de olhos faiscantes, se ofereceu e eu topei.
Até aí, nada de absurdo.
Voltamos com o humor em alta e a língua solta pelo bom vinho tinto.
Gracinha vem, gracinha vai, estávamos ambos facinhos. Eis que Elis tomou as rédeas da situação.
- Para onde você está me levando, garota?
- Fica na sua. Você está muito tenso.
Minutos depois, eu estava no apartamento da moça. De verdade, eu estava achando tudo muito legal, mas permanecia aquela impressão de que algo estava fora da ordem natural. Teoricamente, a condição de dominante deveria ser a minha, certo?
- Tira a roupa.
Como assim? Essa mulher está exigindo que eu me dispa? Que absurdo! Virou bagunça?
- Tira logo.

Tirei.
Na manhã seguinte, acordei sozinho. Elis estava em algum outro cômodo do apartamento. Catei minhas roupas com uma sensação de que algo estava muito errado na hierarquia do "quem manda / quem obedece". Ela estava tomando café e percebeu a minha aproximação.
- Dormiu bem?
- Sim.
- Quer que eu te leve em casa?
- Não precisa.
- Vou chamar um táxi pra você.
- Obrigado.
- Quer que eu pague?
Hein!?!?! Ah, não! Taquelpariu! O que está acontecendo? Eu me senti uma "periguete". Fui raptado, usado e dispensado com o raiar do dia com o táxi pago. Que humilhação! O que os meus ancestrais machos, broncos e sinistros iriam pensar de mim?
- Não precisa.
Esperei o táxi chegar e voltei para casa sem entender a situação. Durante muito tempo, eu realmente me senti uma periguete. No fim das contas, achei sensacional.
Viva a queima dos sutiãs!

HE-MAN?
Amiguinho, tá incomodado? Pois, incomodado ficava a sua avó, pois as netinhas dela não estão para brincadeira. Não adianta mais fechar os olhos para o inevitável: estamos lascados. A mulherada deixou de ser resignada e quer mais do que o papel de coadjuvante. Elas descobriram que têm a faca e o queijo na mão. Sabe o que nos salva, amiguinho apavorado? Mesmo com esse poder todo, elas só se sentem preenchidas ao lado de um homem. Na verdade o plano tem requintes de crueldade: elas fingem que precisam de colo e deixam a gente, pobres machos, com aquela falsa sensação de controle. Não é brilhante? Amiguinho, lembre-se de apagar as luzes quando elas estiverem sem uso. Até a próxima!!!
UM ESCLARECIMENTO: Elis e eu tivemos um caso. Isso deixou a brecha para essa atitude mais incisiva, mas não tirou a valentia. Eu não iria contar isso, mas achei justo pontuar.