segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O medo da chuva

Nas últimas semanas, o Rio anda diferente, inconvenientemente cinza. Mesmo às portas do verão, a cidade ainda está com temperatura amena e chove. Na verdade, chove bastante. Agora, enquanto escrevo estas linhas, chove. Aliás, só escrevo por causa da chuva.

Era uma vez...

Na época da faculdade, eu me interessei por uma micareteira de carteirinha, daquelas que cantam as (!!!) músicas do Asa de Águia com os olhinhos fechados. Vou chamá-la de Ivete, por razões óbvias.

Na verdade, lembro pouco de Ivete. Minha memória residual se limita aos cabelos compridos, às coxas grossas e à sua coleção de shortinhos – jeans, brancos, floridos, rasgados, desfiados, estampados, coloridos, listrados, crus. Enfim, de todos os tipos. E os benditos shortinhos caíam bem com a bunda durinha de moça malhadora de 21 anos. Ah, coloquei a Ivete na minha cartinha para o Papai Noel.

Pausa para reflexão! Amigo daí do outro lado da telinha, você já reparou como os shortinhos despertam diferentes sentimentos? Namorada de shortinho incomoda. A vizinha gostosa de shortinho é legal. Pode ser a mesma peça. É uma forma divertida de ciúme.

Estrategicamente, acionei os amigos em comum e passei a frequentar os mesmos encontros sociais da Ivete. A gente conversava sobre trivialidades e ria. É o primeiro estágio da sedução: demonstrar-se interessante, aberto e compatível.

Parêntesis! Quando eu menciono "frequentar os mesmos encontros sociais", esqueça micaretas. Nem pensar! Como diz o velho amigo Dudu, "aquela alegria toda me incomoda". E eu não quero ninguém mandando eu tirar o pé do chão ou agarrar na corda do caranguejo ou dançar o rebolation. Fecha parêntesis.

Certo dia, eu estava jogando basquete e eis que aparecem Ivete e uma amiga. Caraca! Que providencial. Eu estava em forma, suado e jogando bem. Nos intervalos dos jogos, eu borrifava água no pescoço e fazia de conta que estava em um comercial do Calvin Klein.

Desculpa, outra pausa! Esta história levanta uma série de reflexões pertinentes. Vamos lá. As
outras mulheres do círculo social têm papel fundamental no processo. Acho que ter como aliadas as amigas do alvo representa 20% ou 30% da campanha. Agradar a fêmea-alfa do bando, a líder da patota, tem bônus. Segue o jogo.

Eis que começou a chover. Mais exatamente, cair uma tempestade. Corremos para um abrigo. Aliás, todos, menos Ivete, que ficou paradinha. Caminhei até ficar ao seu lado. Ela estava de olhinhos fechados e sorriso discreto. Os pingos grossos e gelados de água explodiam no seu rosto e nos seus cabelos compridos.

- Tudo bem? – perguntei.

- Não sei por que as pessoas têm medo da chuva.

- Medo de pegar gripe.

- Bobagem.

- E os relâmpagos?

- Fazem parte. Só isso.

Não falei mais nada. Fiquei ao lado dela tomando banho de chuva. Não rolou nada nesse dia. Ficou para depois. Durou pouco. Ivete sumiu e nunca mais tive notícias dela. Talvez ela ainda curta micaretas. Talvez ela ainda tenha uma coleção de shortinhos. Quem sabe? Não importa muito. Ficou a lembrança daquela tarde tempestuosa de verão. A tarde em que perdi o medo da chuva.


QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, que fofo! O Homem mais Poderoso do Universo pode te dar um abraço? Então, hoje aprendemos uma importante lição. O nosso dia a dia é lotado de pequenos momentos especiais e significativos. O problema é que muitas vezes, focamos em problemas e acabamos perdendo ótimas oportunidades de contemplar pequenos detalhes que podem parecer tolos, mas são carregados de valor. Abra os seus olhos. Amiguinho, para prevenir gripe, tome frequentemente doses de Vitamina C, em tabletes ou em frutas como laranja ou tangerina. Até a próxima!!!

6 comentários:

Sandro Ataliba disse...

Cara, você é realmente um contador de histórias. rs
E eu realmente imaginei, no momento em que você disse "passei a frequentar os mesmos encontros sociais", você indo a micaretas. Mas realmente há sacrifícios que mulher nenhuma merece.
Quanto à chuva, está realmente estranha esse ano. Mas, para mim, melhor isso do que aquele maçarico.
Abraço!

Anônimo disse...

A impressão que dá é que consegue contar QUALQUER história de uma maneira interessante e que prende a atenção. Até aquelas baseadas no roteiro da Turma do Didi.

Surfista disse...

SANDRO, acabou o "friozinho". O calor africano voltou!

GABRIEL, cara... não sei como agradecer. Talvez pela forma mais simples, né? OBRIGADO! :-)

Thaís Alves disse...

hahaahahaha adorei! As melhores coisas da minha vida, sempre aconteceram tomando chuva na cabeça... inclusive conhecer o meu marido. E que pena que não rolou nada no dia, pq namorar na chuva é bom! rs

Abs!

Surfista disse...

Pois é, não rolou nada no dia chuvoso. Talvez isso tenha ajudado a imortalizar o momento na minha memória.

Juliany Alencar disse...

Achei fofo o post!
E você sempre engraçado... "Nos intervalos dos jogos, eu borrifava água no pescoço e fazia de conta que estava em um comercial do Calvin Klein".