quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Diabo Verde em apuros - Parte I

Duílio, meu amigo de longa data, é o típico cidadão respeitável: pai de família, profissional competente, flamenguista e apreciador dos bons drinks. Curiosamente, ele não foi tão pacato em outros tempos. Este mesmo indivíduo sossegado já foi vocalista de uma banda de rock que excursionou por vários muquifos roqueiros do Rio de Janeiro. Entre diversas presepadas, uma noite do Diabo Verde (então nome da banda) merece nota.

Era uma vez, uma noite em Piabetá...

Surgiu o convite e o Diabo Verde topou. Tocar em um festival de rock na Baixada Fluminense poderia ser uma experiência importante para a banda. Na noite do evento, Duílio, Marmota e Ricky arrumaram os instrumentos e partiram para Piabetá, distrito da aprazível Magé.

Lenda ou não, naquela época, Piabetá era vista como uma das regiões mais violentas da Baixada Fluminense. Era como se fosse Tombstone ou o sertão do Lampião. Enfim, era um lugar que deixava as mães de roqueiros com o coração na mão.

Como não poderia ser diferente, o local do festival era esquisitíssimo. Para ficar com mais clima de terra sem lei, o bar tinha um jeitão de saloon, com aquelas portas de filme do John Wayne. Ainda no clima western, o público era mal-encarado como o elenco de "Um Punhado de Dólares", do Sergio Leone. Um horror total, mas que ficaria ainda pior.

Se muita demora, os músicos do Diabo Verde perceberam que a chapa iria esquentar. A primeira banda no palco tinha uma música quase inteligível. Sob a barulheira colossal, podia-se perceber a repetição de algumas palavras como "anticristo", "inferno", "perdição" e por aí vai. A plateia ensandecida urrava.

- Tem algo estranho. Marmota, quais são as outras bandas? – perguntou Duílio, nos bastidores.

- Sei lá, pô. Chamaram a gente e eu topei. Aqui o cartaz, ó – entregou um folder vagabundo ao vocalista.

- Caceta, cara! Isso aqui é um festival de rock satanista!

- E vocês não são satanistas? – se intrometeu um produtor do evento.

- Não, não somos satanistas.

- E esse nome? Diabo Verde é o quê?

- É um produto de limpeza, meu amigo! É um desentupidor de banheiro. A gente toca rock alternativo.

- Ihhhhh.

Para bom entendedor, o "ihhhhh" do produtor foi interpretado como "danou-se! Vocês vão morrer".

A segunda banda tinha o vocalista fantasiado de Toninho do Diabo, Exu Caveira ou alguma bizarrice do gênero. No meio do show, ele se jogou no público e foi engolfado pela muvuca de camisetas pretas. Para surpresa de todos, não foi um mosh amistoso e convencional. Segundos depois, o cantor estava trocando socos e pontapés com um dos fãs. Os dois se atracaram e foram arremessados para fora pelo segurança da casa. Mais do que nunca, parecia o western dos infernos, mas, assim como os músicos do Titanic, a banda não parava de tocar.

Pouco depois, o cantor retornou com o nariz ensanguentado e alguns hematomas. Com dificuldade, ele conseguiu retornar ao palco. Ergueu os braços, levando a turba ao delírio, e finalizou o show.

- Ei, Diabo Verde, vocês são os próximos. Boa sorte para vocês! – anunciou o produtor.

Bom, como o relato está se alongando muito e você tem mais o que fazer, vou contar como foi o encontro do Diabo Verde e os seguidores do capiroto no próximo capítulo.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, a moral deste primeiro capítulo é moleza. Não seja preguiçoso e leia sempre os termos e informações sobre qualquer coisa que você vá se envolver. Isso pode evitar que você se meta em uma furada dessas. Amiguinho, faça como Danuza Leão: dê um rumo para as roupas que você não usa há mais de um ano. Até a próxima!!!

Um comentário:

Sandro Ataliba disse...

Já passei por furadas parecidas em minha época de banda. Mas para a outra ponta do espectro. Imagina uma banda de metal tocar no meio de bandinhas pop. rs
Abraço!