segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

2007: Dias de trovão

Reparou como esse ano voou? Percebeu como 2006 também passou a jato? Essa velocidade toda dá um frio na barriga. Parece que foi semana passada que o país pulava carnaval. Parece que foi ontem que eu viajei na páscoa. Putz, a vida está passando pela janela e eu não sei se estou apenas curtindo o passeio ou guiando a aeronave.

É engraçado como a gente cresce e nossas cobranças aumentam muito. É preciso ter raça para lidar com isso. Então, é tempo de refletir e planejar, pois o ano que vem tem que ser muito melhor. Precisa ser. Então, é justo catalogar o que de mais interessante rolou para que tudo se torne lição, experiência e base para que novos erros não aconteçam. Faça sua lista e aprenda. Corra atrás. Como? Use a sigla D.T.J., isto é, Dá Teu Jeito!

Ah, é claro, preciso mencionar. Caí na blogosfera. Pois é, logo eu que sempre critiquei os blogs. Dei asas ao Surfista Platinado (ou será o contrário?) e descobri como é gostoso escrever e ser lido. Também descobri gente com idéias bacanas e textos inteligentes. Ah, He-Man também foi fundamental nessa história.



QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?

Feliz ano novo!!! Faça melhor, seja melhor e vamo que vamo. E anote na sua agenda: ocupe sua mente apenas com o que lhe traga esperança.

domingo, 23 de dezembro de 2007

O Natal do Surfista Platinado

A campainha tocou e pulverizou o silêncio que me cercava. A reação foi imediata: arregalei os olhos no susto e trinquei os dentes. Acordei desnorteado.

Que horas são? Que dia é hoje?

Voltei a mim e fiquei de pé. Lembrei que não costumava usar relógio. Também lembrei do dia. Era sábado e o sol na minha janela indicava que não era tão cedo.

Outra vez a campainha. Que inferno!

Fui ao banheiro e joguei água no rosto. Peguei um boné desbotado do Chicago Bulls e berrei:

- Já vou.

Andei trôpego que nem o personagem bêbado de Chico Buarque em "Construção" e cheguei ao olho mágico da porta. Pela imagem arredondada reconheci as minhas vizinhas gêmeas. Eram duas garotinhas de uns oito anos de idade. Pelo menos eu já sabia que elas queriam alguma coisa de mim. Em suas últimas visitas, as gurias vieram para me vender a rifa de uma bicicleta, descolar algumas balas no dia de São Cosme e São Damião, pedir agasalhos para a campanha de inverno da igreja ou exigir minha assinatura em um abaixo-assinado para que os Backstreet Boys voltassem ao Brasil.

- Olá menininhas.

- Oi.

- Querem entrar?

- Não precisa.

- É jogo rápido - a outra emendou.

- O que eu posso fazer por vocês?

- Gostaríamos que você levasse essa carta ao correio para nós.

- Sim, por favor. Já está selada, mas se precisar de outro selo para o Pólo Norte você paga e pega o recibo. Depois a gente acerta – uma falava e a outra completava. Uma das duas gêmeas me estendeu um envelope cor-de-rosa devidamente selado.

- Como assim Pólo Norte?

- É pro Papai Noel.

- Pra quem haveria de ser no Pólo Norte? Para o Rodolfo, a Rena do Nariz Vermelho?

Eu ainda estava acordando, mas logo me situei. Já era dezembro. Nessa hora pensei em algo óbvio, mas que nunca havia me passado pela cabeça. Será que Mamãe Noel, os duendes e as renas ficam tristes por nunca receberem cartas das crianças? Só o Bom Velhinho é procurado, enquanto que toda a sua equipe operacional fica praticamente anônima. Taí um caso a se pensar, mas em outra hora.

- Por que a mãe de vocês não coloca essa cartinha no correio? – perguntei.

- Porque ano passado pegamos mamãe e papai lendo o nosso pedido.

- Isso mesmo. Foi um baita flagra. Eles tiveram que gastar dinheiro com os presentes, pois não quisemos mais escrever outra carta. A confiança é conquistada depois de um tempão, mas é perdida muito rapidamente.

Garotas espertas.

- E por que vocês confiam em mim?

- Porque você parece legal.

- Você já comprou nossas rifas, doou casacos pra campanha de inverno da igreja, arranjou vários chocolates no dia de Cosme e Damião...

- E também assinei o abaixo-assinado dos Backstreet Boys - completei. Eu havia me tornado um homem explorado por duas gêmeas que nem tinham completado uma década de vida.

- Isso.

- Isso.

- Tudo bem. Eu envio hoje mesmo.

- Obrigada.

- Obrigada.

Elas deixaram a carta comigo e se despediram. Dei tchauzinho e percebi que nem sabia o nome das duas vizinhas gêmeas. Tudo bem. Elas não sabiam o meu também.

O envelope tinha aroma artificial de morango e eu podia ler no campo do destinatário:

"Para o querido
Papai Noel
Pólo Norte – Norte do Mundo"

Tudo escrito com letrinhas redondas de criança.

Quando foi que eu descobri que Papai Noel não existe? Hum, quando?

Ah, lembrei. Foi traumático!

Assim como as minhas vizinhas gêmeas, eu também fazia meus pedidos ao Noel e entregava aos cuidados dos meus pais. Ao contrário das garotas, eu tinha a preocupação de ir com papai até o correio, garantindo que o bilhete não se extraviaria. Eu voltava feliz da vida e na noite de Natal meu tio Joca, irmão de mamãe, era sempre o primeiro a ouvir o Bom Velhinho desembarcando no meu quarto. Eu corria para lá e conseguia vê-lo sumindo na janela com sua longa barba branca, casaco vermelho e testa suada.

"Tadinho do Papai Noel. Todo cheio de casacos nesse verão", eu pensava.

Tio Osmar, papai, mamãe e a primalhada toda vinham logo em seguida para abrirmos os presentes. A gente brincava até as duas da madrugada. Uau, duas da madrugada era horário de gente grande. Eu nem sabia o que poderia acontecer na cidade às duas da madrugada.

Fui crescendo e os Natais eram sempre iguais. Tio Joca percebia a aproximação e dava o sinal para mim. Eu via Papai Noel rapidamente e me despedia feliz da vida. Teve um dia que ele até me telefonou para se certificar que os presentes estavam certos. Foi a glória. Eu bati um papo com o próprio Noel por telefone.

Mas houve um ano em que a molecada do colégio me deixou com a pulga atrás da orelha.

Era começo de dezembro e a árvore já estava montada. Mamãe e eu chegamos da escola e eu fiquei olhando pra ela sem saber por onde começar.

- O que você quer, menino? – minha mãe farejava meus receios.

- Papai Noel não existe, né? Ele é só um garoto-propaganda da Coca-Cola, né? Se fosse da Pepsi, ele seria azul, né? – metralhei.

- Quem te contou isso?

- Não interessa. Eu conto o milagre, mas não revelo o santo.

- O que você acha?

- Eu acho que faz sentido. Como Papai Noel pode estar no shopping, na loja de sapatos da esquina e na porta da escola ao mesmo tempo? Ele ganha cachê para fazer comercial da Mesbla?

Criança é um bicho cheio de questões.

- Meu filho, senta aqui – mamãe arrastou uma cadeira. Ficamos sentados à mesa da cozinha em um breve silêncio.

- E aí? Existe ou não existe? Não me enrola.

- Você está grandinho. Não preciso mais mentir pra você.

- Então?

- Não existe.

- Poxa, mãe. Vocês me enganaram todos esses anos? – as lágrimas começaram a rolar pelo meu rostinho bochechudo.

- Quem disse que isso é enganação? Papai Noel existe na imaginação das crianças. Ele faz parte da infância. Quando os garotinhos descobrem que ele é uma lenda é sinal de que estão ficando mocinhos – o discurso começou bem clichê, mas terminou eficiente.

- E quem era aquele que aparecia na minha janela? – eu queria detalhes da trama.

- Seu tio Osmar.

- Pô, o tio Osmar é magro que nem um bambu.

- Ele usa travesseiro na barriga.

- Impostor de araque.

- E quando Papai Noel me telefonou?

- Era o Osmar na extensão.

- Caramba, mãe. Quem fabrica os meus presentes? Eles não vêm do Pólo Norte?

- Na verdade, eles são fabricados pela Estrela e vêm da Zona Franca de Manaus.

Realmente mamãe estava desmascarando toda a farsa.

- E o Bicho Papão?

- Esse existe.Se você fizer malcriações ele te carrega no saco para bem longe.

- Sacanagem.

- É vida. Agora você sabe a verdade, mas seu irmãozinho e seus priminhos continuam acreditando no Bom Velhinho. Seria maldade sua se você acabasse com os sonhos deles. Com o tempo eles descobrem tudo. Aconteceu com você e acontecerá com eles.

Nunca mais vi o tio Osmar com os mesmos olhos. O cara foi o Papai Noel durante anos. Naquele Natal, não fui o primeiro avisado da chegada dos presentes. Vi que estava crescendo e poucas vezes isso foi tão evidente. Tão cristalino e doloroso.

Agora eu estava com a cartinha das minhas vizinhas gêmeas nas mãos.

Não pensei duas vezes. Troquei de roupa e corri para o correio.





QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, você deu um novo sentido à vida do He-Man. Eu estava de saco cheio de ser lembrado apenas naquelas malditas festas Ploc. Espero que possamos continuar batendo essa bola e seus leitores continuem mandando suas dúvidas para desafiar minha infinita sabedoria. A moral dessa vez é: Feliz Natal para todos!!! Ho Ho Ho!!!








quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

O bebê que eu sou

Mãe é mãe e filho é sempre aquele ser pequerrucho, indefeso (aos olhos da mesma). Não tente entender, apenas aceite.

- Filhão.

- Oi, mãe.

Sou mesmo um filho relapso. Cumprimentei sem nem tirar os olhos do computador.

- Comprei o que você pediu.

- Deixa aí em cima da mesa. Já vejo. Ah, obrigado.

- Taqui, ó.

Acompanhei com o rabo do olho.

Peraí, tem algo errado.

Peguei o "presente" e corri atrás da minha mãe.

- Mãe!

- Fala, filhão.

- O que significa isso?

- Isso o quê?

- Isso!

- Eu estava no supermercado e você não me ligou pedindo um estojinho para suas canetas?

- Sim, pedi, mas... que raio de estojo é esse?

- O que tem de errado?

- Como assim o que tem de errado? Esse estojo tem... tem... coelhinhos, coelhinhos amarelinhos.

- Tem, e daí?

- Mamãe querida, não percebeu nada de incompatível com a minha pessoa e o estojo de coelhinhos?

Coloquei a meleca do estojo em cima da mesa da cozinha.

- Não.

- Pô, mãe, tá me insultando.

- Deixa de ser bobo.

- Bobo, eu? Vamos voltar a fita. Pedi que você me quebrasse o galho e trouxesse do supermercado um estojo para guardar minhas canetas, certo?

- Certíssimo.

- E em que ponto do processo você associou esse delicado estojinho a mim?

- Ah, filhão, achei tão bonito.

- Ei, que estojo escroto é esse? - meu irmão entrou no papo.

- É do seu irmão.

- MÃE! PÔ! – me senti um garotinho de sete aninhos com a camisa do Pokemón.

- Tá de sacanagem? Perdeu a vergonha na cara? - meu irmão só queria uma brecha para me avacalhar.

- Isso não é idéia minha.

- Fica com o estojinho, rapaz. Está lindo. Aproveita e põe em cima da sua mesa do trabalho. Mostra para os amigos. Leva para o MBA. Ah, melhor, leva para o jiu-jitsu. Seus amigos do jiu-jitsu vão achar muito agradável. Duvido façam qualquer comentário maldoso - o caçula da família rolava de rir com o drama alheio.

Pra que serve o irmão? Essa praga!

- Cala boca que o papo não fez curva.

- Filhão, não entendo a sua revolta. Guarda o estojo do coelhinho. Depois você compra outro, seu ingrato.

Poxa, não sou ingrato.

- Me dá isso aqui.

Saí da discussão e guardei o raio do estojinho de coelhinhos.

No dia seguinte, liguei para minha mãe. Ela estava na rua, comprando alguma coisa.

- Oi, mãe. Sou eu. Vem cá, meu irmão pediu para você comprar um presente pra ele. Não sei. Qualquer coisa. Não, mãe, ele confia no seu gosto. Nada, nada. Boa sorte. Beijos.

Pra que serve o irmão? Os mais novos servem pra isso!



QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, não seja duro com sua mamuska. Ela teve a melhor das intenções. Acho que já disse isso antes, mas toda mãe vê o filho como o bebê de outrora. Mesmo que ele esteja barbado, calçando tênis 42 e com voz grossa. Fazer o quê? Guarda o estojo de coelhinho com carinho, mesmo que você não o use. Amiguinho, sempre ceda lugar a pessoas idosas.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Mercedes Benz

Você sabe o que é uma marca premium? Em resumo, é aquela marca conhecida e respeitada que permite preços mais altos para os seus produtos. Ela torna-se premium pela tradição, credibilidade, qualidade superior etc. A Louis Vutton é um bom exemplo.

Essa intro explicativa que parece resposta de prova de marketing é ideal para apontar como esses breguetes de fino trato dão uma moral especial para seus donos. O Aristeu, atacante na pelada de sábado, que o diga.

Bom, Aristeu me relatou a aventura com anos de atraso, mas ainda está no prazo de validade e merece nota por aqui. Ainda mais vindo de quem vem: um cara boa pinta, companheiro, batalhador, honesto e descolado. A garota que batesse o olho seria incapaz de dizer que ele não tinha o segundo grau completo.

Enfim, como, graças ao futebol, tinha um networking forte na Barra da Tijuca, Aristeu foi convidado para uma festa de aniversário na Nuth. Um parêntesis explicativo para quem lê isso fora do Rio de Janeiro: Nuth é o olimpo das patriçotas e mauriçotes.

Mesmo se sentindo um pouco deslocado, topou e compareceu com a discrição que sempre lhe foi peculiar. Depois de algum tempo no ambiente, retomou a característica do bom atacante e sentiu o faro do gol. Mais exatamente, sacou umas olhadas marotas de uma loirinha.

"Por que não?", pensou consigo mesmo e foi tentar a sorte.

A guria dava condição, mas era esperta como um ferro de passar roupa. Falava abobrinhas sobre viagens a Miami, compras no Emporio Armani, festas no Copacabana Palace e blá-blá-blá. Aristeu ouvia tudo e pontuava as frases da menina com "uhum" ou "sei, sei".

Lá pelas tantas, deu o bote e a tchutchuca cedeu. Segundo Aristeu, nem foi grandes coisas, mas valeu para seu ego. Depois de uns amassos meia-bomba, Patriçota (vamos chamá-la assim) decidiu que já era tarde e ela tinha que acordar cedo no dia seguinte para malhar sua série de perna, glúteos e abdome com seu personal.

- Eu te deixo em casa.

- Qual o seu carro?

Putz, que pergunta anta!

- Fica relax, Patriçota. A gente vai pra casa de Mercedes. Acabei de tirar da loja.

- Uau, Aristeu - os olhinhos de Patriçota brilharam.

E lá foi o casalzinho para a porta da Nuth Lounge.

- Não deixei com o manobrista. Não gosto que dirijam minha Mercedes - indicou ele antes de sair no pique.

- Faz muito bem. Semana passada um manobrista aqui de perto arranhou o Audi do meu amigo Arquibaldo. Você conhece o Arquibaldo?

- Conheço.

Patriçota ficou paradinha na porta da boate. Enquanto esperava, retocava a maquiagem. Só saiu do transe com uma buzinada dupla. Aristeu baixou o vidro da sua Mercedes Sprinter, linha Rio das Pedras / Barra (Via Passarela).

- Bora?



Nota do Surfista: Rio das Pedras é uma comunidade em Jacarepaguá onde existe o internacionalmente famoso Castelo das Pedras, um dos maiores bailes funk do mundo.


QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?

Essa lição é mole, amiguinho. Acho que até a Patriçota entenderia sem que eu desenhasse. Fico particularmente irritado com essas pessoas que dão valor às pessoas pelo que elas têm ou vestem e não pelo que elas são. Clichêzão, eu sei, mas acontece muito. Acho que esse é um mal da sociedade atual e está ficando cada vez mais difícil de contornar. Então, amplie sua visão e não se restrinja ao que está escrito na etiqueta. Vai que o produto é pirata. Amiguinho, não seja guloso. Faça seu prato apenas com o suficiente ao seu apetite. Até a próxima!

Participação especial #2

Pois é, estou fazendo plantão em outras vizinhanças. Visite o Caixa Preta e confira a coluna "Discutindo a Relação". O tema em pauta remete àquelas confraternizações que reúnem todos os colegas de trabalho e revelam estereótipos bem curiosos. Vista lá: "Festas de fim de ano e seus tipinhos típicos".

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Missão dada, missão cumprida

Manhã de segunda-feira. Fiz algo comum à maioria dos meus dias: li o jornal. Mas dessa vez foi diferente. Em vez de rumar direto para a seção de esportes, o segundo caderno foi a primeira opção. O motivo não poderia ser outro além do show do Police no Maraca.

Sim, eu estava entre os 74 mil privilegiados que acompanharam Sting, Summer e Copeland retornarem ao Brasil depois de mais de duas décadas. Bicho, eu tinha quatro anos naquele distante 1982. Não tenho idéia do que eu ouvia, mas tenho certeza que passava longe do rock do Police. Pois é, voltando ao jornal, a crítica foi positiva e fez justiça a um showzaço. A meiuca meio chatinha ficou longe de comprometer. Bom, lendo os deslumbres do Globo e relembrando a noite de sábado, confirmei que momentos importantíssimos da minha biografia se passaram na multidão de algum show.

Minha primeira vez foi em mil-novecentos-e-sei-lá-quando, quando papai e mamãe se sujeitaram a me levar para ver Balão Mágico e Fofão - em playback. O repertório já fugiu da mente, mas lembro da excitação de ver uma (!!!) banda ao vivo. Tá bom, não era uma banda, mas seja generoso com Simony, Jairzinho, Toby, Mike e Fofão. Gostei do negócio e de lá pra cá foram centenas de apresentações de diferentes estilos.

Pinçando alguns estupidamente marcantes, destaco o rock puro e visceral do Neil Young no Rock in Rio 3. Aquele palco gigante e o bom e velho cowboy descarregando toneladas de música numa simplicidade comovente. Nesse mesmo festival, o show do R.E.M quase me fez chorar. Também quase dei um tapa na careca do Michael Stipe quando ele veio cantar "Man on the moon" dentro da multidão. O cara ficou a poucos metros da minha pessoa. Fora isso, o show todo foi emocionante.

Não chorei nesse dia, mas disfarcei as lágrimas quando Eddie Vedder mandou "Daughter" diante de uma Praça da Apoteose lotada. Isso sim foi apoteótico. Esperei anos para ver Pearl Jam e não me controlei. Só fiquei ligado para não dar mole durante minha choradinha. Se alguém visse, eu botaria a culpa na Nova Schin vendida a R$ 5,00. Deus me livre!

Ah, já vi Roberto Carlos ao vivo e confesso que corri para tentar pegar uma rosa do Rei. Tomei uma cotovelada de uma senhora de sessenta anos quando me espremi pra pegar a flor.

- É para minha mãe, tia.

- Não sou sua tia.

Velha danada!

Já vi Gilberto Gil do backstage, com direito a comida japonesa e cerva gelada liberada. Por diversas vezes fui pular em rodas punks em shows do Iron Maiden, Prodigy, Offspring e até nos bons tempos do Raimundos. Los Hermanos? Esses eram chapas de faculdade e já fui dar uma moral para eles em um showzinho sem-vergonha na Casa da Matriz. "Anna Julia" nem estava no setlist.

No fundo, eu me sinto como se estivesse cumprindo minha obrigação com a boa música (e com a mais ou menos também. Oras, já fui conferir até Double You). Aliás, reformulando: cumprindo uma missão com a música que faz sentido para minha história. Rolling Stones, U2, Manu Chao, Roger Waters, Nando Reis, Coldplay, Caetano Veloso... até The Doors eu consegui ver. E dane-se que o Jim Morrison não estava lá. Ian Astbury quebrou o galho direitinho. A figurinha que falta no álbum chama-se Chico Buarque.

O show do Police teve várias razões para entrar no meu Top Five. Citando algumas: banda afiada, clássicos do rock, produção de altíssimo nível, performance histórica, fãs de todo Brasil e a minha primeira vez no Maraca. Explico: os únicos shows que presenciei no Maracanã foram do Flamengo. Nem Papai Noel descendo de helicóptero eu vi. Mas, dessa vez eu estava lá, sentado na arquibancada onde costuma ficar a Raça Rubro-Negra. Ali naquele espaço tão conhecido, eu vivi um instante único. Enquanto titio Sting mostrava vitalidade, minha gatinha disse algo que nunca dissera antes. Talvez torcendo para que o som alto ocultasse sua voz ou que eu estivesse com algumas Skols a mais na cabeça, não importa. O que vale é que ela falou pela primeira vez "eu te amo".



QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?

Que fofo , amiguinho! Eu também te amo. Você é tão bonitinho que quase arrancou lágrimas do He-Man velho de guerra. Fico feliz que a música esteja presente na sua trajetória. Os shows citados colaboraram muito para que se tornassem marcantes. Seria difícil curtir o momento no show da Banda Calypso, não é mesmo? Enfim, espero que você e sua gatinha estejam felizes, mas que as histórias salientes do seu passado continuem ganhando registros por aqui. Ela perdoará. Amiguinho, nunca esqueça das palavrinhas mágicas: "por favor".

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

O poeta e a moça no título da canção

Sexta-feira, 19 horas. Balcão de uma lanchonete na rua Sete de Setembro, centro do Rio de Janeiro. Eu estava sem almoço e exausto. Nessa altura do campeonato, dois salgados e um refresco soaram como um banquete digno da Rainha da Inglaterra. Parei sem pestanejar.

As esfirras estavam um luxo. Vale a dica: sempre que você visitar o centro do Rio de Janeiro, não deixe de fazer um lanche em uma dessas biroscas de "dois salgados e um refresco por R$ 3,00". Especialmente, aquelas instaladas lá na Sete de Setembro, Rua do Ouvidor e cercanias.

- Você já reparou como é ridícula essa campanha da Nike para a seleção brasileira? - um cidadão de uns cinqüenta anos, terno amassado e gravata desfeita, parou ao meu lado com uma tulipa de chopp na mão. Pela fala grudenta, ele devia estar biritando desde cedo. Nada de estranho para uma sexta-feira pós-expediente.

- Reparou? - o cara insistiu.

Ô carência! Lá se vai a minha paz.

- O que tem a campanha da Nike? - resolvi dar um pouco de atenção pra ver se o sujeito ficava feliz e sumia.

- Sangue amarelo, garoto! Desde quando isso é positivo? Estamos sendo sacaneados aos quatro ventos. Isso deve ser coisa de publicitário argentino.

- Pois é, né?

- Sangue amarelo. Tá bom. Brincadeira, hein?

- Aham...

- Você gosta de música, garoto?

Surgiu um dilema instantâneo: se eu falasse a verdade e confirmasse, o cara iria me impregnar por mais uma hora. Se eu mentisse e dissesse que detesto, o cara poderia ficar mais uma hora tentando descobrir minhas razões.

- Gosto.

- Já reparou que somente as mulheres são homenageadas em títulos de música?

- Como assim?

- Anota aí, garoto: Lígia, Adelaide, Anna Julia, Rita, Angélica, Madalena, Amélia, Yolanda, Luiza, Andrea Doria... isso só citando as brasileiras. Fora elas, ainda tem a Layla do Eric Clapton, a Denise do Bob Dylan, a Julia do John Lennon e tantas outras. Me diz uma música com nome de macho. Vai, diz.

Eita! Não é que o pinguço estava certo?

Fiquei pensando alguns segundos e puxando todos os arquivos musicais da minha memória. Estava bem difícil.

Lembrei!

- "Pedro Pedreiro"! Taí uma música com nome de homem.

O bebum não perdeu o rebolado.

- Muso de protesto. Não tem glamour nem glórias. É uma metáfora para o trabalhador que espera o trem que nunca vem. Claro que é uma bela música do Chico.

- Você não mencionou detalhes. Só pediu uma música com nome de homem.

- Tá bom, vamos reformular. Faça o favor de me citar um caboclo equivalente a uma Carolina, musa do Seu Jorge?

- Não tem. Qual o seu ponto? Onde você quer chegar?

- Você não percebeu, garoto? Nós somos muito mais sentimentais e devotos que essas fêmeas todas. As mulheres não se dão ao trabalho de nos homenagear com belos versos e rimas ricas. Até o Pedro Pedreiro foi personagem de um autor do sexo masculino. Nós, homens, vivemos escondidos atrás de uma fachada de dureza, mas não é assim. Isso é de partir o coração - ele baixou a cabeça e saiu. Acho que só queria desabafar.

Coitado do pudim de cachaça. Fiquei sensibilizado com a tristeza e a verdade em sua constatação. O cara devia ter tomado um pé na bunda recente e ainda estava amargurado.

Certas coisas só acontecem no centro da cidade.


QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, olhando pelo ponto de vista técnico, seu impregnante companheiro de balcão estava certo. A esmagadora maioria das canções são dedicadas a uma mulher. Mas, o cidadão alcoolizado esqueceu de "O Mundo é Bão, Sebastião", "Jorge Maravilha" e "Juca", algumas raras homenagens a musos. Sob o ponto de vista conceitual, sou obrigado a concordar com ele. Quando querem, os homens são bem mais sensíveis e românticos que as moças. O difícil para eles (incluindo a minha pessoa musculosa) é demonstrar tudo isso sem a preocupação de ser vistos como molengas. Amiguinho, nunca aceite caronas de estranhos. Até a próxima!