quinta-feira, 10 de julho de 2008

O dia em que virei música sertaneja

Quando completa 20 anos, o homem tem muito a provar. Resumidamente, ele tem que demonstrar responsabilidade, mostrar para as mulheres que dá conta do recado, ter pique para sair durante a semana e ir trabalhar no dia seguinte, estudar nas brechas de tempo e fingir que tudo está na mais plena normalidade. Enfim, o cara tem que mostrar que já saiu da barra da saia da mamãe.

Aos 20 aninhos, eu conheci uma garota de Petrópolis e a gente saiu algumas vezes. Em um belo e formoso dia de inverno, ela me ligou e fez um convite para um programinha a dois na serra. Nesse momento, quase ouvi meus espermatozóides gritando enlouquecidamente:

- Primeiro eu! Primeiro eu! Primeiro eu!

Demorei 0,00000001 segundo para tomar uma decisão cientificamente estruturada.

- Demorou! Te encontro no sábado.

Tudo agendado e eu só precisava do carro para subir a montanha, encontrar a menina e lhe proporcionar uma experiência singular. Algo que a deixaria com um sorriso de orelha a orelha por toda a eternidade. Sim, sim, eu era muito fanfarrão. Mas, voltando ao pequeno detalhe do automóvel, nem esquentei a cabeça. Meu pai entenderia a minha situação e me entregaria a chave do carango com a sensação de dever cumprido. No dia D, fui pedir o meu passaporte para a felicidade.

- Nem que a vaca tussa.

Hein?

Tentei argumentar com toda a seriedade e responsabilidade. Prometi ter todo o cuidado do mundo, não beber, não passar dos 80km/h, praticar a direção defensiva, usar o cinto, respeitar a sinalização, guardar o carro, pagar a gasolina...

- Nem que a vaca tussa.

- Mas, pai, a menina é estupidamente linda! Você não me deixaria passar essa vergonha diante dela, né? - apelei para o instinto de macho do meu velho. Ele já foi garoto um dia.

- Nem que a vaca tussa.

- Quer saber? Não preciso do carro. Vou de ônibus. Lá eu me viro. Se algo me acontecer, a culpa será sua... e blá-blá-blá-blá.

- Vai mesmo?

- Vou.

- Então é melhor correr, pois a rodoviária só tem ônibus para Petrópolis até as 9.

Ai, ai, ai... meu pai é um ogro!

Havia chegado a hora do meu rito de passagem. Eu jamais passaria aquele sábado em casa. Mais do que subir a serra e papar a garotinha, eu estava diante de um desafio moral para minha masculinidade. Troquei de roupa, peguei uma grana e fui à luta.

Da minha casa até a rodoviária, foram quase duas horas de ônibus. De lá para Petrópolis, foi mais uma hora. Do centro da cidade até a boite onde ela poderia estar, foram mais trinta minutos e uma fortuna no táxi. Teria que valer muito esse sacrifício.

Aliás, tudo às escuras, pois até então, eu só tinha um telefone e um local onde ela poderia estar. Eu teria que confirmar maiores detalhes, mas deixei para depois e esqueci.

Só quando pisei fora do táxi fui lembrar de um detalhe: Petrópolis é uma cidade serrana e seu clima não é o mesmo do Rio de Janeiro. Fazia um frio glacial e eu estava vestido com uma reles blusa de linha. E para piorar, ventava pra cacete! Ô cidade de vento gelado. Cada rajada de vento congelava até meus ossos.

Liguei para a menina e nada. Só sinal de ligação incompleta. Tentei mais uma vez. E mais uma . E mais outras vinte. Nada.

Já que estava na frente da boite, resolvi entrar. Conferi as reservas financeiras e vi que teria que botar as próximas despesas no cartão de crédito.

Santo dinheiro de plástico.

Entrei na fila e aguardei a entrada com um frio lazarento. Chegando perto da entrada, fui tomado pelo pânico:

"Não estamos recebendo nenhum cartão de crédito", dizia uma plaquinha.

Danou-se! Danou-se muito!

O cenário não poderia ser mais bacana: a garota sumiu, estava com pouco dinheiro, a boite não aceitava cartão, fazia um frio ártico, não conhecia ninguém e só haveria outro ônibus para o Rio na manhã seguinte. Decidi voltar para o centro da cidade de ônibus e depois de esperar quase três horas consegui uma condução. Exausto, eu ainda precisaria matar o tempo até o primeiro horário da linha Petrópolis-Rio. Não resisti e dormi em um banco de praça, tal e qual cantado por Bruno e Marrone. Só acordei com o dia claro e uma velhinha fazendo cooper. Ela me fuzilou com um olhar de reprovação do tipo "ah, essa juventude bêbada".

Voltei para casa amassado, dolorido, cansado, sem ter comido ninguém e com o orgulho pisoteado. Horas e horas depois, a desgraçada, quer dizer, a menina que motivou minha aventura me telefonou:

- Oi, vi que você me ligou algumas vezes. Eu tive que viajar para Minas e ficou fora de área. Tentei lhe avisar, mas não consegui. Espero que você não tenha subido a serra sem confirmar comigo. Não, acho que você não faria isso.

Eu? Imagina.




QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?

Amiguinho impulsivamente descerebrado, sua atitude foi estúpida, mas típica de alguém com 20 anos. Aposto que você cresceu e aprendeu a lição, mas ainda faz esse tipo de presepada. É bem do seu feitio. Agora, anote essa outra dica no seu caderninho do Jáspion: por mais que você queira provar algo (e isso ocorre todo santo dia), tente tomar suas decisões com o máximo de informações possíveis. Conclusões baseadas apenas no emocional atrapalham a execução e a finalização. Amiguinho, cachorros são camaradas, mas tenha sempre cautela ao brincar com um totó desconhecido. Até a próxima!

31 comentários:

Anônimo disse...

Oi Surfista!
Ri muito com o relato das suas desventuras serranas.
Gostaria de saber: você se considera, a esta altura da vida, uma pessoa menos impulsiva??
E me pergunto: será que é bom sermos o tempo todo racionais? Acho que somos muito menos do que pensamos...
Beijos
Lyla

Ruiva disse...

Olha que eu ri muito lendo isso. Tu é muito figura, Doug. E olha que na minha imaginação, só eu me metia numas roubadas dessas..... Coisas dignas de filme. Se a gente fosse amigo de sair junto pra zoar, pqp, não sobraria pedra sobre pedra nesse mundo de insanidades.
Qualquer dia, quando tiver coragem, te mando o link do blog fake pra tu ter noção das coisas que me acontecem....

Beijocas.

Cíntia disse...

Vixe maria, que enrascada.

E o paizão, quando você chegou em casa, deu um tapinha nas costas e deu aquela olhada de "cumpriu sua missão, meu garoto?".

E, aliás, ERA ou ainda é um pouco fanfarrão?

Beijos ;)

Natália Soares disse...

É impressionante a capacidade que a gente tem de ser absurdamente impulsivo em algumas fases da vida, né?!
O bom é que, disso tudo, sobram as melhores histórias pra contar! ;)
=D
morri de rir aqui com a sua aventura!
beijos

Mariah disse...

não acho que o cenário mude aos 30 ou 40...portanto amiguinho...estude, arrume um bom emprego...da próxima vez que se aventurar numa dessas vai estar com o "seu" carrão e cheio de grana no bolso. vai entrar na boite...pegar, não uma, mas duas "minas"...escolher o hotel mais "in" da cidade, "ter" e "dar" para ambas uma noite de sexo, mesmo que em clima "ártico" inesquecível...
e dizem por aí que dinheiro não trás felicidade...ah tá!

beijos
mariah

Anônimo disse...

Tem fases que o homem só pensa com a cabeça de baixo. Parece que se negar fogo vira gay.
Doug, essa sua história foi hilária. Fico imaginando vc furioso no frio glacial de Petrópolis deitado no banco da praça. Pq vc não dormiu numa pousadinha ou na igreja? kkkkk
Adorei encontrar com vc hj. Pena q não tive tempo de falar com vc.
bjks

Anônimo disse...

Olá Surfista Platinado!

Primeiramente quero dizer que ri muito com a narrativa das suas desventuras rumo à serra!
Excelente post...

Realmente a gente faz cada m... na vida por impulso emocional que no fim, como disseram acima, a única coisa boa disso é que rende uma boa história pra ser contada.

Quero dizer também que indiquei seu blog no meu humilde blog porque eu o adoro e o visito com certa freqüência, apesar de não comentar seus posts.

E, por fim, quero agradecer muito sua visita e seus comentários no meu blog, hehe.


Beijos.

Anônimo disse...

Surfista, teu pai estava certo. Homem com a idade dele, que pensa com a cabeça de cima, sabia que o encontro ia ser furada. Isso significa que ele tb já se meteu em roubadas como essa no apogeu da juventude dele....heheheh

www.balzacsemprozac.blogspot.com

Anônimo disse...

Fala meu amigo galáctico!
Aqui é seu velho amigo Arauto paulista...rs...

Que aventura. rs...A gente se mete em cada uma nos "inte".Acho que a pior parte foi ouvir: "Espero que você não tenha subido a serra sem confirmar comigo. Não, acho que você não faria isso." kkk...Imagino sua cara!

Meu caro amigo, estive ausente nos comentários, mas sempre estou por aqui. Como um bom vigia galáctico! rs...Só queria reafirmar a qualidade do seu blog e principalmente seus textos. Parabéns! Coloquei seu link no meu blog blz?

Grande abraço.

ps: remova o comentário anterior, estranhamente ele "salvou-se" sozinho sem minha assinatura,rs.

Anônimo disse...

hahahahahahahahahaha...

vou te ensinar uma lei da vida: "homens são bobos, mulheres são chatas."
TUDO se resume a isso.
bjones

Anônimo disse...

Homens... rsrs
Adoro seu blog, estive fora por um tempo mais voltei e em breve estarei postando mais.
Bjs *)

Surfista disse...

CONTORCIONISTA, começo por você, moça corinthiana, porque seus comentários costumam ser certeiros. Faz um baita sentido. Após uma certa idade e experiência, o homem aprende a identificar um programa de índio ou uma furada só pelo cheiro. Certamente, meu velho e ranzinza pai deve ter sacado que essa operação estava condenada ao caos.

LYLA, continuo impulsivo, mas aprendi a identificar e ponderar os riscos com rapidez e antecedência. E, no mais, acho que ser ponderado demais tira um pouco de graça da vida. Viva a impulsividade!

RANCOROSA, homens podem até ser bobos, mas a mulherada é muito mais que chata. Faltam predicados para defini-las. Essa é a graça!

DZINHA, tenho minhas histórias, ruiva. Quero saber mais sobre suas estripulias.

CÍNTIA, não lembro sobre a reação do meu pai. E ele nunca saberá que a missão foi um fracasso. Constam nos autos (até hoje) que o soldado voltou com a medalha de honra ao mérito no peito. E sobre as fanfarronices, isso ficou no passado imperfeito do indicativo. A vida me ensinou muito sobre o valor da humildade e de fazer muito e falar pouco. Não tenho mais saco para bravatas.

NAT, obrigado, querida. Refaça logo o seu blog e vamos trocar figurinhas.

MARIAH, mocinha cheia de poesias... dinheiro não traz felicidade. Ele manda trazer. Estou buscando seguir o seu checklist. Volta sempre!

ALFA, minhas duas cabeças andam em comum acordo ultimamente. E a questão do causo nem foi sobre "negar fogo". Foi sobre provar que eu tinha plenas condições de exercer o direito constitucional de ir e vir. Viva a independência (mesmo que isso traga algumas furadas homéricas)!

CAROL, obrigado. Gostei do seu espaço. Eu te visitarei outras vezes. Quando passar por aqui, deixe seu comentário. Eu ficarei orgulhoso e as pessoas poderão conhecer mais sobre suas idéias.

ROBS, grande arauto! Obrigado. Essa conversa final foi a cereja do bolo. Acredita que eu nem lembro o nome da infeliz? Acho que apaguei da minha consciência depois da furada.

MULEKA, percebi que você anda sumida. Volta sempre!

Anônimo disse...

Isso faz parte do aprendizado!!!
Todo herói q se preze tem q ter histórias sem nõção pra contar.Agora aproveite a sabedoria do he-man, aliando o fato de não ter mais 20,e tenha um pouco mais de precaução ao tomar suas decisões!!!

Bjinhos!!!

Anônimo disse...

Não sou anônima coisíssima nenhuma,kkk.Sou euzinha,blogueira de carterinha.

Anônimo disse...

Surfista... definitivamente.. vc não existe!
:-D
Fico impressionada com a diversidade de causos... haja presepada! Seus netinhos vão amar ler as aventuras do vovô platinado! Imagina aí..! Hehehhe.
Bjs.

Anônimo disse...

obrigada por retribuir a visita lá na Casinha...que bom que gostou.

Vou estar sempre por aqui...adorei seu inconsciente fantasiado de He Man...

beijos
mariah

Anônimo disse...

Rachei de rir! Hahahaha.
Confesso que sou má e uma vez armei uma situação parecida pra zoar meu ex pra ver se ele finalmente largava do meu pé.
Não funcionou. Porque depois de virar música sertaneja, ele ainda veio em casa pedir perdão... Kramba, perdão!?!?!
Isso tb, laaaaá quando eu tinha meus 20 anos...

Bjs!

Anônimo disse...

Tô rindo até agora, mas no início da história eu tinha esperança q ela fosse aparecer na sua frente bem de repente e fazer seu dia feliz!
Sabe q são essas histórias que acabamos guardando e contando pros netos mais tarde, melhor ter arriscado do que ter ficado em casa coçando o saco, né! bjos

Lanussa Ferreira disse...

Putz! Adorei esse teu blog cara! Muito bom! Adicionei aqui no meu!
Bjos!

deminina disse...

MAS QUE PENA. QUE VIAGEM DESPERDIÇADA...E OLHA QUE PROMETIA HEIN?
PERDEU ELA E PERDEU VOCÊ.
DA PRÓXIMA VEZ ME LIGA...MORO NOS ARREDORES...QUEM SABE NÃO CURTO UM BANCO DE PRAÇA TAMBÉM...UAU...

Anônimo disse...

Distraido...

Pedro Favaro disse...

Cara....
nós temos que conversar.
Você acabou de contar uma história da minha vida. MINHA!
Eu já fiz exatamente a mesma coisa. Trocando a cidade e sem o frio glacial.
Com 20 anos, a possibilidade de perereca faz qualquer um fazer...qualquer coisa.
auhauhauahuahuah

é um rito de passagem, com certeza.

Pedro Favaro disse...

p.s: identificação total. Te Linkei no CDSM

Unknown disse...

Essa boates de Petrópolis... Ai, ai, ai... Sempre pitorescas. E essas meninas de Petrópolis, hein Dougra? Ai, ai, ai... Sempre pitorescas também!

Skipper ou Zapata?

Abs!

Surfista disse...

ANDRÉA, o anonimato não condiz com sua personalidade. Pode deixar que estou mais zen com minhas decisões.

ISO, pois é. Mas se meus netinhos souberem dessas histórias eu perco a moral.

MARIAH, o prazer foi meu.

POETRIZ, o "muso" das canções sertanejas têm esse perfil. São avacalhados e ainda pedem perdão depois. Típico! Mas, maldade sua fazer uma coisa dessas, hein?

SARAH, não rolou. Tudo bem. Na hora não foi nada engraçado, mas hoje em dia, anos depois, eu acho muito engraçado tudo isso.

LANUSSA, olá! Seja bem-vinda, senhorita. Obrigado pela visita, comentário, elogio e link. Foi pacote completo: barba, cabelo e bigode.

MININA, olha que eu ligo, hein?

BEBEL, ultimamente, ando muito distraído. Aliás, perigosamente distraído.

PEDRO, meu caro, desça uma cerva gelada e os causos fluirão naturalmente. Ainda mais em companhia de um companheiro de banco de praça. No mais, sua observação foi perfeita: o que um garoto de 20 anos não faz por uma perereca, né? Obrigado pela recomendação.

VULGO, as petropolitanas têm um "quê", algo peculiar. Essa pequena aventura gelada ocorreu diante do finado Zapata, lá em Itaipava. Você conhece a região. Imagina o perrengue de ficar sem carro ali naquele local onde Judas perdeu as meias, pois as botas foram perdidas bem antes.

Anônimo disse...

Plageie a vontade... rsrsrs...

Vanessa Souza disse...

Hahaha...eitaaaa Oo
Que história hein.
Mas é isso ae, culpe seus espermatozóides enlouquecidos!!!
Haha
Beijos.
Belo Blog!

deminina disse...

tô perando então.
kisses
quando vai me visitar?

Carlinha disse...

Sempre passo aqui. Sempre dou muita risada. Nunca comento. Há sempre uma primeira vez para tudo, né?? Está "linkado"...
Beijos!!

Ruiva disse...

Surfista querido... por onde andas? Tudo bem que não tenho moral nenhuma pra reclamar, afinal fiquei uma semana sem dar as caras também, mas quero ler novas aventuras! O momento da ronda diária nos blogs linkados é o melhor do dia. E neste seu espaço, até os comentários são motivos de diversão. Fico ansiosa pra ler tua resposta pras pessoas.. heheheh

Outra coisa.. você e a exterminadora de Hélios não discutem mais a relação??

Beijinhos vermelhos

Anônimo disse...

parabens pelo blog...
Na musica country VIRGINIA DE MAURO a LULLY de BETO CARRERO vem fazendo o maior sucesso com seu CD MUNDO ENCANTADO em homenagem ao Parque Temático em PENHA/SC. Asssistam no YOUTUBE sessão TRAPINHASTUBE, musicas como: CAVALEIRO DA VITÓRIA, MEU PADRINHO BETO CARRERO, ENTRE OUTRAS...
é o sonho eterno de BETO CARRERO e a mão de DEUS.