domingo, 14 de setembro de 2008

O manual da tiete

Madonna!

Por onde quer que você ande, haverá alguém fazendo algum comentário sobre ela:

- E aí, já comprou o ingresso para algum dos shows?

Eu só consegui ingresso na segunda noite para o Maracanã!

Espero que vocês, cambistas do inferno, tomem um prejú abissal com seus ingressos superfaturados!

Mas, não será sobre a loira de cinqüenta anos que comentarei. Foi apenas uma justificatva para desabafar meu meu ódio por cambistas. Essa história de perrengues em shows me remeteu a um sufoco passado por duas garotas que queriam muito ver o Bon Jovi.

Para começo de conversa, eu já gostei do Bon Jovi, nos tempos em que ele era trilha de comercial de cigarro ou tocava "Blaze of Glory", "You Give Love a Bad Name", "Livin' on a Prayer", e "Wanted Dead or Alive". Era a época do rock poser, dos cabelos ruins, das calças de couro e das notas agudas. Depois disso, em minha opinião, Jon Bon Jovi virou a versão gringa do Paulo Ricardo. Enfim...

Quando souberam que Bon Jovi faria um show na Praça da Apoteose, Dora e Rita quase tiveram um infarto antes dos vinte anos de idade. Como boas fãs alucinadas, as amigas seguiram, item por item, o Manual da Tiete:

1. Enfrentar uma fila monstruosa sob um sol senegalês.
2. Pagar um ingresso caríssimo.
3. Correr o risco de furtos, agressões, bilhetes falsos, mãos bobas, e outras humilhações.
4. Dormir na fila para provar que é fã.
5. Cantar as músicas do artista ao longo da fila.
6. Vestir a camisa do artista ou banda (mesmo que seja preta, sob o sol senegalês).
7. Chorar diante das câmeras de TV.
8. Usar uma bandana ridícula.
9. Levar pôsteres, fotos e outros adereços inúteis.
10. Dar gritinhos agudos quando tiver os ingressos caríssimos nas mãos.


Na véspera do show do Bon Jovi, as amigas estavam beirando um colapso. Combinaram almoçar na casa de uma delas e depois seguir para a Praça da Apoteose de ônibus lotado ou táxi em bandeira dois.

- Amigannn, vai rolar um almoço aqui em casa. Será aniversário de um tio meu. Vamos comer aqui e depois ir ver o Bon Jovi.

- Beleza.

No dia seguinte, Dora e Rita estavam uniformizadas (incluindo um daqueles cartazes com alguma mensagem cafona) e ensaiando os refrões.

- Amigannn, qual é o almoço?

- Feijoada.

- Feijoada? Como assim? Ficou maluca?

- Relaxa, amigannn. A gente come só um pouquinho de couve, um arrozinho básico e só. Se bobear, rola até uma saladinha.

É ruim, hein?

Segundo narrativas, os pratos das meninas deixariam muitos estivadores envergonhados. Depois da orgia da feijoada e de umas boas rodadas de cerveja, as amigas seguiram para o evento de suas vidas.

Para não fugir do protocolo, encararam outra fila desumana sob o mesmo sol africano e com os mesmo gritos histéricos.

Faltando pouco para o show começar, Rita sentiu o óbvio: a feijoada com farofa e a cerveja começavam a criar caso com as enzimas digestivas.

- Rita, eu estou passando mal. Acho que vou vomitar.

- Dorinha querida, não brinca com isso. Respira fundo. Quer água?

- Quero.

- Não tem água. Respira fundo e concentra.

- Já estou melhor.

- Isso mesmo. Continua respirando.

Parêntesis: será que, nessas horas, a pessoa que se acha médica não raciocina? Será difícil lembrar que se parar de respirar, a criatura morre?

As luzes se apagam e a gritaria se intensifica. O palco se ilumina. Rich Sambora castiga a primeira nota da música de abertura. Todo mundo pula e se esmaga.

- Dorinha, você está melhor? – Rita gritou a plenos pulmões no ouvido da companheira.

- Sim, estou legal. Obrigada. Liiiiiiiindooooooooooo! Liiiiiiinnndoooooooooo!

- Então, vem comigo que eu estou quase vomitando – sem esperar a resposta, agarrou a amiga e puxou para longe do Jon Bon Jovi, do palco, das luzes e do escambau. Rita quase desmaiou, quase vomitou e quase perdeu a amiga para sempre. Ambas viram o show inteiro através do telão.


QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?

Amiguinho, se você oferecer para um garoto ou garota com idade entre 16 e 23 anos um camarote com ar-condicionado, bebida gelada, espaço e conforto, a resposta mais provável será um não. A molecada gosta é de ficar no aperto, no empurra-empurra, com todo mundo suado, fedendo e berrando ao redor. Você mesmo sabe muito bem disso, pois te conheço muito bem. Do alto de minha infinita sabedoria, admito que certos shows são melhores quando vistos do meio da muvuca. Não imagino um show do Green Day visto de uma poltroninha careta. Enfim, né? Amiguinho, em dias de eventos que exijam grande esforço físico e desgaste, procure beber muita água (eu disse água) e alimentação leve. Nada de feijoada. Até a próxima!!!


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17 comentários:

Cíntia disse...

Mas que excelente idéia, uma feijoada pra aguentar algumas horas de pula-esmaga-sacode-grita... hahaha.

Um pouco mais trágico foi um show com Tihuana, Charlie Brown e outras coisas, lá nos idos de 2003. Pra minha sorte, não estava lá, mas 4 amigos meus foram, para serem pisoteados na entrada (o empurra-empurra foi um pouco além do previsto) e esmagados contra as grades da entrada do Jóquei Clube... Muito triste e total despreparo da organização (algo como os Stones tocando e os Hells Angels cuidando da segurança)...

Beijos, mocinho
Não ando muito bem, mas prometo melhorar ;)

Pedro Favaro disse...

Tenho para mim que o empurra, empurra é 50% de alguns eventos. Ou vc vai em qq coisa do chiclete com banana para ouvir o durval cantar?

aliais, vc vai num show do chiclete com banana, ainda?
uahauhuha
flw

Surfista disse...

RESPOSTA EXPRESSA:

FAVARO, meu caro. Minha pessoa e um show do Chicletão são elementos totalmente incompatíveis. Prefiro encontrar as mulheres micareteiras quando elas não estão de abadá.

Mas, quando namorava, já cedi e levei minha então senhora para shows do Babado Novo e Ivete Sangalo. Homem quando ama fica bocó.

Ruiva disse...

Putz... acho que sou a única mortal no mundo que não consegue curtir de verdade um show...

Anônimo disse...

Ai ai... tenho umas histórias péssimas como tiete. Muita vergonha de mim. kkkkkk.
Besos.

Anônimo disse...

Eu fui nesse show do Bon Jovi! Felizmente, não vi nenhuma moçoila chamando o Raul... :) Mas foi nesse show que se foi meu relógio, e na "luta", quebrei meu gesso (estava de braço quebrado) na cabeça de um dos meliantes. Depois conto essa

Quanto à Madonna, vou passar longe desse show. Já ouvi de 2 amigos meus q estão morando fora que esse show é uma porcaria. Estou me guardando pro show do R.E.M.

Lívia disse...

Fiz tudo isso pelo Oasis em 98... meus 14 aninhos, quase 15, e eu lá, achando que esse era o melhor momento da minha vida!

Pelo menos me curei! Vè se hoje, 10 anos depois, eu fico na fila da Madonna, e pior, dando entrevista e dizendo que não tomo banho nem escovo dentes há 5 dias... e orgulhosa disso!

Pra mim, isso é adolescência mal resolvida. Bjs

Carla Beatriz disse...

É por isso que eu não acho graça nenhuma em ir a shows.

Unknown disse...

Isso me lembra uma história parecida, num show do U2, no autódromo... Faz força aí para lembrar.

Lembrou? ahhahahaah!

Abs!

Anônimo disse...

Rs
Nossa, agora voce me fez voltar ao tempo e dar boas gargalhadas... Cada loucura!!!rs Nem conto que muitas foram apos os 25(quase uma burrinha véia)!rs
Feio!!! Que nada... Agora, engraçado... Nem ligo!

Beijos

Flávia disse...

ok, esse post foi extremamente esclarecedor: definitivamente não nasci pra ser tiete...

Beijo!

Surfista disse...

CINTIA, fique bem, menina. De nada vale baixar a cabeça.

DZINHA, ainda há tempo para salvar a sua alma.

DUDU, R.E.M será um showzaço. Sobre o Bon Jovi, você era o único homem entre zilhões de meninas?

LIVIA, a maturidade traz valiosas lições, não? Eu admiro esse pessoal que fica se acotovelando em fila para ver o artista de binóculos.

CARLA BEATRIZ, duvido! Vais me dizer que nunca foste a um show dos Engenheiros do Hawaii (na primeira fila)?

VULGO, vou contar essa história no futuro. Bem lembrado.

PÉROLA, a maioria dos meus perrengues foi depois dos 25. Não se envergonhe.

FLAVINHA, ainda bem! Esse foi um texto de utilidade pública.

Lívia disse...

Maturidade, sim, mas diferente da Carla... AMO um show! E tô sofrendo com o preço do REM...

Anônimo disse...

Cheguei até a pensar em ir no show da Madonna, mas vamos combinar que pagar uma fortuna para ficar num fila quilométrica para depois ver a diva de longe, não vale a pena. Só iria se fosse de credencial, no camarote com ar, comida e bedida liberada e mt gente bonita [:P]
Acho que deveríamos promover um evento em algum bar com telão exibindo o show para tds aqueles que não puderam ir ao show.
Bjs,
Alfa

Anônimo disse...

Felizmente Deus me livrou do gen da tietagem (na verdade só sou tiete dos meus amigos violeiros).

O que está enchendo a paciência é ouvir: "Cara, mas é a Madonna!" Ao que eu, prontamente respondo "Pois é, por isso mesmo." Pra mim ela é SÓ a Madonna.

Mas o post não é sobre isso né? Então... fiquei feliz por saber que a vontade foi de vomitar. Acho que é menos pior nestas situações. Juro que estava esperando coisa beeeem pior!

Anônimo disse...

Que confusão... rsrs* bjs *)

Anônimo disse...

Nao era o único, mas o ratio era bastante favorável... Infelizmente teve o moleque roubando o meu relógio, depois eu dando com o gesso na cabeça dele, e depois os comparsas querendo a revanche. Mas no final das contas, só quem sofreu foi o gesso, mesmo :)