
Em um desses animados sambas, Jandira conheceu Gumercindo. Papo vem, papo vai, a natureza, a música, a cerveja e os hormônios fizeram o seu papel. Sem muito lenga-lenga, o casal já estava aos beijos.
Ao fim da noite, Jandira repetiu o ritual da troca de telefones e se despediu.
- Espera, eu te deixo em casa – gentilmente, Gumercindo se ofereceu.
Jandira morava longe. Alías, muito longe. Melhor: longe pra cacete! Na verdade, Jandira morava fora do Rio de Janeiro, na aprazível cidade de Duque de Caxias. Em sua cabecinha loira, irrigada por algumas Brahmas geladas, essa distância poderia afungentar imadiatamente o pretendente. Gumercindo era gatinho, tinha boa pegada e poderia render mais. Não seria o momento ideal para queimar o cartucho.
- Não se preocupa. Eu pego um táxi.
- De jeito nenhum. Eu te levo.
Glup!
- Eu moro na Tijuca. É longe e está tarde. Fica tranquilo.
- Que coincidência. Eu moro na Tijuca também. Vem, eu te levo. Faço questão.
Ai, ai, ai...
Sem muitos argumentos, Jandira topou. Orientou sobre uma r

- Meu prédio fica aqui pertinho. Pode me deixar por aqui mesmo.
- Imagina. Eu te deixo na sua portaria.
- Errr... fica ali, ó.
- Ali é um prédio comercial.
- Eu quis dizer, ao lado do prédio comercial.
- Ah, tá. Pronto. Chegamos.
Depois de mais alguns amassos, Gumercindo sentiu os efeitos do excesso de cerveja.
- Linda, posso usar o seu banheiro?
Danou-se!
- Melhor, não. O prédio está com um problema de encanamento. Um horror!
- Eu uso o da portaria. Fala com o seu porteiro.
- Não, não... é um problema generalizado. Desculpa!
Alguns minutos depois.
- A vontade de ir ao banheiro passou, mas me bateu uma sede. Você me arruma um copo de água?

- Querido, minha geladeira pifou. É isso. Estou sem água. Me mudei há pouco tempo e está uma bagunça. Olha, é melhor eu ir. Beijo!
Jandira saiu do carro e aguardou o Gumercindo ir embora, o que não aconteceu.
- Vou esperar você entrar.
A situação só piorava...
Jandira interfonou e o porteiro abriu a porta. Ela entrou e o prestativo Gumercindo seguiu seu caminho.
- Pois não, senhora?
- O senhor não me conhece e eu não moro aqui. Estou perdida e preciso de um táxi. Onde fica o ponto mais próximo?
- Ihhhhh...
Quando você acha que a situação já está péssima e alguém fala "ihhhhhhhh", a impressão é que Murphy está perto de aprontar mais uma.
- Não tem ponto de táxi aqui perto. A senhora precisa andar três quarteirões até o shopping.
E lá foi Jandira, às três da madrugada, andando três quarteirões (que na verdade, eram quatro) até o shopping center.
E o Gumercindo? E a Jandira? Sinceramente, procurei nem saber.

HE-MAN?
Amiguinha Jandira, sua presepeira, quer forma pior de começar um relacionamento com uma mentira? Francamente, hein? Além da cascata, você ainda correu um sério risco ao passear sozinha pela madrugada adentro. Putz, He-Man está parecendo um pai superprotetor. Enfim, a moral é moleza: não minta. Amiguinho, não ache que você é mais malandro que a Lei Seca. Evite biritar e dirigir. Até a próxima!
PS: O Surfista já saiu com uma menina de Duque de Caxias. Ela declarou logo que morava loooooooooonge.