domingo, 18 de outubro de 2009

O meu primeiro dia de férias - Parte II

Lá pelas 5h da manhã, o voo extra da Gol decolou para Salvador deixando cerca de 80 passageiros furiosos. Eu estava exausto, tenso e achando que a minha viagem de férias corria sério risco.

Depois de esbravejar contra a negligência da companhia aérea, minha válvula de escape foi observar os novos personagens que surgiam na sala de embarque.

O guerrilheiro.

O clima foi ficando cada vez mais pesado. As pessoas estavam enclausuradas na sala de embarque há uma eternidade. Quando o meu relógio marcou 7h, eu estava que nem Jack Bauer: 24 horas ligadão. Por alguma razão, as pessoas conversavam comigo. Num desses papos, surgiu o Guerrilheiro.

Acho que fui um psiquiatra em outra vida. É impressionante como as pessoas curtem desabafar nos meus ouvidinhos.

- A gente tem que fazer alguma coisa. Vamos quebrar as vidraças e invadir o próximo avião. Nós temos prioridade, cacete! – propôs o Guerrilheiro.

- Calma. Não vai adiantar, cara. Como a gente vai invadir um avião? – argumentei.

- Então, vamos bloquear a porta de embarque. O avião tem que levar a gente para Salvador de qualquer maneira.

O Guerrilheiro era um forte candidato a tomar gás de pimenta nos olhos. Depois de alguns planos, ele se acalmou.

A gaúcha e o cachorro perdido

Na multidão, as exigências eram várias. Tinha gente que exigia as malas, tinha gente que demandava uma vaga, mas uma gaúcha estava desesperada por uma razão que latia.

- Bah, eu quero saber onde está o meu cachorro. Eu despachei o meu cão em Porto Alegre há doze horas e ele pode estar morto em algum lugar. Eu quero o meu cachorro!

Como tudo era motivo para iniciar um gritaria, os outros passageiros compraram a briga.

- Cadê o cachorro da mulher?

- Processa a Gol!

Mas havia a turma do farinha-pouca-meu-pirão-primeiro.

- Que se dane o cachorro. Eu quero embarcar!!!

Glossário do Surfista: esta expressão tipicamente carioca significa que se há pouca oferta no mercado, cada um que se vire para levar a sua parte. É uma filosofia egoísta mesmo.

O baiano bom de briga

Após uma madrugada de cárcere no Galeão, as pessoas ficavam agressivas. Um baiano provou que o povo da boa terra não é tão manso quanto se pensa. O sujeito foi ao balcão da Gol e berrou para o aeroporto todo ouvir.

- Rapaz, você está brincando com um homem de 53 anos. Se esse avião não decolar, você vai se ver comigo. Só tem gente com superior completo neste voo. Posso lhe adiantar que porrada na cara de vagabundo não dá cadeia. Eu pago uma cesta básica e saio pela porta de frente da delegacia, viu?

Blefe ou não, o baiano animou os outros pasageiros. O voo atrasou pela milésima vez, mas o moço não enfiou a mão na cara de ninguém. Para cumprir parte da promessa, sobrou um soco no computador da Gol. Voaram as teclas ESC, Caps Lock e o ABC inteiro para todos os lados.

Às 9h30, embarcamos para Salvador. Murphy estava acompanhando a aventura de pertinho e três pessoas não couberam no avião. Para eles, a aventura ainda renderia muito. A aeronave decolou sob aplausos.

Cara, cadê as minhas malas?

Ainda no Rio, fiz amizade com uma menina que iria a um casamento em Aracaju. Com a sequência de atrasos, ela perdeu a festa. Só lhe restaria o passeio mesmo.

Ela me fez companhia no avião e participaria da reta final da viagem. Ao chegar a Salvador, começou a caça pela minha bagagem. Enquanto a menina que perdeu o casamento foi checar como seguiríamos para Aracaju, eu fui conduzido a uma sala com malas perdidas. Será que as minhas coisas estavam lá? Claaaaaro que não.

Taquelpariu, eu estava acordado há 29 horas, sujo, suado, fedido e sem malas.

Outros dois passageiros perderam as suas malas. Parecia que eu teria o mesmo destino.

- Caso as suas malas sejam localizadas, a companhia lhe enviará pelo correio entre dois e trinta dias.

Não sei o que me desesperou mais: a palavra “caso” ou a frase “a companhia lhe enviará pelo correio entre dois e trinta dias”.

Uma outra funcionária da Gol lembrou que duas malas ainda estavam guardadas num buraco qualquer do aeroporto.

Aimeudeusdocéu, com a minha tradicional sorte, qual seria a chance de que essas duas míseras malas sejam as minhas?

Quando o carinha surgiu pelas portas da esperança, reconheci as minhas malas.

Iiiiiiiiiiuuuuuuuuupiiiiiiiiii!Aleeeeeluia!

Esse “iupi” foi meio esquisitão, mas juro que foi o que pensei.

Resumindo o que rolou depois, não havia mais voo para Aracaju no mesmo dia e negociei um táxi para a capital de Sergipe (pago pela Gol, é claro). Eu e a menina que perdeu o casamento embarcamos por via terrestre mesmo. Tirei um cochilo durante a viagem, mas quando abri os olhos, percebi que o motorista estava trafegando a cândidos 180km/h pela belíssima Linha Verde, a rodovia que liga Salvador a Aracaju. Desisti de dormir e preferi rezar para chegar inteiro. Às 17h45 do sábado, mandei um torpedo para o Rio de Janeiro avisando que cheguei.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, como sua história foi imensa, quase do tamanho da carta de Pero Vaz de Caminha, o todo-poderoso He-Man será objetivo: processa a Gol! Amiguinho, cuidado com as tesouras ao cortar as unhas. Até a próxima!!!

13 comentários:

Sadhana disse...

Nossaaaaaaaaa, meu Deus!!!
Essa viagem vai render hein...;) Concordo plenamente com o nosso amigo He-Man, (processa a gol)pois é uma pouca vergonha esse descaso com os passageiros.
Também já passei por esse episódio "Cara, cadê as minhas malas?" quando fui pra Bariloche, não encontrava a minha malaaaaaaaaa, de jeito nenhum, quase enlouqueci... Imagina, que bom deve ser chegar em seu destino, para tal férias tão merecida e sonhada sem bagagem?? Eu entendi e entendo bem esse seu "iupi", e falo IUPIIIIIII novamente, pq ninguém merece mesmo passar por essa situação!!!
Bjs Xuxu... To louca pra ler as próximas partes dessa suas férias!!!
Vou ficar aqui na espera!!!

Unknown disse...

E o cachorro da gaúcha? Acharam o bichinho?

Olivia disse...

tivesse ido de ônibus não teria esse problema....

Anônimo disse...

Também quero saber do cachorro, que fim teve o bichinho?
E a menina que perdeu o casamento?
Ganhou o Surfista?
Bjss.

Mulher Maravilha disse...

Surfista, imagino que na hora do perrengue (termo q aprendi nesse blog) vc já ficava lá observando e formulando o que ia escrever... De certa forma o seu blog já lhe ajuda a diminuir o seu estresse numa hora dessas, nénão??? rsss
Bjs... Espero que Sergipe lhe recompense bem!!

Fabyy disse...

Tá parecendo o Ben Affleck no filme "força do destino" a única diferença é q vc ñ ia casar e sim sua amiga iria a um casamento,iupiiiiiiiiii que romântico,rsrsrs!Amiguinho o amigo de cima fez uma ótima pergunta,afinal a "Sandra Bullock" ganhou ou ñ o surfista?



bjossss e boas FÉRIAS e que venha a parte III dessa carta de Pero...

Fabyy disse...

Desculpe abusei nos pitacos.ssrsrsrsr bjinhoss

Juliany Alencar disse...

Taquelpariu! Que medo desse embarque!

Sou muito controlada, mas acho que em um momento desse, mostraria todo o meu potencial de rodar a baiana e baixar o meu barraco. rs

Navegante disse...

Meu Deus, que inferno! A que perdeu o casamento ao menos era gata? :) (sorry, não resisti)

Perrengue assim eu só passei uma vez, e não era férias. Aeroporto de Goiânia, voltando para Rio. Só cheguei no dia seguinte. Longa história. Taí, vou escrever e postar no Vida de Navegante ainda hoje :)

Surfista disse...

TODOS, não havia o menor climaa para romance. A menina que perdeu o casamento ficou como uma amiga durante o perrengue. Só isso.

Pelo que vi, a gaúcha e o cachorro sumido se reencontraram bem em Salvador. O cão passa bem.

Nunca vi "Forças do Destino". Comédias românticas estão fora das minhas prioridades.


VOLTEI PARA CASA!!!

Surfista disse...

DUDU, posta lá e me avisa!!!

Bruna disse...

Q aventura heim!!! Vai processar a gol?

Navegante disse...

Coloquei lá, dá uma olhada depois!