O 15 de janeiro de 2010 seguiu uma rotina de muitas outras sextas-feiras: acordar cedo, fechar as publicações do dia, verificar andamento dos projetos, fazer apresentações, almoço com os colegas e blablabá. A diferença é que ao cair da tarde, lá pelas 18h e um pouquinho, eu fui demitido.
"Demitido" é uma palavra pesada, fantasmagórica. Tem uma aura de incompetência, perebagem, inaptidão, fracasso, descartabilidade. Enfim, é feia e ponto.Voltei para casa triste horrores (óbvio) e dirigi com dificuldade, graças às lágrimas que embaçavam a lente dos meus óculos. Confesso mesmo. Chorei. Não considero vergonha nenhuma, xará. Sinceramente, acho que o pranto justificado é carimbo de personalidade, coragem.
Juntei os cacos e na segunda-feira seguinte, eu me despedi da equipe. Duas amigas choraram e senti que eu tinha deixado uma boa impressão no final das contas. Quase entrei na onda, mas segurei as pontas e engoli o choro. Acabava ali um capítulo da minha vida e começava a Operação Leprechaun. E olha que eu nem sabia.
Segundo especialistas, o prazo de recolocação é de 6 meses, em média. Então, tá. Prometi que me arrumaria antes do dia 15 de julho.
Depois de tirar a poeira do currículo, eu caí no mercado. Neste período, meu humor era uma montanha-russa tresloucada. Em um dia, eu acordava cheio de energia e vigor. No dia seguinte, era um deprê sem tamanho. As pessoas queridas ao redor eram as mais afetadas e eu procurei me isolar.
O engraçado é que rolou uma corrente contrária: uma aproximação de muita gente. Uma galera significativa (incluindo pessoas inesperadas) manifestou uma imensa solidariedade e vontade de ajudar. Juro que nunca vou esquecer essa moçada. Como consequência, as entrevistas foram rolando e viraram uma nova rotina até divertida.
Se alguma profissional de RH estiver me lendo, deixo duas reclamações: 1) por que diabos aplicar uma redação com tema livre? Escrever sobre o nada é desestimulante e pouco avalia. 2) Se rolou uma entrevista, tenha a delicadeza de dar uma resposta, mesmo que negativa. Não acredito que ainda se convida um candidato para um processo seletivo (longo, às vezes) pra depois deixá-lo no vácuo. Caceta! Qualquer e-mail padrão com um agradecimento fajuto é válido. Custa copiar, colar e apertar o botão "enviar"? Vai quebrar o dedinho?
E tome montanha-russa: a alegria pelo convite e por avançar pelas etapas e a frustração por chegar às finais e encarar um "obrigado, mas não foi dessa vez".
Maio...

Em meados de maio, meu telefone tocou e recebi a notícia de que minha namorada, um dos únicos portos seguros que eu tinha, fora convidada para um mestrado em Dublin, Irlanda. Apoiei integralmente, mas fiquei bolado. Perdi o emprego e vou perder a mulher!
Aí, sem querer puxar a sardinha para a brasa da minha primeira-dama, mas tem que ser muito cabeçuda para ser brasileira, recém-formada, e ser chamada para um troço desses lá na terra da cerveja Guinness.
O tempo passava e as entrevistas seguiam na mesma gangorra. Fiz aniversário e não comemorei, continuei jururu, mas botei um novo prazo: "se eu não me recolocar até 28 de julho, vou me mandar para a Irlanda e seja lá o que Deus quiser".
Eis que ouvi dois conselhos:
- Meu amigo, o que seria de nós se não fizermos uma loucura? Quando você vai achar de novo uma mulher que valha uma maluquice dessas? O que você está esperando? - disse uma amiga de 30 anos , três casamentos e dois filhos no lombo. Em agosto, ela embarcou para a Cingapura com o atual marido francês. Sim, ela é maluca e eu fui padrinho do primeiro casório.
- Seu trouxa, um ano não faz a diferença na nossa vida profissional. Você não iria virar gerente ou diretor neste período. Pega um pau de arara e vai ser um retirante na Irlanda. Você vai ser um imigrante exótico - gentilmente comentou um amigo dos tempos da faculdade.
Em julho, o mês da decisão, a Operação Leprechaun assumiu o controle e mexeu seus pauzinhos:
1. Em certo dia, logo no início do mês, acordei arretado e decidi ir para a Europa. Fechei um curso para conseguir visto de estudante, renovei o passaporte e marquei a minha passagem para o final de setembro.
2. No dia 13 de julho, fui convidado para assessorar a comunicação de dois candidatos do Rio de Janeiro.
3. No dia 14 de julho, fui convidado para trabalhar em uma empresa na Barra. Uma daquelas que nunca respondeu aos meus e-mails para dar um sinal de vida. Fiz que nem mamãe ensinou e a Rita Lee cantou: "não, obrigado".
Aliás, você percebeu a data? 14 de julho... um dia antes do prazo de seis meses. Eu teria conseguido. Eu cumpriria o prometido.
Setembro, hoje...
Minha namorada já está na Europa há alguns dias e bate uma saudade com jeito de saudade mesmo. Aquela sensação de falta, sabe? Estou trabalhando 10 horas por dia para eleger os dois

candidatos e deixar uma missão cumprida e dois contatos fortes para a minha volta (caso eu volte). A cada dia que passa, eu sinto a barriga esfriar um pouco mais – um dos efeitos da Operação Leprechaun. No final das contas, o espantoso é que tudo se encaminhou para esta viagem. Todos os acontecimentos me guiaram para Dublin.
Chame de insanidade, chame de destino, predestinação, condenação, providência divina... eu chamo de inexplicável. Só sei que meu pote de ouro tem cabelos dourados e está lá do outro lado do oceano me esperando. Hora de seguir o arco-íris.
QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
AMIGUINHO?
Amiguinho, que história comovente. Se bobear, você pode ser convidado para contá-la em um programa choroso qualquer. Que fofo! Titio He-Man estará ao seu lado. Aliás, se você tivesse perguntado, eu teria dado força. E vamos invadir a terra da Enya, dos Commitments e do U2. Amiguinho, urna não é lixeira. Até a próxima!!!
PS. Putz! Abusei no tamanho do texto. Foi mal!