Elis tem olhos assombrosamente azuis e bonitos, mas implica com os meus. Deixa a entender que tenho um olhar sacana, malicioso demais. Segundo ela, eu não preciso dizer nenhuma saliência ou safadeza para qualquer mocinha. Basta lançar uma olhadela assim de lado que ficam evidentes meus objetivos lascivos - mesmo quando não tenho qualquer segunda intenção. Não sei se é um crítica, mas tomo como um elogio.

Mas, não são os meus olhos castanhos que direcionam esse texto. Mais uma vez, são os dois topázios de Elis que protagonizaram um história bem curiosa. Sim,
as mesmas pedras preciosas que já salvaram uma tarde no Maracanã. Só que dessa vez, o tiro saiu pela culatra.
- Quer namorar comigo? - devia ser o terceiro ou quarto programa a dois de Elis e um engenheiro escandinavo altão com jeito de bom moço, o qual vamos chamar de... Gruud. A menina ficou surpresa com a velocidade do cara em firmar um compromisso, mas topou. Não tinha nada melhor para fazer, estava sem nenhum alvo em particular e o tal norueguês preenchia alguns requisitos básicos.
- Vamos tentar - assinou o contrato.
No dia seguinte, Gruud ligou cedinho para dar bom dia. Depois ligou ao meio-dia para desejar um bom almoço. Ao fim da tarde, telefonou novamente para dizer que o pôr-do-sol estava lindo. Trinta minutos depois, voltou a entrar em contato para desejar uma boa noite.
- Muita cortesia, muita cortesia - pensava Elis com uma pitada de desconfiança sobre onde estava amarrando seu burro.
Fora as ligações, eram dúzias de torpedos amorosos. Recadinhos tão adocicados que o celular poderia sofrer de hiperglicemia. Elis começou a se preocupar, pois era o segundo dia de relacionamento.
Gruud não cansava. Eram convites para jantar, cinema, teatro, museu, festa, bar, raves, sambas, casmentos, batizados, passeios aqui e ali... ufa! Parecia que o cara tinha decorado a agenda do jornal. Elis sacou que estava numa arapuca dos infernos. Gruud era pouco. O loirão altão era um Super Gruud.
Decidida a encerrar a experiência bizarra, Elis buscou a melhor forma de mandar o cara para escanteio. Enquanto procurava a maneira mais delicada de pedir para Gruud sumir do mapa, decidiu não atender suas freqüentes ligações. Possuído por algum exú telefonista, o namorado surtou. Em algumas horas, ele ligou 76 vezes, deixou 24 mensagens e enviou 54 torpedos (dados registrados pelo DataFolha e publicados no Diário Oficial). Nossa heroína de belos olhos azulados trocou a irritação pelo medo.

- Vai que o cara é um tipo de Norman Bates ou Hannibal Lecter... sei lá - Elis me contou no auge do temor.
- Seja gentil com o desmiolado. Ele entenderá - aconselhei, como se fosse um expert no assunto.
Ela seguiu a dica e conversou com Gruud. Explicou que tudo estava seguindo um rumo estranho, que ela descobriu não estar preparada para um relacionamento, que ele era um cara excelente e todas essas colocações positivas que as mulheres bacanas dizem quando querem se livrar de um sujeito sem que ele fique (muito) na vala.
Adoro esses clichês. Eles me divertem...Gruud entendeu? É ruim, hein? Diante de uma Elis estarrecida, o cara chorou copiosamente. Parecia estar perdendo a grande paixão de sua existência terrena. Por sorte, estavam em um lugar público e Elis ficou um pouco mais segura. Pediu licença, se desculpou por tudo e picou a mula sem olhar para trás.
Fim.
Mentira. Tem mais.
No dia seguinte, ou melhor, na madrugada seguinte, Gruud ligou para ela. Elis acordou e reconheceu o número no celular.
- Sem noção filho de uma....
Atendeu.
- Fala Gruud. Sabe que horas são? Eu digo pra você. São 4:15 da manhã de sexta-feira...
Buááááááaáááá!
Gruud parecia uma criança desmamada.
- Tô ferrada! Esse cara é um psicopata, um maníaco depressivo. Vai se matar e deixar uma carta botando a culpa em mim - antecipou a tragédia grega. Mas, Elis segurou a onda e foi tomada pelo instinto maternal. Ouviu as lamúrias do infeliz ex-namorado maluco até o dia clarear. Por incrível que pareça, deu certo. Gruud continuo ligando, mas foi diminuindo gradativamente. Ainda está vivo, o que indica que desistiu do suicídio.
Segundo a última informação de Elis, Super Gruud estava de namorada nova.
Fim (de verdade e com a trilha sonora de "Psicose").
QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinha de olhos desconsertantes, uma mocinha do seu quilate não pode ficar catando papel na ventania. Saiba valorizar o seu passe e não permita que qualquer candidato ganhe a vaga assim fácil. Exija currículo, CPF, comprovante de residência, título de eleitor e referências bancárias com mais de seis meses. Aliás, onde você estava com a cabecinha? Você por acaso compra um carro sem fazer um test-drive? Garanto que para adquirir roupas seus critérios são mais rigorosos. Aliás, He-Man sabe que a maioria das mulheres acaba agindo assim. Ficam horas experimentando um vestido para descobrir se lhe engorda, mas é econômica na avaliação dos pretendetes. E você, leitor, vê se aprende essa: "mulher detesta cara grudento". O Homem mais Forte do Universos está puto hoje. Amiguinho, por mais pentelho que seja, use passe o fio dental nos seus dentes. Até a próxima!