Sempre tive a impressão de que os gregos e os chineses da antigüidade não tinham muito o que fazer. Aí, sobrava tempo para filosofarem sobre a vida. Nem todas as "filosofadas" me comovem, mas tem uma que gosto muito. Algum oriental disse que "quanto o homem trabalha com o que ama, ele não trabalha nunca". Concordo plenamente com o pensador de olhos puxados. Atuar com aquilo que lhe dá prazer é certeza de bom rendimento e paz de espírito, seja como médico, advogado, jogador de futebol ou até padre. Sim, padre.
Venhamos e convenhamos, o cidadão precisa estar muito convicto para decidir ser padre. O cara abre mão de uma vida normal (folias e prazeres da carne) para usar um vestido preto e passar o resto de sua existência rezando. Mas, vá lá. Depois de feita a escolha, ele pode se tornar um grande conselheiro espiritual ou um monstro molestador de coroinhas. Pena que os exemplos negativos sempre ganham mais destaque. Entre as boas referências, Bertoldo foi um exemplo de homem com vocação e talento para a batina.
Conheci o Padre Bertoldo em uma fase carola. Com seus trinta-quase-quarenta anos, ele era capelão da marinha e mudava-se constantemente. Por isso, estava tão longe do Rio Grande do Sul, sua terra natal. Com humor excelente e lições disfarçadas de piadas, o gaúcho sabia transmitir sua mensagem e encher as pessoas de otimismo. Eu achava isso admirável.
Um dia, ele me contou sua história de vida.
- Olha, eu sempre fui gremista, mas nem sempre fui padre.
- É mesmo?
- Bah, guri. Eu cheguei a me formar como advogado, mas estava pouco à vontade. Sentia que seria mais útil como padre. Tomei a decisão de entrar para o seminário e fui contar aos meus pais.
- Eles acharam bacana?
- Recomendaram que eu conversasse com um psicólogo. Meus pais e meus três irmãos ficaram estarrecidos.
- Você conversou?
- Nada. Eu estava decidido. Alguns anos depois, eu me ordenei e passei a trabalhar lá em uma paróquia na minha cidade, antes de entrar para a marinha. Durante um ano eu me senti plenamente íntimo de Deus. Achava que depois de virar padre, minha vida seria um mar de rosas.
- E não foi?
- Pouco depois de um ano de batina, minha irmã caçula morreu em um acidente de carro. Ela tinha 18 anos. Tu tens noção do que é perder uma irmã tão novinha?
- Putz, Bertoldo...
- Alguns meses depois, meu irmão mais velho morreu também.
Caceta, bicho! A história do Padre Bertoldo parece uma tragédia grega.
- Minha fé foi para a balança. Imagina, rapaz, eu virei padre e em pouco tempo vi meus entes queridos falecerem. Sabe qual foi a minha conclusão? O que me fez continuar?
- Não.
- Eu descobri que não se faz negócio com Deus. Tu não podes fazer algo esperando uma recompensa em troca. Tu deves fazer o bem, mas com a consciência de que isso não lhe garantirá nenhum tesouro. Pelo menos, não da forma que você quiser ou no tempo que você quiser. Deus sabe o que faz.
Ouvi as palavras do Padre Bertoldo e percebi que ele seria um péssimo advogado mesmo. Ainda bem que decidiu seguir o sacerdócio. Além de um bom mentor espiritual, tinha a inteligência e a sensibilidade de perceber as coisas e transmiti-las com a serenidade que lhe era peculiar.
Sua lição me tornou uma pessoa mais atenta aos falsos beatos. E, de quebra, me ajudou a dar um passo rumo ao ideal inatingível do ser humano melhor. Mérito de um capelão gaúcho com boas piadas, grande fé e um tragédia na biografia.
QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, bela lição a do Padre. Espero que ele continue bem, seja lá em que porto estiver. Mesmo sem a infinita sabedoria do Homem Mais Forte do Universo, seu amigo de batina demonstrou talento e discernimento com os conselhos. Muita gente acha que pode "comprar" favores divinos. Isso não faz muito sentido para mim, pois a maioria das religiões tem como principal alicerce o amor e a solidariedade. Como se pode comprar amor e solidariedade? Eu, hein! Seja lá qual for o credo, é preciso ter responsabilidade e sensibilidade para levar um recado positivo aos seguidores. Isso envolve coragem e confiança em suas palavras, dois atributos que não se aprendem em seminários ou mosteiros. Amiguinho, atravesse ruas movimentadas apenas na faixa de pedestre ou nas passarelas. Até a próxima!
Venhamos e convenhamos, o cidadão precisa estar muito convicto para decidir ser padre. O cara abre mão de uma vida normal (folias e prazeres da carne) para usar um vestido preto e passar o resto de sua existência rezando. Mas, vá lá. Depois de feita a escolha, ele pode se tornar um grande conselheiro espiritual ou um monstro molestador de coroinhas. Pena que os exemplos negativos sempre ganham mais destaque. Entre as boas referências, Bertoldo foi um exemplo de homem com vocação e talento para a batina.
Conheci o Padre Bertoldo em uma fase carola. Com seus trinta-quase-quarenta anos, ele era capelão da marinha e mudava-se constantemente. Por isso, estava tão longe do Rio Grande do Sul, sua terra natal. Com humor excelente e lições disfarçadas de piadas, o gaúcho sabia transmitir sua mensagem e encher as pessoas de otimismo. Eu achava isso admirável.
Um dia, ele me contou sua história de vida.
- Olha, eu sempre fui gremista, mas nem sempre fui padre.
- É mesmo?
- Bah, guri. Eu cheguei a me formar como advogado, mas estava pouco à vontade. Sentia que seria mais útil como padre. Tomei a decisão de entrar para o seminário e fui contar aos meus pais.
- Eles acharam bacana?
- Recomendaram que eu conversasse com um psicólogo. Meus pais e meus três irmãos ficaram estarrecidos.
- Você conversou?
- Nada. Eu estava decidido. Alguns anos depois, eu me ordenei e passei a trabalhar lá em uma paróquia na minha cidade, antes de entrar para a marinha. Durante um ano eu me senti plenamente íntimo de Deus. Achava que depois de virar padre, minha vida seria um mar de rosas.
- E não foi?
- Pouco depois de um ano de batina, minha irmã caçula morreu em um acidente de carro. Ela tinha 18 anos. Tu tens noção do que é perder uma irmã tão novinha?
- Putz, Bertoldo...
- Alguns meses depois, meu irmão mais velho morreu também.
Caceta, bicho! A história do Padre Bertoldo parece uma tragédia grega.
- Minha fé foi para a balança. Imagina, rapaz, eu virei padre e em pouco tempo vi meus entes queridos falecerem. Sabe qual foi a minha conclusão? O que me fez continuar?
- Não.
- Eu descobri que não se faz negócio com Deus. Tu não podes fazer algo esperando uma recompensa em troca. Tu deves fazer o bem, mas com a consciência de que isso não lhe garantirá nenhum tesouro. Pelo menos, não da forma que você quiser ou no tempo que você quiser. Deus sabe o que faz.
Ouvi as palavras do Padre Bertoldo e percebi que ele seria um péssimo advogado mesmo. Ainda bem que decidiu seguir o sacerdócio. Além de um bom mentor espiritual, tinha a inteligência e a sensibilidade de perceber as coisas e transmiti-las com a serenidade que lhe era peculiar.
Sua lição me tornou uma pessoa mais atenta aos falsos beatos. E, de quebra, me ajudou a dar um passo rumo ao ideal inatingível do ser humano melhor. Mérito de um capelão gaúcho com boas piadas, grande fé e um tragédia na biografia.
QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, bela lição a do Padre. Espero que ele continue bem, seja lá em que porto estiver. Mesmo sem a infinita sabedoria do Homem Mais Forte do Universo, seu amigo de batina demonstrou talento e discernimento com os conselhos. Muita gente acha que pode "comprar" favores divinos. Isso não faz muito sentido para mim, pois a maioria das religiões tem como principal alicerce o amor e a solidariedade. Como se pode comprar amor e solidariedade? Eu, hein! Seja lá qual for o credo, é preciso ter responsabilidade e sensibilidade para levar um recado positivo aos seguidores. Isso envolve coragem e confiança em suas palavras, dois atributos que não se aprendem em seminários ou mosteiros. Amiguinho, atravesse ruas movimentadas apenas na faixa de pedestre ou nas passarelas. Até a próxima!
19 comentários:
Fala meu amigo galáctico!
Primeiro a comentar? Caramba...que honra e que sorte! Esse espaço é merecidamente concorrido! rs
Tem toda razão o Padre Betoldo. Tá difícil, hoje em dia especialmente, alguém fazer algo sem querer outro algo em troca!
Fazer o bem de verdade, está longe de fazer o bem por obrigação...Se além disso vc também tiver gratidão para o bem que te fizerem, vc será uma pessoa muito melhor! Parabéns, excelente e inspirador post!.
Ps: Meu lado StarWarsManíaco não poderira deixar de notar...Porque raios vc colocou a foto do MESTRE Obi Wan Kenobi? O maior de todos os jedis na minha opinião!
Vc quis exemplificar o texto, associando a sabedoria a esse mestre Jedi?...rsrs
Grande abraço
Pitaco imediato!
ROBS, para mim, Obi-Wan é uma referência pop de serenidade e sabedoria. Eu até poderia colocar uma foto do Yoda, mas ele não é humano. Essa historinha gira em torno de gente como a gente.
Surfista,
Simplesmente ADOREI teu post de hoje! Muito profundo e esclarecedor. Realmente, o padre nos dá uma bela lição de vida.
Eu também voltei recentemente a me relacionar com Deus, depois de dez anos de afastamento.
Parabéns pelo post.
Beijos
:-)
História verídica?
Difícil achar gente assim no mundo sabia?
Devo ter conhecido poucas...inteligencia, velocidade de raciocinio e de aprendizado eu conheço...mas sabios...acho que não!
flw
CARLA, que bom que vôcê gostou. Se essa historinha lhe ajudou de alguma forma, fico mais feliz ainda.
FAVARO, verídica e com personagem real, vivente e gente fina. Por ser um cara sábio, ele mereceu um texto contando esse breve diálogo e sua tragédia pessoal. E você está certíssimo: achar pessoas realmente sábias é uma missão cada vez mais complicada hoje em dia.
História veridica mesmoo! Eu ouvi também!
Esse padre é um grande exemplo!! Não tem como não se prender em suas histórias, conselhos e sabedoria... que ele continue ajudando muitos a serem pessoas melhores! ;)
beijoss meu amigo!
Olha que volta e meia eu me pego tentando negociar com Deus.
Uó isso... A gente está tão acostumado ao esqueminha de ter retorno pra tudo o que fazemos, que acaba sendo "mais forte que eu" esse pensamento de negociar com as divindades.
Mas a gente aprende a fazer o bem pelo bem.
Beijos.
"Uma referência pop de serenidade e sabedoria"
Cara, beleza...adorei...imaginei isso mesmo!
Endosso totalmente sua opinião.
Valeu mesmo amigo!! e que a força esteja conosco!rs
Grande abraço
Padre Bertoldo está corretíssimo. A lei da barganha só serve pros negócios.
www.balzacsemprozac.blogspot.com
è isso aí. Indulgências, são tipo, tão Idade Média.
A sociedade fala das putas, detona a Bruna Surfistinha, mas teima nas diversas formas de prostituição.
beijaaa
É a tal da porta estreita. Prova de que Deus não mente.
Realmente, existem pessoas assim, de alguma forma especiais, que cruzam nossas vidas e, por mais breve que seja a sua passagem, deixam-nos ensinamentos que arrastamos connosco pela vida fora. Quando eu tinha uns 7 anos, foi um dentista à minha escola falar dos cuidados com a higiéne oral. Uma das coisas que ele disse (para dizer a verdade, nem me lembro das outras) foi que para lavarmos bem os dentes não era necessário atulhar a escova com pasta de dentes, ao estilo dos anúncios da Colgate. Desde aí eu nunca mais fiz isso. Tal vez não fosse das informações mais relevantes que ele transmitiu, mas as outras talvez eu ja tivesse conhecimento, ou ficaram interiorizadas sem que me lembre em específico. O importante é que, com o decorrer dos anos, isso traduziu-se na poupança de uma avolutada quantia de euros, numa data de camisas e pijamas que não foram precocemente lavados e transformou-me na única das minhas amigas que lava os dentes sem se babar completamente. Não que eu considere propriamente esse dentista especial (ou porque não? nem me lembro dele...), mas revelou-se útil.
Olá Surfista, sou uma antiga leitora do seu blog, adoro!!
Estamos a todo vapor em nosso blog. Beijinhos
Cada um tem uma história de vida mais surpreendete que a outra... que bom que ele nunca deixou de ter fé. Bjs *)
Sempre achei o heman super sexy
Beijos de Londres
Dan
www.sembolso.blogspot.com
Pois é, menino Surfista...Deus sempre sabe o que faz, embora possa parecer o contrário.
E nem só os padres abrem mão dos prazeres da carne. Algumas pessoas tb o fazem, por questões de princípios.
Beijinho!
MARI, você não me deixa mentir. Grande figura o gaúcho.
DZINHA, isso não é exclusividade sua. Vira e mexe, todos tentamos barganhar com o Papai do Céu.
ROBS, exato!
CONTORCIONISTA, o cara sacava as coisas. E olha que tem muito homem de negócios que não sabe negociar.
SUNFLOWER, bem assinalado, menina.
MARIA, Ele sabe o que faz.
TINK, belo comentário. Sabe, temos sempre que buscar o que há de melhor nas pequenas coisas. Sempre percebemos mais o que há de negativo do que o que há de positivo.
LADY, você tem passe livre por aqui. Estou ciente de suas novas aventuras.
DANIEL, He-Man agradece.
MULEKA, o lance é não baixar a cabeça.
MARCIA, pois é, somos todos guiados por princípios e alguns deles impedem certas atitudes.
Êeeee meu amigo platinado!!
Não gosto de padres!
Não gosto de advogados!
Mas fazer o quê se um dia eu sei que vou precisar de um deles [e já precisei...]
Ainda que seja meio radical tenho tentado não seguir filosofias e sempre tergiversar histórias trágicas...Porque sei que sou fraca. Hoje busco a coragem sem encostos e apoios.
Quero ser forte com toda a graça.
Confesso que seu texto me chamou atenção. Por que adoro discutir sobre esse assunto, além de sua pitada de inocência diante da realidade dos dias de hoje...
Abração
Sofia Fresca
Só podia ser gaúcho este padre.... hehehe
E concordo muito com ele. A exist~encia tem razões que a gente desconhece. E é assim que deve ser. Cada um com sua histórias, com suas experiencias pra viver. Com sua vida. Isso é que torna viver tão fantástico. bjs surfista. Nunca mais te ví lá no meu blog. Aparece!
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