Matilde é uma das mulheres mais bonitas que já conheci. Tem traços finos de mulher francesa, pele branquinha de boneca de porcelana e cabelos amarelos que nem um pôr-do-sol na serra. Esses atributos são a parte light da moça. O que derruba, desarma e constrange é o seu sorriso de teclas de piano. Quando ela sorri, você fica sem saber para onde olhar. Chega a ser embaraçoso.
Não, não quero pegar a Matilde. Mulheres casadas estão fora da minha alçada e minha querida colega de trabalho é uma respeitável mãe de família. O que me leva a escrever sobre Matilde (além de sua beleza monstruosa) é uma história despretensiosa, contada durante um almoço igualmente despretensioso.
Tenho uma baita cara de bom moço, ou sou um imã para confissões. Só pode ser. Por essas e outras, este blog safado segue firme e forte no universo virtual. Que bom!Durante a sobremesa, ela me contou uma história que começou há dez anos atrás e teve mais um capítulo há dois meses. Sendo bem direto, o caso começou quando Matilde ainda não usava aliança na mão esquerda.
Era uma vez...
Em 1998, Matilde namorava Stanislaw, um sujeito rebelde, aventureiro, maluco, descompromissado e completamente irresistível aos seus olhos. Nossa heroína, toda poliana, sempre teve uma queda por rapazes desajustados, mas já estava ficando de saco cheio de tanto
rock'n'roll.
Numa bela manhã, Matilde viu que todo o seu amor não mudaria o
Lobão-way-of-life do namorado. Eles já estavam crescidinhos, e ela tinha ambições, enquanto que ele queria seguir vivendo
la vida loca. Com os corações partidos por três anos de paixão e guitarras distorcidas, eles se separaram.
Um pouco depois, Matilde conheceu um cara legal, com boas piadas, pegada firme, estabilidade emocional e uma perspectiva de vida bacana. Eles namoraram, noivaram, casaram e tiveram uma filhinha linda - como a mãe.
Em outubro de 2008, Ary, amigo de Matilde, faleceu. Ela não pôde ir ao velório, mas foi à missa de sétimo dia. Foi sozinha, pois o marido tinha outro compromisso. Ela preferiu assim, pois sabia que havia uma chance razoável de reencontrar o melhor amigo do falecido.
Quem? Quem? Stanislaw, o próprio!
Mesmo avesso a igrejas, Stanislaw estava lá. Ele veio cumprimentar Matilde com uma educação londrina. Ela percebeu que o ex não mudou nada depois de dez anos. Ele continuava com a mesmíssima aura de garoto, com os cabelos desarrumados e um jeans carcomido. Claro que tinha o mesmo ar encantador de outros tempos. O bad boy não envelheceu um dia sequer.

Ao fim da missa e dos cumprimentos aos parentes do finado, Stanislaw acompanhou a moça até a calçada.
- Você casou, né? – ele perguntou.
- Casei.
- Fiquei sabendo. Olha, estou muito feliz por você estar bem.
- Que bom, Stanislaw. Também torço muito por você.
- Só quero que você saiba uma coisa que está engasgada aqui há anos.
Matilde segurou a respiração. Eu segurei a respiração, enquanto ouvia. Se eu fosse você, faria o mesmo.- Tive muitas namoradas, tenho uma agora, e, provavelmente, terei outras. Mas, nunca amei ou amarei uma mulher com a intensidade que te amei. Nunca. Ainda hoje, guardo uma foto sua na minha gaveta. Ninguém se atreve a perguntar quem é. A mulherada vem e vai, mas você será eterna. Realmente, fico muito feliz por você estar realizada na vida.
Matilde não conseguiu falar nada. Ficou em silêncio enquanto Stanislaw ensaiou um sorriso tímido, virou-se e sumiu sem se despedir. Não esperou resposta. Disse o que queria e desapareceu no tempo e no espaço.
Matilde ficou sem reação. Misturou raiva, tristeza e estranhamento, bateu tudo no liquidicador e bebeu um suco da mais pura felicidade feminina, aquela que vem da certeza de ser alvo do amor legítimo, sincero e atemporal.
- Doug, eu jamais trocaria a minha vida de agora pelo que tive com o Stanislaw, mas as palavras dele foram lindas e ficarão comigo para sempre.
Fiquei matutando sobre a experiência cinematográfica de Matilde e as palavras que me atropelaram meses atrás:
"Não casei com a mulher que mais amei. Casei com a que me dava melhor".Isso rendeu
um texto, mas, sobretudo, rendeu pensamentos que me assombram, que me rasgam por dentro. Será que casarei com a mulher que mais amei? Será que terei a oportunidade de me confessar, do mesmo jeito que o Stanislaw?
Para a primeira pergunta, eu não sei a resposta. Para a segunda, eu sei.
QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, estes seus pensamentos melosos estão dando no saco do Homem Mais Forte do Universo. O que lhe salva de um sonoro esporro por retornar à mesma ladainha do "a pessoa mais amada e a pessoa que mais lhe completa" é a história da Matilde. Como você mesmo disse, em um raro momento de sensatez, entre o furacão de sensações, ficou a felicidade de saber que em algum lugar do universo, um ser humano lhe ama incontrolavelmente. Como disse o carinha, mulheres podem vir e podem ir, mas a referência do verdadeiro sentimento que inspira as canções bregas fica.
Carajo! Você viu o que eu disse? Eu fui contaminado pela sua maldita visão melosa do mundo! Argh! Amiguinho, não faça bolinhas de meleca e arremesse no coleguinha. Isso é nojento pra cacete e dá uma raiva dos diabos! Até a próxima!!!