domingo, 23 de novembro de 2008

Dr. Quarenta e seu plantão médico

Sempre desconfiei dos plantões médicos. Por mais que muitos levantem questões de ética, profissionalismo e até o Juramento de Hipócrates, ninguém me tirava da cabeça que aquele monte de gente reunida madrugada adentro dava um jeitinho para aprontar das suas. Não é que dão mesmo...

Eliseu era um médico mineiro que decidiu fazer carreira em São Paulo. Deixou família e uma noiva em Uberlândia para ganhar dinheiro em Sampa. O doutor estudava, participava de seminários, trabalhava em clínicas e curtia madrugadas nos plantões de um hospital público. Lá, ele era subordinado à Dra. Ryuu, médica responsável, descendente de japoneses e fonte deste causo.

- Doutora, preciso de um tempinho para descansar. A senhora me arruma uns quarenta minutos? – pedia Eliseu.

Quase sempre, Eliseu pedia quarenta minutos para o relax. Sumia e voltava com um sorriso nos lábios.

Aos poucos, a amizade entre a médica e o mineiro foi crescendo. Quando eles já estavam íntimos (no bom sentido), Eliseu resolveu revelar a natureza dos seus "intervalos relaxantes".

- Ryuu, tenho que te contar. Eu estou tendo um caso no hospital.

- Eliseu, menino, você é noivo.

- Uai, minha noiva é para casar. O caso é para aliviar a tensão.

- Ai, meu Deus. Não me vá arranjar problemas. É alguém da enfermagem?

- Sim.

- Quem?

- Todas.

Dra. Ryuu quase engasgou com o café.

- Como assim???

- Pois é, elas dão mole e, às vezes, estou sem fazer nada. Aí, já viu...

Fazendo justiça à fama mineira de comedores-silenciosos, Dr. Eliseu era um terror. Em todo hospital, não havia uma enfermeira, técnica ou assistente de enfermagem que não tivesse passado pelos seus "quarenta minutos".

Num desses intervalos, a noiva mineira de Eliseu ligou. Dra. Ryuu atendeu e ficou com a batata quente nas mãos.

- Eliseu taí, doutora? Queria falar com ele só um bocadim!

Dedurar o amigo ou acobertar uma traição? Dra. Ryuu decidiu dizer a verdade... mas ao seu modo.

- Olha, ele está fazendo um exame ginecológico, mas já volta. Eu deixo o seu recado.

Com o álbum completo e repetindo várias figurinhas, Eliseu decidiu focar em Georgina, a enfermeira nova. A mulher era um cavala daquelas que só aparecem em filmes de saliência. Vestindo a roupinha branca, ela era uma fantasia sexual ambulante. O pior é que tinha fama de certinha e não aturava as gracinhas de ninguém do hospital. Alguns médicos tentaram a sorte, mas nenhum se deu bem.

- Vou pegar essa mulher, sô! Anotem aí o que eu estou dizendo - decretou Eliseu. Há quem conte que rolou até bolão de apostas.

Assim que teve uma oportunidade, Eliseu armou o bote e... corte seco. Tentou de novo, e tomou outro corte-seco. Insistiu, insistiu e nada. Dr. Quarenta tinha achado uma rival à altura das suas habilidades.

Certa noite, Dra. Ryuu viu Eliseu chegar com uma mochila. Ele sorriu e abriu um pedacinho do zíper da bolsa para revelar sua nova arma: uma garrafa de vinho francês.

- Vou pegar essa danada e é hoje, sô. Por favor, programa uma folguinha de trinta minutos para as duas horas da madrugada. Não atenderei nem o Presidente da República.

Na noite seguinte, Georgina foi ao gabinete de Ryuu. Pediu licença e adiantou logo o serviço.

- Doutora, a senhora é amiga do Dr. Eliseu, né?

"Ai, ai, ai... vai processar o Eliseu por assédio sexual", pensou a médica.

- Então, eu queria saber se ele é solteiro, se me acha bonita. Acho que estou gostando dele...

Estarrecida, Ryuu prometeu checar e convocou a presença de Eliseu imediatamente.

- Estou impressionada contigo, Eliseu. Não é que a enfermeira nova está gamadinha? Agora me conta, o que foi que você fez para quebrar a resistência?

Dr. Quarenta sorriu com ar de poder, respirou fundo e...

- Olha, Ryuu, contar eu não posso, sô. Mas, se você quiser mesmo saber, eu mostro.

Ryuu jura de pés juntos que nunca caiu nos encantos do mineiro, mas admite que essa resposta extraordinária justificou cada intervalo concedido.

Epílogo:

Eliseu casou com a noiva de Uberlândia, ainda mora em São Paulo e não faz mais plantões. Tornou-se um grande cirurgião e seu hobby atual, segundo informações, é correr maratonas.

Obrigado pelo causo, doutora.



QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?

Amiguinho, do alto de sua sabedoria milenar e anabolizada, He-Man sabe que este tipo de tema despertará dois tipos de manifestações: pessoas que condenarão o comportamento promíscuo do Eliseu e mulheres que vão pedir o endereço do consultório. Daí, você pode ver como há pesos e medidas para a traição. He-Man, sarado e fabuloso, não pratica o concubinato, mas também não condena quem goste de uma pulada de cerca. Se não me engano, apenas os golfinhos são fiéis às suas companheiras. Todo o restante dos representantes masculinos do reino animal atendem um penca de fêmeas ao mesmo tempo. E nunca tive notícias de uma leoa que deu uma surra de toalha molhada no leão ou uma macaca que tenha contratado um detetive para investigar a vida do macaco. Machos são naturalmente safados. Fazer o quê? Amiguinho, tente dormir pelo menos oito horas por dia. Até a próxima!!!

17 comentários:

JUJUbildes disse...

Nossa, é complicado imaginar um plantão médico assim... será que rola muito isso mesmo? Com vinho e tudo mais? Coitados dos pacientes que precisarem de um atendimento que deveria ser sóbrio, centrado e eficiente! Um médico com a cabeça em outro lugar, e os sentidos meio perturbados pelo álcool... ai meu Deus! Rs...

Jongleuse disse...

Pera aí!
Desde quando o He-man virou o "safado" deste blog?! O que houve com o homem mais forte do mundo?
Hehehehe

Quanto ao tema traição, ainda estou pensando uma forma de colocar minha opinião por escrito sem parecer radical demais! ;-)

JUJUbildes disse...

Meu comentário se ateve mais ao plantão médico com cara de sátira do Casseta e Planeta, do que ao tema traição... rsrsrs....

Anônimo disse...

Surfista: eu nunca traí e já fui traída. Sei que isso faz parte da vida, mas dói pra caralho e eu acho uma TREMENDA filhadaputagem. Principalmente pq hj ninguém é obrigado a se comprometer com alguém. Se comprometeu, acho de bom tom que cumpra seu compromisso.
He-Man: na real, tem vários animais que são fiéis, principalmente aves. Tem coruja, Pingüim, todo mundo no time monogâmico. O golfinho, em especial, é um dos poucos que faz sexo por prazer, só que a 'golfinha' se faz de difícil... sendo assim, freqüentemente eles estabelecem algumas relações homossexuais para 'aliviar a tensão'.
Resumindo: o Eliseu é um filho da puta! hehehe
bjones

Barbara Góes disse...

kkkkkkkkkk

e deve ser assim msm.. ^^

e eu duvido q a dotôra nao tenha ficado curiosa.. hahaha

bjoo

Pedro Favaro disse...

vc já ouviu falar num filme pior que Dr. T e as mulheres?
é péssimo.

Anônimo disse...

Aos homens eu aconselho, sejam HOMENS e assumam suas escolhas.
Os que se acham os 'picões do quarteirão' qdo traídos choram que nem criança. Concordo com a Truculenta: "Principalmente pq hj ninguém é obrigado a se comprometer com alguém." Depois reclamam quando eu digo que os homens são ótimos candidatos a serem cornos em potencial....

Aninha disse...

Surfista:

Traições acontecem em qualquer ambiente de trabalho (condenáveis e deploráveis) !! Mas nem todos os plantões, nem todos os médicos(as), nem todas as enfermeiras são assim... Alguns se salvam, existem médicos(as) e enfermeiras gente boa e fiéis.
Por exemplo, aposto que a Dra Ryuu é gente boa!

Anônimo disse...

Prefiro nem comentar... rsrsr*
Surfistaaaaa vc anda mto sumido.. bjo

Anônimo disse...

Surfista
Nossa, não pensei que você ia postar uma historinha tão chinfrim... Cadê as histórias bem construídas e os questionamentos instigantes?
Grande parte disso aí é imaginação. Nos lugares que trabalhei (e olha que foram vários e vários hospitais de São Paulo), nunca fiquei sabendo dessas aventuras noturnas. Talvez entre os próprios doutores, lá no quartinho deles. Mas com outros profissionais não.
Um abraço e melhores posts!
Lyla

Surfista disse...

Vamos esclarecer uma coisinha antes de continuar: não sou partidário das puladas de cerca. No entanto, não sou juiz e acho que cada um sabe do seu cada um. A história do Dr. 40 ganhou minha atenção pela cara-de-pau do protagonista, que era médico, mas poderia ser leiteiro, engenheiro, advogado, publicitário, carpinteiro etc etc.

Eu conheço uma cacetada de genéricos do Doutor, mas tenho noção dos meus defeitos e não sou o cara de ditar o que marmanjo deve ou não fazer.

JUJUBILDES, sistema de hospitais públicos no Brasil é isso aí.

JONGLEUSE, seja radical. Solta os cachorros!!!

TRUCULENTA, nunca traí e (até onde sei) nunca fui traído. Imagino que deve ser uma barra pesadíssima. Sobre o reino animal, o golfinho é um bicho esquisito: é um mamífero aquático, pratica sexo por hobby, é violento, é inteligente e ainda tem fama de bom moço. Eu não brinco fora do meu cercadinho. Sou um "golfinho" - tirando o lance gay.

BÁRBARA, pelo que sei, a doutora segurou a onda.

FAVARO, fiz questão de não ver esse filme.

BRIGITE, tenho a teoria (uma das muitas) que "quanto mais malandro, mais espertão, maior a tendência a ser corno".

ANINHA, Dra. Ryuu tem cara de honesta. Acho que ela não participava da folia.

MULEKA, mal tenho tido tempo para responder a galera. Desculpa!

LYLA, sou padrinho de casamento de um médico e namorei uma médica. Por conta disso, fiquei sabendo de historinhas do arco da velha. Não se incomode, pois a inclinação ao mau-caratismo independe da profissão. obrigado pela crítica. Sempre que precisar, detona o autor! Isso mantém a minha bola baixa e os meus pés no chão.

Dani Amorim disse...

Queriiido, sim, eu ando sumida meeeiiixxxmooo (como se diz ai na sua terra!).

Esse post me lembrou um amigo meu (medico e honesto) que diz assim:
"Eh complicado segurar a barra pq tudo favorece... qdo colegas de escritorios viajam a trabalho, cada um se hospeda num quarto (a nao ser q queiram a cachorrada, claro!), qualquer outro profissional ficam homens e mulheres em comodos separados, ai a gente, geralmente o hospital dispoe so de um quarto comum a 2 generos... ai acontece de tudo madrugada a dentro".

Concordo com ele, nao que eu ache certo a pulada de cerca. Nunca passei e nunca soube de um levado, mas nao tenho perfil de passar por cima e "o que vale eh o amor" nao.

Ainda bem que escolhi trabalhar com a parte de consultorio no lugar da fisioterapia intensivista :P

Jongleuse disse...

Então, concluindo...
Quando o assunto é traição os maiores clichês são: “mas teve ou não teve sentimento?”, “Se busca algo fora do relacionamento é porque não está feliz com o que tem dentro”, “se traiu uma vez é porque trairá sempre”... e por aí vai.

É difícil falar de uma situação que você nunca viveu, principalmente as ligadas à sentimentos...

Quanto a ser traída sou da teoria de que ignorância, em alguns momentos, é uma dádiva. Se fizer, faça bem feito para que eu nunca fique sabendo. Se a notícia chegar até mim teremos toda aquela desgastante conversa de que confiança só perde uma vez... Fora que eu acho uma mega covardia. Uma das partes vai lá, trai, e deixa a decisão de continuar ou o relacionamento não na mão outro? Definitivamente eu preferiria não saber.

Agora quanto a eu ser capaz de trair? Acho que sim... Não falo de trair com o cara que trabalha na baia do lado, com o vizinho ou a ex-namorado... Isso pra mim só mostra que a pessoa não sabe o que quer e não respeita o que ele tem como relacionamento estável. E falta de respeito está fora de cogitação. Mas existem ocasiões na vida em que se você não tomar determinada atitude, estará faltando com respeito a si. E talvez isso seja ainda pior.

Não sei dizer que situação seria essa, talvez por isso não tenha traído até hoje... Ou vai ver que só achar que eu seria capaz de trair já me seria liberdade suficiente...

Anônimo disse...

Ahhhhhh... teorizaram muito em cima desse texto!

Vamos falar a verdade, na realidade, esse negócio de traição é ruim pra todo mundo, não conheço ninguém que diga: "ah sim, é legal levar chifre". E ninguém está isento, a trair ou ser traído. É o tipo de coisa que não me atrevo a pagar de moralista, apesar de nunca ter traído.

Mas, na ficção, sempre gera boas histórias! E o doutor da história deixa um recado muito legal, de que o segredo é a alma do negócio!

Anônimo disse...

Me poupo de julgar o comportamento sexual do médico, mas achei medíocre o cara revelar as peripécias dele e expor as "cúmplices" para a médica-comparsa. Falta de ética, né?!

www.balzacsemprozac.blogspot.com

Anônimo disse...

me abstenho de comentar sobre traição. cada um sabe onde o sapato aperta.

vc pode me explicar isso?
"A mulher era uma cavala"
como assim, do tipo que relincha? rs

olha, esse he-man tá ficando bem safadinho, hein...

outra coisa...
ursos, cisnes, pinguins, a maioria das aves são monogâmicas.
então, entre ursos e golfinhos, acho q vc deveria se comparar com o primeiro que ñ tem o "lance gay".
beijoca.

Juliany Alencar disse...

Esse Eliseu deve ter a pica de mel. hahahahahahahahaahaha

E o pior é que a história sempre acaba assim: o cara apronta todas, mas sempre recorre à velha e otária namorada.

É por essas e outras que tenho medo de me aventurar em um novo relacionamento.

Beijos, Surfista sumido