quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

A linguagem dos sinais

O primeiro texto de 2009...

Modéstia à parte, sou um cara otimista. Aliás, sou positivo, mas concordo com o Frejat, quando ele diz que "rir de tudo é desespero". Eu acredito que a vida pode ser muito mais fácil quando procuramos algum sinal que nos ajude ou conforte. Para exemplificar, escolhi duas histórias curtinhas (uma sobre um conhecido e outra protagonizada por mim mesmo). Estou quase me rendendo à auto-ajuda chinfrim, mas peço a sua compreensão. Hoje é o primeiro dia do ano e estou de ressaca.

O momento certo

Roberval namorava Jurema há um bom tempo. Ele estava decidido a casar, mas esbarrava em um detalhe: ele tinha um medo insano de fazer o pedido. Já havia montado 1001 mise en cenes para fazer o tal pedido milenar, mas sempre engasgava, tremia, refugava, arremetia, gaguejava, suava etc. Enfim, quando estava diante do gol, o nosso herói simplesmente não conseguia.

Nessa brincadeira, já havia perdido uma dúzia de oportunidades. Por mais que ensaiasse, na hora H, algo acontecia e Roberval tirava o time de campo. Certa vez, eles estavam no menos romântico dos programas: andar no shopping.

Por que as meninas adoram tanto shopping centers? Qual o maldito fascínio que esses lugares exercem sobre o imaginário feminino? Eu, por exemplo, sou objetivo. Sei o que quero, pesquiso em duas ou três lojas, compro e volto para casa. Simples assim. Meninas sabem mais ou menos o que querem, visitam todas as lojas (mesmo aquelas que não tem nada a ver com o desejo), experimentam todas as peças, acham que ficou ruim e voltam para casa de mãos abanando. Eu, hein!

Sentados em uma praça de alimentação, o casal beliscava um McLanche Feliz. Subitamente, Roberval percebeu que Jurema olhava fixamente uma família que passava. Era um homem, uma mulher e um bebê dorminhoco dentro de um carrinho.

- Bonito, né? - Roberval levantou a bola.

- Lindo – ela respondeu sem tirar os olhos.

- É o que eu quero para nós dois. Quer casar comigo?

Jurema foi arrancada de seus pensamentos sobre a tal família de comercial de leite Molico. Olhou para o namorado, que não estava gaguejando, tremendo ou suando frio.

- Quero muito.

Sinceramente, não sei como estão. Não eram amigos meus. Até onde fui informado, eles casaram mesmo.

O que faz tudo valer a pena.

Eu conheci Amália por acaso. Sem fazer muito esforço, fui criando uma admiração pela moça. Ela tinha um humor genial, era inteligente, sagaz, tinha longos cabelos negros e toda a gostosura possível dentro de 1,67m (aproximadamente, pois nunca medi a garota).

Amália foi conquistando meu interesse – e vice-versa. Começamos a sair, e os flertes foram dando frutos. O probleminha era a distância entre nós. Eu moro no Rio e ela em Petrópolis.

Certa vez, fui encontrá-la. Meu carro estava na oficina, e subi a serra de ônibus. Chovia horrores e fazia um frio de congelar os ossos. Dentro do ônibus, eu fiquei me questionando sobre esta nova aventura na serra.

Por que diabos estou fazendo isso? Tá chovendo pra cacete, tá frio, estou sem carro, tenho programas no Rio e ainda assim estou subindo a montanha. Onde estou com a cabeça?

Chegando à Petrópolis, o ônibus parou em frente à Casa do Alemão, lar de um dos melhores sanduíches de lingüiça do mundo. A chuva não dava trégua, mas quando a porta se abriu, percebi uma cena que parecia pinçada de um filme da Meg Ryan.

Amália estava encolhida pelo frio e pela tempestade. Ela estava molhada, mas estava lá, me esperando. Ela foi a minha primeira visão de dentro do ônibus e me fez descobrir porque eu encarei a estrada, o mau tempo e a temperatura. Raras vezes tive uma demonstração tão singela, tão espontânea e contundente, de carinho.

Pedindo licença ao He-Man, essa foi a lição que aprendi. Sempre que estou passando por algum perrengue, eu penso naquela menina linda na chuva, com frio, mas me esperando. Penso que, mesmo nos sufocos, há alguma recompensa esperando ser descoberta.


QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?

Amiguinho, agora você vai querer assumir o meu papel de dar as lições no final das histórias? Quem lhe gabaritou a tal função? Você ainda deve estar de pileque. Enfim, sua historinha e a do Roberval tem um elo muito forte. Anote na sua agendinha dos Transformers para não esquecer: a vida sempre mostra um sinal sobre o que fazer. Não me refiro nem ao Papai do Céu, mas na forma como soluções e reconfortos estão sempre ao redor, aguardando apenas serem reconhecidos. E isso não é auto-ajuda de boteco. Amiguinho, quando você passar o reveillon na praia, tenha bom senso com as oferendas à Iemanjá. Duvido que ela goste de Sidra Cerezer.

PS.

22 comentários:

Ruiva disse...

É, querido. A vida se encarrega de nos mandar sinais mesmo. Uns muito sutis, outros nem tanto..
Que em 2009 você perceba os sinais da vida.
Um beijo bem grande!

Anônimo disse...

1,72.

Anônimo disse...

vamos por partes.

- odeio shoppings, com todas as minhas forças. ñ posso te responder isso. e sempre sou "tragada" pra dentro de um. mesmo qdo a função não tem nada a ver com vendas.

- dentre todos os pensamentos q ele teve, certamente este foi o mais perfeito. espontâneo. mesmo se o casamento ñ der certo, ela vai lembrar deste pedido pra sempre.

- eu acho q as coisas se constroem em detalhes. e o bom da vida é estar atento à eles. sempre.

e o he-man pode estar errado? Iemanjá ñ deve mesmo gostar de sidra, de fato. mas ñ é só esse o percalço do reveillon na praia.
eu gostei, mas ñ quero repetir não!

beijos, feliz ano novo. de novo.
;)

Surfista disse...

Ok, 1,72m...

Anônimo disse...

Doug, adorei as historinhas. Muito mesmo (graaande novidade!).
Eu sou muito atenta aos sinais. Mas às vezes acho que acabo exagerando e vejo sinal onde nem existe kkk.
Feliz Ano Novo pra vc. Bjos.

Anônimo disse...

Ei.. depois q comentei fui passear aqui do lado, na coluna da direita, e cliquei no "clique aqui" do "PS. Para saber a origem do nome, clique aqui". Constatei que eu fui a primeira a comentar no seu blog! Achei o máximo. kkkkkk

Anônimo disse...

Lindas histórias!!!!

Nem sempre comentando, mas sempre gostando muito do que leio aqui.

Olhe, eu acredito muito que pequenos gestos ou sinais realmente nos dão respostas perfeitas.... a gente olha, para e pensa: "sim, é isso" !!!!

Desculpa a breguice, mas me veio música do Rei agora: "detalhes tão pequenos de nós dois são coisas muito grandes pra esqucer"...

Acho que é meio por aí, e não só pra relacionamentos entre homem e mulher...

Pessoalmente, prefiro muito mais os detalhes pequenos e "bobos", estes sempre me disseram muito mais...acho que são mais sinceros e espontâneos.

Muito mais importantes do que qualquer coisa estudada, grandiosa ou espalhafatosa...

Legal que o casal do shopping captou isso, e que vc teve a sensibilidade de perceber que aquilo valia, sim, a pena...

Ah, e feliz 2009 pra todos nós !!! :-)

Bárbara Pereira disse...

Surfista,

botininha as histórinhas de amor! Será que vem casamento do surfista esse ano?
Bem, espero que a Rainha do Mar atenda aos seus pedidos mesmo com uma oferenda tão fraquinha...rs

Abraços e Feliz 2009!

Bárbara Pereira disse...

efeito do álcool ainda: são bonitinhas as histórias, ok?

Abs

JUJUbildes disse...

Surfista,
histórias de amor são sempre bonitas... Adoro as que vc conta aqui!
No meu caso, ultimamente nem sinais estão pintando... Mas vou acreditar que há algo especial pra mim em 2009...

Beijos!

Juliany Alencar disse...

Simples e objetivo. Concordo plenamente com a lição do texto. Tudo tem um propósito e devemos sempre reconhecê-lo.

Beijos e um excelente 2009!

Anônimo disse...

Feliz ano novo!
Por partes:
- Eu detesto declarações de amor elaboradas. Sabe aquela coisa te voar de asa delta com uma faixa escrita "eu te amo" ? Então, não gosto. Eu adoro mesmo é toda a simplicidade que o amor trás pra nossa vida e achei essa sua história incrível por isso. O que existe é o momento. A forma pouco importa.
- No fundo a gente sempre sabe pq ta fazendo tal coisa, por mais absurda que pareça. Vc sabia que ela estaria lá, e por isso foi. Mas... infelizmente, nem sempre isso basta.
- Eu fui pro Rio no réveillon! \o/
hehe
beijones

Anônimo disse...

Ah, achei vc no orkut. Agora eu sei quem vc é! Há.

Surfista disse...

RUIVA, estou sempre de olho nos sinais, mocinha.

DRIKA, excelentes conclusões!

ISO, não se preocupe, querida. O legal é ir ajustando a sintonia para receber os sinais verdadeiros.

DANFERN (que não é Fernanda), você captou exatamente o que eu quis dizer. A missão deste texto mixuruca está cumprida. Obrigado pelo elogios.

BÁRBARA, o Surfista não casará jamais. Sua identidade secreta até pode ser enlaçada, mas o alter ego jamais. Mas, infelizmente, posso lhe adiantar que o homem por trás da prancha está em uma solidão claustrofóbica.

JUJUBILDES, são histórias legais porque são verdadeiras. Se eu inventasse essas aventuras, não haveria a mesma magia.

MULHERZINHA, exato! Olhos abertos sempre.

Aninha disse...

Surfista:
Um detalhe pode fazer de um momento o mais bonito, mas também existem sinais que podem estragá-lo para sempre. O importante é aprender com cada um deles... Espero o meu "sinal bom", mas ele vai ter que ser bem explícito, porque cada um tem a sua interpretação para um meso fato, beijos...

Anônimo disse...

Gostei da perspicácia do seu amigo! Fato é, boa parte dos caras por aí não tem esse feeling pra mandar a letra na hora certa. E Amália com certeza é mulher de verdade ! ;)

No mais, feliz ano novo e sigamos 2009 de olho no lance, sem titubear na frente do goleiro.

Surfista disse...

ANINHA, o sinal bom é pessoal e intrasnferível. Ele surge para você e apenas para você. A sua interpretação será a correta, independente de análises alheias.

DUDU, meu caro, você é um cara perspicaz. Saca as paradas.

Anônimo disse...

ahahaha...belo pos t isso mesmo a vida nos encarrega de nos dar sinais....não somos super herois....com poderes titaniocs.mais temos muitas maneiras de levar um situação...e so querer..cof..cof..cof..( desculpa..to tosssindo aqui..srs )...mais bem legal seu blog a começar pelo seu apelido surfista platinado.....srsrs

xero!

Anônimo disse...

Engraçado como às vezes perdemos um tempo enorme esperando o momento certo e não percebemos que nós mesmos fazemos o momento certo....um pedido de casamento, feito por uma pessoa que realmente amamos, torna o momento, qualquer momento, especial e não o contrário!

E parabéns por perceber o carinho por trás da atitude da Amália. Muitos homens achariam que a atitude dela era puro desespero...

Anônimo disse...

A felicidade se encontra em pequenos momentos de felicidade. Gratificante saber que temos alguém pra contar sempre né? Dê valor Surfista, pq nós humanos somos bicho de mil cabeças, só aprendemos a importancia de alguém em nossas vidas depois que as perdemos. Beijos e um Feliz 2009! *)

Anônimo disse...

Este dia, e a seqüência dele, incluindo um post "presente de aniversário" seguido de um sumiço, foram lembranças difíceis de digerir. E ainda que você repita mil vezes que a distância Rio - Petrópolis contribuiu para a sua decisão, eu não acredito nisto, não vou acreditar, até mesmo porque na minha cabeça, Rio - Petrópolis não é distância. Me soa como covardia este discurso, e você certamente teve razões mais verdadeiras para se afastar. Não quero sabê-las. Hoje uma frase há muito tempo postada num blog de uma amiga, fez total sentido: ”NÃO IMPORTA O QUE O PASSADO FEZ DE MIM. IMPORTA É O QUE FAREI COM O QUE O PASSADO FEZ DE MIM.” É mais ou menos por aí - as coisas aconteceram, o tempo passou. Eu não sou mais a mesma menina que estava lá te esperando num dia nem tão frio nem tão chuvoso assim, mas quem sabe esta que sou hoje não faria tudo de novo?

Surfista disse...

MUSA, você continua discretíssima. Realmente, esperou a poeira baixar e o texto sair da pauta para se pronunciar (de novo, pois a primeira intervenção foi apenas um tira-gosto). É curioso como a verdade às vezes soa pouco sincera. Mas, não menti. Nem você. Sou covarde. Fui covarde. Mas, aprendemos muito com o passar do tempo. Quem sabe eu também não repetisse tudo de novo?

PS. Desculpa. É clichê, mas peço desculpas.