segunda-feira, 29 de março de 2010

A missão de Zé Américo e a mulher de fogo

Zé Américo era um cara normal. Não era alto nem baixo. Não era gordo nem magro. Não era bonitão nem feioso. Era uma figura que pouco se destacava na multidão. Por outro lado, Anita era um colosso: 25 anos, corpo esculpido em várias jornadas de malhação, cabelos loiros tratados à base de muito amor e Victoria's Secret e pele bronzeada pelo sol que só Ipanema tem. Enfim, era o tipo de fêmea que jamais dividiria lençóis com o nosso herói.

- Vou pegar essa mulher! – encasquetou Zé Américo, assim que a conheceu.

Como missão dada é missão cumprida, nosso bom guerreiro iniciou a campanha valendo-se do seu maior atributo: a habilidade com as palavras.

Pondere comigo: quando o indivíduo torna-se consciente de que a concorrência dos outros homens pintosos do Rio de Janeiro é desleal, a solução é se apoiar na lábia. E, leitor camarada, já vi muito malandro com layout facial mal desenvolvido faturar gatinhas graças ao bom traquejo. Aposto que você também.

Por sua vez, Anita era uma presa difícil. Em rápida pesquisa entre os amigos em comum, Zé Américo descobriu que muitos pretendentes tentaram, mas nenhum conseguiu sucesso. O histórico da moça intimidaria a muitos, mas não ao nosso aspirante a D. Juan. E contrariando às estatísticas, ele foi comendo pelas beiradas até ouvir as palavras mágicas:

- Então, tá. Vamos sair.

Durante três meses, o casal fez os melhores programas românticos da cidade do Rio de Janeiro: por do sol na praia de Ipanema, jantar no Palaphita Kitch sob o céu estrelado da Lagoa, Manekineko do Itanhangá, comédia romântica no Cine Leblon, teatro na Gávea. Enfim, todos esses eventos protocolares que os homens fazem para finalizar uma noite em uma suíte do Motel Panda, estabelecimento classe A lá em Botafogo.

Só que quase três meses passaram impiedosamente e as investidas sexuais de Zé Américo eram cortadas categoricamente. A paciência do rapaz estava nas suas últimas fagulhas. Entretanto, ele buscava motivação em um pensamento bem plausível: por mais ágil que fosse com as palavras, as chances de outro avião daqueles aterrissar no seu aeroportozinho eram pequenas. O mais prudente seria continuar com a campanha e torcer pela sorte.

Não é que a sorte grande resolveu lhe sorrir.

- Tá bom, Zezinho. Mas não hoje. Me pega amanhã e a gente vai para um lugar mais confortável. Só nós dois.

No dia seguinte, sem atrasar um milésimo de segundo, Zé Américo estava na portaria de Anita. Ela apareceu com um bolsa maior que o normal, mas como ele pouco entendia de moda, decidiu ignorar. Sem enrolações, eles seguiram para o motel mais próximo.

- Peraí, Zezinho. Entra no banheiro e espera eu te chamar. Você vai gostar.

Para quem esperou tanto tempo, alguns minutos eram moleza. Dentro do banheiro, Zé Américo se sentiu como um touro furioso antes do rodeio.

- Vem! – ela chamou e, ao sair do toalete, Zé Américo se deparou com o quarto modificado cenograficamente. Eram velas aromáticas, enfeites e panos por todo lugar. Parecia uma tenda de "O Caminho das Índias".

Ela sugeriu o início na hidromassagem, local povoado por milhares de velas e incensos. Zé Américo nunca curtiu muito a hidro, mas já que estava lá, valia tudo. Em poucos instantes, ele percebeu que a espera foi válida. De recatada, Anita não tinha nada.


Da banheira, pularam para a cama e os jogos se intensificaram. O clima estava pegando fogo e, no meio do roça-roça, o casal percebeu um cheiro estranho, diferente dos aromas de canela, sândalo e alfazema. Para o susto de ambos, uma das velas da hidromassagem derreteu e atingiu a camada de fibra formando um princípio de...

- Fogo! É fogo!

Zé Américo e Anita, da forma que vieram ao mundo, pularam da cama e foram combater o incêndio. No meio do sufoco, ele pegou os panos que Anita havia trazido e os usou para abafar as chamas. Essa ação estúpida tornou o fogo isolado em labaredas.

- Anita, liga para a recepção. Rápido! - gritou o Zé Américo.

Em menos de dez minutos, chegaram à suíte o dono motel, três bombeiros, uma recepcionista, quatro curiosos e o casal de clientes do quarto ao lado. O incêndio foi controlado, mas a banheira de hidromassagem estava destruída. Com os ânimos mais calmos, Zé Américo sacou que o próximo tópico seria o pagamento do prejuízo. Por sua mente, passaram todos os momentos dos últimos três meses: a campanha, os programas românticos, o processo de conquista, a ansiedade, as faturas do Mastercard, as investidas frustradas e o fogo.

- Um momento, vou ali no carro e já volto – Zé Américo catou as suas roupas, entrou no carro, aproveitou a cancela aberta por causa da confusão e foi embora. Semanas depois, os amigos contaram que Anita pagou R$ 800,00 pelo conserto da banheira. A quem pergunta, ele confirma: missão dada é missão cumprida.

PS. A fonte desta história jura de pés juntos que Zé Américo não cumpriu a missão.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?

Amiguinho, diz para o Titio He-Man que esta história é fruto da sua mente perturbada. Diz que o Zé Américo não abandonou a garota à própria sorte no quarto incendiado. Não? É verdade mesmo? Então, vamos começar pela lição mais óbvia: montar um clima com velas e panos é uma ideia interessante, mas requer uma série de cuidados com a segurança patrimonial. Já consumada a nova decoração do ambiente, atente para a proximidade entre as velas e itens inflamáveis. E se o houver algum acidente, jamais tente abafar as chamas com panos finos e lençóis de seda. Ufa, e JAMAIS abandone uma garota na suíte incendiada de um motel. Ah, amiguinha, seja legal com o seu pretendente: fazer um jogo duro faz parte, mas três meses de seca é de doer. Amiguinho, quem brinca com fogo faz xixi na cama. Até a próxima!!!

9 comentários:

Juliany Alencar disse...

Putz, que bizarro!

Não sei quem saiu pior dessa história: se foi o Zé Américo que insistiu horrores e no final parece não ter consumado o fato ou se foi Anita que fez tanto doce para no final arcar com uma conta de R$ 800.

Minha percepção: pela produção investida, parece que Anita estava querendo freqüentar o Panda há tempos. Foi só uma questão de fazer mais um joguinho de sedução.

www.mulherzinhasim.blogspot.com
www.formspring.me/mulherzinha

Jongleuse disse...

Adorei!!!
Mas vou te falar uma coisa, heim, Surfista... É cada pessoa que você conhece! ;-)

Rui Santos disse...

Cada uma que me aparece, hehehehehe...bem feito pra ela; não era pra deixar o cara tanto tempo em banho-maria...deu no que deu =P

Abraço!

Renata disse...

Que garoto sem noção!
Nas adversidades mostramos quem somos... esse aí não vale muita coisa.

Coitada dela, deve ter se arrependido MUITO por ter dado uma chance para esse ogrinho!

Vida que segue!

Contorcionista disse...

Já dizia o ditado:
"Quem dá aos pobres, fica sem nada."

Juliany Alencar disse...

Surfista, a Rosana Caiado estudou na PUC e acho que foi no final dos anos 90. Você a conhece?


www.mulherzinhasim.blogspot.com
www.formspring.me/mulherzinha

Surfista disse...

MULHERZINHA, absorvendo um pouco da sabedoria infinita de He-Man, o Mestre do Universo, acredito que houve um problema de doses. Um foi com muita sede ao pote e outro valorizou demais o passe. Pois é, o que matou foi o "demais". Sobre a Rosana, veja que mundo pequeno.

JONGLEUSE, pois é, conheço cada figura.

RUINALDINHO, convenhamos que faltou um pouco de paciência para o moço também.

RENATA, entre erros e acertos, é muito pior quando se a lição vem com um ônus de 800 pratas.

CONTORCIONISTA, já dizia o velho ditado.

O público anda econômico em seus pitacos. Posso fazer algo para mudar? Os textos estão longos? Os temas estão cansativos? Momento de pesquisa com o consumidor.

Danfern disse...

Respondendo à pesquisa:

Eu acho q os textos continuam ótimos e os temas idem!!! Sei lá se é questão de divulgar mais o blogue, ou se o povo tá meio ocupado...Mas o que eu não curti mesmo foi o novo layout - prontofalei.

Quanto ao causo...po, a Dona fez uma trapalhada do caramba com isso de velas e lenços, hem? Mas esse Zezinho aí foi um tremendo feladaputa em fugir e deixar a dona lá com o preju e o mico!

E correndo o risco de ser chata, eu acho essa pressão pra 'liberar logo' um saco...pq 3 meses é eternidade? qual o problema de querer conhecer a pessoa antes pra só depois de um tempo, conhecer 'biblicamente'?

Já passei 2 vezes pela situação escrota de ser questionada, após 1 mes e pouco de saídas, do "porquê" não rolar os finalmentes, com argumentos de 'vc não é mais virgem e já tem quase 30 anos' - ao passo que já "esperei" quase 1 ano por namorado e valeu muito a pena....

Só acho que não tem q ter tempo mínimo e máximo pra essas coisas - acontece quando é pra acontecer: nem é pra dona ficar 'regulando' nem é pro cara ficar cobrando (ou vice versa)...

Surfista disse...

DANFERN, "feladaputices" à parte, a história verídica mereceu registro.

Ah, obrigado pelos pitacos sobre o blog.