Pois é, descobri que gosto de São Paulo. Ainda me divirto enormemente com o bairrismo com o Rio, mas a Terra da Garoa sempre me recebe tão bem que não posso ficar de pinimba. No entanto, eu ainda sentia a falta de uma aventura que colocasse a cidade no meu currículo. Recentemente, passei alguns dias por lá e voltei com a certeza de que Sampa estava definitivamente no meu mapa.
Bem cedinho, eu estava no Aeroporto do Galeão pronto para dias de trabalho em São Paulo. Sem maiores surpresas, meu vôo atrasou mais de duas horas. Como Papai do Céu é sempre muito bacana comigo, eu fui remanejado para um outro avião, cuja aeromoça era um deslumbre. Era uma morena de cabelos negros e olhos azuis faiscantes. Acho que você poderia perceber seus olhos a cem metros de distância.
Momento confissão: sou tarado por aeromoças e médicas. Acho que o lance do uniforme me excita. Eita, fiquei tenso.
- O senhor aceita uma barrinha de cereal e uma bebida?
Coisa linda, eu aceito o que você oferecer. Aliás, você aceita casar comigo?
Queria ter dito isso, mas não disse. Os olhos da aeromoça me deixaram inibidos e eu acabei ficando apenas com a barrinha de cereal.
Infelizmente, a participação da comissária de bordo da Gol acaba aqui, mas logo senti que essa viagem seria diferente. A constatação veio em dobradinha. A primeira chegou logo no saguão de Congonhas. Ouvi meu nome duas vezes e fui surpreendido por um amigo que não via há anos. Ele estava trabalhando por lá. Em uma conversa rápida (típica de São Paulo), ele foi profético:
- Você tem que vir a passeio e ficar lá em casa. Você não tem noção do quanto as mulheres atacam aqui.
Guardei suas palavras antes da despedida.
A segunda constatação veio quando saí do aeroporto. Pela primeira vez, eu vi o céu de São Paulo. O azul estava um pouco pálido, mas claro e aberto. A cidade estava até mais bonita com o pano de fundo celeste.
Essa viagem promete.
O hotel ficava no Centro, perto da estação São Bento, e parecia um daqueles que aparecem nos livros do Stephen King. Tinha um estilo antigo, saguão escuro e uma atendente com os cabelos armados de laquê. Ela me deu a chave do quarto e sorriu com dentes a menos.
Ai, ai, ai...
O quarto era tranquilão. Não era um Hilton Plaza, mas estava limpinho e com perfume de amaciante Fofo, aquele do rótulo do ursinho. Desfiz as malas e voei para o trabalho, pois estava com o horário estourado. Voltei à noite com o corpo exausto. Decidi deixar para aprontar no dia seguinte.
Dito e feito. Depois de voltar do trabalho, eu desci e fui falar com a recepcionista de laquê. A moça simpatizou comigo e estava toda solícita.
- Laudirene, onde eu posso tomar um chopinho legal?
- Você quer só um chopinho ou quer algo mais?
- Minha amiga, olha bem pra mim. Eu quero é conferir a reputação das paulistas. Mas não pode ser longe, porque não conheço nada aqui e posso me perder.
- Você conhece a esquina da Ipiranga com a avenida São João?
Santo Caetano Veloso. Esse endereço não pode ser furada. Peguei as orientações e fui conhecer o happy-hour paulistano.
Entre o hotel e a esquina famosa, me senti no Rio de Janeiro. Passei por uns três caras com a camisa do Flamengo e pela Casa de Sucos Copacabana.
Enfim, cheguei ao Bar Brahma. Lugar de pé direito alto, alguns engravatados pitorescos falando do Corinthians e um chopp classe A. Comecei a me sentir realmente em São Paulo. Uma banda iniciou um show de samba de raiz e voltei a me sentir no Rio. Excelente grupo, por sinal.
Fiquei sondando o ambiente, mas até então nada que despertasse meus instintos mais primitivos. Eis que funciona algo que não consigo explicar. Sei lá se é algo relacionado à mentalização de “O Segredo” ou algum feromônio masculino liberado, mas aconteceu. Na mesa ao lado, sentou uma ruiva com lá seus quarenta anos, mas porte de atleta. Ela usava um jeans colado, uma blusa que realçava o busto e uma jaqueta charmosa. Fazia o ar de mulher independente e me fuzilou com um olhar.
Visualizei um balão de pensamento com a imagem do meu amigo do aeroporto repetindo “você não tem noção do quanto as mulheres atacam aqui.”.
Como não sou amador, olhei de volta. Ela pediu um chopp e fez um sinal.
Senta aqui.
Nem pensei duas vezes.
Ela era economista, era paulista mesmo e usava um perfume delicioso. Fez várias perguntas sobre mim e me cobriu de elogios. Em dado momento botou as cartas na mesa.
- Você é casado?
Por que raios ela está me perguntando isso?
Olhei para a mão esquerda dela e tentei sacar a aliança. Não rolou, pois ela usava mais anéis que a cigana Zoraide.
- Não sou casado. Você é?
- Sinceramente? Sou casada.
Ui! E agora? Mulher casada não tem no meu portfólio e nem pretendo colocar.
- E cadê o seu dono? - perguntei.
- Está em casa. A gente está em processo de divórcio.
Não me importa. Sou careta. Enquanto dividirem a cama, ainda são marido e mulher.
- Isso te incomoda? - ela perguntou.
Nãããããããoooo, imagina... Eu pego mulheres casadas dia sim, dia não.
- Olha, não é o tipo de coisa que me deixa sossegado.
- Fica despreocupado.
Ih, quer dar! E agora? Vai que essa mulher tem um detetive na cola dela. Vou virar pauta do Linha Direta.
- Você volta para o Rio quando?
Era a deixa que eu precisava.
- Amanhã cedinho. Tenho que acordar de madrugada. Ih, olha o horário! Tenho que ir. Fui!
Saí de fininho, mas deixei meu telefone. Ela me ligou para desejar boa noite, bom dia e boa viagem, respectivamente. Assumo que fugi da raia, mas pra que arriscar, né?
Na noite seguinte, embarquei para o Rio. Depois de mais um atraso (dessa vez, trinta minutos), repeti um ritual que sempre faço em minhas visitas a São Paulo. Olhei para o céu, mas não foi dessa vez que vi estrelas por ali. Quem sabe da próxima.
***
QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Ah, essas mulheres. Amiguinho, eu gostaria de lhe parabenizar pela sensatez e, principalmente, pela valentia. Sei o quanto é difícil pensar com a cabeça de cima em circunstâncias de pressão extrema. Mas, me acompanha, com tanta mulher desimpedida, por que correr riscos bobos com uma que já foi enquadrada? Anote o telefone e deixa no cardápio, quer dizer, caderninho. Quem sabe ela decida inaugurar a fase solteira em um fim de semana no Rio? No mais, São Paulo é uma cidade bacana. Se não fosse, pelo menos, interessante, não teria tanta gente morando lá. Pergunte aos nordestinos, por exemplo. Amiguinho, não esqueça de olhar para os dois lados antes de atravessar as ruas.
Bem cedinho, eu estava no Aeroporto do Galeão pronto para dias de trabalho em São Paulo. Sem maiores surpresas, meu vôo atrasou mais de duas horas. Como Papai do Céu é sempre muito bacana comigo, eu fui remanejado para um outro avião, cuja aeromoça era um deslumbre. Era uma morena de cabelos negros e olhos azuis faiscantes. Acho que você poderia perceber seus olhos a cem metros de distância.
Momento confissão: sou tarado por aeromoças e médicas. Acho que o lance do uniforme me excita. Eita, fiquei tenso.
- O senhor aceita uma barrinha de cereal e uma bebida?
Coisa linda, eu aceito o que você oferecer. Aliás, você aceita casar comigo?
Queria ter dito isso, mas não disse. Os olhos da aeromoça me deixaram inibidos e eu acabei ficando apenas com a barrinha de cereal.
Infelizmente, a participação da comissária de bordo da Gol acaba aqui, mas logo senti que essa viagem seria diferente. A constatação veio em dobradinha. A primeira chegou logo no saguão de Congonhas. Ouvi meu nome duas vezes e fui surpreendido por um amigo que não via há anos. Ele estava trabalhando por lá. Em uma conversa rápida (típica de São Paulo), ele foi profético:
- Você tem que vir a passeio e ficar lá em casa. Você não tem noção do quanto as mulheres atacam aqui.
Guardei suas palavras antes da despedida.
A segunda constatação veio quando saí do aeroporto. Pela primeira vez, eu vi o céu de São Paulo. O azul estava um pouco pálido, mas claro e aberto. A cidade estava até mais bonita com o pano de fundo celeste.
Essa viagem promete.
O hotel ficava no Centro, perto da estação São Bento, e parecia um daqueles que aparecem nos livros do Stephen King. Tinha um estilo antigo, saguão escuro e uma atendente com os cabelos armados de laquê. Ela me deu a chave do quarto e sorriu com dentes a menos.
Ai, ai, ai...
O quarto era tranquilão. Não era um Hilton Plaza, mas estava limpinho e com perfume de amaciante Fofo, aquele do rótulo do ursinho. Desfiz as malas e voei para o trabalho, pois estava com o horário estourado. Voltei à noite com o corpo exausto. Decidi deixar para aprontar no dia seguinte.
Dito e feito. Depois de voltar do trabalho, eu desci e fui falar com a recepcionista de laquê. A moça simpatizou comigo e estava toda solícita.
- Laudirene, onde eu posso tomar um chopinho legal?
- Você quer só um chopinho ou quer algo mais?
- Minha amiga, olha bem pra mim. Eu quero é conferir a reputação das paulistas. Mas não pode ser longe, porque não conheço nada aqui e posso me perder.
- Você conhece a esquina da Ipiranga com a avenida São João?
Santo Caetano Veloso. Esse endereço não pode ser furada. Peguei as orientações e fui conhecer o happy-hour paulistano.
Entre o hotel e a esquina famosa, me senti no Rio de Janeiro. Passei por uns três caras com a camisa do Flamengo e pela Casa de Sucos Copacabana.
Enfim, cheguei ao Bar Brahma. Lugar de pé direito alto, alguns engravatados pitorescos falando do Corinthians e um chopp classe A. Comecei a me sentir realmente em São Paulo. Uma banda iniciou um show de samba de raiz e voltei a me sentir no Rio. Excelente grupo, por sinal.
Fiquei sondando o ambiente, mas até então nada que despertasse meus instintos mais primitivos. Eis que funciona algo que não consigo explicar. Sei lá se é algo relacionado à mentalização de “O Segredo” ou algum feromônio masculino liberado, mas aconteceu. Na mesa ao lado, sentou uma ruiva com lá seus quarenta anos, mas porte de atleta. Ela usava um jeans colado, uma blusa que realçava o busto e uma jaqueta charmosa. Fazia o ar de mulher independente e me fuzilou com um olhar.
Visualizei um balão de pensamento com a imagem do meu amigo do aeroporto repetindo “você não tem noção do quanto as mulheres atacam aqui.”.
Como não sou amador, olhei de volta. Ela pediu um chopp e fez um sinal.
Senta aqui.
Nem pensei duas vezes.
Ela era economista, era paulista mesmo e usava um perfume delicioso. Fez várias perguntas sobre mim e me cobriu de elogios. Em dado momento botou as cartas na mesa.
- Você é casado?
Por que raios ela está me perguntando isso?
Olhei para a mão esquerda dela e tentei sacar a aliança. Não rolou, pois ela usava mais anéis que a cigana Zoraide.
- Não sou casado. Você é?
- Sinceramente? Sou casada.
Ui! E agora? Mulher casada não tem no meu portfólio e nem pretendo colocar.
- E cadê o seu dono? - perguntei.
- Está em casa. A gente está em processo de divórcio.
Não me importa. Sou careta. Enquanto dividirem a cama, ainda são marido e mulher.
- Isso te incomoda? - ela perguntou.
Nãããããããoooo, imagina... Eu pego mulheres casadas dia sim, dia não.
- Olha, não é o tipo de coisa que me deixa sossegado.
- Fica despreocupado.
Ih, quer dar! E agora? Vai que essa mulher tem um detetive na cola dela. Vou virar pauta do Linha Direta.
- Você volta para o Rio quando?
Era a deixa que eu precisava.
- Amanhã cedinho. Tenho que acordar de madrugada. Ih, olha o horário! Tenho que ir. Fui!
Saí de fininho, mas deixei meu telefone. Ela me ligou para desejar boa noite, bom dia e boa viagem, respectivamente. Assumo que fugi da raia, mas pra que arriscar, né?
Na noite seguinte, embarquei para o Rio. Depois de mais um atraso (dessa vez, trinta minutos), repeti um ritual que sempre faço em minhas visitas a São Paulo. Olhei para o céu, mas não foi dessa vez que vi estrelas por ali. Quem sabe da próxima.
***
QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Ah, essas mulheres. Amiguinho, eu gostaria de lhe parabenizar pela sensatez e, principalmente, pela valentia. Sei o quanto é difícil pensar com a cabeça de cima em circunstâncias de pressão extrema. Mas, me acompanha, com tanta mulher desimpedida, por que correr riscos bobos com uma que já foi enquadrada? Anote o telefone e deixa no cardápio, quer dizer, caderninho. Quem sabe ela decida inaugurar a fase solteira em um fim de semana no Rio? No mais, São Paulo é uma cidade bacana. Se não fosse, pelo menos, interessante, não teria tanta gente morando lá. Pergunte aos nordestinos, por exemplo. Amiguinho, não esqueça de olhar para os dois lados antes de atravessar as ruas.
12 comentários:
Doug,
Adoro esses comentários do tipo Não esqueça de olhar os dois lados da rua do He-Man. Ou ja beijou o papao e a mamãe hj. Isso é boa memória ou esta vendo a versão nova no programa da Xuxa??
Sampa é msm demais. Eu gostava muito quando tinha que ir pra lá trabalhar... Muitas histórias pra contar em pouco tempo. O Bar Brahma é muito bom tb.. Acho que só no Rio que não tem.. Ou tem e eu não sei onde é?
Bjs pra vc e boa semana.
Na próxima vez, tente o Astor. Excelente chopp e ambiente agradável.
Dificilmente vc vai encontrar uma ruiva dessas, mas vale uma conferida.
Abs.
O Noivo
Alguma coisa realmente acontece no cruzamento da Ipiranga com São João, mas eu lembro que o Caê dá uma zoada de leve nas moças paulistanas.
Fico orgulhoso que você tenha pensado com a cabeça de cima, digníssimo Dougra!
Abs!
BRUNINHA, os recados do He-Man têm origem no fundo do coração. Siga-os e você terá uma vida muito melhor.
VULGO, raras vezes fui tão bravo em toda minha curta vida.
NOIVO, se não vou encontrar uma ruiva desses, qual seria o outro atrativo? :) Endereço anotado.
Aliás, não tenho (ainda) "A Fantástica Fábrica de Chocolate", na versão Gene Wilder. Questão de tempo.
Douglas!! Adorei a aventura!! Rss... até pq... vc foi um herói! O He-man deve ter realmente ficado orgulhoso de vc!
Eu também adoro sampa!!
Bjs.
Primeira vez aqui. Excelente os textos. As respostas q vc queria dar e não deu, em itálico, são as melhores.
vida longa.
CARLA, só o He-Man sabe o perrengue que passei.
BOB DRAKE, seja bem-vindo! Você foi o primeiro a atentar para os pensamentos em itálico. Mandou bem.
A TODOS, agredi o português nesse texto. Já corrigi, mas peço desculpas aos leitores que perceberam e, por uma razão ou outra, foram gentis e não o apontaram.
Hum... pode ser "O segredo" funcionando mesmo...
mas quem sabe os céus azuis sejam presságio pra próxima viagem. neh?
Finalmente um ser másculo com fetiches por médicas, kkkkkkkk...
"No, Enfermeira!!!"
Beijocas da Aspirina pra ti. A casa é tua, volte sempre.
Off post, rs..
Surfista platinado,
Essa questão do banho no leito é algo muito discutido cientificamente em nosso meio. Um assunto extremamente delicado uma vez que mexe diretamente com a auto-estima e privacidade de qualquer um. Mas um(a) profissional da Enfermagem saberá dirigir bem essa situação da melhor forma possível.
Na academia aprendemos técnicas específicas de banho no leito (não se trata de um banho qualquer), existe todo um fundamento científico, tanto em promover a saúde quanto o bem estar do cliente. Mas, claro, que as vontades dos acamados merecem respeito (se querem tomar um banho ou não). Existe mesmo a necessidade de se tomar banho quando se está internado em um hospital, a higiene é uma das principais razões para se evitar infecção hospitalar, etc., [seu casacão!!!]kkkkk...
Para mais detalhes veja esse artigo:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11692005000300014
Bom, não sei da tua experiência... mas sabemos que existem profissionais e "profissionais" em qualquer área de atuação. Acredito em sua declaração. Se te causou trauma... confesso que teu cuidador foi um péssimo(a) profissional, infelizmente! :(.
Beijos. Adoro polêmicas de cunho científico hahahaah...
Bom, o link não funcionou, partiiiiiiiiiiu, mas respondi lá no meu também e o link tá ativo.
Bjs.
DU, quem sabe, não? De repente da próxima vez rola.
ASPIRINA, uma celebridade dos blogs visita o humilde cafofo do Surfista Platinado. Seja sempre bem-vinda! Sobre o papo do banho no leito, não se preocupa. As moças foram profissa. Só dramatizei o "causo" porque fiquei rachado de vergonha. Só isso.
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