sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A triste história do casal fujão

Desde que mudei para a Irlanda, percebi que muitas das histórias que ouço são épicas. São pessoas comuns fazendo coisas grandiosas. Pessoas como os afegãos Teobaldo e Anastácia.

O drama deste casal chegou até mim pela minha amiga canadense Jacira, a moça com dois namorados. Lembra dela? Jacira trabalhou com eles em sua passagem pelo Paquistão.

Pois bem, Teobaldo e Anastácias eram dois jovens nascidos sob as rígidas regras do Afeganistão. A moça, aos 13 anos, já era noiva de Jeremias, um molecote de 11 anos. Os dois se casariam quando o guri tivesse cabelos no sovaco e voz grossa. No entanto, os planos das famílias foram alterados por um pequeno detalhe: Anastácia se apaixonou por Teobaldo, de 16 anos. Para bagunçar ainda mais a situação, o guri correspondeu o seu amor.

Mesmo sabendo do risco de morte, o casal adolescente decidiu fugir para outra cidade. As famílias perceberam o sumiço dos seus pimpolhos e chamaram a polícia. Todos acharam que seria uma questão de tempo até que os dois fossem capturados.

E assim foi feito...

A caminho da cidade vizinha, os dois foram localizados pela polícia e levados em cana. As famílias foram avisadas e os pais de Anastácia queriam que a sua honra fosse lavada com o sangue do jovem Teobaldo. Na cadeia, o delegado se sensibilizou com a história do casal, e permitiu que o garoto fugisse. Seguindo as leis machistas, a menina seria entregue às famílias e cumpriria o seu destino.

Contrariando as chances, Teobaldo conseguiu chegar ao Paquistão e foi esperto o suficiente para buscar ajuda de uma ONG de proteção a refugiados. Anastácia teria que enfrentar a ira dos seus pais e da família do seu noivo de 11 anos.

O pai de Anastácia, era um tiquinho mais liberal e decidiu não apedrejá-la em praça pública. Em vez disso, a garota se casou com Jeremias imediatamente, antes mesmo que ele criasse pelos pubianos. Seu Afanásio, pai de Teobaldo, teria outros problemas para encarar...

A família de Anastácia não se contentou apenas com o casamento. Eles queriam as duas irmãs caçulas de Teobaldo como forma de amenizar a "vergonha sofrida". A escolha era simples: as duas meninas ou a vida de todos os membros da família. Detalhe: moravam sob a tutela de Seu Afanásio nada menos que 27 pessoas (mãe, tios, irmãos, primos e agregados). Era gente para caramba!

Seu Afanásio não aceitou a oferta, mas pediu um tempo para preparar as filhas. Ele sabia que uma recusa seria encarada como uma afronta e os pais de Anastácia levariam adiante as suas ameaças. Então, surgiu uma ideia...

Toda manhã, um ou dois parentes saíam de casa para cumprir alguma ordem de Seu Afanásio e... sumiam. Dois primos saíam para comprar leite e não voltavam para casa. Três irmãs saíam para a escola e tchau! E assim, homeopaticamente, a família de Seu Afanásio foi desaparecendo da cidade sem chamar a atenção dos vingativos pais da moça. Quando já faltavam apenas cinco ou seis pessoas, o malandro patriarca botou todos em um ônibus para o Paquistão e abandonou tudo. Do outro lado da fronteira, a muvuca já estava sob a proteção da ONG na qual Jacira trabalhava.

A ONG negociou com diversos países e conseguiu que a Austrália recebesse o clã do Seu Afanásio e o jovem Teobaldo. A família de Anastácia continua espumando de ódio, mesmo após incendiar a antiga casa do Seu Afanásio. Teobaldo mora em alguma cidade australiana, olha para o céu e reza por sua amada. No Afeganistão, a conformada Anastácia também olha para o mesmo céu e espera por um futuro melhor.

QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?

Amiguinho, que história foi essa? Esse humilde blog está abrigando aventuras de escalas internacionais. Que chique! Por sua vez, a sabedoria incalculável do todo-power He-Man será exigida em dramas que só passam na CNN ou no Fantástico. Então vamos lá, sociologicamente falando, as tradições existem em qualquer cultura. Elas compõe o perfil de uma determinada sociedade e blá-blá-bla. O aspecto negativo é que certas tradições ainda não evoluíram e continuam extremamente cruéis e retrógradas. Elas não atuam mais como representação, mas como delimitação. He-Man está certo que de que a abertura aos olhos do mundo ajudará para que velhas regras sejam questionadas e revistas. Vamos aguardar. Amiguinho, não deixe as suas coisas jogadas pela casa. Até a próxima!!!


PS. Créditos especiais para Mari Mayo, que me relatou a história tim-tim por tim-tim!

Um comentário:

Juliany Alencar disse...

Aff! Fico imaginando como deve ser um inferno a vida de uma pessoa que não tem o direito de se apaixonar e ter de viver com um cara pelo qual não sente nada.

Ainda bem que essa história terminou o menos mal possível. Se é que podemos classificar assim...