segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Uma forma infalível de ser escroto

Uma vez ouvi falar que uma boa história tem que ter pelo menos uma morte. Eu concordo. Imagina se o Romeu e a Julieta não morressem no final ou se Édipo não matasse Laio. No campo mais pop, já pensou se o Tio Ben não morresse por causa da omissão do Peter Parker? Mas acredito que quando ninguém morre, um casal é fundamental para que a narrativa pelo menos seja interessante. Essa aventura que vou te contar não tem alguém batendo as botas, mas tem um casal: Marília, Clara e eu. O que foi? Três pessoas não valem como um casal?

Conheci Marília em um elevador. Estávamos indo a uma festinha de uma amiga em comum e, por coincidência, nos anunciamos ao mesmo tempo na portaria. Enquanto subíamos, ficamos naquele clima de "e agora, José?".

Elevador é um ambiente muito opressor quando você está com outra pessoa e sabe que vai conhecê-la dentro de alguns instantes. Fica aquela dúvida se vale a pena puxar logo assunto ou se é preferível ficar olhando para o marcador de andares e torcendo para que tudo acabe logo. Nessas horas, subir 18 pavimentos pode levar uma eternidade.

- Achei que eu seria a única pessoa a vir sozinha.

Ela quebrou o gelo. Ufa!

- Eu estava pensando a mesma coisa - menti.

Nos apresentamos, falamos algumas trivialidades e chegamos ao 18º andar com a pista livre para outros assuntos. Tudo funcionava às mil maravilhas e a perspectiva era boa. Perto do fim da festa, ela me deu o seu cartão e escreveu o número do celular no verso. Prometi ligar.

Não liguei.

Não me pergunte o porquê. Eu não sei também. Esse é um daqueles enigmas tão inexplicáveis quanto o Terceiro Mistério de Fátima. Voltei a encontrar Marília três semanas depois em um domingo no Baixo Gávea. Para variar, estava lotado como vários outros fins de semana de verão. Voltamos a conversar e para disfarçar o telefonema que nunca fiz, aleguei que perdi o cartão quando fui abduzido por alienígenas.

Ela riu. Dessa vez, Marília anotou o número no verso de um folder da Babilônia Feira Hype. Prometi ligar.

Não liguei.

O terceiro encontro (combinado por amigos que queriam ver o couro comer) aconteceu quase um mês depois na Casa da Matriz, lugar divertido da cena alternativa do Rio. Ela estava no balcão tomando Cuba Libre e me reconheceu. Sorriu e voltamos a conversar. Graças a Deus, o assunto do telefone não foi mencionado. A diferença é que dessa vez eu não deixaria para depois. Entre um sorriso aqui e outro acolá, eu parti para o ataque. No fundo, eu apostava que ela estava louca para dar o troco pelos furos. Seguindo a lógica, mulher é um bicho ilógico e ficamos nos agarrando a noite inteira. Ela anotou o telefone em um guardanapo e me deu antes que eu a deixasse em casa. Prometi ligar.

Não liguei.

Mas o que diabos estava acontecendo comigo? Marília era bonita, perspicaz, perfumada, tinha sardinhas bonitinhas no nariz e uma tatuagem charmosa na nuca. Tinha uma franja esquisitona, mas a perfeição é utopia. Eu devia estar querendo me sacanear.

Poucos dias depois, eu recebi um convite de um amigo e aceitei ir a um ensaio da Mangueira no Palácio do Samba. Topei dar carona a uma amiga e para minha surpresa ela estava com uma prima.

- Essa é a Clara. Não tem problema ela ir com a gente, né?

- Nenhum - descaradamente eu usei a parte mais indecente do homem: o olhar. Mantive um contato direto e sem pausa por longos cinco segundos. Nenhum dos dois piscou.

Essa está no papo

Ela pensou alguma coisa e sorriu também. Aposto que foi a mesma coisa.

Do alto dos seus 1,65m, ela sambava como se fosse uma rainha de bateria. A saia serpenteava, mas não revelava muito mais do que as pernas torneadas. As gringas que me perdoem, mas uma brasileira sambando com estilo é mais do que sensual: é arrebatador.

Fiquei cobiçando em silêncio. Nesse instante, eu entendi como o personagem do Kevin Spacey se sentiu em "Beleza Americana" quando observava a ninfeta loira dançando.

- Olha quem está aqui - saí do transe com um tapinha nas costas.

- Marília, que coincidência.

Ai, ai, ai...

- Não foi coincidência. Eu sou amiga do Juliano e ele me avisou que todos viriam pra cá. Deduzi que você estaria por aqui - o Juliano era o cara que fez o convite. Ele que queria me amarrar na Marília.

O papo rendeu por alguns minutos e fomos para a mesa onde estava o restante da turma. Clara estava lá também. Daí por diante se desenhou uma cena que eu não cogitaria nem em minhas vaidades e gabolices mais desvairadas. Sentei à cabeceira da mesa com Clara à esquerda e Marília à direita. Clara falava de um lado e Marília do outro.

Cara, eu sou bom.

De repente, Marília encostou seu joelho na minha perna.

Cara, eu sou muito bom.

Não sei se Clara percebeu a jogada da "rival", mas ela também tomou uma atitude mais agressiva. Sem qualquer cerimônia, meteu a mão na minha coxa.

Cara, eu sou bom pra cacete.

Eu gosto muito de mim e me acho legal, mas essa situação não poderia existir fora dos meus sonhos. Era ilógico porque eu não era jogador de futebol, cantor, pagodeiro, ex-Big Brother ou ator de novela da Globo. Essas mulheres poderiam ter qualquer homem do mundo, então, por quê eu?

Porque você é bom, uma voz bem suave veio lá do fundo da consciência e eu gostei da sugestão.

Lembra do Juliano, o cara que mobilizou todos os amigos para o samba? Pois ele ajudou na seleção natural. Clara me deu um beijo na bochecha e foi atender o chamado do amigo. Fiquei na mesa com a Marília. Acabaram-se os problemas e as dúvidas. Era só correr pro abraço.

- Olha, eu preciso dar um pulinho no banheiro. Volto já - antes que ela fosse, eu a agarrei pela cintura e a beijei no ombro.

Pronto, estava marcada.

Fiquei sozinho por pouquíssimo tempo. Clara voltou e me arrastou para a pista de dança. Ela sambava que nem gente grande, enquanto eu apenas dava pulinhos.

Eu vou ceder. Eu vou ceder. Sou fraco.

A gota d'água veio quando ela veio me falar algo ao pé do ouvido. Eu não ouvia nada, mas senti dos toques involuntários no canto da boca.

Ah, canto de boca é sacanageml.

Agarrei Clara com um puxão e quando abri os olhos percebi Marília se afastando.

Eu sou um crápula. Eu sou um crápula. Eu sou um crápula.

- Você é um fofo - Clara gritou no meu ouvido direito.

Puf! O peso na consciência sumiu.

Acordei no dia seguinte dolorido pelas horas de samba, mas com o cheio da Clara em mim. Lembro que não peguei o telefone dela, mas dei o meu cartão com o celular escrito no verso. Acho que deixei morrer um futuro promissor com a Marília.

Será que Clara me liga?

Não ligou.



QUAL A MORAL DA HISTÓRIA,
HE-MAN?
Amiguinho, a moral da história é que você é um trouxa. Não demorou muito para sentir o gostinho do próprio veneno, né? Não sei bem a razão, mas tanto meninos quanto meninas têm a mania de subir em um salto alto do tamanho do Empire State sempre que estão em uma posição confortável no jogo do flerte. E não venham tentar convencer o bom e velho He-Man de que isso não é verdade. Aquela esnobadinha básica ou valorização do passe rola sempre - por mais sutil que seja. Isso me deixa indignado pelas oportunidades legais que são desperdiçadas. Então, amiguinhos e amiguinhas, prometam para o titio aqui: nunca mais serei fanfarrão com as gatinhas(os) que me derem mole. Repita comigo! Repetiu? Beleza. A lição está dada. Coleguinhas, só pratiquem esportes com a supervisão médica e um responsável por perto. Até a próxima!
.
Sim, esse foi um post imenso. O próximo será menor. Prometo!

11 comentários:

Unknown disse...

Bela história, pra finalizar uma velha lição de moral, quem com ferro fere com ferro será ferido!
Mas tenho certeza que saiste de lá se achando o garanhão!

Pergunta: Prezado He-man, após uma discussão teórica-empírica-conceitual, entre mim e Vulgo Dudu (outro freqüentador desse ambiente), não conseguimos chegar a um consentimento sobre outro dos grandes dilemas da humanidade. Afinal, tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?
Depois de suas considerações ponderarei sobre a discussão!

Biessa disse...

É, foi grande... mas eu li tudo! Sócia aplicada! Ahá!

Senti aí aquele clássico dos amigos de solteiros: encontros armados! É só coadjuvante nesta história, mas volta e meia ele está presente.

Estranho é ela não ter te ligado. Mulheres geralmente ligam. Vai ver ela estava em outra vibe...

Beijo!

Anônimo disse...

Cara, eu tenho uma teoria: as coisas duram mais e são mais gostosas qdo acontecem aos poucos. Vc poderia ter ficado com a Marília, pq já rolava um clima e deixaria a Clara morrendo de inveja da outra. Bem provável que a Clara, num próximo encontro, estivesse mais doida por vc (e ligasse depois). Acho que foi mais um caso de rivalidade feminina.

Demented Diana disse...

Ih...é por isso que praticamente não tenho amigas mulheres, no máximo 2 ou 3. E olhe lá. A competição é altamente imoral...e fofo, não querendo te desmerecer (até mesmo pque não vi foto do material! Hahahah), mas na verdade as duas ali não estavam realmente disputando VC. Ali era uma batalha épica entre dois egos femininos loucos pra saber quem era a mais irresistível!
Vc era só o detalhe na história :D

Mas calma, a vida continua...tem outras Claras sem Marílias por aí! Beijo!

Anônimo disse...

Cara, duas coisas:
1- Concordo com a PIV, as duas estavam disputando quem era mais fêmea. Acho que interessada MESMO estava a Marília, mas vida que segue

2- Mermão, que deja vu do caráleo! Passei por uma situaçao muito parecida ano passado, pouco tempo antes de começar a namorar. E depois que escolhi a 'vítima', ambos (eu e ela) se arrependeram. Depois escrevo esse 'causo' e coloco lá no blog

Abraço!

Surfista disse...

OSNI, He-Man já recebeu seu questionamento.
BIBI, provei do mesmo remédio. Fazer o quê?
MÁRCIA, esse é o ponto: mulher é um bicho muito competitivo. Na época, não tinha esse conhecimento precioso.
TATIPIV, eu concordo com você. E quem disse que eu estava me importando em ser apenas um detalhe?
DUDU, escreva sobre isso e eu o lerei.

Putz, esse texto realmente foi imenso. Mas acho que a história valia o registro.

Unknown disse...

É, caro Dougra, acabou que você sambou nessa... Agora, esse negócio de ecrever telefone em verso de cartão é muito yuppie. Em plena era do celular...

Abs!

Surfista disse...

VULGO, o celular acabou com o romantismo do telefone anotado no guardanapo.

Unknown disse...

Mudando completamente o assunto do post...o celular acabou mesmo com aquela coisa da gente guardar um pedaço de papel com um nome e tel. anotados...de ligar só pra ouvir a voz da pessoa e desligar...de esperar até a noite pra falar com a pessoa na casa dela....Mas não vivemos mais sem ele...rs

Babs disse...

Ah, qualé... Não é só mulher que é um ser competitivo. Ser competitivo está na essência humana, independente do gênero. É disso que a vaidade é feita, do olhar do outro...
Bjos

Anônimo disse...

primeiro: pq n ligou pra marilia 3 anos depois, igual fez com akela outra menina (q vc tava com o numero perdido dentro de um filme qualquer)? Qr dizer... kem jah fez uma vez... neh?

Segundo: Ufa... ainda bem q vc escapou da maldição do "fofo"!!! :O
qdo li q ela disse aquilo, cheguei a pensar q tu tinha perdido as duas! Gloria ao He-Man por ter t salvado dessa!

terceiro: aquela voz q dizia "pq vc eh o cara" n eh tao desconhecida assim neh? qr dizer... ela tah sempre no fim dos seus posts! kkk